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Para a consecução desta tese, adotaremos uma abordagem de pesquisa qualitativa denominada pesquisa-ação, de natureza social empírica, associada à resolução de um problema coletivo em que o pesquisador, neste caso específico, participa de forma

cooperativa. Para ser denominada Ação, a pesquisa deve averiguar uma ação não-trivial e isso significa uma ação realmente problemática que mereça investigação.

Faz-se mister acrescentar ainda que, na pesquisa-ação, o objetivo é comparar informações, avaliar e discutir resultados, elaborar generalizações. Especialmente neste tipo de pesquisa, a argumentação do pesquisador exerce papel significativo, principalmente no momento de interpretação dos dados coletados e das informações obtidas. Habermas (apud MORIN, 2004, p.76) afirma que “as questões que emergem nas interações, a partir de interpretações e de justificações podem somente ser satisfeitas através dos discursos”. Assim, procuraremos fazer a devida argumentação discursiva apregoada pela pesquisa-ação, a partir dos resultados alcançados. Ou seja, “não somente o diálogo aumenta a reflexão, mas a ação, [...], estimula a reflexão e deve impregná-la”, (MORIN, 2004, p.77).

Na pesquisa-ação, os participantes não são meras cobaias, mas desempenham papel ativo (produção de textos, por exemplo). A proposta, aqui, não é só adquirir conhecimentos que fazem parte da expectativa científica; importa também obter experiências que contribuam para a discussão do problema ou façam avançar o debate. Thiollent (1995) assegura que a pesquisa-ação é uma forma de experimentação em tempo real, na qual o pesquisador intervém conscientemente, requerendo a participação dos atores, os quais, neste caso específico, são alunos do ensino médio de uma instituição cooperada chamada “Escola Cooperada Nova Geração”.

De acordo com Morin (2004, p.56), a pesquisa-ação “permite aos atores que construam teorias e estratégias que emergem do campo e que, em seguida, são validadas, confrontadas, desafiadas dentro do campo e acarretam mudanças desejáveis para resolver ou questionar melhor uma problemática”. Neste caso, ainda conforme Morin, a reescrita de textos, em quaisquer gêneros, a partir da lista de controle/constatações, emergirá da prática de sala de aula para tornar-se um método eficaz em textos discentes. É imprescindível destacar que, não só durante a pesquisa, mas principalmente nela, procuramos nos configurar como interlocutor interessado nas questões/dúvidas surgidas nos momentos de aplicação das SDs e reescritas. Conseqüentemente, verificamos grande interesse dos estudantes nas atividades aplicadas, neste contexto específico de ensino/aprendizagem.

Confrontada com metodologias utilizadas por Serafini (1995) e Ruiz (2001), por exemplo, a lista de controle/constatações pretende ser um avanço na metodologia de intervenção em textos escritos dos estudantes, quer seja do nível fundamental, quer seja dos níveis médio e superior, já que a metodologia aqui aplicada pode ser transposta, acreditamos, para as demais esferas de ensino.

A pesquisa-ação, segundo Morin (op. cit), é um método de pesquisa em que deve haver uma intervenção, seja no campo educativo, seja no campo social, de modo sistemático, às vezes de modo participativo, e pode comportar métodos de retroação ou de revisão. Para o autor, ela corresponde a fins específicos de mudar uma determinada situação, principalmente no campo educacional.

De autoria ainda de Morin, na evolução da pesquisa-ação, há uma forma de pesquisa intitulada pesquisa-ação integral e sistêmica (PAIS), de base qualitativo-interpretativista120, que é aberta à complexidade da realidade e à interdisciplinaridade, tornando-a compatível com as investigações na área da Lingüística Aplicada. Na PAIS, os atores121são direcionados para mudanças na ação e na reflexão. Ou seja, nas palavras de Morin (2004, p.32) “o saber emergirá da reflexão sobre sua prática”. É bom ressaltar que os sócio-construtivistas, ainda para o autor, enfatizam a discussão como meio de contornar a dificuldade encontrada apregoando a criatividade para a busca de soluções. Ressalta ainda que a pesquisa-ação não pretende a produção de um saber, mas, sobretudo, ativar um processo de mudança que, neste caso, deseja instaurar, em práticas de sala de aula, uma intervenção intitulada Lista de Constatações/Controle.

Assim, para corroborar com as palavras do autor (2004, p.91), a PAIS é “uma metodologia de pesquisa que utiliza o pensamento sistêmico122 para modelar um fenômeno complexo ativo em um ambiente igualmente em evolução no intuito de permitir a um ator coletivo intervir nele para induzir uma mudança”.

Outra recomendação de Morin diz respeito ao vocabulário/linguagem comum que deve ser utilizado durante a pesquisa, visto que, segundo ele, torna claros os objetivos e facilita a compreensão dos objetivos almejados. Corroborando as idéias do autor, as seqüências didáticas e a reescrita dos gêneros facilitam a apropriação desta linguagem comum a ser utilizada durante a pesquisa.

Morin (op. cit., p. 32) afirma que “a visão do pesquisador sobre o real será marcada pela complexidade, pela perplexidade e não pela simplificação de problemas”. Sobretudo,

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Dada a flexibilidade do tipo de pesquisa utilizado (PAIS) e dada a natureza do objeto de estudo, não foram necessárias todas as etapas propostas por Morin (2004).

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A palavra ator está sendo entendida, cf Morin (2004), como qualquer pessoa desempenhando um papel. Ela pode agir ou intervir e, por isso, torna-se autora da pesquisa.

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Em Morin (2004, p.98-99), há as três características que compõem o pensamento sistêmico: o dialogismo, a recursividade e a visão global ou hologramática. A PAIS é dialógica na medida em que associa dois elementos complementares, ainda que sejam concorrentes e antagônicos. A recursividade define-se como um processo de autoprodução que segue uma causalidade circular sincrônica. O autor reconhece que o processo de ação e o de reflexão, separados, entrecruzados, respondem ao dinâmico do pensamento sistêmico. Por fim, o terceiro item refere-se ao fato de abandonarmos as explicações lineares e, em seu lugar, trabalhamos em prol de uma explicação em movimento e circular que vai do todo para as partes e vice-versa.

constata que o pesquisador deverá estudar seu campo de trabalho considerando-o como único (em termos espaciais e temporais) e que deverá vê-lo a partir de uma lente ampliada. Afirma ainda estarmos trabalhando com seres humanos, com suas personalidades peculiares e, portanto, com pequeno grau de previsibilidade.