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3.1.1 | CONSTRUÇÃO EM PEDRA

No documento O espaço agrícola em contexto urbano (páginas 43-47)

A pedra foi o material mais utilizado na construção durante vários séculos, e é de todos o que tem uma maior resistência à passagem do tempo. (Moreira, 2008 p. 1) Exemplos como Stonehenge (datado entre 3000 e 2000 A.C.) e as pirâmides do Egipto (4000 a 3000 A.C.) reafirmam-no. Nestas construções, a pedra não é utilizada como é recolhida na Natureza, registando-se já um talhar da mesma, o corte de alguns elementos e de ângulos mais estranhos de maneira a que a pedra possa ser trabalhada com maior precisão. No passado, estes elementos eram usados sobretudo pelas suas características de resistência, sendo por isso associados a elementos estruturais.

No ocidente, o trabalhar da pedra na construção foi muito promovido pelos gregos, no primeiro milénio antes de Cristo, encontrando no Parthenon o seu melhor exemplo. É possível já encontrar algumas das características e técnicas que ainda hoje em dia são comuns no manejo da pedra, mas que à época se apresentavam sofisticadas, como as ilusões óticas, o afunilar da coluna em direção ao topo, a inclusão de arquitraves no centro para evitar colapsos.

Embora já fosse do conhecimento dos gregos, foram os romanos a demonstrar as capacidades construtivas do arco, permitindo criar estruturas em pedra com outra escala e dimensão. O desenho cuidado e a precisão no trabalhar da pedra fazem com que muitas das suas obras tenham chegado aos nossos dias, bem como as técnicas e os utensílios por eles usados no trabalhar da mesma. (Hill, et al., 1995 p. 3)

Ainda no século XIX, eram utilizados blocos maciços de pedra na construção. No entanto, hoje em dia a sua função é diferente, deixou de ser um material com cariz estrutural para a arquitetura e é cada vez mais utilizado apenas como elemento de revestimento e apontamentos decorativo, graças à grande evolução dos processos de construção e à procura de novas

Fig. 18 Parthenon, Atenas; Fotografia do Autor;

Fig. 19 Utilização de Blocos de granito no Aqueduto de Segóvia, Espanha (séc. I-II); https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/ b/b3/Aqueduct_Segovia_2_2012.jpg

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técnicas que possibilitaram a otimização e a rentabilização económica da sua utilização na construção. (dos Santos, 2008 p. 10)

«A escolha da pedra correta para a construção influencia bastante o sucesso da mesma. Esta, deverá ter uma grande resistência à compressão, não sofrer fortes alterações quando submetida à ação dos agentes atmosféricos, fazer uma boa pega com as argamassas e ser económica.» (Segurado, 1908

p. 2)

Na maioria dos casos de utilização da pedra, existe um trabalhar da mesma, um redimensionamento, de maneira a que esta adquira as dimensões pretendidas para a sua utilização. As primeiras situações de talhar da pedra eram realizadas com recurso a cunhas de madeira, recorrendo à capacidade de dilatação da mesma. Este processo era bastante moroso, e o número de cunhas variava consoante o comprimento pretendido para a peça. Após a aplicação das cunhas e de estas serem batidas a maço, deitava-se água sobre elas para que dilatassem, criando uma quebra com um elevado nível de precisão.

Com a evolução das técnicas, as cunhas de madeira foram substituídas pelas de ferro e posteriormente pelas de aço, que tornavam o trabalho muito menos moroso, por não ser necessário o tempo de espera para a dilatação. (Afonso, 1982 p. 143)

«A pedra tem correres como a madeira e outras coisas, apenas difere nas formas e dureza. O verdadeiro correr da pedra é ao levante (sentido horizontal) em toda a parte; o segundo correr é vertical no sentido ou

orientação norte-sul; o terceiro, a que os pedreiros chamam tronco legítimo, é também vertical, na orientação este-oeste.» (Afonso, 1982 p. 142)

Fig. 20 Utilização da pedra como material a definir o embasamento de uma nova construção, ISCSP, Lisboa, Gonçalo Byrne; Fotografia de Autor;

Fig. 21 Extração de Blocos de Pedra; https://usstonesuppliers.files.wordpress.com/20 14/01/stone-quarry-4.jpg

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3.1.1.1. | MÉTODOS CONSTRUTIVOS 3.1.1.2. | Construção em Alvenaria

A forma tradicional de construção em pedra consiste na construção em alvenaria, entenda-se “toda a construção de edifícios ou obras de arte, executada com pedras naturais ou artificiais”. (dos Santos, 2008 p. 19) No caso da Construção em Alvenaria, a largura da parede é definida pela largura das pedras utilizadas, sendo utilizados fragmentos de formas irregulares, em blocos desbastados e com formas mais ou menos regulares. (Segurado, 1908 p. 3)

3.1.1.3. | Construção em Cantaria

Na Construção em Cantaria, a pedra é utilizada com altura regular, ou seja, a altura de cada fiada é sempre constante, podendo ser, nos casos de paramentos à vista, com largura e comprimentos também constantes. Existem algumas variações deste tipo construtivo, sendo o mais comum a composição de paramentos onde apenas a face à vista das paredes se encontra aparelhada, preenchendo-se os vazios deixados com pedras irregulares, designado de Cantaria Mista. Neste caso, inicialmente são assentes as paredes e apenas posteriormente são preenchidos os espaços intersticiais entre elas. (Segurado, 1908 p. 2)

Fig. 22 Alvenaria de Pedra Seca;

http://www.ecivilnet.com/dicionario/images/alven aria-de-pedra-seca.jpg

Fig. 23 Parede em Cantaria;

http://d3n8mghmzejpmf.cloudfront.net/resource s/69,122,1600,500/-2883-

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3.1.1.4. | Ligações na Pedra

A construção de muros com pedra pode ser realizada sem recurso a ligantes entre as mesmas, recorrendo apenas ao peso próprio para manter a construção, sobrepondo-as de maneira a que estas fiquem equilibradas, ficando perfeitamente aparelhadas e justapostas, sem deixarem vazios entre si, sendo designados de Muros de Pedra Seca. (Segurado, 1908 p. 2)

Por outro lado, podem ser criadas ligações entre as pedras por intermédio de argamassas, variando a sua composição consoante a sua aplicação, funcionando em conjunto com o peso próprio das pedras, facilitando o travamento destas e a consequente estabilidade da construção. Em algumas situações mais simples, esta ligação pode ser feita apenas com barro, ou quando são necessárias ligações mais complexas, de cimento e pozolana, podendo ser adicionada cal hidráulica em situações onde seja necessária resistência à prova de água. (Segurado, 1908 p. 3)

Fig. 24 Aplicação de argamassas nas juntas entre os blocos de pedra;

http://www.terralusa.net/microsites/anexos/213P B160035.JPG

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No documento O espaço agrícola em contexto urbano (páginas 43-47)