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8.1 | FUNDAMENTOS DO PROJETO

No documento O espaço agrícola em contexto urbano (páginas 129-132)

Na Região das Beiras, e no caso em particular Viseu, a Agricultura continua ainda hoje bastante presente no quotidiano de grande parte da população, em especial nas periferias , marcadamente rurais. Assim, uma intervenção num território como a Estação Agrária de Viseu ganha uma nova força e relevância para toda uma região.

A abertura ao público deste território leva a que, a um programa marcadamente agrícola seja acopolado um programa de carácter mais lúdico, onde atividades de lazer e de trabalho se encontram em fusão.

Ainda assim, continuam a ser as atividades agrícolas a ocupar a maior parte do território de intervenção, materializando-se assim num espaço agrícola que é aberto ao público e não na situação inversa.

A grande dimensão do território possibilita apropriações agrícolas a várias escalas, podendo esta ser uniformizada ou apenas dividida por várias experiências ao mesmo tempo, o que leva a uma imprevisibilidade do território que culmina numa constante mutação da sua imagem ao longo do ano e com o passar dos anos, seguindo o ciclo natural das espécies.

A abertura deste território ao público, e a proposta de incorporação e de criação de um centro onde são estudadas e ensinadas novas formas de agricultura leva a que seja possível o público entrar em contacto e experimentar estes novos métodos, quer através de workshops e aulas, quer através da utilização das estufas verticais onde a agricultura pode ser explorada em altura.

O posicionamento das culturas no território é pensado consoante as suas escalas e as necessidades intrínsecas de cada espécie, como a exposição solar, a necessidade de água, as características do solo, entre outros.

Embora não seja a principal premissa e, no caso da cidade de Viseu, por esta se encontrar rodeada por uma periferia rural com grande produção agrícola, não se verifique uma total abstração relativamente aos hábitos de

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consumo de produtos locais, a génese da intervenção possibilita ainda a produção local de alimentos, feita na cidade e para a cidade, ao mesmo tempo que pode servir como mostra da produção agrícola da região.

Enquanto ponto no território, o posicionamento da Estação Agrária faz com que, mais do que um ponto de partida ou de chegada, seja um ponto de passagem e conexão entre pontos já existentes nesta zona da cidade.

O processo de projeto não passa pela utilização exclusiva de um material, mas sim pela utilização de um leque de materiais de origem Natural, sendo a madeira o material de eleição preferencial, bastante enraizada na Arquitetura Beirã. A utilização deste processo de projeto e construção, deverá ter em conta as especificações técnicas dos materiais em causa, a possibilidade da sua conjugação com os restantes materiais e as suas possibilidades enquanto elementos de construção.

Com o objetivo de tentar despertar interesse e mobilizar o público para as novas formas de agricultura, conjugando as atividades públicas de lazer com a agricultura, são criados pontos de interesse púbico que se vão fundindo e difundindo no território, e que permitem o contacto direto com esta realidade e a sua experimentação, proporcionando ainda a existência de

Fig. 179 Localização da Estação Agrária em relação à cidade;

Esquema do Autor;

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outras valências públicas que tornem o novo parque numa zona de acesso e interesse. Nesses pontos são criados pequenos edifícios de apoio, alguns já existentes, outros de raiz, e que, se em alguns casos são unicamente técnicos (de apoio ao trabalho realizado pela E.A.), outros há em que funcionam como complemento às atividades públicas, como workshops, pequenas cafeterias e espaços comerciais, etc.

Atualmente, embora sejam parte da mesma realidade e estejam sob a alçada da mesma entidade, os dois terrenos da Estação Agrária (designados de Quinta Norte e Quinta Sul) encontram-se fisicamente separados. Assim, numa tentativa de unificação dos dois territórios, pretende-se criar pontos de ligação entre os dois, um mais informal, que circula ao nível da rua, e que funciona como prolongamento do percurso público do interior de ambas as partes e que define o percurso principal de ligação com a envolvente, ligando espaços abertos nos extremos deste território; e um segundo percurso, elevado, que conecta a Praça do Centro de Pesquisa com a Quinta Norte e que, por ser fisicamente separado da circulação automóvel, é dos dois o que suporta uma utilização mais funcional ao permitir um acesso livre entre os dois territórios, tanto para o público como para funções institucionais. A intervenção no território tem como objetivo o posicionamento dos espaços de trabalho e lazer com mais abertura ao público junto aos pontos de contacto do território com a envolvente, em especial com o Parque do Fontelo e Solar do Vinho do Dão a Sul, e o Rio Pavia e o Parque Urbano de Santiago a Norte, existindo nestes pontos um prolongar dos espaços já existentes para dentro do território, enquanto o interior do território se encontra dedicado às atividades mais privadas da Estação Agrária.

Programaticamente, uma intervenção que proponha a construção de um Centro de Pesquisa de Agriculturas Sem Solo para Viseu, poderá parecer irracional, atendendo às características edafoclimáticas da região. No entanto, é quando se tem uma visão mais holística da realidade da agricultura e da sua influência na vida das pessoas que percebemos que, mais do que um edifício, a intervenção pretende ser um projeto piloto/caso de estudo com duas premissas principais: como intervir nestes territórios intersticiais que ao longo dos anos têm perdido a sua riqueza funcional e têm

Fig. 181 Esquema da conexão com o território envolvente

Esquema do Autor;

Fig. 182 Relação espaços públicos/trabalho; Esquema do Autor;

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ficado perdidos na memória das cidades e dos seus cidadãos, sem perder a sua identidade; e como, enquanto atividade, a agricultura pode ser incorporada na vida e estrutura urbana das cidades e voltar a representar uma atividade com relevo na vida quotidiana, adaptando-se às novas exigências que o setor enfrenta e terá que enfrentar.

O setor primário tem sofrido ao longo dos anos uma atualização e evolução tecnológica que o coloca ao nível de outros setores. É claro que, neste caso, é nas explorações de grande escala que encontramos mais facilmente essa evolução tecnológica. Pulverizações automáticas aéreas, controlo de pragas, coordenação através de sistemas GPS, monitorização planta a planta, são alguns dos exemplos onde é possível ver a presença dessa evolução. No entanto, cada vez mais encontramos este tipo de sistemas e evoluções a chegar ao “produtor geral”, com um grau de aceitação cada vez maior. O estudo e desenvolvimento desta atividade aparece assim de forma pertinente como um sector de interesse público.

No documento O espaço agrícola em contexto urbano (páginas 129-132)