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Metodologia do Estudo de Valores e Atitudes dos Jovens do Ensino Básico

3.1. Construção e Validação do Instrumento para Recolha de Dados

3.1.1. Construção do Instrumento

A revisão bibliográfica efectuada permitiu-nos encontrar alguns instrumentos já elaborados sobre atitudes no âmbito da Educação Ambiental, mas que não se adaptavam ao objectivo deste trabalho, estudo de valores e atitudes ambientais, uma vez que existem poucos estudos neste domínio. Por esse motivo, sentiu-se a necessidade de desenvolver um instrumento novo, destinado a avaliar os valores e as atitudes dos jovens face aos problemas ambientais de modo a avaliar a forma como estimam e protegem a Natureza.

Para a recolha de dados foi elaborado um inquérito por questionário. Este tipo de inquérito, aplicada a uma amostra representativa, é apenas um instrumento que serve para fazer descobertas no mundo social. Contudo, para fazer tais descobertas, os inquéritos criam o seu próprio mundo e, é tendo como suporte esta “realidade artificial” que tentamos aproximar-nos da “realidade real” a partir da qual se produziu a amostra do inquérito.

Optou-se pela recolha de dados através de um questionário, porque se considerou ser a forma mais rápida para recolher informação, o mais completa quanto possível, sobre os valores e as atitudes dos jovens face ao ambiente. Esta técnica é particularmente adequada quando se pretende o conhecimento de uma população quanto às suas condições de vida, os seus comportamentos e valores (Quivy, 1992). É também aconselhável recorrer a este método, para compreender fenómenos como as atitudes, as opiniões, as preferências, as representações, etc., que só são acessíveis de uma forma prática pela linguagem e que só raramente se exprimem de uma forma espontânea (Matalon & Ghiglione, 1992).

O questionário, conforme o nome indica, não é mais do que um conjunto estruturado de questões ou perguntas, expressas num papel, destinado a explorar a opinião da pessoa ou pessoas a que se dirige (Bravo, 1986).

“A aplicação da técnica de inquérito por questionário é uma maneira indirecta de recolher dados sobre a realidade, cuja utilização comporta vantagens, como a facilidade e rapidez com que se obtém a opinião de vários inquiridos acerca do

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problema a investigar e permite a recolha de dados de uma forma sistemática e ordenada, além de poder garantir o anonimato dos inquiridos e, consequentemente, uma maior liberdade nas respostas, com menor risco de influência do pesquisador sobre as mesmas” (Barros & Lehfeld, 1986, p. 110).

Para Quivy (1992), o inquérito por questionário consiste em colocar a um conjunto de inquiridos, geralmente representativos de uma população, uma série de questões, de forma a possibilitar ao investigador o conhecimento dos comportamentos, dos valores, das opiniões e das atitudes da população em estudo. Para Almeida (1989, p. 15), o questionário apresenta “limitações (...), como o pouco conhecimento do

respondente, a falta de contacto pessoal com o mesmo e a ambiguidade na percepção das perguntas (...)”. A superficialidade dos dados recolhidos, a impossibilidade de

controlo absoluto da honestidade e seriedade das respostas e a necessária restrição do tipo de informação que se recolhe são algumas das principais desvantagens do questionário.

Para a construção deste instrumento, optou-se por uma escala de resposta do tipo Likert, usada pela maior parte dos autores nas investigações sobre atitudes (Vallejo, 2003). As atitudes são construtos teóricos não acessíveis à observação directa, podendo serem medidas através de perguntas (opiniões) que expressam pensamentos, crenças, sentimentos e condutas prováveis. Estes construtos ou dimensões, também designados por variáveis latentes, podem ser inferidos a partir da aplicação de uma escala de atitudes (Devellis, 1991). Este método possibilita relações quantificáveis entre a variável latente e as pontuações obtidas num conjunto de itens com ela relacionados, ou por outras palavras, onde a variável latente é a presumível causa das pontuações obtidas num dado conjunto de itens.

Apesar de se elaborar um instrumento novo, foi consultado um questionário utilizado num estudo desenvolvido por Martins (1996), que utilizava uma escala de atitudes e que pretendeu estudar as Atitudes dos Jovens Face ao Ambiente Perspectiva Diferencial e Desenvolvimentista. As adaptações tiveram como objectivo a construção de um instrumento novo de recolha de dados que fosse válido e adaptado ao grupo sobre o qual incidiu o estudo.

Tomando como pressupostos as considerações anteriores, desenvolveu-se uma escala de respostas de tipo Likert, com atitudes e valores ambientais. Optou-se por elaborar um questionário, de maneira que o número de perguntas não conduzisse à desmotivação e cansaço dos inquiridos, considerando que qualquer inquérito demasiado

60 extenso “provoca a renitência e o enfado dos inquiridos, reacções que podemos

facilmente entender se pensarmos na intromissão que o inquérito representa no seu dia-a-dia” (Silva & Pinto, 1986, p.181).

Foi feita uma reflexão teórica sobre a forma e o conteúdo das questões e, simultaneamente, sobre a sua ordem e sucessão, tendo estas sido ordenadas do que parece mais simples para o mais complexo. Pretendeu-se utilizar uma linguagem simples, clara e neutra, de modo a não oferecer dúvidas quanto à interpretação e posterior resposta, tendo em conta o nível etário e cognitivo dos inquiridos e o tempo disponível para a aplicação dos questionários. Bravo (1986, p. 82), salienta que “(...) as

questões devem ser expressas, tanto quanto possível, numa linguagem semelhante à linguagem habitual do inquirido”. Algumas dessas frases foram escritas na negativa,

para aumentar a necessidade de concentração dos jovens e para evitar a mecanização das respostas. Segundo Vallejo (2003), é conveniente elaborar itens nas duas direcções, positiva e negativa. Esta redacção bipolar tem a vantagem de obrigar a uma definição mais matizada da redacção do constructo, requer uma atenção maior por parte de quem responde e permite comprovar a coerência das respostas, verificando se há contradições sistemáticas ou se há coerência global nas respostas examinando a correlação entre os dois conjuntos de itens formulados nas duas direcções. Segundo Cronbach (1960), citado por Vallejo (2003), quando o número de itens redigidos nas duas direcções é aproximadamente o mesmo, a correlação entre as duas series de itens deve ter um valor de 50% ou mais e mostrará neste caso uma coerência global das respostas ao examinarmos a correlação entre os dois conjuntos de itens (como se tratasse de duas subescalas) redigidos nas duas direcções. Esta formulação dos itens nas duas direcções tem especial importância quando pretendemos estudar atitudes sociais, para evitar respostas socialmente desejadas (Ray, 1990 citado por Vallejo, 2003).

Com base num leque mais vasto de frases, seleccionaram-se trinta proposições, consideradas representativas da multidimensionalidade do tema a abordar.

Assim, nesta selecção, partiu-se do pressuposto de que as proposições a incluir em cada uma das referidas dimensões ou categorias englobavam um espaço atitudinal e valorativo suficientemente amplo para permitir aos sujeitos expressarem as suas atitudes, valores e disposições relacionadas com diversos aspectos do ambiente e da problemática ambiental considerados relevantes para o presente estudo.

Pretendemos incluir itens do tipo operativo, com afirmações relativas a comportamentos concretos face a questões ambientais específicas e itens do tipo

61 afectivo, seguindo, em parte, as recomendações de Heberlein e Black (1976), Cotttrell e Graefe (1997) citados por Borges (2002) sugerem a inclusão dos dois tipos de itens (afectivos e operativos) como forma de aumentar a correlação existente entre as atitudes e os comportamentos ambientais dos indivíduos.

A listagem dos valores a considerar resultou da necessidade de se medir a passagem de uma ética antropocêntrica de concepção do mundo, segundo a qual o ambiente não é dotado de um valor intrínseco, para uma ética ecocêntrica, que valorize o respeito por todas as formas de vida e em que se reivindica um direito da Natureza enquanto tal.

As questões destinam-se à recolha de dados que permitem identificar os valores e as atitudes ambientais dos alunos e a sua preocupação para se adoptarem medidas locais e mundiais que visem a defesa e protecção do ambiente. Para tal, solicita-se aos alunos que assinalem o seu grau de concordância para cada uma das afirmações apresentadas, em cinco pontos, variando entre os graus extremos “Concordo totalmente” e “Discordo totalmente”. Para todos os itens foi dada a possibilidade da resposta “Não concordo nem discordo”, de forma a poderem registar as suas atitudes e valores ambientais para se adoptarem medidas no sentido de uma melhor clarificação de valores ambientais. Alternativamente, no presente estudo, partiu-se do pressuposto de que cada indivíduo pode assumir, atitudes “Antropocêntricas”, “Ecocêntricas/Biocêntricas” ou de “Indiferença/Indecisão” relativamente a alguns aspectos do ambiente e da problemática ambiental.