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H 7 : Existem diferenças entre as médias obtidas nas dimensões da Escala de Atitudes e Valores Ambientais face às diferentes posições sociais.

2. A Crise Ambiental e a Crise de Valores

2.1. Situação da Educação Ambiental em Portugal

Enquanto na Europa Ocidental, após a Segunda Guerra Mundial, foram criadas condições para o florescimento do ambientalismo, em Portugal a realidade foi bem diferente. Marcada pelo Estado Novo, a sociedade portuguesa permaneceu fortemente ruralizada, com uma industrialização tardia, possuindo a maior parte da população fracos recursos económicos e um baixo nível de escolaridade. Todos estes aspectos contribuíram para desincentivar a participação cívica em causas de natureza política. O processo de democratização iniciado em 1974 não conseguiu, também, até ao momento, contrariar de forma clara a tendência anterior. Com ele, o país viveu um acelerado e desordenado processo de urbanização e as regulamentações entretanto criadas sobre o ambiente e o ordenamento do território têm sido incapazes de contrariar a deterioração da qualidade ambiental. Desta forma, o nosso país manifesta especificidades no quadro europeu e só mais tarde assistiu ao surgimento de situações gravosas em termos ambientais, assim como à valorização deste tipo de situações e problemas. As manifestações mais sistemáticas em prol da causa ambiental ocorreram essencialmente a partir da segunda metade da década de setenta, circunstância a que não foi alheia a já referida alteração do regime do país. Contudo, muitas das medidas legislativas referidas não surgiram como resultado da pressão de uma opinião pública já mais informada e exigente, ou sequer da influência de associações ambientalistas, mas como fruto de exigências externas decorrentes das nossas obrigações no quadro da União Europeia. E, apesar dos problemas ambientais se terem constantemente agudizado nas últimas duas décadas, as preocupações ambientais não têm estado na primeira linha das preocupações dos portugueses, nem têm sido uma prioridade (Almeida, 2000; Lima & João, 2004). A tendência é para que estas questões sejam relativizadas perante problemas sociais como

29 o desemprego, a pobreza ou a doença. Mesmo que pontualmente a consciência ambientalista se manifeste, é patente a falta de capacidade para a transformar em acções minimizadoras dos problemas ambientais (Almeida, 2000).

Segundo Soromenho-Marques (1998), a ausência de uma cultura de espaço público associada a uma atrofia do exercício da cidadania, decorrente da separação, bem marcada, entre a sociedade civil e o Estado, justificam parte do alheamento perante as questões ambientais e a quase ausência de comportamentos para os minimizar, bem como uma boa parte da população, pouco mobilizada para o ambiente e suas problemáticas. Esta caracterização sumária da realidade portuguesa ajuda a explicar o surgimento tardio da Educação Ambiental, quando comparado com outros países europeus.

Em Portugal, as estruturas para a afirmação da política de ambiente, existem desde 1971 e com projecção a nível governativo, desde 1974. Mas também tem beneficiado de acontecimentos externos com impacte directo na evolução da política interna, como a Conferência de Estocolmo, a adesão à CEE e os exercícios da sua presidência, a Conferência do Rio, mas sobretudo o trabalho de desenvolvido no nosso país para a preparação destes acontecimentos e a forma como foi assegurado o seu seguimento. Como exemplos, pode citar-se desde logo a preparação da participação na reunião em Praga, em Maio de 1971, e toda a preparação para a Conferência de Estocolmo (nomeadamente a elaboração do Relatório Nacional sobre o Ambiente), onde se insere a criação da Comissão Nacional sobre o Ambiente, em Junho de 1971. Nessa conferência, a participação portuguesa marcou presença em todas as três comissões de trabalho que abordaram, no essencial, as vertentes da política urbana, da educação e informação ambiental, da gestão dos recursos naturais, e da dimensão internacional do combate à poluição. Ao abordar os problemas ambientais, independentemente de situações mais urgentes de poluição e de conservação de valores naturais, as campanhas centraram-se desde logo no homem. Procurou-se definir estratégias, aprofundando intervenções e discussões anteriormente lançadas, nomeadamente na Assembleia Nacional, abordando temas como a gestão dos resíduos hídricos, ordenamento do território e a regionalização, como pilares da definição do futuro do país. As comemorações nacionais do 1.º Dia Mundial do Ambiente em Portugal, em 5 de Junho de 1973, revelaram estas preocupações. A publicação do livro O Mundo é a Nossa

Casa, o lançamento e manutenção de um programa periódico na televisão foram

30 ambientais que podiam afectar a sociedade portuguesa. A Comissão Nacional do Ambiente, presidida pelo Eng.º Correia da Cunha foi criada como um Gabinete Técnico com capacidades próprias, com a possibilidade de acolher os contributos técnicos de toda a sociedade. Com o primeiro Governo após o 25 de Abril, a política de ambiente ganhou o estatuto de Subsecretaria de Estado e, depois, de Secretaria de Estado, consolidando-se o estatuto de organismo público.

A 30 de Setembro de 1975 é publicada a primeira lei orgânica da Secretaria de Estado do Ambiente, integrando a Comissão Nacional do Ambiente, o Serviço de Estudos do Ambiente e o Serviço Nacional de Parques, Reservas e Património Paisagístico. Esta é a época em que se estabelecem todas as bases para o desenvolvimento da política de ambiente. Contudo, só em 1987 se aprova, na Assembleia da República, a Lei de Bases do Ambiente, diploma ainda hoje considerado como actual. É de salientar que todo o movimento associativo de intervenção cívica, na área do ambiente, viveu momentos de grande capacidade interventiva ao longo destes trinta anos. Foi, no entanto, com o processo de maior aceleração do desenvolvimento do nosso país, através da utilização dos fundos comunitários e da introdução, em Portugal, dos mecanismos de participação pública proporcionados pelas avaliações de impacte ambiental, que se verificou uma maior notoriedade pública da intervenção das Associações de Defesa do Ambiente.

No entanto, trinta e sete anos depois da Conferência das Nações Unidas sobre Ambiente Humano, ter alertando para os problemas ambientais e reconhecido a necessidade do desenvolvimento da Educação Ambiental como elemento essencial para combater a crise ambiental mundial, continua-se a verificar o aumento do consumo de recursos não renováveis. Apesar da intenção da Educação Ambiental se tornar uma área importante dos currículos escolares, proporcionando um aumento de consciência e preocupação pública sobre o ambiente, o balanço da sua implementação a nível local e mundial não é globalmente positivo. A mobilização das escolas tem ficado aquém do desejável, sendo um tema considerado marginal, refém da subsidiariedade e isolado na escolaridade, apesar de haver reconhecimento e consenso da sua importância, pelas organizações nacionais e internacionais. É neste paradoxo que a Educação Ambiental se agita, consciente dos múltiplos percursos possíveis do seu papel central da educação para a melhoria da relação Homem/Natureza.

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