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A construção do MST no Brasil: breves considerações de uma história de lutas

CAMPONESES DE OUTRORA

3.1 A construção do MST no Brasil: breves considerações de uma história de lutas

[...] na verdade o Movimento não é novo, ele é filho de outras lutas, inclusive das lutas das Ligas Camponesas, e porque não dizer, filho das lutas operárias de São Paulo também, que queira ou não, de uma certa maneira a gente é da década de 70.1

O tema central desta tese refere-se ao estudo das práticas e representações dos agentes do MST no Pontal do Paranapanema, principalmente face às suas primeiras experiências em torno da luta pela terra e na terra, elemento a congregar as ações dos assentados, militantes e dirigentes na região. Para este estudo faz-se necessário pensar a história do MST no cenário nacional.

Gostaria de pontuar, então, neste momento, as lutas dos trabalhadores sem-terra em fins dos anos 70 no sul do país, buscando discutir como o MST foi se configurando no campo brasileiro nos anos 80 e, principalmente, nos anos 90, como expressão de representação política e social das lutas travadas na terra, “mas conquistadas na cidade”2, para chegar aos campos do Pontal, nos itens a seguir. Para tanto, utilizarei a bibliografia específica; publicações internas do MST, como cadernos de formação, convite; documento da CNBB, artigos da imprensa regional, assim como relatos orais que explicitem essa história.

Inserir esta discussão na problemática da pesquisa implica percorrer um caminho em que se sigam as marcas da história, partindo do geral para o específico, compreendendo, todavia, que não há uma dissensão entre o todo e as partes, a compor esse Movimento, tal como a própria análise. As riquezas traduzidas em suas lutas, no caso, as travadas nas três últimas décadas do século XX, e vividas no tempo presente, se assemelham, independentes da região ou estados, em histórias compostas por perdas, intensas partidas, chegadas, numa busca constante para a conquista do “porto seguro”, visto, pela maior parte dos camponeses assentados, como sendo a terra. Para a organização, os militantes e os dirigentes, como a luta por uma nova sociedade.

1 ENTREVISTA. Ivan. Teodoro Sampaio, Secretaria do MST, 29/04/2002.

2 Essa expressão é muito comum entre os dirigentes e militantes do MST, no que se refere à forma como as lutas

E. P. Thompson ao discutir a sociedade inglesa do século XVIII, com o olhar para a indagação “luta de classes sem classes?”, assinala que, em relação ao processo histórico, diferentemente da perspectiva positivista, compreende que: “[...] en una sociedad cualquiera dada no podemos entender las partes a menos que entendamos su función y su papel en su relación mutua y en su relación con el total. La ‘verdad’ o la fortuna de tal descripción holística sólo puede descubrirse la prueba de la práctica histórica”. (1989, p.14)

Mesmo que trate de um período específico e acentue que na história “[...] cada momento y cada situación deben ser analizados en sus propios términos” (1989, p.8), as contribuições teóricas desse historiador demonstram-se fundamentais para “iluminar” os problemas aqui apresentados. Sendo assim, breves considerações sobre o Movimento Sem Terra e os lemas (ou palavras de ordem) se fazem necessárias para que o MST no Pontal e os sujeitos que lhe dão vida possam ser localizados no tempo e numa história em que, ao mesmo tempo em que é possível apreender especificidades, percebe-se ainda a sua inserção no contexto mais amplo.

Em fins dos anos 70 e início de 1980 deram-se vários fatores que contribuíram para que o MST surgisse, com força, em meados dessa década, no cenário nacional. Dentre eles, destaca-se a debilitação do regime ditatorial fundamentado desde o seu princípio na exposição de violências como a sua expressão máxima; por outro lado, nos movimentos sociais que se intensificaram, em vista, dentre outras questões, do processo de abertura política do país, orientado particularmente pelas lutas das várias categorias de trabalhadores do campo e da cidade, a exemplo dos metalúrgicos no ABC paulista. Ainda como resultado dessas lutas, o nascimento do Partido dos Trabalhadores (PT), o movimento das “Diretas já”, etc.

Tais elementos e situações amalgamados davam sinais de que o “milagre econômico” tivera o seu tempo e explicitara a quem e a quais interesses ele havia servido3. As mazelas políticas, sociais, econômicas e culturais dele resultantes agora se mostravam mais evidentes. Somadas a essas questões, observa-se ainda a intensificação da violência sobre os camponeses e aqueles envolvidos em suas lutas, a exemplo dos inúmeros assassinatos de

3 LENHARO (1986, p.11), na apresentação de sua obra, explicita o significado do que vivera o país no período

denominado “anos de chumbo”. Em suas palavras: “O que ocorreu no país nas duas últimas décadas, domínio da farsa, porque repetição, não perdeu, entretanto, o seu conteúdo trágico original. A progressiva armação da ditadura relembra uma escalada de violência por demais conhecida, responsável pela supressão das liberdades individuais e civis, pela ameaça física e psicológica, pela perseguição e tortura, pela corrupção e cinismo, pela mentira da propaganda a espalhar a crença no progresso e na ascensão social como solução de toda ordem de problemas”.

padres, advogados, líderes sindicais etc., bem como a modernização da agricultura, derivando na expulsão, para as grandes cidades, de um enorme contingente de trabalhadores.

Sendo assim, a origem do MST, como o próprio Movimento reforça em suas várias publicações, encontra-se intimamente ligada aos problemas e à realidade de seu tempo, bem como às “lições históricas” que os indígenas, escravos, camponeses, etc., desenharam pelo universo agrário brasileiro, desde o início da colonização, nas suas diversas formas de resistência.

Frei Sérgio Görgen (s/d), em publicação do Movimento, discorre como se deu a gênese do MST, a partir de ações ocorridas no Rio Grande do Sul, mas com enfoque para outras práticas desenhadas no tempo e na história do país. A apresentação desse caderno de formação explicita o sonho da “terra prometida”, um dos desejos a sustentar e tecer a organização dos trabalhadores sem-terra em seu princípio, tendo como premissa fundamental a necessidade da conquista da “terra para quem nela trabalha”, valor oriundo da influência das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) e das pastorais, como, por exemplo, da CPT, as quais despontavam nos anos 70 pelos vários rincões do país.4

Permeavam nas práticas do MST, em seu nascedouro, o desejo e o sonho da terra, cuja representação remetia à “terra de Deus, terra de irmãos”. Para tanto, a ocupação da terra e a permanência no acampamento foram aos centros das práticas, explicitando o caráter político que essas práticas já traziam consigo5. Bernardo M. Fernandes, ao referir-se à formação desse Movimento, observa:

É impossível compreender a sua formação, sem entender a ocupação da terra [...] Em cada estado onde iniciou sua organização, o fato que registrou o seu princípio foi a ocupação. Essa ação e sua reprodução materializam a existência do Movimento, iniciando a construção de sua forma de organização, dimensionando-a. (2000, p.19)

Compreendida como um instrumento de transformação, a história é vista por Frei Sérgio como um alicerce na edificação de um Movimento a principiar os passos na luta pela terra e pela reforma agrária. As ações dos índios e negros são arroladas para legitimar a

4 Ressalta FERNANDES, B. M. (2000, p.44) que: “A luz dos ensinamentos da Teologia da Libertação, as

comunidades tornaram-se espaços de socialização política, de libertação e organização popular”.

5 Conforme STÉDILE (STÉDILE; FERNANDES, 1999, p.36), aliado ao sonho da terra estava o caráter político,

visto como uma das características do MST: “Essa terceira característica – o caráter político do movimento- sempre esteve presente, desde o início da organização. Tivemos a compreensão de que a luta pela terra, pela reforma agrária, apesar de ter uma base social camponesa, somente seria levada adiante se fizesse parte da luta de classe. Desde o começo sabíamos que não estávamos lutando contra um grileiro. Estávamos lutando contra uma classe, a dos latifundiários. Que não estávamos lutando apenas para aplicar o Estatuto da Terra, mas lutando contra um Estado burguês”.

necessidade da luta. Discorre sobre Sepé Tiaraju, cacique dos povos Guaranis dos Sete Povos, destacando também a luta dos escravos, a partir da organização e das práticas no Quilombo dos Palmares, no período de 1602 a 1694, dentre outras lutas, como Canudos, Contestado, Ligas Camponesas, etc. Chama a atenção o fato de que a luta pela terra é associada constantemente à garantia de liberdade, pois, conforme esse autor, em Palmares: “Ali as terras lhe garantia a liberdade”. (s/d, p.02)

Centenas e até milhares de negros fugiam da escravidão e organizavam os Quilombos, onde a terra era de todos, cultivada por todos. Ali os negros tentavam reorganizar o tipo de vida livre e igualitária que tinham nas selvas da África, antes de serem tomados como escravos. (s/d, p.3)

Junto à afirmativa da liberdade há também a referência ao “grande líder Zumbi”: “A força dos donos das terras esmagou à força e à bala esta experiência dos negros, matando seu grande líder zumbi” (s/d, p.02). Cabe ressaltar, entretanto, que não foi somente Zumbi a tombar por sobre a terra. Milhares de escravos, sem contar os brancos pobres e indígenas que nos quilombos viviam, foram massacrados pelas forças portuguesas e seus aliados, evidenciando uma história de lutas em que o herói se dilui ante a força da gente comum.

Ainda na mesma publicação, Frei Sérgio Görgen chama a atenção para a importância das “lições da história”. Assinala que as ações que se seguem a partir de 1978 sinalizam para uma nova fase, na medida em que: “Além das lutas de resistência os trabalhadores começam a partir para a ofensiva. Em 1979 as Fazendas Macali e Brilhante, em Ronda Alta no RS, são ocupadas”. Nesse mesmo ano ocorre o “3º Congresso dos Trabalhadores Rurais, promovido pela Contag, em Brasília”, momento em que se “[...] reafirma a Reforma Agrária como luta prioritária, reivindica um módulo máximo para as propriedades rurais e propõe a ocupação de terras ociosas como forma concreta de luta”. (sd/ p.9)

Foram as cerca de 1.200 famílias colonas, expulsas pelos índios da Reserva Indígena de Nonoai, as precursoras da história da formação do MST no Rio Grande do Sul. O despontar desses conflitos revela a contradição no “[...] enfrentamento de dois segmentos sociais marginalizados social, econômica e politicamente: os índios e sem-terra”. (MARCON, 1997, p.52)

Discutindo esse acontecimento, com enfoque para os movimentos camponeses no sul do país, Santos observa:

Para acompanhar a primeira forma dos movimentos camponeses recentes no Rio Grande do Sul, os movimentos de luta pela terra, deve-se partir da constatação de que o processo de crise econômica e social dos camponeses gaúchos, que vem de longa data, condensou-se nos acontecimentos eclodidos a partir de 4 de maio de 1978, na reserva Indígena de Nonai, situada na região do Alto Uruguai, quando os índios caingangues começaram uma luta pela expulsão dos colonos posseiros e pequenos arrendatários da FUNAI que ocupavam áreas dentro da Reserva. (1982, p.31)

Segundo Santos, a ocupação por parte dos colonos vinha se dando desde os anos 60. Salienta então que: “[...] em 1962, 400 famílias de agricultores sem-terra invadiram a área, repetindo-se outra invasão em 1964. Já em 1969, 600 famílias invadiram a área, sendo 400 expulsas e 200 transformadas em arrendatários da FUNAI na própria Reserva, enquanto que nova invasão, já em 1974, resultou em conflitos com a morte de varias pessoas”. (1982, p.31)

Para uma tentativa de resolução do conflito entre os colonos e os índios Caingangues, em 1979, o governo do Estado enviou “[...] aproximadamente 900 famílias para o parque de Exposições de Esteio, na Região Metropolitana de Porto Alegre, alojando-os em instalações precárias e sob rigoroso controle policial” (SANTOS, 1982, p.32). Em seguida, observa esse autor que, o Governo Federal, através do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), propôs a implantação de um projeto de colonização em Mato Grosso, numa concessão de terras às margens da rodovia Cuiabá-Santarém.

As famílias que se recusaram a aceitar a ida para o projeto de colonização em Mato Grosso começaram a se reunir e constituíram um acampamento ao longo da rodovia RS- 324, que liga Passo Fundo a Ronda Alta, no local denominado Encruzilhada Natalino.

Em suma, 110 famílias invadiram a Granja Macali, enquanto 150 famílias entram na granja Brilhante, sendo que a 19 de dezembro de 1979 uma decisão judicial permitiu a posse pelo Estado da granja Brilhante. Contudo, por essa época, o total de colonos sem terra do município de Ronda Alta chegava a 900 famílias, segundo um levantamento feito pelo Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Ronda Alta. Ou seja, tudo indicava a continuação da luta pela terra, como aconteceria, já em 1981, como Movimento das Barragens e com o Movimento dos Colonos Sem-Terra da Encruzilhada Natalino. (SANTOS, 1982, p.35)

Narrando o percurso tomado pelas famílias sem-terra, Frei Sérgio observa que, em 1981, o acampamento Encruzilhada Natalino e o Movimento dos Agricultores Sem Terra do Oeste do Paraná, “[...] colocam na ordem do dia a luta pela terra” (s/d, p.9). Conforme o autor: “De 1980 a 1985, 6.940 famílias sem terra conquistaram seu pedaço de terra, depois de duros longos meses de luta”. (s/d, p.9)

Analisando a trajetória dos agricultores sem-terra do acampamento Encruzilhada Natalino, no período de 1980 a 1983, Marcon reforça as observações desta tese ao sugerir a fragilidade do governo militar, ao seu final, e o apoio de setores da sociedade civil, sensíveis ao que despontava pelos campos do Rio Grande do Sul e, em breve, pelos campos de outros estados. Segundo esse autor, as práticas da Encruzilhada:

[...] devem ser contextualizadas sociopoliticamente, no final do decênio de 1970 e no inicio do de 1980, no quadro de uma crise de legitimidade dos governos militares, que criou dificuldades ao Estado para uma intervenção armada no acampamento com o fim de desestruturá-lo. Ao mesmo tempo, a crise de legitimidade dos governos militares favoreceu a articulação dos sem-terra com amplos setores da sociedade civil que faziam oposições à ditadura militar e que estavam comprometidos com a redemocratização do país. (1997, p.20)

Envolta na constituição de acampamentos6, a partir das ocupações, a luta dos sem- terra apresentava-se fundamentada na premissa da “terra para quem nela trabalha”, nascida no seio das Igrejas Católica e Luterana no sul do País, destacando-se então as contribuições da CNBB, no início dos anos 80, ao lançar em Itaici, dentre outras práticas, o documento “Igreja e Problemas da Terra”, o qual denunciava as migrações e a violência presentes no campo brasileiro devido à concentração fundiária, do capital e do poder. Na discussão sobre “Acumulação e degradação”, esse documento afirma que, em vista do quadro de violências vivido pelos pobres do campo:

Os que não conseguem resistir a essas diferentes pressões e agressões, não conseguem continuar como posseiros, colonos, parceiros, arrendatários, moradores; transformam-se em proletários, em trabalhadores à procura de trabalho não só no campo, mas também na cidade. É sabida a situação dos trabalhadores avulsos em amplas regiões do país, conhecidos como bóias- frias em São Paulo, Minas Gerais, Paraná, Rio de Janeiro, Goiás; ou como ‘clandestinos’ em Pernambuco; ou ‘volantes’ na Bahia e em outras regiões. (CNBB, 1980, p.18)

O documento prossegue narrando as difíceis condições de vida e de trabalho dos camponeses, devido o modo como a terra e os pobres do campo foram costumeiramente

6Conforme MARCON (1997, p.25): “Enquanto tática para conquistar a terra, o acampamento não surgiu na

Encruzilhada Natalino. Desde a criação do Master, na década de 1960, os acampamentos constituíram-se em instrumentos provisórios de pressão do governo para a desapropriação de terra com fins de reforma agrária. [...] No caso do Natalino, porém, o acampamento apresentou uma forma muito peculiar [...] Foram construindo uma identidade de movimento que, mesmo com todas as tensões internas, unificou-se em torno das reivindicações de terra no próprio estado. O que há em comum entre o acampamento da Encruzilhada Natalino e os acampamentos organizados pelo Master é a forma espontânea e prolongada de sua constituição; já que a diferença fundamental está na persistência do acampamento até a conquista da terra”. (grifo do autor)

tratados. Partindo da leitura de que a terra pertence a Deus, e é a Ele que cabe a sua destinação, essa publicação viria contribuir para as práticas futuras dos trabalhadores sem- terra na legitimação do que a maior parte considerava (e considera) como um direito “divino”, e que fora historicamente usurpado, a “terra de trabalho”.

Discorrendo sobre o direito positivo de propriedade e o direito divino de justiça social, sem negar o primeiro, o documento sugere, tomando como referência as palavras de João Paulo II, que: “Sobre toda a propriedade privada pesa uma hipoteca social”. Assim, essa fonte, ao retomar as considerações do documento de Puebla, salienta:

A propriedade compatível com aquele direito primordial é, antes de tudo, um poder de gestão e administração, que, embora não exclua o domínio, não o torna absoluto nem ilimitado. Deve ser fonte de liberdade para todos, nunca de dominação nem de privilégios. É um dever grave e urgente fazê-lo retornar à sua finalidade primeira (Puebla, no. 492). (CNBB, 1980, p.29)

Sem romper com o direito de propriedade, os bispos assinalavam a necessidade de discutir a “terra de exploração” e a “terra de trabalho” como questões diferenciadas, evidenciando valores e princípios a nortear as lutas que adviriam, com notoriedade, nos anos 80, orquestradas pelos trabalhadores sem-terra. Percebe-se aí a forte influência e contribuição de bispos, padres e leigos das igrejas cristãs para que o MST se tornasse representação central de luta dos sem-terra, em sua gênese.

Arrolando as raízes do Movimento Sem Terra, Stédile, teórico e dirigente nacional do MST, também acena para essa questão:

Os padres, os agentes pastorais, religiosos e pastores discutiam com os camponeses a necessidade de eles se organizarem. A Igreja parou de fazer um trabalho messiânico e de dizer para o camponês: ‘Espera que tu terás terra no céu’. Pelo contrário, passou a dizer: ‘Tu precisas te organizar para lutar e resolver os teus problemas aqui na Terra’. A CPT fez um trabalho muito importante de conscientização dos camponeses. (STÉDILE e FERNANDES, 1999, p.20)

Os símbolos de luta, demonstrando a influência religiosa em suas primeiras experiências, como a cruz, faziam-se presentes no acampamento Encruzilhada Natalino, assim como nas práticas dos camponeses sem-terra de outros estados, como, por exemplo, na ocupação da fazenda Nova Pontal, no ano de 1990.7

7 Como símbolos da ocupação da fazenda Nova Pontal, em Rosana, a reportagem: INVASORES se recusam a

deixar a Fazenda Nova Pontal e ameaçam matar seus reféns. O Imparcial. Presidente Prudente. Caderno 2, n.12.031, de 19/07/1990, p.1, destaca a existência da bandeira do MST, e ao lado uma grande cruz de troncos de árvores, logo na entrada do acampamento, representando, “[...] simultaneamente o Movimento dos Sem Terra e a

Marcon também observa que grande parte dos acampados do Natalino tinha uma formação religiosa, havendo entre eles, católicos, luteranos, metodistas, pentecostais. Assim: “As reflexões em torno da cruz foram dando suporte e condições para um avanço a consciência e na superação do dualismo entre a fé e a vida real”. No decorrer das lutas, afirma esse autor que: “Na pequena cruz, estava escrito: ‘Salva a tua alma’. [...] os acampados foram percebendo que essa cruz não mais simbolizava seu cotidiano. Decidiram, então, substituí-la por ‘uma cruz pesada, dura e rústica”. (1997, p.80)

Entre os dias 23 a 26 de setembro de 1982 ocorreu um Encontro organizado pelos trabalhadores sem-terra em Goiânia, GO. Num convite encaminhado para várias instituições, assinado por Derci Pasqualotto, havia a exposição dos objetivos a norteá-lo, a contar, segundo essa fonte, com a presença de em torno de 70 a 80 trabalhadores rurais sem-terra de vários estados. Conforme o texto:

O objetivo básico do encontro é por em comum as diversas experiências de lutas já ocorridas pela defesa ou conquista da posse ou uso da terra. Serão estudados as experiências de Ronda Alta-RS, Itaipu-PR, Alagamar-RN, Camucim-PB, Bico do Papagaio-GO, Região do Araguaia-PA, Itaquaraí- MS(sic), Fazenda Primavera-SP e outras. Será feita uma avaliação das falhas, erros e limites das diferentes lutas, das alianças estabelecidas no decorrer do conflito, dos ganhos obtidos, das pressões sofridas e de outros