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A CONSTRUÇÃO DO QUESTIONÁRIO E AS INFORMAÇÕES COLHIDAS O primeiro procedimento empírico foi um questionário misto (ver anexo),

3 TALHES METODOLÓGICOS E PROCEDIMENTOS EMPÍRICOS

3.1 A CONSTRUÇÃO DO QUESTIONÁRIO E AS INFORMAÇÕES COLHIDAS O primeiro procedimento empírico foi um questionário misto (ver anexo),

desenvolvido como parte das atividades do Estágio de Doutoramento realizado no Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa. O referido instrumento foi organizado no âmbito da estratégia de levantamento de informações para fazer avançar as pesquisas.

Como recomenda Silva, no levantamento dos primeiros dados empíricos “o importante não é o que se vê, mas o que se observa com método” (SILVA, c. 2000, p.62). Com esse propósito, busquei com o questionário um contato preliminar para compreender o sujeito jovem, seu lugar e seu espaço social.

32 Foram feitas duas edições para o vídeo. Tomando um roteiro previamente escrito como referencia, os apresentadores Cecília Carmo, da Rede de Televisão Portuguesa – RTP e Jéferson Beltrão, da Rede Record do Brasil, se dirigiram aos grupos focais dos jovens portugueses e brasileiros respectivamente.

Desde o primeiro diálogo com os voluntários, interessados em participar da pesquisa, foi possível aproximá-los do sentido de uma investigação científica de caráter qualitativo. Para construção do questionário, as contribuições de Hetkowski foram consideradas quando formula questões para entender os vínculos e as tendências entre a juventude e o esporte. As perguntas elaboradas por essa pesquisadora inspiraram a construção do instrumento e ajudaram na apreensão junto aos jovens dos olhares luso-brasileiros acerca da relação mídia e esporte. As questões a seguir foram referências importantes na elaboração do instrumento que adotei.

Os adolescentes quando escolhem um grupo como ´seu bando’, escolhem por quais motivos? Os adolescentes, como outros sujeitos, estão expostos aos meios de comunicação de massa. Como eles definem padrões de comportamento e estilos de vida a partir desta interação com a mídia? Porque eleger a TV como meio principal de comunicação? Como a mídia explora a predisposição do adolescente em ligar-se aos seus conteúdos? De que maneiras a influência da televisão está refletida nas atitudes dos adolescentes? E quais as conseqüências dessa influência na aquisição da identidade adulta? É a televisão fornecedora de referenciais e de conceitos para a vida do adolescente? Qual influência é predominante na hora de fazer uma escolha, ou de tomar uma decisão: a da mídia ou a dos pais? De acordo com a teoria qual deve predominar? E como isso se dá na prática? Como o adolescente percebe-se enquanto sujeito? Que ideologia está sendo construída pelo adolescente contemporâneo? Quem dita esta ideologia? Até que ponto o adolescente está ciente das influências que absorve da mídia televisiva? Como reage a isso? O que o adolescente reconhece como mais forte: sua identidade enquanto indivíduo? Ou sua identidade enquanto grupo? (HETKOWSKI, p. 38, 2000).

Outra referência considerada por este estudo é o questionário de uma pesquisa sobre “o que faz, o que pensa e como vive o adolescente brasileiro”, publicada em 1996, coordenada por Zagury. O instrumento compõe-se de sete seções (dados gerais; dados sobre o estudo; vida profissional; lazer; família; sexo e religião), busca saber as principais ocupações dos adolescentes no seu tempo livre e discute a televisão, como opção de lazer de mais de 60% dos entrevistados. Tais questões concorrem para aprofundar as referências em torno

do objeto com a amplitude que o problema requer e com o foco que o estudo necessita.

Dividido em duas partes, o questionário contou com seis questões relativas aos dados de identificação e sete questões referentes ao binômio mídia e esporte. Foi aplicado junto a uma parcela de jovens portugueses e africanos que vivem em Lisboa e, posteriormente, à brasileira residente em Salvador. A opção recaiu por entrevistar estudantes exclusivamente de escolas públicas portuguesas e brasileiras e, na sua grande maioria, oriundos de famílias de baixa renda.

Com a aplicação do questionário, pretendeu-se levantar, junto aos jovens, “dados” preliminares para subsidiar a reflexão em torno da face figurativa e da significação no que se refere a mídia esportiva. Em outros termos, as informações levantadas, mediante questionário, foram estratégicas para a construção, a edição do vídeo e orientação do roteiro de discussão do grupo focal.

O objetivo consistiu em perceber se a televisão é um meio de comunicação que se constitui em um habitus entre as populações juvenis citadas; entender o interesse dos jovens pela mídia esportiva e compreender que lugar a telinha ocupa nos seus respectivos tempos.

O questionário foi respondido por 74 jovens, de ambos os sexos, filhos de trabalhadores e trabalhadoras de baixa renda. Foi respondido no ambiente escolar, ou no ambiente dos grupos culturais envolvidos na pesquisa. O equilíbrio entre o olhar masculino e feminino buscou afastar a visão androcêntrica sobre a mídia esportiva e garantir a visão eqüitativa de gênero.

Masc 51%

Fem 49%

Ao serem perguntados sobre a freqüência com que assistem televisão, os jovens demonstraram seu interesse cotidiano pela mídia televisiva.

Gráfico 02 – Interesse pela mídia

16% 4% 80%

Todos os Dias Eventualmente Finais de Semana

Quando o questionário inqueriu sobre a disponibilidade temporal para TV de segunda a sexta-feira, a maioria declarou permanecer mais de 3 horas por dia em frente à TV.

Gráfico 03 – Tempo na mídia televisiva (segunda/sexta) 1% 26% 42% 31% Não Respondeu Até 1 hora Entre 1 e 3 horas Mais de 3 horas

Nos sábados, domingos e feriados as opções de lazer ou a oferta de trabalho reduzem o tempo de TV entre os jovens pesquisados.

Gráfico 04 – Tempo na mídia televisiva (sábado/domingos/feriados) 3%

20% 43%

34% Não Respondeu

Até 1 hora por dia Entre 1 e 3 horas por dia Mais de 3 horas por dia

O gosto pelo esporte tem grande repercussão entre os jovens e as modalidades mais citadas são coletivas: futebol, voleibol e basquetebol.

Gráfico 05 – Gosto pelo esporte 78% 18% 1% 3% Não Respondeu Muito Pouco Não Gosta

Outra questão importante para o presente estudo versou sobre o interesse midiático dos jovens, no que diz respeito ao esporte na televisão, e alcançou o seguinte índice de “audiência”.

Gráfico 06 – Preferência pelo esporte na mídia

3%

85%

12%

Não Respondeu Sim Não

Por fim, buscou-se levantar informações sobre o interesse dos jovens, que responderam ao questionário, em rever jogadas que resultam em gol, ponto e

outros. A beleza das jogadas, a narrativa dos comentaristas, “conferir o resultado”; porque é “emocionante”; “pra ver os melhores momentos”; pra ver se o gol foi duvidoso”; “para prestar a atenção nos detalhes do lance”; observar as falhas dos jogadores”; “para aprender as jogadas rápidas ou esplêndidas” e nas respostas dos jovens portugueses muda o vocábulo e permanece o sentido; “gosto de confirmar o momento”; pra ver todos os pormenores”; “para ver se foi realmente bonito”; rever a beleza do lance”; “ao rever o golo; estou também a rever os sentimentos que em mim...Isto claro, se for um golo da equipa porque torço”; “para ver uma boa manobra”; “porque dá praser”; “sometimes trings happer so fast I’ dont see what happened”; “perceber as ultrapassagens”; “pra ver como deve ser”; constituíram o conjunto das respostas dos interessados em rever as jogadas que resultam em gol ou ponto. Já a minoria que não se interessa em rever as jogadas na televisão pode ser sintetizada em duas respostas: “não gosto de rever as jogadas...eu acho muito intediante e patético”; “não me interesso em ver a jogada, muito menos a repetição”.

Das escritas colhidas nos questionários, foi possível apreender parte das representações sociais situadas entre a percepção e o conceito. A percepção como “ação de recolher” é para Lagneau, citado por Russ (1994) como “o acabamento das representações e a reificação dos dados sensíveis, que resultam, ambos, de um juízo”, uma mistura que resulta do trânsito entre o subjetivo e o objetivo e que gera uma fala, uma reflexão. E o conceito aprendido do casamento tenso e fecundo da psicologia e sociologia. Com base nesse

corpus teórico e na experiência dos grupos focais (vamos discutir adiante) fui compreendendo a representação e como nos aconselha Moscovici, em dois pólos: a figura (pólo passivo) e a significação (pólo ativo).

Nessa questão, ficou evidente a atração pelas finalizações como imagem síntese do espetáculo esportivo, ainda que a rejeição completa aparecesse eventualmente.

Gráfico 07 – Interesse em rever jogadas 1% 87% 12% Não Respondeu Sim Não

As informações levantadas cumpriram seu papel estratégico de subsidiar a edição do vídeo e de orientar parte do roteiro de discussão nos grupos focais. A observação dos “dados” permite-me, ainda que panoramicamente, perceber, para além da influência de causa e efeito da mídia televisiva no fazer cotidiano dos jovens e seus respectivos interesses pelas culturas corporais, a TV, na “condição de meios de comunicação social ou de linguagem audiovisual específica, ou ainda na condição de simples eletrodoméstico que manuseamos cujas imagens cotidianamente consumimos, tem uma participação decisiva na formação das pessoas” (FISCHER, 2001, p. 15), e, independente da condição do sujeito praticante de esporte, contribui para sua compreensão sobre a cultura, sua percepção dos problemas sociais que vivem e seu envolvimento num “dado” projeto de educação/sociedade.