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A abordagem sócio-construtivista defende que há necessidade de se compreender as Teorias Implícitas dos professores como produto de uma gênese e de uma transmissão sócio- cultural. O caráter individual das Teorias Implícitas baseia-se no acúmulo de experiências do professor, que, por sua vez, são adquiridas em contato com o contexto sócio-cultural mediatizadas pela prática ou atividade cultural e formas sociais de interação.

Ou seja, as categorias individual e social, além de não serem vistas numa perspectiva de linearidade, mas de dialeticidade para explicar as representações docentes, aparecem aqui complementadas pela categoria cultural, que possibilita dar sustentáculo e completude aos seus postulados teórico-metodológicos.

A cultura, nesta perspectiva, não deve ser compreendida como um organismo intencional, mas como uma abstração, uma vez que o acesso a ela está submetido às práticas e atividades realizadas no interior do grupo. Ou seja, ela se expressa ou se manifesta em práticas, atividades e formas interativas que se repetem no cotidiano, o que faz com que adquiram um âmbito muito regular, mas, ao mesmo tempo, estas práticas e formas só se tornam concretas, quando o professor partilha com seu grupo atividades já normatizadas ou convencionalmente estabelecidas (conhecimentos e saberes específicos à profissão).

A origem sócio-cultural das Teorias Implícitas dos professores está “nas distintas concepções sobre o ensino e podem ser encontradas através de análises historiográficas, possuindo um marcante caráter representacional para os professores” (MARRERO, 1993, p. 270).

As Teorias Implícitas originam-se no indivíduo porque são suas experiências sobre o mundo que possibilitam desenvolver o que lhe há de mais próprio, o pensamento na interação com o outro. Tais experiências são vividas e da mesma forma originárias de um amplo conjunto de situações sócio-culturais; o âmbito social está representado pelas formas interativas entre os professores; as experiências individuais são construídas da mesma forma no âmbito cultural, através de práticas ou atividades estabelecidas culturalmente por um mesmo grupo social. Portanto, o individual, o social e o cultural são partícipes na origem, assim como na construção e na mudança das teorias implícitas do professor.

As teorias implícitas não se transmitem, mas se constroem pessoalmente no seio do grupo. Pode-se denominar este processo sócio-construtivismo, já que o indivíduo constrói seu conhecimento em contextos sociais e durante a realização de práticas ou atividades culturais (RODRIGO; RODRIGUEZ; MARRERO, 1993, p.53).

Rodrigo (1993) considera que há dois níveis funcionais de representações: o nível de conhecimento e o nível de crenças. Analisando as diferenças entre as sínteses desses dois níveis (Quadro 2), aponta importantes elementos para compreensão da origem e desenvolvimento das teorias implícitas.

O conteúdo do conhecimento, denominado de “convencional ou normativo”, é resultado de diferentes versões prototípicas de conhecimentos as quais constituem um repertório de modelos culturais sobre um dado fenômeno. O conteúdo das crenças situam-se

em um segundo nível chamado de “específico”, revelando um caráter mais pessoal dos protótipos culturais, já que seu produto é construído pelo sujeito de forma parcial em função das situações e necessidades diárias. No entanto, uma vez que o professor participa de práticas culturais em formatos de interação social, recebe uma influência das Teorias Implícitas já bastante normatizadas no meio do próprio grupo.

Ambos conhecimentos são construídos ativamente e não correspondem a conteúdos distintos, contudo atendem a fins diferentes em relação à demanda. O diferencial entre o conhecimento e a crença não está no conteúdo em si, mas na demanda de orientação teórica (conhecimento) ou pragmática (crença) (RODRIGO; RODRIGUÉZ; MARRERO, 1993).

CONHECIMENTO

CRENÇAS

Conteúdo Sínteses culturais e normativas Sínteses normativas no seio dos grupos

Origem Conteúdos socialmente accessíveis Contextos interativos próximos Procedimento de

construção Sínteses de experiências Sínteses de experiências Organização Protótipos Estáveis (quase esquemas) Protótipos variáveis (segundo

síntese) Tipo de sínteses Puras Mistas Limites das sínteses Imprecisas Definidas Nível de consciência Explícito Implícita

Quadro 02 Diferenças entre as sínteses de conhecimento e de crenças (RODRIGO, 1993,p 113).

As sínteses de conhecimentos originam-se mediante demandas de tipo teóricas, permitindo ao professor ter acesso a pontos de vistas alternativos. Ele utiliza as teorias de maneira declarativa para expressar verbalmente idéias sobre um determinado domínio, refletir sobre elas ou discriminar entre várias delas. Portanto, são ações epistemologicamente explícitas, que servem para modificar sua relação cognitiva com o mundo.

A estrutura interna das sínteses de conhecimentos está constituída por idéias mais representativas e exclusivas de cada teoria pesquisada.

Agora, os limites entre os modelos são imprecisos, já que nem todas as idéias relacionadas com uma teoria são exclusivas desta. A medida que as idéias são menos representativas de uma teoria, é mais provável que seja partilhada por outra [...]. Só os enunciados muito típicos de uma teoria são exclusivos desta. A medida que a tipicidade dos enunciados é menor, aumenta a probabilidade de encontrá-los também nas formulações de outras teorias (RODRIGO; RODRIGUEZ; MARRERO, 1993, p.114).

De forma inversa, a estrutura interna das crenças se baseiam em sínteses mistas, embora os limites entre as crenças sejam bem definidos porque os professores não assumem todas as combinações possíveis de teorias.

As sínteses de crenças surgem diante de contextos interativos próximos, em situações práticas, onde o professor se utiliza de teorias para interpretar situações, inferir, prever, controlar, decidir, atuar e planejar ações, expressando, assim, um ponto de vista pessoal sobre um determinado objeto. São ações com suporte epistemológico implícito ou inacessível a consciência.

Se as crenças cumprem um papel tão importante na percepção e organização do mundo, e o produto final permite ao homem sobreviver, é porque estas teorias não são o resultado exclusivo de uma elaboração pessoal. Mas, são o resultado de uma combinação de fatores tanto pessoais, como sociais que marcam as propriedades de sua epistemologia (RODRIGO; RODRIGUEZ; MARRERO, 1993, p.83).

O conhecimento e as crenças não são exclusivamente desenvolvidos pelo professor, nem puramente transmitidos pelo contexto social, mas são construídos no contexto social através da realização de atividades ou práticas culturais, numa incessante síntese de experiências. As atividades ou práticas culturais relacionadas com a profissão docente, por exemplo, são formalmente definidas por um contexto sócio-cultural, as quais se estabelecem tipos de ações, metas, repertório de conhecimentos e saberes, técnicas para a sua transmissão, de maneira a guiar o estabelecido perfil profissional do docente.

A perspectiva sócio-construtivista acredita que o professor não entra em contato direto com a cultura educacional, mas com práticas culturais no seio de seu grupo docente. Tais práticas não se apresentam com um conhecimento já elaborado pelo grupo docente, mas é o próprio professor que elabora o conhecimento por si mesmo, a partir de padrões de experiências obtidas em seu contexto psico-social.

Assim, os professores não dispõem de teorias armazenadas, mas de sistemas de experiências sobre determinado fenômeno, através das quais podem sintetizar uma determinada teoria para diferentes propósitos, em determinados momentos. O tipo de demanda e a influencia do contexto sócio-cultural ativam diferentes formas de representações,

fazendo com que os professores representem a realidade a partir de perspectivas diferentes (sínteses de conhecimentos) ou a partir de um único ponto de vista (sínteses de crenças) existindo assim representações diferentes para um mesmo fenômeno. Essas idéias apresentam importância significativa ao se pensar às metodologias de estudo das Teorias Implícitas.

As sínteses de conhecimentos estão formadas por um repertório de modelos culturais sobre um mesmo fenômeno. São esquemas culturais provenientes da transmissão das teorias científicas, apresentando uma organização interna em relação a protótipos estáveis, porém com limites difusos. As sínteses de crenças, se organizam através de mesclas/traços de protótipos teóricos variáveis, os quais o professor só assume como próprias, ou atribui a outros, algumas dessas versões teóricas. Os limites destas sínteses são bem definidos e partilhados por um grupo de pessoas mais reduzido (RODRIGO; RODRIGUEZ; MARRERO, 1993, p.83).