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3.2 A docência do Ensino Fundamental no âmbito desta pesquisa

3.2.2 Subdomínios da docência

3.2.2.1 Pressupostos teóricos

Teoricamente, comungamos com Ramalho, Núñez e Gauthier (2003) na compreensão de que a construção da identidade profissional é, por natureza, um processo dialético que vai desenvolvendo-se no percurso da profissionalização. No caso da docência, para se vislumbrar uma leitura adequada das várias identidades profissionais, é necessário buscar elementos de caráter endógeno à profissão (profissionalidade) e elementos de caráter exógeno (profissionalismo), haja vista estarem articulados um ao outro.

Os 7 subdomínios estabelecidos para esta pesquisa são os que melhor configuram as características das teorias da docência nos anos iniciais do Ensino Fundamental, uma vez que estão sempre presentes nas análises da literatura especializada. Nesta perspectiva, a análise do conteúdo da bibliografia possibilitou definir subdomínios da atividade docente, tomando como base o agir docente no interior da sala de aula (Função Docente, Concepção de Aluno, Conteúdos de Ensino e Gestão da Sala de Aula), assim como suas relações externas mantidas no meio social mais amplo (Processo Formativo, Condições de Trabalho, Natureza do Grupo Docente), conforme as exigências sociais em determinadas épocas sócio-históricas.

3.2.2.1.1 Função docente

O professor, historicamente, exerce uma atividade de trabalho no contexto econômico, político, social e cultural de cada sociedade. A função da docência é revista (de igual modo, que os outros subdomínios aqui em destaque) sempre que há necessidade de um rompimento com o modelo de sociedade, de educação e de formação do homem, em decorrência de mudanças relacionadas com seus novos projetos.

Maurice Tardif e Claude Lessard (2005, p.71), ao realizarem uma análise sobre o trabalho docente, defendem que o professor cumpre o duplo papel de instruir e socializar o aluno através da escola. Assim, na presente pesquisa, este subdomínio da docência está voltado para as especificidades conferidas ao professor para a educação do aluno, de caráter pedagógico e social.

3.2.2.1.2 Concepção de aluno

Ao longo do percurso de profissionalização da docência, se discute o lugar do aluno no processo de ensino-aprendizagem, assim como o seu papel nas interações do seu contexto sócio-histórico.

Neste prisma, não existe nenhuma ação dirigida ao desenvolvimento formativo de qualquer das capacidades humanas que não corresponda a um modelo de aprendiz e ao papel que ele deve ter na sociedade (VEIGA; ARAÚJO; KAPUZINIAK, 2005; ZABALA, 2000).

Este subdomínio procura identificar, nos diferentes momentos do percurso da profissionalização da docência, quais as características presentes sobre a concepção de sujeito aprendiz e seu perfil de atuação na sociedade.

3.2.2.1.3 Conteúdos de ensino

Os conteúdos de ensino dizem respeito à questão: o que ensinar, vinculado ao objeto de estudo de cada ciência ou disciplina e às habilidades necessárias ao aluno para se relacionar com o objeto de assimilação e para favorecer seu desenvolvimento e interação social. Dessa forma,

no processo de aprendizagem se assimilam não só conhecimentos como também um conjunto de ações vinculadas a eles, quer dizer, os alunos devem apropriar-se do conteúdo da disciplina, formado por um sistema de

conhecimentos e outro sistema de habilidades, hábitos, etc. (NÚÑEZ; PACHECO, 1997, p.99).

Nosso interesse, neste subdomínio, não está em discriminar a especificidade dos conteúdos ensinados pelo professor nas diversificadas teorias da docência, mas sua natureza, enfatizando dimensões referentes aos tipos de conhecimentos em que estão baseados e aos princípios éticos subjacentes.

3.2.2.1.4 Gestão da sala de aula

A escola para funcionar como tal requer a presença do professor que desenvolve suas relações sociais, predominantemente na sala de aula, gerindo um conjunto de práticas didático-pedagógicas. A organização dessa gestão (colocando o docente no “comando” da ação educativa) continua sendo a maneira dominante de ensinar, fazendo com que o professor se sinta responsável pela capacidade de fazer funcionar sua sala de aula.

Este subdomínio apresenta características da gestão do ensino em sala de aula, “célula básica presente na história da evolução escolar” (TARDIF; LESSARD, 2005, p. 81), procurando enfocar aspectos didático-pedagógicos assumidos pelo professor, como: o perfil apresentado no relacionamento professor-aluno, a metodologia de ensino utilizada no processo de ensino-aprendizagem e a maneira de compreender oprocesso avaliativo.

3.2.2.1.5 Processo formativo

O processo formativo do professor se constitui outro subdomínio bastante explorado nas características das identidades docentes através da literatura especializada, como: Brzezinski (1996, 2003), Ramalho, Núñez e Gauthier (2003), Nóvoa (1997), Perrenoud (1993, 2000).

A formação docente é um espaço de construção de identidades (DUBAR, 1997) que emergem das propostas curriculares do Estado, numa dinâmica dialética.

As identidades profissionais surgem e se modificam durante a formação inicial na qual enfrentam realidades diversas tanto nos contextos da atividade profissional quanto nos sociais mais amplos, em face das novas necessidades sentidas pelos professores (NÚÑEZ; RAMALHO, 2005, p.100).

Nosso interesse está voltado para a formação inicial, procurando caracterizar onde acontece esta formação, ou seja, o lócus da formação designado ao professor, como também oprincípio formativo que norteia todo esse processo.

3.2.2.1.6 Condições de trabalho

As condições de trabalho dos professores, normalmente, correspondem a variáveis (tempo de trabalho, número de alunos atendidos, salário dos professores, dentre outros) que servem habitualmente para o Estado contabilizar, avaliar e remunerar o trabalho docente.

A importância desse subdomínio incide em distinguir as condições oficiais atribuídas pelo Estado à atividade docente para compreender se os professores as assumem em função de suas necessidades profissionais e de seu contexto cotidiano de trabalho com os alunos (TARDIF; LESSARD, 2005).

Nesta pesquisa, adotamos elementos de dimensões legais do ensino referentes ao tipo de atividade desempenhada, ao vínculo empregatício e à remuneração concedida aos professores, como expressão de mecanismos de regulação nas relações da docência com o Estado e a sociedade.

3.2.2.1.7 Natureza do grupo docente

Há um consenso de que a “profissionalização da docência, é um processo complexo de mudança social no qual estão envolvidos diversos grupos de atores e diversificadas entidades e organizações que defendem visões muitas vezes opostas” (VEIGA; ARAÚJO; KAPUZINIAK, 2005, p.31).

Para compreender tal processo é necessário colocar em relevo as diferentes posturas político-pedagógicas do grupo docente, através dos seus mecanismos de interações internas para encarar as atribuições do Estado e intercambiar com a sociedade (GADOTTI, 1996).

Assim, neste subdomínio, destacamos a natureza do grupo docente, através da sua forma de organização e do processo de socialização dos saberes em seu interior.

Na nossa compreensão, os subdomínios aqui argumentados se constituem elementos estruturantes para configurar as teorias da docência nos anos iniciais do Ensino Fundamental. Nesse sentido, a função docente, os conteúdos de ensino, a concepção de alunos, a gestão da sala de aula, o processo formativo, as condições de trabalho e a natureza do grupo profissional

são elementos que compõem as teorias profissionais da docência cuja articulação ocorre de forma dinâmica num contínuo processo de mudança (Figura 4).

G Geessttããooddaa S SaallaaddeeAAuullaa F FuunnççããooDDoocceennttee PPrroocceessssoo F Foorrmmaattiivvoo C Coonncceeppççããoo TTEEOORRIIAASS d deeaalluunnoo DDAADDOOCCÊÊNNCCIIAA N Naattuurreezzaa d doo G GrruuppooDDoocceennttee C Coonntteeúúddooss d dee E Ennssiinnoo CCoonnddiiççõõeess d dee T Trraabbaallhhoo

Figura 4 Representação dos Subdomínios da docência nos anos iniciais do Ensino Fundamental.