• Nenhum resultado encontrado

Construção, tradição e modernismo na obra de Liberal de Castro Abertura da discussão

No edifício do antigo Departamento de Cultura da UFC, no Hotel Colonial, na sede do Banco do Nordeste do Brasil em Penedo e em sua tese de Docência-Livre, construção, tradição e modernismo se encontram intimamente relacionados.

O modernismo arquitetônico, para o arquiteto José Liberal de Castro, significa a fidelidade aos princípios formais modernistas, ao uso de novas técnicas, de materiais duráveis e ao rigor da construção. Considerando-se, porém, que cada caso é um caso, síntese de múltiplos condicionantes; quando as circunstâncias do projeto exigiram, o arquiteto José Liberal de Castro se aproximou de referências formais e construtivas da arquitetura colonial brasileira. Dialogou com a tradição, mas se man- teve moderno. Ou seja, quando as circunstâncias do projeto convieram, utilizou-se de referências tipológicas da arquitetura vernácula, setecen- tista e oitocentista, tradicionalmente consagradas, adaptando-as aos prin- cípios formais e construtivos modernistas. Os atributos característicos do vernáculo construtivo da arquitetura tradicional passam a interagir com a sistematização da arquitetura moderna.

Tanto no Hotel Colonial como na sede do Banco do Nordeste em Penedo, José Liberal de Castro não abandona sua posição como difusor dos princípios modernistas no Nordeste, embora estabeleça um franco diálogo com a arquitetura colonial brasileira.

No Hotel Colonial, eleva o seu conhecimento da história e das téc- nicas construtivas ao mais alto grau, concebendo um edifício moderno. Na agência do Banco do Nordeste, em Penedo, novamente a história e as técnicas construtivas do presente e do passado são içadas ao padrão de concepção do espaço arquitetônico modernista.

Em ambos os casos, os projetos dialogam com a tradição. No caso do Hotel Colonial, o recurso à tradição não deixou de ser uma exigência do proprietário que requereu ao arquiteto um edifício com o aspecto de uma casa de fazenda. Já na sede do BNB em Penedo, o conjunto urbano tombado pelo IPHAN, em 1996, impôs a postura do risco. A tradição é revelada através dos aspectos da arquitetura tradicional brasileira em densa consonância com os princípios modernistas. O profundo conheci- mento das técnicas construtivas abranda o antagonismo entre o sentido de tradição e o de modernidade, mas a tensão entre os polos ambivalentes persiste. No ponto tênue da tensão, a postura modernista se revela. A per- manência, contudo, não compromete a qualidade espacial da arquitetura.

Fica aberta a discussão.

Referências

ANDRADE, Margarida J. S.; DIÓGENES, Beatriz H. N.; DUARTE JR, Romeu. Liberal de Castro – documento. Revista Arquitetura e Urbanismo, n. 45, São Paulo: Pini, 1996. BASTOS, Maria Alice Junqueira. Pós-Brasília: rumos da arquitetura brasileira: discurso prática e pensamento. São Paulo: Perspectiva: FAPESP, 2003.

BASTOS, Maria Alice Junqueira; ZEIN, Ruth Verde. Brasil: Arquiteturas após 1950. São Paulo: Perspectiva, 2010.

BRENDLE, Betânia. Quando o Moderno era um Estorvo ao Tombamento do IPHAN:

o Hotel São Francisco em Penedo, Alagoas. 4o DOCOMOMO N / NE. 2012.

BRUAND, Yves. Arquitetura contemporânea no Brasil. São Paulo: Perspectiva, 1981. CASTELO, Roberto. Niemeyer, tradição e ruptura. Xérox. S/ref.

51

CASTRO, José Liberal de. Notas relativas à arquitetura antiga do Ceará. Tese de Docência-Livre. Departamento de Arquitetura e Urbanismo. UFC. 1980.

CASTRO, José Liberal de. Martins Filho, o edificador. In: MENEZES NETO, Paulo Elpídio (Org.). Martins Filho de corpo inteiro. Imprensa Universitária. Fortaleza. 2004.

CASTRO, José L. Panorama da Arquitetura Cearense. Cadernos Brasileiros de

Arquitetura, v. 9 e 10, São Paulo: Projeto, 1982.

COMAS, Carlos Eduardo Dias. A arquitetura de Lucio Costa: uma questão de interpretação. In: NOBRE, Ana Luiza et al. Um modo de ser moderno: Lucio Costa e a crítica contemporânea. São Paulo: Cosac Naify, 2004.

COSTA, Lúcio. Lúcio Costa: registro de uma vivência. São Paulo: Empresa das Artes, 1995.

DIÓGENES, Beatriz H. N.; ANDRADE, Margarida J. S.; DUARTE JR, Romeu. Liberal de Castro – Documento. AU – Arquitetura e Urbanismo. Pini, ano 11, abr./maio, 1996. DIÓGENES, Beatriz H. N.; PAIVA. Ricardo A. Caminhos da arquitetura moderna em Fortaleza: a contribuição do professor arquiteto José Liberal de Castro. Anais 9o

DOCOMOMO BRASIL. Brasília, 2011.

JUCÁ NETO, C. R. Primórdios da urbanização no Ceará. BNB/UFBA, 2012a.

JUCÁ NETO, C. R. Notas sobre a Casa de fazenda Setecentista e Oitocentista cearense. Arquimemória 4 . Anais. 2012b.

JUCÁ NETO, C. R.; FERNANDES, Ricardo; NASCIMENTO, Clewton; ANDRADE, Margarida; DIÓGENES, Beatriz. A Universidade e a Cidade – Por uma História da Arquitetura Moderna da Universidade Federal do Ceará. Anais 8. Seminário

Docomomo Brasil, Rio de Janeiro, 2009.

JUCÁ NETO, C. R.; FERNANDES, Ricardo; NASCIMENTO, José Clewton; ANDRADE, Margarida J. F. de; DIÓGENES, Beatriz; DUARTE JR., Romeu. O modernismo cearense: a Universidade Federal do Ceará (UFC) e a cidade de Fortaleza. Anais 3o DOCOMOMO

NORTE NORDESTE, João Pessoa, 2010.

PAIVA, Ricardo A.; DIÓGENES, Beatriz H. N. A contribuição do arquiteto José Liberal

de Castro à escrita da História da Arquitetura e do Urbanismo no Ceará. Anais 2o

Seminário Ibero-Americano – Arquitetura e Documentação. UFMG. Belo Horizonte,

2011a.

PUPII, Marcelo. Por uma história não moderna da Arquitetura Brasileira. Campinas, SP: Pontes: Associação dos Amigos da História da Arte: CPHA: Unicamp, 1998. SANCHES, Maria Ligia Fortes. Construções de Paulo Ferreira Santos: a fundação de uma historiografia da arquitetura e do urbanismo no Brasil. Tese de Doutorado. Tese apresentada ao programa de Pós-Graduação em História Social da Cultura do Departamento de História da PUC-Rio como parte dos requisitos parciais para a obtenção do título de Doutor em História. Rio de Janeiro. 2005.

SANTOS, Paulo F. A arquitetura religiosa em Ouro Preto. Rio de Janeiro: Kosmos, 1951.

SEGAWA, Hugo. Arquiteturas no Brasil 1900-1990. 2. ed. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1999.

TINEM, Nelci. O alvo do olhar estrangeiro: o Brasil na historiografia da arquitetura moderna. João Pessoa: Manufatura, 2002.

VASCONCELLOS, Sylvio de. Sistemas Construtivos adotados na arquitetura do

Brasil. Matéria publicada para uso dos alunos da Faculdade de Artes e Arquitetura

da UFC. 1970.

XAVIER, Alberto (Org.). Arquitetura moderna brasileira: depoimento de uma geração. ed. rev. e amp. São Paulo: Cosac Naify, 2003.

Caminhos da arquitetura moderna em