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Notas históricas sobre o surgimento da cidade

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egundo fontes bibliográficas, diferentemente de muitas cidades alago- anas, a atual cidade de Viçosa não teve “nenhum engenho de açúcar a lhe servir de berço, mas tão somente um pequeno roçado de algodão plantado na parte não ladeirosa, onde mais tarde [surgiria] a Praça do Comércio, atual Praça Apolinário Rebelo” (SÁ, 2001, p. 29).

Efetivamente nasceu como o povoado Riacho do Meio, “ao lado de um cruzeiro e de uma ermida de palha, e começou a se desenvolver ao redor de outra capelinha de palha, e começou a se desenvolver ao redor de outra capelinha de madeira [...]” (SÁ, 2001, p. 29)2.

Afirma ainda o referido autor, que vieram para implemen- tar a ocupação e povoamento da área, pessoas procedentes da “velha” Cidade de Alagoas, atual Marechal Deodoro, como o colono português Manoel Francisco3, e da atual Santa Luzia do Norte. Entretanto, são

1 Por Inventário Arquitetônico considera-se a identificação de elementos devidamente tipi- ficados na evolução do estilo e partido arquitetônico de edificações e/ou equipamentos urbanos, registrados de forma sistemática.

2 Esta capelinha corresponde à atual igrejinha de Nossa Senhora do Rosário.

3 “Esse Manoel Francisco [...] um agricultor da Villa das Alagoas [...] que talvez fosse um dos romeiros da cruz [..] ”(ÁLBUM..., 2008, p. 4, 5). Tal expressão que consta sobre o primeiro povoador que se tem registro nas terras em que se instalaria a atual cidade de Viçosa, aponta para o aspecto da religiosidade cristã do mesmo. Consta ainda na referida obra que o seu envio para esta área foi por determinação do Ouvidor da Comarca, José de Mendonça de Mattos Moreira para o experimento da cultura do algodão.

quase inexistentes notícias sobre o desenvolvimento do povoado Riacho do Meio nos primórdios do século XIX, sabendo-se apenas, por registro documental do Livro de Tombo de arquivo paroquial, que em 1818, fora feita a doação do patrimônio das terras do Bom Jesus do Bonfim “por João da Silva Cardoso e sua mulher Tereza Maria Fiúza” (SÁ, 2001, p. 32).

Embora já constituído e tendo galgado certa condição de desmem- bramento de território na terceira década do século XIX, é dito e reiterado por historiadores que, nas duas décadas anteriores, o seu desenvolvimento tenha sido “tão inexpressivo que passou desapercebido aos cronistas que então se ocuparam da Comarca de Alagoas. [...]” (BRANDÃO apud SÁ, 2001, p. 31).

O avanço no cultivo do algodão introduzido veio a determinar “[...] a instalação das primeiras bolandeiras para o seu beneficiamento, [que foram] substituídas e ampliadas mais tarde pelos chamados ‘descaroçado- res’ ou ‘vapores de algodão’ [...]” (SÁ, 2001, p. 33).

Mesmo a localidade não tendo surgido a partir da fundação de engenho de açúcar, a ocorrência dos mesmos se faria de modo posterior ao aparecimento de algumas engenhocas para fabrico de rapadura, que fomentaram o surgimento de engenhos e contribuíram como forte impulso à economia local já capitaneada pelo algodão no século XIX. A formação urbana da vila fora iniciada em 1833, vindo efetivamente tornar-se cidade, por decreto, em 16 de maio de 18924. Conquanto as informações sejam

bastante escassas e dispersas, sabe-se que

[...] até a primeira metade do século XIX e até a década de 1860/70 continuaram muito vagas as referências sobre o aspecto urbano de Assembleia [...] apenas através de orçamentos municipais muito restritos, controlados por leis e resoluções do governo provincial, podia-se saber que na vila havia ruas e praças [...] Iluminação e limpeza públicas, calçamento, açougue e matadouros, constru- ções de pontes e outros melhoramentos [...] (SÁ, 2001, p. 81).

Informa ainda o autor que, em um Relatório do ano de 1869 escrito pelo Governador da Província José Bento Júnior, tem-se a ideia de como a

4 O Decreto que conferiu a elevação ao posto de cidade foi sancionado pelo então governa- dor, Gabino Besouro. A posse oficial da condição de cidade ocorreu em 05 de junho de 1892, conforme consta na Ata de Inauguração e Posse da Cidade de Viçosa que consta no APA (Arquivo Público de Alagoas).

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vila, já com 36 anos de estruturada, ainda era pequena, pois possuía ape- nas oito ruas5 consideradas públicas. Dado o relativo desenvolvimento,

alguns artigos de posturas municipais da Resolução aprovada em 1870 já contemplavam ações conservativas, e até proibitivas, como recursos de gerar melhoramentos para manter um padrão de urbanidade condizente ao crescimento local.

Contudo, a instalação da estrada de ferro ocorrida em 1891, tornada o maior meio de comunicação na época, é que viria a dar um impulso determinante à evolução na economia da ainda vila, logo em seguida elevada à cidade6, decorrente de novas dinâmicas e relações que ali se

instalaram pelo “deslocamento de pessoas de Maceió e de áreas do inte- rior do estado para Viçosa, principalmente comerciantes que iam ali se estabelecer, determinando assim um aumento populacional; numerosas construções surgidas entre 1890 e 1910; abertura de novas ruas [...].” (SÁ, 2011, p. 101).

O período compreendido entre os anos 1896 e 18977 foi marcante

no âmbito de execução de obras importantes para melhoramentos da con- dição urbana de Viçosa, que contou, inclusive, com o levantamento da planta da cidade pelo arquiteto-engenheiro italiano, Luiz Lucarini, que vivia em Maceió, à época. Ainda nesse período deu-se a reconstrução da Cadeia Pública entre novas construções e pavimentações de ruas.

Sob tais empreendimentos, o advento do século XX viria encontrá- -la já bem mais estruturada, embora ainda em nível deficitário, mas já capacitada para acolher uma dinamizada “Paisagem Social”8 que des-

creve Octávio Brandão:

5 “Ruas da Matriz, da Palha, do Aragão, do Gurganema, do Vigário, (ou de Baixo), do Juazeiro, da Cadeia e Beco do Ventura” (SÁ 2001, p 91).

6 Conforme registra o ÀLBUM do Centenário de Viçosa: “o verdadeiro progresso da viçosa, pode-se dizer, data do anno de 1891 com a inauguração da via férrea, a qual se realizou na tarde do dia 24 de dezembro, entre aclamações festivas e delirantes do povo.” (2008. p. 16). Consta também em tal obra que após essa elevação, a “Villa Viçosa passou à cathego- ria de cidade”.

7 Este período corresponde à administração do intendente Frederico Neto Rebelo Maia e os melhoramentos feitos reforçaram a imagem de progresso que se pretendia exibir ao iniciar o novo século que se aproximava – o séc. XX.

Pelas ruas da cidade natal passavam carros de bois, gemendo sua melopeia triste. Atravessam-na: os almocreves, tropeiros. Os tan- gerinos comboiando as boiadas. Os retirantes que desciam dos altos sertões. Os peregrinos que iam a Juazeiro do padre Cícero, no Ceará. [...] No princípio do século XX a sociedade viçosense já era bastante complexa. Abarcava os mais diversos grupos, classes e tipos sociais [...] os operários da construção civil e o desencaroçador de algodão. Os padeiros. Uns poucos ferroviários, os mecânicos das máquinas a vapor nos engenhos. Muitos arte- sãos – trabalhadores a domicílio, alfaiates, sapateiros, funileiros, estes faziam objetos de folha de flandes. [...] entre os tipos urba- nos destacamos pequenos comerciantes, funcionários públicos e elementos das profissões liberais grandes e médios comerciantes, compradores de algodão e cereais, fornecedores ligados direta- mente aos agentes e corretores de Maceió, principalmente em Jaraguá (SÁ, 2000, p. 106, grifo nosso).

A menção feita à presença de ‘operários da construção civil’ no princípio do século XX, na cidade, tão somente reforça o que se percebe diante da larga ocorrência de casas em partido de planta com entrada late- ral, portões em ferro, platibandas ornamentadas com relevos em massa, entre outras características tipológicas/estilísticas do ecletismo e compo- sições revivalistas que a cidade ainda detêm em vários exemplares. Isso, não apenas verificado em edifícios que exibem datação de sua conclu- são nas fachadas, mas também em várias outros onde se torna evidente o período temporal entre as décadas de 1910 a 1930/40 pela própria feição arquitetônica, a exemplo das seguintes edificações:

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Figura 1 – Exemplares de tônica eclética. 1. Antiga Intendência Municipal. 2. Casa com entrada

lateral, 1920. 3. Casa com entrada lateral, 1917. 4. Fonte: Casa paroquial, 1928. Acervo Inventário do Patrimônio Arquitetônico, Viçosa/AL, 2011.