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8.3.1 Resultados

Procedimentos teóricos

A revisão de escopo demonstrou que a maioria das ações desenvolvidas no sistema penitenciário pela EABP está relacionada às atividades de promoção da saúde, prevenção de doenças, empoderamento da população apenada e aos exames de rastreio para doenças mais prevalentes no ambiente prisional, como as infectocontagiosas e saúde mental.

No que se refere ao processo de trabalho desta equipe de saúde, as entrevistas com os profissionais que atuam em instituições prisionais informaram que o processo de trabalho das EABP integra: práticas assistenciais de cunho biologicista – consultas e encaminhamentos – que objetivam suprir as necessidades de saúde dos reclusos como eixo estruturante; também são desenvolvidas atividades de aconselhamento, principalmente entre os portadores de HIV/AIDS; e ações que visam o acolhimento direcionado para a PPL e sua família, conforme preconiza o PNAISP.

Assim, após essas etapas e o embasamento pedagógico da TAS, o OVA foi estruturado em sete telas, a saber: apresentação, conceitos, aparatos legais, sistema penitenciário, processo de trabalho, publicações e disposições finais/créditos. As telas dispõem, além do título e apresentação das informações, texto interativo, dicas de leitura para aprofundamento e sugestões de exercício. As telas, seus objetivos e itens componentes encontram-se descritivamente expostas no quadro 8.

Quadro 8 - Telas que compõem o OVA, segundo seu objetivo e itens componentes,

Natal, Rio Grande do Norte, Brasil, 2019.

TELA OBJETIVO ITENS COMPONENTES

Tela 1 Home/

Apresentação

Apresentar o Objeto Virtual de Aprendizagem, incluindo seu conteúdo e instruções para a navegação

Texto inicial com boas-vindas

Instruções de navegação e botões de acesso às telas de conteúdo

Tela 2 Conceitos

Objetivo da aprendizagem:

Compreender e relacionar conceitos-

chaves sobre o tema saúde

penitenciária Título Apresentação da tela Texto interativo Proposta de exercício Tela 3 Aparatos Legais Objetivo da aprendizagem:

Conhecer as legislações e publicações sobre o tema saúde penitenciária

Título

Apresentação da tela

Texto interativo com hiperlinks Dicas de leitura para aprofundamento Proposta de exercício Tela 4 Sistema Penitenciário Objetivo da aprendizagem: Reconhecer as características do sistema penitenciário brasileiro

Título

Apresentação da tela

Texto interativo com hiperlinks Dicas de leitura para aprofundamento Proposta de exercício

Tela 5

Processo de trabalho

Objetivo da aprendizagem:

Identificar aspectos relacionados ao processo de trabalho em saúde nas penitenciárias.

Título

Apresentação da tela

Texto interativo com hiperlinks Dicas de leitura para aprofundamento

Tela 6 Publicações

Elencar publicações nacionais e internacionais sobre o tema saúde penitenciária.

Título

Apresentação da tela

Texto interativo com hiperlinks

Tela 7 Disposições finais Créditos

Fornecer informações sobre as

disposições finais e apresentar instituições e equipe responsável pelo desenvolvimento do Objeto Virtual

Texto final com informações relevantes, limitações do Objeto Virtual de aprendizagem e informações das

instituições de produção, de

Procedimentos empíricos e analíticos

Participaram na primeira e na segunda rodadas de validação de conteúdo 11 e 8 juízes, respectivamente e foram realizadas as análises referentes a concordância entre os juízes e o CVC. Todas as participantes da etapa de validação de conteúdo foram do sexo feminino. A média de idade dos juízes na Delphi 1 foi de 41,2 anos e na Delphi 2 38,8 anos. Em relação à formação, a maioria apresentou graduação em enfermagem e pós-graduação em nível de doutorado (Tabela 2).

Tabela 2 - Caracterização dos juízes quanto à formação em nível de graduação e

pós-graduação, Natal, Rio Grande do Norte, Brasil, 2019.

Caracterização Delphi 1 Delphi 2

n % n %

Formação em nível de graduação

Enfermagem 7 63,6 5 62,5

Psicologia 2 18,2 2 25

Medicina 1 9,1 1 12,5

Outros 1 9,1 - -

Formação em nível de pós-graduação

Doutorado 7 63,6 5 62,5

Mestrado 4 36,4 3 37,5

A tabela 3 informa sobre o nível de concordância e o CVC referente a avaliação geral do OVA, nas rodadas de Delphi 1 e 2. Observa-se que houve melhora nas duas avaliações de Delphi, que inclui a avaliação do CVC igual a 1 na segunda rodada, equivalente ao valor máximo possível de ser alcançado.

Tabela 3 - Nível de concordância e CVC para a avaliação geral do OVA, a partir dos

critérios de Pasquali et al (2010), nas rodadas Delphi 1 e 2, Natal, Rio Grande do Norte, Brasil, 2019.

Critério Concordância (%) CVC

Delphi 1 Delphi 2 Delphi 1 Delphi 2

Comportamento 91 96 1 1 Objetividade 85 100 0,91 1 Simplicidade 88 100 0,82 1 Clareza 88 92 0,91 1 Relevância 91 96 1 1 Precisão 91 92 1 1 Variedade 91 100 1 1 Modalidade 94 100 1 1 Tipicidade 94 100 1 1 Credibilidade 91 100 1 1 Amplitude 88 100 1 1 Equilíbrio 97 96 1 1 Média 90,7 97,6 0,97 1

O quadro 9 apresenta as sugestões elencadas pelos juízes na Delphi 1, informando as alterações realizadas e as não realizadas, justificando-as. Percebe-se que a maioria das sugestões ofertadas pelos juízes se mostraram relevantes e foram acatadas pelos autores.

Quadro 9 - Sugestões dos juízes nos itens considerados parcialmente adequados e

inadequados na etapa Delphi 1, Natal, Rio Grande do Norte, Brasil, 2019.

TELA 1 APRESENTAÇÃO

Sugestões de modificações realizadas Sugestões de modificações não

realizadas/justificativa

Inclusão da descrição dos ícones que comtemplam os conteúdos do OVA;

Aumento do tamanho da fonte;

Padronização dos vocábulos em termos em saúde nacionalmente publicitados.

Não foi inserido um espaço para esclarecimento de dúvidas com o tutor, pois trata-se de um recurso educacional aberto e os autores estão isentos de se colocarem como tutores nesse processo;

Não foi colocada uma linha informando a porcentagem de avanço entre as telas do OVA, pois se trata de uma Hipermídia em que a navegação é pessoal e não há obrigatoriedade de perpassar todos os conteúdos dispostos.

TELA 2 – CONCEITO

Revisão dos conceitos já existentes, inclusão de novos conceitos e referências para aprofundamento.

Foi realizada alteração textual para que fique claro o objetivo da atividade.

Nada a referir.

TELA 3 – APARATOS LEGAIS

Inclusão da resolução que estabelece parâmetros de acolhimento de LGBT e das pessoas portadoras de transtorno mental em privação de liberdade;

Alteração realizada com mudança no nome da seção para “Aparatos legais";

Texto revisado e alterado.

Não foram inseridos os textos referentes à criação do SUS, pois nessa tela foram colocadas legislações específicas para as pessoas em privação de liberdade;

Não foi realizada alteração da atividade visando a relação com o que é preconizado pelas políticas e o que os profissionais vivenciem na prática, pois o OVA foi pensado para alunos que desconhecem o sistema penitenciário, dessa forma, é necessário que as atividades sejam gerais.

TELA 4 - SISTEMA PENITENCIÁRIO

Toda a tela foi revista, incluindo revisão das imagens e tabelas, a fim de favorecer a leitura; e

Inclusão da explicação sobre a estrutura do sistema penitenciário nacional e informações sugeridas sobre tipo de delito (artigos), idade, sexo, cor da pele.

Não foram inseridas estatísticas mundiais, pois o objetivo do OVA é tratar sobre o sistema prisional brasileiro;

Atividade reformulada, a fim de que seja utilizado os dados que emergem do sistema de informação; Não foram retirados os dados do INFOPEN, em detrimento as informações provenientes de pesquisa, pois o INFOPEN trata-se do sistema de

informação do sistema prisional, mesmo

apresentando possíveis falhas, retrata

TELA 5 - PROCESSO DE TRABALHO

Inclusão das referências dos textos utilizados e títulos nas figuras;

Revisto a colocação do trabalho em equipe e a participação dos diferentes profissionais, como o Agente de Segurança Penitenciária; Todos os links foram revistos;

Alteração de cor de caixa de texto;

Revisão textual, a fim de padronizar os termos utilizados;

Inclusão da assistência farmacêutica, inclusive com um “saiba mais”.

Questões mais específicas, como o atendimento de uma PPL algemada ou não, não se afetar para atender presos com delitos de grande comoção, foram abordadas de forma sutil neste OVA, sendo aprofundadas de forma objetiva na leitura indicada no “saiba mais”;

Tratar de forma específica sobre o processo de trabalho de cada profissional não é objetivo deste OVA.

TELA 6 – PUBLICAÇÕES

Inclusão de textos nacionais Nada a referir

TELA 7 - DISPOSIÇÕES FINAIS

Acrescentadas informações dos autores Nada a referir

A tabela 4 exibe os valores de concordância e CVC por tela do OVA. Depreende-se a significativa melhora nos índices referentes às rodadas 1 e 2 de Delphi. Ao final da Delphi 2 todas as telas obtiveram concordância superior a 97% e CVC de aproximadamente 1.

Tabela 4 - Valores correspondentes as médias de concordância e CVC dos critérios

de Pasquali et al (2010) avaliados pelos juízes nas rodadas de Delphi 1 e 2, por tela do OVA, Natal, Rio Grande do Norte, Brasil, 2019.

Tela Concordância (%) CVC

Rodada 1 Rodada 2 Rodada 1 Rodada 2

Apresentação 93,6 97,3 0,98 0,99 Conceitos 91,1 97 0,95 1 Aparatos legais 92,5 99,2 0,96 1 Sistema penitenciário 89,5 99,3 0,88 1 Processo de trabalho 89,5 98,6 0,98 1 Publicações 91,2 97,3 0,97 1 Disposições finais 98,5 100 1 1

Em ambas as rodadas de Delphi todos os juízes afirmaram que recomendariam o OVA para o apoio ao ensino sobre a saúde das PPL.

8.3.2 Discussão

Os processos de construção e validação de materiais educacionais são complexos e necessitam ser estruturados. Essa situação representa a responsabilidade dos autores/criadores com o público que terá acesso ao conteúdo didático disponibilizado.

Dessa maneira, compreende-se que a organização do material que compõe o OVA – Saúde penitenciária constituiu-se de uma etapa fundamental e criteriosa, que culminou com a reunião sistemática de assuntos e textos usuais e atuais presentes na literatura e, também, no cotidiano da assistência à saúde ofertada para as PPL.

Entende-se que a inclusão das informações presentes na literatura sobre o tema, em conformidade com as pessoas que apresentam experiência na área, são elementos essenciais para a formulação de um material educativo consonante com a ciência e articulado com a realidade (BENEVIDES et al, 2016).

Sobre esse aspecto, ainda se estende a credibilidade do material educacional. Assim, a relação entre o OVA e a literatura que o fundamenta é refletida em sua confiabilidade, dessa forma, o aporte teórico deve ser atualizado e apresentar compromisso com a qualidade (BRAGA et al, 2016).

Somado aos aspectos do conteúdo, têm-se os metodológicos. Para que o OVA – Saúde penitenciária seja capaz de fomentar a aprendizagem autônoma e ativa, sua construção necessitou estar pautada em teorias pedagógicas. Neste estudo, o objeto virtual foi estruturado de acordo com a TAS.

Sua organização foi planejada em função de uma variável e duas condições consideradas essenciais para que haja a aprendizagem significativa. Esses são, respectivamente: o conhecimento prévio do aluno, o material com caráter potencialmente significativo e a predisposição do aluno para aprender (AUSUBEL, 2002).

Isto posto, os conceitos, os temas e os assuntos foram organizados do geral para o específico, que objetivou a diferenciação progressiva, a reconciliação integradora e a formação ou reconhecimento de subsunçores – componentes da estrutura cognitiva que possibilitam a ancoragem de novas informações (AUSUBEL, 2002).

Uma revisão, cujo objetivo foi investigar a concepção epistemológica, as contribuições teóricas e as configurações organizacionais, metodológicas e tecnológicas de instrumentos educacionais, demonstrou que a maioria do material instrucional produzido apresentou a abordagem cognitivista para a sua construção, incluindo a TAS, a fim de estimular a participação ativa do aluno em sua aprendizagem (VENDRUSCOLO; BEHAR, 2016).

Após a construção do instrumento educacional, a validação de seu conteúdo por experts foi essencial, o objetivo desse teste foi de verificar se o material

desenvolvido para fomentar a aprendizagem alcança seu propósito (SILVA et al, 2017). Neste estudo, de acordo com o referencial da psicometria, após a realização das duas rodadas de técnica Delphi, depreende-se que todas as telas do OVA - Saúde penitenciária foram avaliadas com concordância igual ou superior de 80% e CVC > 0,8.

Sobre essa etapa é indispensável ressaltar a criteriosa escolha dos juízes, a fim de garantir a participação de pessoas experientes na área de saúde penitenciária, pois esses avaliadores devem ser capazes de contribuir sobremaneira para a seleção e organização do conteúdo incluído no OVA (PEREIRA et al, 2016; LIMA et al, 2017).

Além da avaliação quanto à adequabilidade dos itens que compuseram o OVA – Saúde penitenciária, as considerações dos juízes também foram captadas através da técnica Delphi, que se mostrou eficiente para a etapa da validação de conteúdo.

Essa técnica permitiu a colaboração de diversos profissionais para a construção adequada e o aperfeiçoamento do conteúdo disponibilizado no OVA, pois a cada rodada as sugestões acatadas ou justificadas propiciaram a construção de consensos entre os juízes (SALVADOR et al, 2018; TAVARES et al, 2018; SCARPARO et al, 2012).

De acordo com os resultados, todos os juízes indicariam a utilização do OVA para subsidiar o ensino de saúde penitenciária. A aplicação de TIC no âmbito da educação é uma realidade crescente e inovadora, fato relacionado à possibilidade de ambientes de ensino modernos e acessíveis, em que o processo de aprendizagem se torna potencialmente atraente e dinâmico (PEREIRA et al, 2016).

Além disso, a incorporação de tecnologias na educação, em diferentes níveis, é capaz de proporcionar o desenvolvimento de forma individualizada de ensino, em que a apresentação do assunto facilita a compreensão dos temas abordados, sobretudo ao considerar o ritmo assimétrico de aprendizagem entre os alunos (SALVADOR et al, 2018).

Nesse sentindo, a utilização do OVA se adequa ao processo de mudanças no cenário pedagógico, que se caracteriza pela descentralização do ato de ensinar, com a potencialização da relação horizontal e maior interatividade entre aluno e professor (PEREIRA et al, 2016).

Os OVAs, ainda, são qualificados para aprimorar o treino de habilidades, a mobilização do conhecimento prévio e a articulação entre saberes e áreas de conhecimento, a fim de melhorar a formação profissional (PARRA-ESQUIVEL; PENAS-FELIZZOLA; GOMEZ-GALINDO, 2017). Nesse ínterim, a utilização dessas ferramentas estimula a disseminação do conhecimento, de modo autônomo e sem restrições relacionadas ao espaço geográfico e temporal (BRAGA et al, 2016).

Neste estudo, defende-se a inserção das tecnologias nos ambientes de ensino tradicionais – Blended learning – em que os docentes assumem novas funções e a aprendizagem é desenvolvida de modo colaborativo. No modelo híbrido de ensino, a dinamicidade do processo educacional é potencializada por discussões e reflexões que transitam entre o ambiente presencial e o virtual.

Dessa forma, os recursos digitais são aplicados como uma estratégia de apoio ao ensino, com mediação do professor (PEREIRA et al, 2016). Para tanto, é essencial que o docente esteja preparado para a integração entre os ambientes, presencial e virtual, de ensino a partir de teorias pedagógicas consolidadas (SALVADOR et al, 2018).

Estratégias híbridas de ensino podem favorecer a aprendizagem de assuntos pouco difundidos nos cursos de formação de recursos humanos, como é a saúde penitenciária. Além de potencializar a difusão do tema, o OVA fomenta a discussão sobre o reconhecimento da complexidade que permeia a atuação dos profissionais de saúde no ambiente prisional nacional (COSTA et al, 2014).