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CONSTRUÇÕES DE UM EMPODERAMENTO NA AFILIAÇÃO DA PESQUISA SOBRE TILS ARTICULADA AOS ESTUDOS DA

59 Tradução de Mauri Furlan & Gustavo Althoff.

5. REFLEXOS DAS TESES E DISSERTAÇÕES DE TILS NA ARTICULAÇÃO COM OS ESTUDOS DA TRADUÇÃO

5.4 CONSTRUÇÕES DE UM EMPODERAMENTO NA AFILIAÇÃO DA PESQUISA SOBRE TILS ARTICULADA AOS ESTUDOS DA

TRADUÇÃO

A construção de argumentos extraídos das teses e dissertações sobre TILS, bem como a articulação das discussões de forma geral aos Estudos da Tradução é bastante árdua. No entanto, apontamos dois aspectos que merecem atenção nessa construção: a) a tradução do conceito de empoderamento e b) os reflexos nas teses e dissertações em TILS e as conexões com as práticas formativas de ILS na construção de um empoderamento.

A tradução do conceito de “empowerment” na língua portuguesa é bastante problemática, pois depende muito do contexto e do campo de saber em que esse conceito esteja inserido. As definições podem variar muito, desde “a autonomia e o pleno exercício da cidadania” até “energização do sistema organizacional”. Essa constatação a respeito da problemática terminológica do conceito é registrada em algumas produções acadêmicas, como no trabalho de Carvalho (2004), que afirma:

"Empowerment" é um conceito complexo que toma emprestado noções de distintos campos de conhecimento. É uma idéia [sic] que tem raízes nas lutas pelos direitos civis, no movimento feminista e na ideologia da "ação social" presentes nas sociedades dos países desenvolvidos na segunda metade do século XX. Nos anos 70, este conceito é influenciado pelos movimentos de auto-ajuda [sic], e, nos 80, pela psicologia comunitária. Na década de 90 recebe o influxo de movimentos que buscam afirmar o direito da cidadania sobre distintas esferas da vida social entre as quais a prática médica, a educação em saúde e o ambiente físico.

Algumas áreas, como a de Administração, adotam o conceito na forma original, em língua inglesa (Empowerment), referindo-se mais diretamente às diferentes formas de gerenciamento, maior autonomia nas decisões sobre como realizar tarefas ou ainda à forma como se manifesta e é exercido o poder nas organizações. Tal afirmação é ratificada por Lima e Frota (2002, p. 5), que afirmam: “O empowerment é uma filosofia ou ferramenta gerencial adotada nas organizações modernas ou pós-empresariais que presume uma mudança nas relações sociais de trabalho através do emprego de formas autônomas de poder para as pessoas ou para as equipes”.

No Brasil, em alguns trabalhos acadêmicos a tradução literal de “empowerment” para “empoderamento” é frequentemente relacionada à área de direitos sociais e civis, em especial os direitos das mulheres na tomada de decisões coletivas e em questões sobre o exercício da cidadania. Ainda que existam diferentes vertentes teóricas que embasem o conceito de “empowerment”, na maioria dessas abordagens elas compartilham da “raiz central” que constitui o conceito, isto é, a questão do poder. Devido à natureza complexa desse conceito, uma vez que ele

tem distintas traduções, conforme abordado nos parágrafos anteriores, adotamos nesta tese a perspectiva de empoderamento a partir de um viés que considera o fortalecimento identitário da subárea de TILS como uma inserção estratégica aos Estudos da Tradução, conforme Vasconcellos (2010).

Neste sentido, as pesquisas em TILS contribuem diretamente para a compreensão do conceito de empoderamento. Nessas produções é possível examinar, por exemplo, quais perspectivas teóricas e o que a subárea entende por empoderamento. Várias dissertações sobre interpretação de língua de sinais contextualizadas no capítulo 3 respaldam-se nos Estudos Pós-Coloniais para abordar as relações de poder presentes no exercício interpretativo ou ainda o fortalecimento alcançado ou não a partir de ações realizadas pelos profissionais que praticam tal atividade.

Esses dados merecem ser considerados em uma perspectiva “macro” do conceito, no sentido de que somam argumentos a favor da ampliação e abrangência dos Estudos da Tradução, campo caracterizado pelo caráter interdisciplinar, conforme Vasconcellos (2009). Outro elemento fundamental refere-se à possibilidade de extrair categorias que indiquem linhas de formação ou ainda a extração de um conjunto de palavras recorrentes em determinado tempo nas teses e dissertações. Tais práticas colaboram na argumentação deste empoderamento e, consequentemente, fortalecem a consolidação da subárea TILS.

Na maioria das vezes, na literatura em geral dos Estudos da Tradução, incluindo por exemplo Venuti (2002), Vasconcellos (2010) e Tymoczko (2007), quando argumentamos a favor de um empoderamento na área dos Estudos da Tradução, os olhares se voltam para o exercício do poder pelos tradutores e intérpretes ou ainda para as resistências sociais e falta de autonomia às quais esses profissionais estão expostos no mundo contemporâneo. Todas essas concepções ou formas de visualizar os profissionais, os objetos e os resultados de pesquisas no meio acadêmico colaboram em certa medida para a construção de um empoderamento, gerando políticas de tradução e interpretação mais efetivas.

Neste sentido, a inserção estratégica da TILS nos Estudos da Tradução não ocorre somente pela via da pesquisa, mas também pelo viés dos profissionais, como demonstrou Vasconcellos (2010).

[…] a inserção estratégica do tradutor e do intérprete de língua de sinais em um campo disciplinar já estabelecido, longe de diminuir a

importância de sua questão identitária, pode contribuir para o fortalecimento do

empoderamento (empowerment) desses

profissionais que, mesmo filiados a um campo disciplinar já constituído, não perdem sua

especificidade ou visibilidade.

(VASCONCELLOS, 2010, p. 121)

A afirmação de Vasconcellos (2010) encontra eco nas próprias pesquisas desenvolvidas sobre interpretação de língua de sinais, especialmente, as teses e dissertações. A maioria dessas publicações trata do profissional ILS e dos aspectos relacionados ao exercício da sua prática. Uma vez que temos as pesquisas sobre TILS, as práticas de atuação de TILS no meio profissional, que elementos constituem o empoderamento a fim de que possamos argumentá-lo com maior propriedade? Stromquist (1997) foi uma das autoras que se dedicou às reflexões acerca dos elementos que permeiam e se articulam à ideia de empoderamento, e para além disso, reforça que os parâmetros constituintes deste conceito são:

i) Construção de uma autoimagem e uma confiança positiva; ii) Desenvolvimento da habilidade para pensar criticamente; iii) Construção da coesão de grupo;

iv) Promoção da tomada de decisões; v) Ação.

Esses parâmetros respaldam a ideia de empoderamento relacionado às questões de gênero, poder e movimento das mulheres. No entanto, destacamos os tópicos (iii) e (iv), que tratam da construção da coesão de grupo e a promoção da tomada de decisões como critérios a considerar, também, para as pesquisas sobre TILS em nosso país. A construção do empoderamento é necessariamente uma construção coletiva, da busca pela coesão de grupo seja de pesquisadores ou de tradutores e intérpretes de língua de sinais. O diálogo interno da subárea, a circulação de resultados de pesquisa, a inserção estratégica no contexto internacional, as tomadas de decisões, os encaminhamentos ou não sobre metas estabelecidas para determinada área são ações que cooperam no fortalecimento identitário da TILS.

A construção da coesão de grupo fornece condições para que as relações interpessoais e institucionais entre os pesquisadores se estabeleçam para além das pesquisas, uma vez que redes de cooperação

podem ser criadas por meio de grupos de pesquisa a favor de temas centrais para a área ou até mesmo na tomada de decisões nacionais que podem ser respaldadas pela coesão institucional. A falta de circulação de algumas informações institucionais, assim como dos resultados de pesquisas, colabora para que a repetição de respostas endereçadas aos órgãos governamentais seja uma constante. Se tivéssemos uma coesão mais acentuada entre os pesquisadores em TILS, compartilhando de um referencial mais sólido sobre os aspectos tradutórios, a tomada de decisões poderia ter melhor efeito nas políticas linguísticas em nosso país. Um exemplo que ilustra essa afirmação refere-se a resultados constatados por Santos (2006, p. 109) a respeito da existência do cargo de tradutor-intérprete nas universidades federais do país:

Tradutor-intérprete no quadro funcional previsto no Plano único de classificação e retribuição de cargos e empregos 7596 de 1987, regulamentado pelo decreto 94664/87 que confere no anexo I, sub-grupo NS – 03 –Tradutor e intérprete. Já no sub-grupo NM – 01 – que compete ao ensino médio, consta como cargo de nº 58, o tradutor e intérprete de Linguagem de Sinais.

O Ministério de Educação insiste em realizar concursos públicos para tradutor-intérprete de nível médio, desqualificando81 todas as

81

Em 2013 a UFPR estava com concurso para tradutor/intérprete (nível E) aberto para o par linguístico Libras/Português. De acordo com comunicado EDITAL N.º 280/13-PROGEPE em 04 de novembro de 2013, “

O Pró-Reitor de Gestão de Pessoas da Universidade Federal do Paraná, no uso de suas atribuições legais e,

1. Considerando o oficio nº 2190/2013- CGGP/SAA/SE/MEC, de 25/10/2013, recebido por esta Pró-Reitoria em 31/10/2013, o qual esclarece sobre as atribuições do cargo de Tradutor e Intérprete;

2. Considerando que, no referido ofício acima mencionado, o Ministério da Educação esclarece que a Lei nº 10.436 de 2002,

reconheceu a Linguagem Brasileira de Sinais – Libras como meio legal de comunicação e expressão, e que Libras não foi reconhecida como um idioma;

3. Considerando que a descrição das atividades do cargo de Tradutor e Intérprete é a de traduzir de um idioma para outro, e a este cargo não foi atribuído funções inerentes a tradução e interpretação de linguagem de sinais - libras;

4. Considerando que o concurso para o cargo de Tradutor e Intérprete foi aberto para atender o Curso de Letras/Libras, cujos profissionais deverão ter conhecimento em Língua Brasileira de Sinais – Libras, pois é requisito necessário para atuarem junto ao Curso de Letras/Libras resolve cancelar o concurso acima referido.