• Nenhum resultado encontrado

TRADUÇÃO DE LÍNGUA DE SINAIS 261 7.1 AS TESES SOBRE TRADUÇÃO DE LÍNGUA DE SINAIS

2.1 ETAPAS DA PESQUISA (LEVANTAMENTO DO CORPUS) Inicialmente, a decisão desta pesquisa foi uma contextualização

2.1.2 Tipo e preparação do corpus desta tese

Em um primeiro momento, de forma manual, organizamos cada uma das teses e dissertações sobre TILS com tabelas marcando o assunto, área, local analisado, autores, quantidade e ano. Em uma segunda tabela cartografamos a metodologia, o paradigma e a região brasileira. Em um segundo momento, com o intuito de listar o conjunto de palavras frequentes nas teses e dissertações sobre TILS, adotou-se a proposta de Fernandes (2004), que se baseia em três estágios principais para compilação: i) Desenho; ii) Construção; e iii) Processamento.

Com relação ao desenho, Fernandes (2004) afirma ser o momento destinado a classificar e contextualizar o corpus, isto é, explicitar os critérios que servirão de base para que determinados tipos de textos e não outros constituam o corpus da pesquisa. É o detalhamento inicial sobre a construção de um corpus. Além disso, o autor indica critérios importantes que devem ser definidos nessa etapa, como: a representatividade do corpus, a questão dos direitos autorais referente aos textos escolhidos para serem analisados, entre outros.

Como o próprio nome acentua, essa etapa é fundamental porque, a partir do desenho delimitado, todas as demais decisões metodológicas passarão a funcionar a partir desses recortes de pesquisa, afetando satisfatoriamente ou não os resultados que se apresentarão ao longo do trabalho. Com relação à construção da análise, o material utilizado para análise são as teses e dissertações sobre TILS de 1990 a 2010, constituindo-se da seguinte forma:

a) Pesquisas sobre interpretação de língua de sinais – 3 teses e 25 dissertações

b) Pesquisas sobre tradução de língua de sinais – 1 tese e 4 dissertações Com relação à tipologia de corpus definida por Sardinha (2004, p. 21), para esta análise foram escolhidos dois critérios, que são: de conteúdo (especializado) onde se define o tipo específico de texto, no caso gênero acadêmico (teses e dissertações), e de finalidade (de estudo), cujo objetivo é descrever e analisar os resultados encontrados no corpus. Há outras definições quanto aos tipos de corpora possíveis. Por exemplo, Baker (1995) propões uma tipologia aplicável tanto para a

pesquisa quanto para o ensino de tradução, que foi ratificada pelos autores Fernandes e Bartholamei (2009)10, que além de apresentarem um riquíssimo material na área de Estudos da Tradução/Estudos de

Corpora, traduziram da língua inglesa para a língua portuguesa várias

passagens importantes dessas publicações de Baker (1995). Essa autora define três tipos de corpora como sendo os principais, a saber: corpus comparável, corpus paralelo e corpus multilíngue.11

Corpora Comparáveis – consistem em duas compilações separadas de textos na mesma língua: um corpus consiste de textos originais na língua em questão e o outro consiste de “traduções naquela língua a partir de uma dada língua-fonte ou línguas” (BAKER, 1995, p. 244);

Corpora Paralelos – consistem de “textos originais da língua- fonte A e suas versões traduzidas na língua B” (BAKER, 1995, p. 230);

Corpora Multilíngues – são “conjuntos de dois ou mais corpora monolíngues em línguas diferentes, construídos ou pelas mesmas, ou diferentes instituições, tendo como base critérios de desenho semelhantes” (BAKER, 1995, p. 232).

Outros autores classificam os tipos de corpora de acordo com diferentes critérios. Por exemplo: ao considerarmos o número de línguas que constituem os corpora eletrônicos, podemos classificá-los em: monolíngue, bilíngue, trilíngue ou multilíngue. Há ainda classificações que tomam como critério as escalas, isto é, a dimensão de palavras que compõem o corpus, conforme Sardinha (2004).

Há outros critérios que são abordados por diferentes pesquisadores, dependendo da perspectiva e da finalidade em que o

corpus se enquadra. Por exemplo, Sinclair (1991) observa em sua obra

um fator interessante que é a intervenção do pesquisador no tratamento do corpus. Segundo o autor, em corpora de pequena dimensão a intervenção do pesquisador ocorre previamente à constituição do

corpus, ao passo que em um corpus de grande dimensão, essa

intervenção ocorreria nos estágios finais do tratamento dos dados.

10 Material didático da Disciplina de Estudos da Tradução II, ministrada pelos professores

Lincoln Fernandes e Lautenai B. Junior no curso de Letras-LIBRAS (Bacharelado) da UFSC.

11 Traduções realizadas por Fernandes e Bartholamei (2009, p. 43) pertencentes ao material

didático da Disciplina de Estudos da Tradução II, ministrada pelos professores Lincoln Fernandes e Lautenai B. Junior no curso de Letras-LIBRAS (Bacharelado) da UFSC. Sem acesso às citações originais.

Cabe ressaltar que na língua portuguesa as publicações e as pesquisas sobre o tema têm cada dia avançado mais, mas a comunidade científica encontra-se ainda em consolidação. Sardinha (2004), um dos autores que se destaca no país, com uma série de trabalhos desenvolvidos na área de corpora, destaca que é preciso criar um diálogo em português a respeito: “o que eu quero enfatizar é que a Literatura e os discursos compartilhados em português são os alicerces para criarmos uma disciplina e uma comunidade no país”. (SARDINHA, 2004, p. 5)12.

Por fim, com relação ao processamento, adotou-se o passo-a- passo seguinte: a grande maioria das teses e dissertações sobre TILS foi retirada de plataformas on-line, como bibliotecas digitais pertencentes aos Programas de Pós-Graduação nos quais esses materiais foram defendidos e/ou de buscas diretamente com os autores, nos casos de difícil acesso. Os arquivos estavam no formato .pdf, sendo necessário convertê-los para o formato .txt para que pudessem ser acessados pelo programa WordSmith Tools. Em seguida foram analisadas utilizando a lista de frequência (WordList), que aponta as palavras mais utilizadas em cada material.

Cabe ressaltar que o auxílio técnico para esta etapa foi fundamental, pois alguns arquivos tinham espaços e caracteres que alteravam a sistematização final dos textos. Nesse sentido, como nosso interesse era somente nas palavras (de conteúdos) frequentes nas teses e dissertações sobre TILS, não aprofundamos o uso dessa ferramenta (WordList). Normalmente, nas extrações de dados dessa natureza, as palavras mais frequentes são artigos, preposições, entre outras ocorrências que não são alvo de análise na presente tese, por isso descartamos tais ocorrências. Segue abaixo um exemplo de WordList em uma das dissertações testadas que nos apresenta um panorama sobre as palavras que mais se destacam.

12 SARDINHA, T. Lingüística de Corpus: uma entrevista com Tony Berber Sardinha, 2004.

Disponível em:

<http://www.pessoal.utfpr.edu.br/paulo/revel_3_entrevista_tony_berber_sardinha.pdf>. Acesso em: jun. 2011.

Figura 1: Lista de Palavras (Wordlist).

Dessa forma, com auxílio de gráficos explicitando o conjunto de palavras (de conteúdo) mais frequentes, separamos um total de dez palavras a serem analisadas em cada período. A seguir, agrupamos tal extração em categorias definidas por todo o contexto já problematizado na pesquisa. Essa extração complementou as categorias que haviam sido constatadas no contexto brasileiro baseadas em Metzger (2010). Apresentamos os resultados encontrados nos próximos capítulos. Cabe ressaltar que nessa extração das palavras com maior ocorrência destacaram-se duas limitações:

a) optamos por extrair apenas uma palavra por meio da ferramenta Wordlist. Nosso objetivo restringia-se à emergência de palavras mais frequentes (de conteúdo) a fim de serem categorizadas para corroborar ou retificar os dados que seriam extraídos manualmente nas tabelas. Tais resultados apontavam: assunto, local analisado, quantidade, ano, paradigma, região brasileira, área e metodologia/coleta de dados. Nesse sentido, uma das limitações encontradas em alguns

resultados foram palavras genéricas. Por exemplo, intérprete, sinais ou ainda língua. De qual intérprete as teses ou dissertações tratavam? Quanto a sinais, o que relatavam sobre o tema? Sinais referindo-se à língua de sinais ou a sinais icônicos, por exemplo? Seria necessária uma familiaridade maior com a ferramenta a fim de evitar essas variáveis.

b) mesmo diante dessa opção, considerando as limitações que poderiam acarretar nos resultados, não utilizamos o concordanciador para analisar a posição semântica em que determinada palavra localizava-se no texto, pois se entende que esta tese não se enquadra nos Estudos de Corpora, sendo que apenas utilizou uma de suas ferramentas a fim de extrair dados no seu formato mais bruto para serem colocados no rol de debate. Com isso, não excluímos a possibilidade de estudos dessa natureza nas pesquisas sobre TILS. Pelo contrário, sugere-se que futuras pesquisas sobre TILS possam servir-se dos pressupostos e procedimentos dos Estudos de Corpora a fim de que dados possam ser revelados com objetivos pontuais nesse campo de conhecimento. Um exemplo disso seria uma análise de cunho semântico sobre o uso da palavra ILS em produções acadêmicas brasileiras que tratam sobre a língua de sinais.

Neste capítulo tratamos da metodologia, explicitando o passo-a- passo, as decisões metodológicas, o desenho, a construção dos dados, seu processamento e algumas variáveis que interferiram no processo. A seguir apresentamos os capítulos que tratam sobre as contextualizações das pesquisas sobre TILS mostrando as implicações destas pesquisas para a consolidação da área.

3. PESQUISAS SOBRE INTERPRETAÇÃO DE LÍNGUA DE