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CONSTRUÍNDO CIDADES POR MEIO DE ÍNDICES

1. PROJETO URBANO E GESTÃO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS URBANAS

1.2. CONSTRUÍNDO CIDADES POR MEIO DE ÍNDICES

Os princípios urbanísticos necessitam de uma revisão de sua lógica que se estabelece na cidade contemporânea, de modo a fornecer respostas mais adequadas aos problemas urbanos contemporâneos. A cidade hoje implica em formulações complexas, que devem incluir vários fatores, dentre eles políticos econômicos e sociais.

Pode-se compreender o conceito de políticas públicas urbanas como diretrizes que norteiam a ação do poder público, tecendo regras para a relação entre poder público e privado, estabelecendo mediações entre os atores. São políticas explicitadas em documentos de leis que orientam as ações públicas e a destinação de seus recursos. De modo que, as políticas públicas, traduzem as formas de exercício do poder político, envolvendo as tomadas de decisões que devem levar em conta os interesses coletivos, visando responder as demandas da sociedade (TEIXEIRA, 2002).

Ascher (2010) afirma que o urbanismo moderno propiciou condições para que a sociedade moderna da individualização, racionalização e diferenciação social, que defendia programas de longo prazo, como os planos diretores, destinados a tentar

controlar um futuro incerto, baseado em índices urbanísticos, como o zoneamento. Já o neourbanismo, termo elaborado pelo autor para definir as novas formas de intervenção nas cidades que vem sendo adotadas objetivando não o plano urbano em si, mas o seu processo de desenvolvimento que deve contar com todos os agentes envolvidos, inclusive a sociedade civil. Devem-se elaborar vários projetos construindo uma gestão estratégica urbana que visa os objetivos definidos previamente, articulando as mudanças de paradigmas a curto e longo prazo, em todas as escalas, resolvendo os conflitos de interesses, tornando-se estratégico.

Para os urbanistas do período moderno o projeto era considerado apenas um desígnio, um desejo representado por um desenho, já para o neourbanismo é, além disso, uma ferramenta de análise e negociação. Desta forma derruba a antiga linearidade cronológica composta por diagnóstico, identificação do problema, definição do programa, projeto, realização e gestão; partindo para uma gestão heurística, com uma aproximação progressiva do problema, operando em avaliações sucessivas e hipóteses provisórias. Não se baseia em ideologias simplificadas, ou em índices urbanísticos, com visões globais, zoneamentos e funções. A visão de repartição dominante no urbanismo moderno se torna confusa com o neourbanismo, definido como o novo urbanismo, pois não se identificam mais os espaços públicos e privados, bem como de quem é a responsabilidade pela produção das cidades, havendo uma nova realidade: as parcerias e concessões, tendo o Estado mais como um agente regulador, fiscalizador e intermediador, do que como agente elaborador de projetos urbanos (ASCHER, 2010).

Gruen (1973) apontou em seus estudos os padrões urbanísticos que estavam emergindo na década de 70 devido à falta de espaço urbano, da explosão demográfica e das aglomerações urbanas e alertou para que fossem levados em conta alguns fatores para o desenvolvimento dos projetos urbanos e das políticas públicas, como o aumento da demanda por todos os tipos de espaços urbanos, bem como pelo consumo. Esses fatores levaram ao fenômeno do esvaziamento dos grandes centros urbanos e ao crescimento de novos subúrbios, tendo como consequência o surgimento de megalópoles subdesenvolvidas. Observa ainda a necessidade de desenvolver processos de planejamento com técnicas tridimensionais e com a multifuncionalidade do solo para minimizar a mobilidade urbana. Passados uma década, Zeidler (1985) identifica a necessidade da

reestruturação dos princípios do urbanismo, inserindo os edifícios multifuncionais com o intuito de garantir a vitalidade das cidades.

Koolhaas (1972) defende em seu projeto teórico “Exodus – os prisioneiros voluntários da arquitetura” uma critica a cidade racional e funcional, ao zoneamento, evidenciando o papel do arquiteto nas intervenções urbanas. O projeto urbano deve conectar a cidade com a arquitetura e depende somente da capacidade do arquiteto em imaginar seu projeto perante a cidade, não se tratando de um plano urbanístico ou de um regulamento, mas pensar em novos instrumentos urbanísticos.

Monte-Mòr (2006) revela que, no Brasil, o controle e uso do solo resultantes do zoneamento visam resolver o conflito entre a propriedade privada do solo e as demandas coletivas do espaço urbano, de modo que, são criados órgãos técnicos de planejamento local que, no final, acabam por seguir os interesses e a lógica capitalista burguesa.

Nos projetos urbanos é necessária a gestão da identidade que seja responsável pelo projeto de modo a ultrapassar o tempo do governo, garantindo a continuidade da execução (SILVA, 2012).

No Brasil, a avaliação de políticas públicas assume contornos conceituais pouco precisos. As políticas públicas urbanas possuem um novo marco estabelecido pelo Estatuto da Cidade, definido pela Lei Federal n.10.257/2001, que definiu novos instrumentos modificando as formas de atuação do poder municipal e dos demais agentes envolvidos (ALVIM, 2010).

No Brasil, a discussão em torno das políticas públicas iniciou-se em 1963 com o Fórum de Reforma Urbana que foi promovido pelo IAB, no Rio de Janeiro, paralisado pelo regime militar durante o período de 1964 á 1985. Com a retomada do processo democrático foi estabelecida a Constituição de 1988, só efetivada em 2001 com a Lei Federal 10257/2001, o Estatuto da Cidade. Ele é definindo a função social da cidade, possibilitando a regularização das áreas irregulares e a participação da população no desenvolvimento urbano.

Aliados a expansão periférica e a segregação sócio espacial no país, os princípios urbanísticos brasileiros se baseavam na técnica, dos planos, dentro do setor público. Acreditavam que os planos eram a solução para os problemas

urbanos, de modo que, o que se observa é a tecnocracia do planejamento urbano, onde as teorias ideológicas não passam de mero discurso (SEGRE, 2005).

Da Constituição de 1988 á gestão democrática das cidades muito se tem a percorrer, de modo que as políticas urbanas possam promover a democracia e o exercício da cidadania. A gestão urbanística tem o papel de articulador dos interesses sociais e privados, de modo a assegurar os ideais urbanísticos coletivos. O que se observa, entretanto, é o caráter meramente ideológico dos planos urbanos como instrumentos que manipulam os interesses da classe dominante, bem como os projetos que não saem do papel, mas que se valem das intervenções pré-existentes no local, evidenciando as tendências excludentes do mercado, produzindo a cidade do consumo.

De acordo com Somekh e Campos (2012), no Brasil, os modelos urbanos adotados no decorrer do século XX, foram trazidos da Europa juntamente com os preceitos da racionalização do período pós-guerra, que acabaram por contribuir para a hegemonia do capitalismo.