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1. PROJETO URBANO E GESTÃO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS URBANAS

1.8. PARQUE RIO MANZANARES, MADRI

O projeto do Parque Linear do Rio Manzanares, em Madri, requalifica uma extensa frente ribeirinha, área degradada pela ocupação urbana e transformada em parque linear com qualidade urbanística e paisagística, bem como com a criação de áreas de convívio e lazer (Figura 53 a e b).

Figura 313 Parque Linear do Rio Manzanares: a) antes da revitalização e; b) depois da revitalização. FONTE: 1. HTTP://INSTITUTOCIDADEJARDIM.WORDPRESS.COM/2011/12/03/AO-INVES-DE-ENTERRAR-UM-RIO-ENTERREM-AS-

RODOVIAS (ACESSADO EM 14/12/2013 ÀS 14H20); 2. SIQUEIRA (2011).

Revela uma solução inovadora para problemas do mundo globalizado e da cidade do consumo, como a perda da identidade coletiva, das características geográficas e resgata o elemento do rio de barreira física para elemento de

integração, mobilidade e fluxos. Trata as estruturas obsoletas como torres de alta tensão e vias rápidas em uma área extensa, promovendo a unidade e continuidade da paisagem, da mobilidade urbana e dos espaços públicos, estabelecendo um novo vínculo com o território e modifica sua relação com o usuário.

O objetivo do projeto urbano é melhorar a qualidade urbana, ambiental e a mobilidade urbana, de modo que foram feitas revitalizações ao longo de 43 km de rodovia.

MADRI E SUA HISTÓRIA COM O RIO MANZANARES

O Rio Manzanares percorre a região central da Espanha e possui uma extensão de aproximadamente 92 km, seccionando Madri e desembocando no Rio Tejo, um dos principais da Europa. É extremamente importante para Madri ao cruzar pontes e monumentos que revelam o passado histórico e sua relação com a cidade. Como todos os rios existentes em grandes metrópoles, o Rio Manzanares sofreu grandes perdas por conta do processo de ocupação de seu território envolvente, que resultou na degradação ambiental e paisagística.

Madri sempre teve uma relação discreta com o Rio Manzanares, se situando a apenas 1 km da Plaza Mayor, no coração da cidade, de modo que a cidade teve sua origem em decorrência de sua localização, com os árabes, que se aproveitaram das condições geográficas, como a área do platô, o fácil abastecimento, a segurança e a mobilidade. De modo que, durante séculos a região permaneceu como um ambiente rural, modificando-se apenas com a expansão urbana da cidade, que assim como na maioria das grandes cidades, voltou às costas para os cursos d´água. Em 1960 são instalados os anéis rodoviários interligando as rodovias

(Figura 54), se utilizando da área de várzea para a implantação de infraestruturas e

construindo as vias rápidas, delimitada em azul claro no mapa abaixo. Na década de 1970 é executada a rodovia M-30, peça importante na junção dos anéis, porém, com a demora na construção a mancha urbana foi crescendo e avançando para o perímetro da várzea do rio, indicada no azul pontilhado abaixo deixando de ser uma região periférica para se tornar um divisor entre a região central e os novos bairros

(SIQUEIRA, 2011). A consequência da urbanização e do desenvolvimento lento da construção da M-30 foi à implantação da barreira física das vias rápidas aliadas à barreira do rio existente.

Figura 54 Mapa da cidade de Madri com as principais vias com destaque para a M-30 e o rio Manzanares que secciona a cidade.

FONTE: WWW.SOFTDOC.ES (ACESSADO EM 13/06/2013).

A seguir (Figura 55) se verifica a evolução demográfica da cidade, de modo que, a partir de 1950 a taxa de crescimento teve uma alta significativa, relacionada ao o crescimento da urbanização apontado anteriormente, tendo em 1960 a implantação dos anéis rodoviários.

Figura 325 Gráfico com a evolução demográfica da cidade de Madri desde 1842 á 2011. FONTE: ES.WIKIPEDIA.ORG/WIKI/MADRID (ACESSADO EM 14/06/2013).

As soluções apresentadas pelo projeto são inovadoras e muito se pode aprender com a lição. A implantação das vias rápidas acabou por fragmentar a cidade de Madri em duas partes, desaparecendo deste modo à ligação com o rio e

suas características geográficas, de modo que a população perdeu sua identidade ao canalizar o rio, tornando-se um obstáculo às dinâmicas da cidade, que não conseguia incorporá-lo em seu meio urbano, sendo solucionado pelas novas ligações criadas. Desde meados da década de 90 projetos para requalificar a área foram discutidos e motivados pelas revitalizações feitas em Barcelona em decorrência das Olimpíadas de 1992.

Revela a preocupação com a recuperação de uma área de preservação histórica e ambiental de interesse nacional, onde ocorreu no passado à ocupação e a construção de avenidas de intenso tráfego nas margens do rio, com a implantação indevida de serviços de infraestruturas públicas. O projeto tem como objetivo devolver o rio à cidade e seus habitantes, revertendo os processos anteriores.

O uso da região com a implantação de infraestrutura pesada acarretou na degradação dos cursos d’água, criando uma barreira física e transformando suas margens em áreas contaminadas por resíduos urbanos. Dessa maneira o parque linear criado minimiza as enchentes e promove benefícios culturais, sociais, ambientais e econômicos.

A área de estudo se localiza na região do centro da Espanha e está inserida no perímetro urbano da cidade de Madri. Nos mapas a seguir podemos verificar a área de Madri em 1857, de maneira que se nota que o rio Manzanares se situava na zona periférica da cidade, ainda não expandida (Figura 56).

Figura 5633 Mapa da cidade de Madri, em 1857, em azul o percurso do Rio Manzanares.

TRABALHADO PELA AUTORA A PARTIR DE DADOS. BASE: URBANCIDADES.WORDPRESS.COM/2010/10/14/ENSANCHE-DE-MADRI/ (ACESSADO EM 14/06/2013).

CONCURSO INTERNACIONAL DE IDÉIAS E SUAS PRIMEIRAS FORMULAÇÕES

O projeto do Parque Linear do Rio Manzanares é fruto de um concurso internacional realizado em 2005 de título: “O que fazer com este vazio no centro da cidade, que abraça mais de cinco quilômetros do rio Manzanares?”. A equipe vencedora era composta pelos escritórios Mrío Arquitectos, da Espanha e West 8 Urban Design and Landscape Architecture, da Holanda. A premissa adotada identidade do rio, identificar a solução no problema: a barreira física do rio e os seus espaços obsoletos eram potenciais, se transformando na essência do projeto com as novas conexões e integração de espaços públicos e equipamentos na cidade (SIQUEIRA, 2011).

O projeto se mistura a paisagem que é composta por pontes e áreas históricas. Foi projetada então uma nova praia urbana na margem do rio, bem como vários projetos de equipamentos inusitados, como a Caixa Mágica de Dominique Perrault. Ocultou vias que já passavam pela região, resgatando o espaço do pedestre, de modo a tornar possível a criação do extenso parque linear, fazendo ligação entre as regiões norte e sul do parque, passando pelo maior parque público da cidade, a Casa de Campo. O projeto recuperou as bordas e despoluiu o rio, além de revitalizar seu entorno, renovando as fachadas dos edifícios, criando vagas de estacionamento e reformando as áreas de pedestres. Buscou valorizar as margens do rio, com a inserção de parques, jardins e espaços de convivência e lazer, procurando integrar a população das margens, de modo que os carros que passavam nas margens do rio agora atravessam por um túnel sob o parque linear, transformando também uma ponte que servia de alça viária em passarela arborizada

(Figura 57).

Figura 57 Foto aérea com os diferentes trechos do parque linear.

Os sistemas de infraestruturas como as redes elétricas e o sistema viário foram enterrados, o que permitiu a criação do parque, com mais de 200 mil metros quadrados de espaços públicos, áreas verdes e equipamentos de esporte. Foram projetados também novos acessos, com onze novas passarelas de pedestres e ciclistas ao longo dos 10 km do parque, somadas às cinco pontes já existentes, conectando as duas margens do rio. A paisagem da cidade se beneficia de muitas mudanças com esse projeto, resgatando o rio à paisagem. Serão no total 8,2 milhões de metros quadrados de áreas revitalizadas, 42 km de ciclovias 4303 novas vagas de estacionamento (Figura 58, Figura 59 a e b e Figura 60 a e b).

Figura 5834 Imagem da época da construção em 2007.

(WWW.MC30.ES ACESSADO EM 05/04/2011 ÁS 9H)

Figura 59 Imagens do projeto do Parque Linear do Rio Manzanares, vê-se as novas ligações de passarelas e a via encoberta pelo parque linear, bem como as áreas públicas criadas devolvendo o rio à cidade.

(HTTP://ISSUU.COM/CONTEMPORANEU/DOCS/CONTEMPORANEU03 ACESSADO EM 05/04/2011 ÁS 9H)

Figura 350 Vistas do parque linear do Rio Manzanares no Trecho 1, já executado, como um parque urbano, utilização da estrutura da ponte como parque.

(HTTP://ISSUU.COM/CONTEMPORANEU/DOCS/CONTEMPORANEU03 ACESSADO EM 05/04/2011 ÁS 9H)

Apesar de todas as vantagens apontadas, o projeto sofreu críticas por parte da população por conta de alguns pontos que são bem específicos para as Olimpíadas de 2016 que foram pleiteadas pela cidade de Madri: o canal do remo

que traria um alto impacto a região, por conta da mudança do curso d’água e o impacto decorrente disso, chamado como insustentável; o alto impacto no parque e seus valores históricos e ecológicos; a falta de integração as questões sociais e a falta de previsões de usos futuros.

O Tramo um consiste em um parque urbano, onde foi executada a Caixa Mágica de Dominique Perrault que previa as Olimpíadas de 2016. Já o Tramo dois subdivide-se em setores temáticos: parque urbano, com jardins, passeios, vegetação, áreas desportivas na margem direita que é tida como uma área mais habitada; área florestal, com hortas para uso da comunidade na margem esquerda, entre o rio e a atual via rápida; parque fluvial, com a recuperação das margens do rio e eliminação das infraestruturas pesadas; criação de um observatório de aves e; o Real Canal de Manzanares, valorizando o rio e seu entorno e recuperando totalmente sua estrutura antiga.

Também é relevante considerar que o desenvolvimento urbano acarretou na implantação de torres de alta tensão, esgoto a céu aberto, linhas de trem de alta velocidade (LAV) que segmentam o território, contaminando o solo, deteriorando suas condições biológicas e ambientais. Essas estruturas de serviço que hoje seguem desordenadamente pelo território foram soterradas passando por corredores embaixo das avenidas (Figura 61).

Figura 61 Imagens do Tramo 1.

POLÍTICAS PÚBLICAS E GESTÃO – A GRANDE EXPERIÊNCIA PÚBLICA

A execução do projeto se deu na gestão do então prefeito Alberto Ruiz- Gallardón, no período de 2003 á 2007, onde se decidiu modernizar a área, em específico a M-30, considerado obsoleto desde a sua construção. Este aspecto nos leva a pensar na dificuldade relativa à longa duração dos projetos urbanos, até mesmo os infraestruturais, principalmente quando projetados para atender a necessidades em curto prazo. O resultado que se obtém é que estes projetos urbanos, principalmente referentes a obras infraestruturais e estruturas viárias, se tornam obsoletos na já na fase de construção.

Em 2008, durante o período de execução do projeto, estourou a crise financeira na Europa que abalou fortemente a Espanha, de modo que, se discutiu muito a respeito da continuidade ou não da obra, optando-se pela continuidade do mesmo, entregue no prazo. O orçamento da obra girou em torno de 420 milhões de euros na urbanização de 120 hectares.

O PLANO DO PARQUE LINEAR DO RIO MANZANARES

As intervenções realizadas no desenho urbano devolvem o espaço do pedestre, essência do espaço público. Ao colocar a rodovia M-30 em um túnel que se encontrava com o rio Manzanares na região central em 6 km de vias, devolveu-se o espaço do convívio social e resgatou-se a identidade local.

O plano urbano foi desenvolvido em conjunto com o desenho urbano com detalhes arquitetônicos e infraestruturais. Recuperou a dinâmica da cidade, renovou as passarelas existentes, criou novas travessias, como a Ponte Cáscara e ligações singelas de madeira converteram as barragens históricas em novas passagens e configurou praças. Utilizou-se de pontes que integravam o sistema viário para transforma-las em área de pedestres integradas ao sistema do parque, com o incremento de vegetação e mobiliário urbano.

Foram utilizados elementos naturais, dispondo a vegetação ao longo de toda a extensão e granitos utilizados no mobiliário urbano, utilizando peças que seriam

descartadas da pedreira. O maior desafio encontrado na composição da paisagem foi o diálogo entre os elementos infraestruturais de suporte a M-30, enterrada, e o projeto paisagístico do parque. A solução foi dispor os respiradouros e saídas de emergência de maneira a se integrar ao projeto paisagístico ao ar dos túneis dos carros filtrando-o antes de chegar ao ambiente externo.

Baseou-se em três elementos que visam recriar a história e paisagem ribeirinha da cidade, com projetos específicos: Salim de Pinos, Cena Monumental e Leito do Rio. O primeiro define a espinha dorsal do projeto urbano e consiste de um parque linear com 30m de largura e 6 km de comprimento, vegetação típica do norte da cidade, composto por uma abóbada verde que faz sombra ao passeio de pedestres e ciclistas, unindo as duas margens do rio e áreas que se espraiam no encontro com as pontes históricas de Seguia e de Toledo. O terceiro se encontra ao sul, onde há a maior superfície do projeto a ser trabalhada, onde se insere o Parque da Arganzuela, área da antiga várzea inundável do leito do rio, onde os antigos equipamentos foram revitalizados, como o antigo matadouro e convertidos em complexo cultural.

O projeto faz parte de um plano urbano mais amplo, o Madrid Calle 30, realizado entre 2004 e 2007, integrado com o projeto Madri-Río, possibilitando a integração dos bairros, a reabilitação do rio Manzanares e do seu entorno. A ação de enterrar a rodovia M-30 exigiu muitos esforços técnicos. O sistema para a construção dos túneis foi tradicional, com paredes diafragma de concreto, lajes construídas com vigas protendidas e concreto armado, onde o método construtivo das lajes variou em decorrência das pistas e da presença de obstáculos como as linhas de metro e as fundações de estruturas próximas, desafio á engenharia, mas que acabou por revelar equipamentos históricos (Figura 62).

Figura 362 Imagem do sistema utilizado para enterrar a M-30, com o parque em cima. (WWW.INFRAESTRUTURAURBANA.COM.BR ACESSADO EM 15/06/2011 ÁS 18H)

Possibilitou a recuperação das águas do rio, com a reforma do sistema do esgoto e drenagem ao longo do mesmo que esgoto anteriormente passava embaixo da rodovia e era levado para as estações de tratamento, nas épocas de chuva todo o sistema de drenagem e de esgoto era escoado para o rio. Desta maneira um novo sistema foi criado visando diminuir a contaminação do leito do rio (BARROS, 2012).

O LEGADO DO PARQUE LINEAR DO RIO MANZANARES E A RECUPERAÇÃO DE UM RIO URBANO

O uso efetivo da área de requalificação pode ser observado nas escalas territorial e metropolitana. Na primeira vê-se a conexão das paisagens naturais nas duas margens do rio. Já na segunda vê-se a conexão de espaços públicos e áreas verdes que, devido ao crescimento da cidade, estavam desconexos. O projeto recuperou 150 hectares que eram destinados à rodovia e três mil hectares de zonas obsoletas, áreas verdes e edifícios dispersos, incorporados à rede metropolitana.

2. INSTRUMENTO URBANÍSTICO: OPERAÇÃO URBANA