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CAPÍTULO 4 – PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

4.1 Construindo o processo de investigação: enfoques e etapas da pesquisa

Do ponto de vista metodológico, a tese se baseou no modelo misto, o qual permite a integração entre os enfoques qualitativo e quantitativo, isto é, ambos se combinam durante todo o processo de pesquisa ou, pelo menos, em algumas de suas etapas, contemplando as vantagens de cada um dos enfoques (SAMPIERI; COLLADO; LUCIO, 2006). Trata-se de um tipo de pesquisa que, na opinião de Creswell (2010), pode obter mais êxito com a combinação das abordagens qualitativa e quantitativa do que a utilização de cada uma das formas de maneira isolada, proporcionando, com efeito, uma maior compreensão dos problemas de pesquisa. Oliveira (2012, p. 39) corrobora esse pensamento e afirma que “combinar técnicas de análise quantitativa com técnicas de análise qualitativa proporciona maior nível de credibilidade e validade aos resultados da pesquisa, evitando-se, assim, o reducionismo por uma só opção de análise”.

A combinação de dados dos tipos qualitativo e quantitativo pode ocorrer em distintos estágios de uma pesquisa: na coleta, na análise, na interpretação dos dados ou nas três fases (CRESWELL, 2010). O que é importante compreender é que a opção por uma pesquisa de métodos mistos requer uma atenção especial, com alguns pressupostos bem definidos. Dentro dessa perspectiva, Creswell (2010) apresenta algumas possibilidades e recomendações para pesquisas dessa natureza, são elas: os dois bancos de dados (qualitativos e quantitativos) podem ser mantidos separados, porém conectados; o pesquisador pode coletar os dados quantitativos e qualitativos concomitantemente e integrar ou, então, fundir os dois bancos de dados, transformando os temas qualitativos em contagens, e comparar essas contagens com dados quantitativos descritivos; a combinação integra os dois bancos de dados, fundindo os dados quantitativos aos dados qualitativos; e o pesquisador pode incorporar uma forma secundária de dados dentro de um estudo mais amplo, obtendo informações diferentes daquelas presentes no banco de dados principal.

Referindo-se particularmente ao enfoque qualitativo, Sampieri, Collado e Lucio (2006) destacam que, em geral, ele é utilizado para descobrir, refinar ou aperfeiçoar as

questões de pesquisa, podendo ou não provar hipóteses em seus processos de interpretação. Ainda de acordo com esses autores, o enfoque qualitativo busca compreender o fenômeno de estudo em seu ambiente usual, ou seja, como as pessoas vivem, a forma como elas se comportam e atuam, o que pensam, quais são suas atitudes etc. (SAMPIERI; COLLADO; LUCIO, 2006). No dizer de Richardson (2012), os estudos que empregam uma abordagem qualitativa podem, entre outras coisas, descrever a complexidade de determinado problema, compreender e classificar processos dinâmicos vividos por grupos sociais e entender as particularidades do comportamento dos indivíduos. Como descrito por Groulx (2012), isso só é possível porque a pesquisa qualitativa introduz um novo sentido dos problemas, na medida em que enfatiza a compreensão dos significados e força a repensar o estudo segundo as especificidades socioculturais dos meios de vida dos grupos pesquisados.

Desse modo, é importante destacar que os elementos qualitativos que se buscou caracterizar e compreender não são, somente, os resultados das diversas estratégias reprodutivas adotadas pelos agricultores familiares da Adessu e do assentamento Chico Mendes III, mas sim de uma interação mútua entre suas experiências agroecológicas e suas diferentes situações socioeconômicas, produtivas, ambientais e de organização associativa, de um lado, e a própria dinâmica de desenvolvimento rural, de outro. Os padrões de interação entre os agricultores familiares de base agroecológica e outros atores locais e o caráter específico que eles imprimem no desenvolvimento rural constituem, assim, o eixo deste processo de investigação.

Para a elaboração deste trabalho, foi realizado um conjunto de etapas complementares, sendo a primeira a pesquisa bibliográfica sobre Agroecologia, transição agroecológica e teorias de desenvolvimento, focando nos sentidos atribuídos ao desenvolvimento rural sustentável, a partir de fontes primárias, como livros, artigos de periódicos, revistas científicas etc. A pesquisa bibliográfica seguiu as orientações de Marconi e Lakatos (2010), que esclarecem que essa fase não é apenas uma repetição do que já foi dito ou escrito sobre determinado assunto, mas é um momento que propicia o exame de um tema sob um novo enfoque ou abordagem, o que pode gerar conclusões inovadoras. As autoras também explicam que ela serve, como primeiro passo, para saber o estado atual do problema, que trabalhos já foram realizados a respeito e quais opiniões predominam sobre o assunto. Como segundo passo, a pesquisa bibliográfica permite que se estabeleça um modelo teórico inicial de referência, assim como auxilia na determinação das variáveis e elaboração do plano geral da pesquisa (MARCONI; LAKATOS, 2010).

Na segunda etapa do trabalho, foi feita uma pesquisa documental, tendo como fontes os relatórios das instituições envolvidas na transição agroecológica dos agricultores familiares da Adessu e do assentamento Chico Mendes III, com o objetivo de conhecer e detalhar as suas ações e a participação que cada uma exerce nas experiências em questão. Isso permitiu o mapeamento da evolução das práticas com a orientação da Agroecologia e da trajetória dos serviços de Ater realizados nos casos apreciados, por meio de um recorte histórico desde a fundação da Adessu, no ano de 1996, até os dias atuais (2015). O mesmo recorte histórico foi realizado no assentamento Chico Mendes III, desde que o NAC da UFRPE iniciou o projeto de promoção e implementação da transição agroecológica no assentamento, em 2009.

É importante destacar que uma das principais características apontadas pela literatura a respeito da abordagem sobre os documentos é que, nesse método, perguntas predeterminadas não são direcionadas para as fontes, mas o material pesquisado é que conduz a pesquisa (DUFFY, 2008). Kelly (s.d. apud CELLARD, 2010) também considera que a análise documental pode ser de suma importância em uma pesquisa, principalmente por se tratar de um método de coleta de dados capaz de reduzir qualquer tipo de influência a ser exercida pela presença ou intervenção do pesquisador sobre o seu objeto de estudo. O documento também permite acrescentar a dimensão do tempo à compreensão do social, pois ele é insubstituível, seja para qualquer reconstituição referente a um passado relativamente distante, seja como único testemunho de atividades particulares ocorridas em um passado recente (CELLARD, 2010), favorecendo, inclusive, o processo de observação, de maturação ou de evolução de indivíduos, grupos, conceitos, conhecimentos, comportamentos, mentalidades, práticas etc. (TREMBLAY, 1968 apud CELLARD, 2010).

A propósito, os dados coletados, a maneira de obtê-los, a amostragem e outros componentes de pesquisa podem ser classificados em estudos exploratórios, descritivos, correlacionais e explicativos, como descrito por Sampieri, Collado e Lucio (2006). Possivelmente, esta tese inclui elementos de mais de um desses quatro tipos de estudo. Isso porque a pesquisa se inicia como exploratória, buscando examinar um tema ou problema de pesquisa pouco estudado e do qual se tem muitas dúvidas. Além disso, a revisão de literatura revela que há ideias vagamente relacionadas com o problema de estudo, o que justifica uma pesquisa sobre alguns temas e objetos com base em novas perspectivas.

A pesquisa passa a ser descritiva no momento em que busca descrever situações, acontecimentos e feitos. “Os estudos descritivos procuram especificar as propriedades, as características e os perfis importantes de pessoas, grupos, comunidades ou qualquer outro

fenômeno que se submeta a análise.” (DANHKE, 1989 apud SAMPIERI; COLLADO; LUCIO, 2006, p. 101). Enquanto estudo correlacional, avalia a relação entre dois ou mais conceitos, categorias ou variáveis em determinado contexto. Termina como estudo explicativo, porque vai além da descrição de conceitos ou fenômenos, quer dizer, tenta responder às causas dos acontecimentos e compreender por que ocorre um fenômeno e em quais condições ou por que duas ou mais variáveis estão relacionadas.