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SUMÁRIO

CONSIDERAÇÕES FINAIS: A CADA PONTO FINAL, A OPORTUNIDADE DE UM NOVO COMEÇO

2. PRÁTICAS DE CONSUMO E OS DESAFIOS INTERDISCIPLINARES

2.3 Consumo e os desafios ambientais contemporâneos

2.3.3 Consumo colaborativo e sustentável

O consumo colaborativo engloba uma série de práticas como escambo, empréstimo, locação, doação, troca, redistribuição de bens e mercadorias, entre outras práticas, que podem apresentar benefícios econômicos e socioambientais em contextos de escassez de recursos.

De acordo com Botsman e Rogers (2011, p.XIV) os sistemas de consumo colaborativo apresentam benefícios significativos por estarem pautados na eficiência de uso dos bens e na redução do desperdício. Outro aspecto importante refere-se também a formação de vínculos comunitários e construção de novas sociabilidades inclusive por meio da internet.

Não se trata de um movimento que tem como foco a mitigação da falta do poder de compra de produtos novos. São formas diferenciadas de gestão de demandas de oferta e procura, seja utilizando-se da tecnologia (internet, anúncios entre outros) ou mesmo em pontos comerciais.

Nestes sistemas tanto o vendedor quando o consumidor possuem visão diferenciadas sobre os produtos e serviços que adquirem ou que fazem uso. É esta ―nova forma de ver‖ os produtos que impulsiona o âmbito positivo socioambiental considerando que o ciclo de vida dos produtos será mais longo do que no sistema: compra-uso-descarte.

Em pequenas e grandes cidades pode-se observar a quantidade de resíduos descartados de forma inadequada em ―bota foras‖, nas margens de estradas e em áreas que deveriam ser destinadas à preservação ambiental como indicam as figuras 37 e 38:

Desta forma, o descarte contabiliza não somente o aspecto negativo do acúmulo de resíduos, mas também o desperdício de matéria prima empregada e os gastos com energia, força de trabalho em todo o ciclo do processo produtivo.

Quando um produto é reinserido no mercado seu ciclo de vida é prolongado e sua capacidade ociosa é revertida em novas formas de geração de renda e utilidade, a exemplo do comércio de venda e restauração de móveis usados. Potencializa ainda a abertura de pequenos empreendimentos (figuras 39 a 41) sob a gestão de vidraceiros, artesãos, estofadores, pintores entre outros profissionais que podem dar ―vida nova‖ a móveis e objetos que seriam jogados a ermo em algum lugar.

Há clientes que procuram estas lojas por que desejam se desfazer de algum móvel, eletrodoméstico ou objeto do qual não precisam mais, a exemplo deste carrinho de bebê indicado na figura 43.

Figuras 37 e 38- Descarte de estofados na cidade de Lagarto/SE. Fonte: Siqueira, 2015.

Figuras 39 a 41- Lojas de restauração de móveis e estofados em Lagarto/SE. Fonte: Siqueira, 2015.

Outros clientes, inclusive com alto poder aquisitivo, buscam nas lojas de móveis usados objetos que possam destacar seu gosto peculiar, móveis com designer diferenciado ou que possuam maior durabilidade se comparados aos móveis fabricados atualmente. Desta forma este tipo de clientela insere-se no chamado ―consumo pátina‖, que alude aos objetos duradouros conservados de geração a geração ao qual é atribuído valor e status.

A pátina é, em primeiro lugar, uma propriedade física da cultura material. Consiste nos pequenos signos da idade que se acumulam na superfície dos objetos. Mobília, prataria, cutelaria, construções, retratos, jóias, roupas e outros objetos de manufatura humana sofrem um gradual afastamento de sua condição intacta original. Conforme entram em contato com os elementos e com os outros objetos do mundo, sua superfície original adquire, ela própria, uma outra superfície [...] funcionava como uma espécie de prova da longevidade da família e da duração de seu status de bem-nascidos (McCRACKEN; ROCHA, 2003, p.54).

Neste contexto, pode-se observar que estes tipos de estabelecimento comerciais cumprem importante papel no âmbito do reaproveitamento de móveis e objetos, colaborando inclusive para geração de renda local e para o consumo sustentável, além de fazerem ―felizes‖ consumidores com gostos estéticos peculiares.

A ampliação dos estilos de vida colaborativos ganham espaço também por meio da internet, compreendem inúmeras ações que vão desde a doação e venda de objetos e bens ociosos até o compartilhamento e permuta de tempo, espaço e instrução como podem ser observados nas figuras a seguir (figuras 44 a 45) que apresentam oportunidades de negócios e novas sociabilidades.

Figuras 42 a 43- Lojas de móveis usados em Lagarto/SE. Fonte: Siqueira, 2015.

No site do facebook o internauta pode se comunicar com pessoas que procuram e ofertam produtos, prestação de serviços ou mesmo caronas como indica a figura 44.

Em contraponto, ―compartilhar‖ tornou-se um verbo mais ‗agradável‘ no âmbito virtual do quando tratamos de bens tangíveis do dia a dia.

Afinal boa parte das pessoas já tiveram experiências negativas em relação à empréstimos de livros, objetos e outros bens que não foram devolvidos ou retornaram extraviados, o que constitui-se em obstáculo para novas experiências de consumo colaborativo com pessoas estranhas aos círculos de familiaridade cotidiana, pois algumas variantes de sistemas de consumo colaborativo necessitam essencialmente da construção de laços de confiança entre os participantes como no caso dos empréstimos, da execução de serviços entre outros. Contudo, este aspecto não impede que novas formas de gestão possam ser criadas com vistas a oferecer maior segurança nas transações de consumo colaborativo, considerando a possibilidade de participar também de redes de colaboração de tempo, como indica a figura 45.

Figura 44- Consumo colaborativo: troca, empréstimo e partilha de combustível.

Fonte: https://www.facebook.com/redecolabore. Acesso em: 10 jan. 2015.

Figura 45- Rede colaborativa de troca de tempo. Fonte: http://bliive.com/. Acesso em: 10 jan. 2015.

O site Bliive (figura 45) conecta uma rede colaborativa de troca de tempo na qual uma pessoa pode oferecer uma ―experiência‖ e pela hora oferecida pode receber um bônus (Time Money) para trocar com outras pessoas. Neste tipo de rede, por exemplo, podem-se oferecer horas de auxílio escolar, yoga, prática de esporte, artesanato, grupos de leitura, ensino de idiomas entre outras possibilidades. Neste contexto, os sites de aluguel e empréstimo também se expandem via internet.

Várias empresas se dedicam ao aluguel de roupas e itens para decoração de festas, fantasias e até bolsas de grife como indica a figura 46. Este tipo de empresa pode desenvolver seus negócios tanto com um ponto comercial no qual os clientes podem ir presencialmente, ou podem optar por ―lojas on line”.

No ramo das empresas que anunciam produtos usados via internet podem ser encontrados diversos produtos, desde livros, bicicletas, carros e casas, como indicado nas figuras 47 e 48.

Figura 46- Aluguel de bolsas de grife.

Fonte: http://bobags.com.br/. Acesso em: 10 jan. 2015.

Diante do exposto, pode-se perceber que as práticas de consumo colaborativo convergem com pressupostos do consumo sustentável pautadas na extensão do ciclo de vida dos produtos, na valorização do reaproveitamento dos bens, na construção de novas sociabilidades, além de apresentarem oportunidades de geração de renda, adequando-se cada vez mais as segmentações específicas de nichos de mercado.

Figura 48- Site que negocia milhares de livros usados. Fonte: http://www.estantevirtual.com.br/.Acesso em: 10 jan. 2015.

Figura 47- Site de venda de produtos usados na internet. Fonte: http://www.bomnegocio.com/ Acesso em: 10 jan. 2015.