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Capítulo 1 Introdução

1.5 Consumo de energia final em Portugal

O consumo nacional de energia final assenta sobretudo no petróleo (56,8 %) e na electricidade (20,5 %) (Figura 1.15), sendo as alterações mais significativas, nos últimos

anos, a diminuição da utilização de carvão (actualmente cerca de 96 % do carvão importado é usado na produção de energia eléctrica) e a penetração do gás natural na economia nacional (cerca de 41 % do gás natural importado é disponibilizado ao consumidor final) (Figura 1.15). Em termos médios, o consumo de energia final cresceu a 4,33 %·ano-1 entre 1990 e 2004, sendo actualmente da ordem de 18,7 Mtep·ano-1. Nesse

período, o petróleo e a electricidade apresentaram o crescimento médio mais rápido, de 4,6 %·ano-1 e 6,5 %·ano-1, respectivamente.

0 4 8 12 16 20 1990 1992 1994 1996 1998 2000 2002 2004 Mt ep

Petróleo Gás natural Carvão Renováveis Outros Electricidade Biomassa e resíduos

9,1% Outros 5,8% Gás Natural 7,3% Electricidade 20,5% Petróleo 56,8% Carvão 0,5%

Figura 1.14 - Evolução do consumo de energia final em Portugal e também por tipo de fonte de energia. (Fonte: DGEG, 2007b)

Figura 1.15 - Distribuição do consumo nacional de energia final, por tipo de energia, em 2004. (Fonte: DGEG, 2007b)

O sector dos transportes representa a maior parcela do consumo de energia final (35,5 %), seguido das indústrias transformadoras (28,3 %), do sector doméstico (16,2 %) e dos serviços (12,9 %) (DGEG, 2007c) (Figura 1.16). A maior parte dos sectores da economia apresenta um mixing energético dominado pelo petróleo, nomeadamente os transportes, onde o petróleo representa 99 % do consumo do sector, equivalente a 60 % do consumo total nacional (em particular, o modo rodoviário é responsável por 90 % do consumo de energia do sector dos transportes). Todo o carvão que ocorre como energia final (cerca de 4 % do total primário) é utilizado nas indústrias transformadoras, sendo também neste sector de actividade que ocorre a maior parte do consumo de gás natural (cerca de 73 % do total nacional). Em relação ao consumo de electricidade, a maior parte do consumo ocorre nas indústrias transformadoras (48 %), no sector doméstico (22 %) e nos serviços (25 %). O sector doméstico é aquele que depende menos do petróleo e também o que consome mais energia oriunda de fontes renováveis.

Nestas circunstâncias é claro que para alcançar maior segurança no abastecimento energético nacional, é necessário um empenho nacional forte no desenvolvimento de estratégias integradas para a produção de combustíveis alternativos destinados aos transportes, dado tratar-se de um sector com um acréscimo rápido do consumo de energia (em 2004 o consumo equivalia a 190 % do valor registado em 1990) e com um leque de opções de propulsão muito reduzido (baseado sobretudo nos ciclos Diesel e Otto). Efectivamente, a promoção da utilização de biocombustíveis nos transportes é uma das prioridades da política energética portuguesa, enquadrada, entre outros, pela Resolução do Concelho de Ministros n.º 169/2005 e pelo Decreto-Lei n.º 62/2006, cuja meta mais recente neste âmbito é a substituição de 10 % (base energética) dos combustíveis rodoviários por biocombustíveis, até 2010 (www.dgge.pt). Para além do desenvolvimento da opção biodiesel e álcoois, seria bastante oportuno enquadrar o reforço nacional em tecnologias de conversão energética de biomassa na lógica do conceito de “biorefinarias”, destinadas a realizar poligeração (electricidade, calor, combustíveis alternativos e até produtos não energéticos) a partir de biomassa.

0 2000 4000 6000 8000 Agricultura e Pescas Indústrias extractivas Indústrias transformadoras Construção e Obras Públicas

Transportes Doméstico Serviços

Mt

ep

Petróleo Carvão Electricidade e calor Renováveis Gás Natural

28,3% 35,5% 4,4% 16,2% 12,9% 2,1% 0,6%

Figura 1.16 - Consumo de energia final por sector de actividade e por fonte de energia, em 2004. (Fonte: DGEG, 2007c)

Quanto ao aproveitamento de energias renováveis, ultimamente tem ocorrido um incremento anual significativo da produção nacional de energia eléctrica a partir de sistemas de conversão de energia eólica e de biomassa (Figura 1.17), fazendo com que as energias renováveis não-hidroeléctrica representem actualmente cerca de 8,2 % da produção total nacional de electricidade (50 % superior à produção registada em 1995).

Em particular, a utilização dos recursos eólicos tem sido uma prioridade nacional clara, considerando o aumento de 110 vezes da produção eléctrica em parques eólicos na ultima década (Figura 1.17). A utilização de biomassa para a produção de electricidade apresenta também uma evolução positiva, com um aumento médio de 10,1 %·ano-1 entre

1995 e 2005, sendo notório um crescimento mais acentuado da produção anual a partir de 1999 (Figura 1.17). A energia solar fotovoltaica e a energia geotérmica tiveram um crescimento médio na última década de 5 %·ano-1 e 1,6 %·ano-1, respectivamente, sendo

ainda reduzida a correspondente produção de electricidade (<100 GWh·ano-1).

0 500 1 000 1 500 2 000 2 500 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 GWh

Eólica Biomassa Outras renováveis

Figura 1.17 – Evolução da produção nacional de energia eléctrica a partir de fontes de energia renováveis (excluiu-se da análise a energia hidroeléctrica). (Fonte: DGEG, 2007d).

A meta nacional para a produção de electricidade de origem renovável evidencia a aposta forte da política energética nacional na diversificação das fontes de energia, correspondendo a uma produção anual de electricidade equivalente a 45 % do consumo nacional, a partir de um leque amplo de recursos renováveis (www.dgge.pt) (trata-se de uma revisão da meta estabelecida na Resolução do Concelho de Ministros n.º 169/2005 - 39 %). Na vertente da energia eólica o objectivo é alcançar 5100 MW de capacidade instalada em 2012, cinco vezes superior à capacidade que existia em 2005. No âmbito da biomassa, foi lançado recentemente um concurso internacional para a construção de novas centrais termoeléctricas a biomassa florestal (Duarte, 2006), com potências de até 12 MWth, com o objectivo de se alcançar em 2010 um total de 250 MW. Está ainda

previsto o reforço da potência instalada para a energia hidroeléctrica (5575 MW em 2010 face aos 4818 MW em 2005), energia solar fotovoltaica (nomeadamente através da nova

Central Fotovoltaica de Amareleja – Moura com 64 MW) e energia das ondas (criação de uma zona piloto com um potencial de exploração de até 250 MW).

A Figura 1.18 mostra um dos motivos da diferença observada entre o consumo nacional de energia primária (26,4 Mtep·ano-1) e o correspondente consumo de energia

final (18,7 Mtep·ano-1), o qual é relativo à eficiência da conversão energética de

combustíveis em electricidade, através de sistemas de conversão baseados em processos termoquímicos (combustão) de suporte à realização de ciclos termodinâmicos destinados à conversão de energia térmica em energia mecânica. Trata-se, portanto, de processos com uma eficiência térmica necessariamente inferior à unidade e ainda candidatos à destruição de exergia. No caso presente, construído a partir de quadros de balanços de energia nacionais, estima-se que cerca de 50 % do conteúdo energético dos combustíveis usados para efeitos da produção de electricidade seja convertido em energia térmica a baixa temperatura e, portanto, sem qualidade. As restantes parcelas da referida diferença referem-se ao consumo próprio do sector energético (refinarias, centrais termoeléctricas, etc.) e a perdas durante a distribuição de energia ao consumidor final (nomeadamente durante a distribuição de electricidade).

0 1 2 3 4 5 6 7

Energia que entra nas centrais

Electricidade produzida

Mt

e

p

Petróleo Carvão Gás Natural Biomassa e resíduos

Figura 1.18 – Energia processada em centrais termoeléctricas nacionais e correspondente produção de electricidade, em 2004. (Fontes: DGEG, 2007a, 2007b, 2007c).