• Nenhum resultado encontrado

Para compreender a relação do consumo com a religião, é fundamental entender o que é sociedade de consumo. Dessa forma, é possível também compreender como as igrejas pentecostais, neopentecostais ou pós-pentecostais se relacionam com o consumo. Para tanto, podemos tomar como base o trabalho de Featherstone (1995).

Featherstone (1995) explica que a sociedade de consumo se inicia com a pós- modernidade que se estabeleceu entre a segunda década do século XIX e pós- segunda guerra mundial. É importante notar que, para o autor, a pós-modernidade se caracteriza pela saída de uma sociedade apenas produtora, sociedade moderna, para uma sociedade reprodutora, pós-moderna. A modernidade, período do renascimento, designa uma sociedade que se contrapôs ao tradicionalismo e implementou a racionalidade como forma de entender o mundo. Modificou estruturas econômicas e sociais. É nesse período também que se forma o Estado capitalista-industrial. Por sua vez, a pós-modernidade, como o prefixo sugere, rompeu com as estruturas estabelecidas na modernidade, desenvolveu novas tecnologias e por meio delas, a sociedade pode alterar sua forma de se organizar mais uma vez (FEATHERSTONE, 1995).

A sociedade pós-moderna produziu uma cultura, que para alguns autores é vista de forma negativa, onde a produção em massa de bens simbólicos desvalorizou, como por exemplo, o que seria a arte. Autores como Daniel Bell (1976 apud Featherstone, 1995) vão trazer uma visão pessimista sobre a cultura pós-moderna, onde é descrita como “corrosiva”, se destacando pela busca do prazer que se originou em sociedades hedonista que, para ele, acaba subvertendo a cultura da burguesia tradicional. A primeira percepção da cultura contemporânea, que Featherstone (1995) chama de cultura de consumo, parte da perspectiva da produção do consumo que ganha força com a elaboração das técnicas do Fordismo. Vale ressaltar que para Featherstone (1995), a produção do consumo difere de consumo da produção. Campbell (2001) reforça essa concepção ao afirmar que o consumo contemporâneo teria mais a ver com a lógica de produção do consumo que o consumo da produção em massa.

Horkheimer e Adorno (1970 apud Featherstone, 1995), explicam que a sociedade pós-moderna aplica a racionalidade da produção em todos os aspectos da

vida humana, como o lazer e a cultura. Dessa forma, tudo passa a ter um preço, inclusive, o que os autores chamam de “valores e propósitos mais elevados da alta- cultura”, como a busca pela felicidade e realizações pessoais. Citando Adorno (1970), Featherstone (1995) explica que a cultura do consumo desprende a mercadoria do seu uso original, vinculando a ilusões culturais.

Baudrillard (1970, apud Featherstone, 1995) por sua vez, se utiliza da semiótica para entender a cultura do consumo, onde elabora a semiologia da lógica da mercadoria. Para ele, na sociedade contemporânea, as mercadorias se uniram aos signos criando a mercadoria-signo. Nessa lógica os signos não estão mais presos aos objetos e são manipulados o tempo todo, permitindo a multiplicidade de associações dessas mercadorias, como fazem na publicidade e nas mídias de massas, onde quaisquer produtos podem representar outro papel que não o seu original. Dessa forma qualquer objeto poderia ser representado por imagens de beleza, sensualidade e sonhos (BAUDRILLARD, 1970, apud FEATHERSTONE, 1995).

Assim, se a produção possui a lógica do capital, como muitos autores argumentam, então seria possível a existência de uma lógica para o consumo. Dessa forma, o que consumimos iria interferir nas nossas relações pessoais e como somos vistos pelo restante da sociedade. Além disso, nessa cultura do consumo, o nosso lazer e subsistências estariam ligados ao consumo de mercadorias. Esse consumo não necessariamente precisa ocorrer fisicamente, mas de forma imaginativa. Utilizando o exemplo dado por Featherstone (1995), um objeto, como uma garrafa de vinho, talvez nunca seja aberto e consumido de fato, mas a sua exposição traz prestígio para quem a possui e seu dono consome os símbolos que rodeiam uma boa garrafa de vinho, proporcionando assim, uma grande dose de prazer e status (FEATHERSTONE, 1995).

Interessante notar que para Weber (1982 apud Patriota, 2008), as características, não tanto quanto na sociedade do consumo, mas presentes principalmente no capitalismo em formação, em muito se relacionam com as seitas de origem protestantes presentes nos Estados Unidos colonial. Segundo o autor, o sofrimento era visto por diversas religiões como consequência do desagrado de um deus. Dessa forma, aqueles que eram bem afortunados estavam recebendo o que mereciam, pois esses agradavam a divindade. O mesmo acontecia com os desafortunados, também recebiam o que mereciam, a ira do seu deus, pois estes

deveriam estar se comportando mal. Assim pensavam os puritanos. Estes viviam sob uma ética muito rígida e isso trazia prestígio, não só a igreja, mas também aos filiados a esse templo. Os fiéis ao se vincular a um desses templos recebiam não só prestígio social, mas econômico.

Como explica Weber (1982 apud Patriota, 2008), para um indivíduo se tornar membro de uma dessas igrejas, passava por entrevistas rigorosas que remontavam até a infância. Dessa forma, o templo teria certeza da integridade e pureza dos seus membros. O que reverberou na forma em que os puritanos eram vistos pela comunidade em geral e também pelos fiadores. Para o autor, as seitas protestantes foram capazes de estabelecer conscientemente a ligação entre a riqueza e bênçãos divinas. Na lógica puritana, os fiéis recebiam de acordo com seu sacrifício e comportamento. Curiosamente, o pentecostalismo séculos depois usaria o mesmo argumento para permitir que seus membros participassem dos prazeres da cultura do consumo.

Esta cultura, como explica Featherstone (1995), precisa ir além do termo “consumo” da visão da economia clássica, pois é mais que gastar ou desperdiçar. A cultura do consumo deve ser vista como uma cultura do excesso. Os meios responsáveis pela produção precisam destinar suas mercadorias a um fim, e para isso, elaborou métodos para dissipar a parte que sobra em jogos, arte e até em templos e por meio do sagrado. Endossar ambientes que proporcione o prazer do consumo e a superprodução de imagens que possam resolver o excesso da produção, é o método mais empregado pelas sociedades capitalistas.

Além disso, como explica Baudrillard (1983a e 1983b apud Campos, 2007) os meios de comunicação foram de extrema importância nesse processo. Pois seriam estes os responsáveis em transformar a produção em reprodução. As mídias de massas seriam responsáveis por reproduzir signos, imagens e simulações, acarretando em uma cultura onde não existe distinção entre a imagem e a realidade. Dessa forma tudo se torna cultural, pois os signos estariam em toda parte. Os usos das ferramentas de comunicação foram úteis para os movimentos de reavivamento, como no caso do pregador Dwight L. Moody (1837-99), nos Estados Unidos. Onde o uso de folhetos volantes e publicações em cartazes utilizadas como forma de propagar as reuniões realizadas por ele foi bastante significativo. Pois nessas reuniões, milhares de pessoas eram reunidas para ouvir a pregação sobre o reavivamento (CAMPOS, 2007).

O estímulo recebido da cultura contemporânea, repleta de signos e imagens, segundo Campbell (2001), seria o responsável por manter o ciclo vicioso do consumo, além é claro, ser o principal motor desta cultura. Pois, no momento em que um objeto tão desejado, considerado necessários é adquirido e consumido, logo perde sua aura que o destacava. Assim, surgindo outro em seu lugar. Montando um ciclo vicioso do consumo. O prazer no consumo seria anos de evolução em níveis sociais de como a sociedade lida com as sensações.

Campbell (2001) faz a distinção entre a satisfação e o prazer, algo importante para a sociedade do consumo. O primeiro se refere às necessidades de subsistência e se relaciona internamente com o indivíduo. A satisfação gera a carência, que despertada internamente, compele o indivíduo em busca de algo que lhe falta para sua sobrevivência. A fome gera uma carência por alimentos que, ao ser consumido, gera satisfação. Por outro lado, o prazer se relaciona com as sensações ou estímulos recebidos do externo que o indivíduo é capaz de sentir (CAMPBELL, 2001).

No caso da fome, você pode ingerir alimentos que tenham alto valor nutritivo e não ser prazeroso. Ou o contrário, se alimentar de uma fonte que causa bastante prazer e não ser nutritivo. Quando privado, o indivíduo pode sentir prazer ao se saciar, entretanto, se o um indivíduo permanece se alimento sempre nas horas certas, ele desconhece o que seria a privação. Em algum momento, a carência por alimentos deixaria de gerar prazer. A sociedade contemporânea, em sua maioria, não passa realmente por privações, pois o desenvolvimento tecnológico e da indústria levou a produção de bens materiais em grande escala, facilitando a aquisição de produtos essenciais para a sobrevivência do homem. Assim, estamos à procura de estímulos o tempo todo (CAMPBELL, 2001).

A gastronomia, a arte, a música, os grupos itinerantes e as apresentações dadas nos grandes castelos foram formas desenvolvidas pela humanidade para estimular a sensação e gerar prazer. Entretanto, há outra forma de desencadear prazer que não dependa de estímulos externos e de forma mais intensa: as emoções (CAMPBELL, 2001).

Segundo Campbell (2001), apenas o autoconhecimento levaria a extração de total prazer pelo indivíduo. Levando em conta que apenas ele mesmo teria as informações necessárias para estimulá-lo da forma correta. O indivíduo com o autoconhecimento irá manipular as sensações para que sinta o prazer que desejar e quando desejar. Esse controle das sensações somado a imagens produz o que

Campbell (2001) define como emoções. Uma sensação mais intensa e prolongada. Pois o que antes dependia da experiência sensorial, como ouvir do canto dos pássaros ou sol na pele, as emoções emulam sensações que não estão presentes no mundo externo, mas dentro do ser.

Campbell (2001) acredita que a religião seja o campo mais importante entre as áreas da cultura, levando em consideração sua importância na evolução da sociedade hedonista. Salvação, o estado do pecado ou da graça despertam poderosas emoções que acabam necessitando se vincular as forças invisíveis divinas mediante a símbolos. Assim, essas emoções são geradas pelos os símbolos religiosos que irão se contrapuser às emoções geradas pela experiência externa. E mais, serão capazes de gerar emoções até mesmo quando não se têm estímulo algum.

O catolicismo já exercia controle das emoções por meio dos símbolos, porém esse controle se encontrava nas mãos do clero. Em contraponto, no protestantismo não existem intermediários entre deus e o homem e os símbolos usados pela igreja católica, como as imagens religiosas, não eram mais permitidos. Por isso, dentro do protestantismo, a carga simbólica dos acontecimentos se torna diversa, subjetiva e individual. Experiências como a morte, que era caracterizado como consequência do pecado, agora poderia se ligar a diversos símbolos como caixões, o badalar do sino, igrejas e etc (CAMPOS, 2007).

O puritanismo e a ética puritana tiveram um papel importante para o desenvolvimento do hedonismo moderno, como salienta Campbell (2001). A aversão do puritanismo a demonstração de emoções, mesmo de forma negativa, permitiu a elaboração do autocontrole, separando a emoções do comportamento. Como Campbell explica, uma emoção muito intensa pode acarretar em um comportamento caótico, “fora de si” ou como muitas religiões podem interpretar, uma possessão demoníaca. Como Featherstone (1995) explica, a cultura da sociedade pós-moderna que usa características carnavalescas para gerar emoções, exige um descontrole controlado. Então se pode identificar no protestantismo e depois no puritanismo, além das características já citadas, uma aptidão em manipular os significados dos objetos e do acontecimento, de forma a poder extrair as emoções desejadas, que a sociedade hedonista moderna requer.

Entretanto, as religiões ainda não são o estado necessário para se criar uma sociedade que saber utilizar as emoções para estímulo do prazer. Pois enquanto os símbolos religiosos permanecem fortes, menos é a capacidade de manipulação das

emoções. Porém quando esses símbolos enfraquecem, aos sentimentos que são fortalecidos pelos símbolos religiosos se tornam mais maleáveis, permitindo sua manipulação e maior prazer. Campbell (2001) explica que, quando o ceticismo toma conta da sociedade do século XVII, a religião é deixada de lado e os símbolos religiosos ainda residem no imaginário da população. As mortes, por exemplo, são responsáveis por diversas formas artísticas como a pintura gótica, a prosa de cemitério e outras. Nesse caso não seria o medo da morte, mas a “sensação” de sentir medo. Essa sensação poderá ser desligada assim que o indivíduo desejar. O autor chama esse controle das emoções como suspensão da descrença. Enquanto uma emoção for prazerosa, o indivíduo decide acreditar, porém, quando a emoção causa desconforto ele poderá voltar ao estado de descrença.

Portanto, na visão de Campbell (2001), a sociedade contemporânea não se caracteriza apenas com a compra e o uso de produtos, mas “a procura do prazer imaginativo a que a imagem do produto empresta”, sendo o consumo verdadeiro, em grande parte, um resultante desse “mentalíssimo”. Então, o consumo moderno seria a busca pelo prazer imaginativo que está presente na imagem do objeto, a possibilidade do produto em provocar uma emoção ou prazer na qual o consumidor idealiza. O autor explica também que o consumidor moderno irá preferir o sonho, o romântico ao invés do produto comum.

O consumo moderno não está na procura do que o objeto é capaz de fazer, mas no que ele é capaz de fazer sentir. Dessa forma, todo objeto novo vai despertar a possibilidade de sentir algo que ainda não foi sentido na realidade, apenas na imaginação do consumidor. E esse desejo de sentir de fato as emoções, se liga a busca por produtos que precisam ser considerados “novos”. Pois o novo possibilitaria o prazer idealizado se concretizar no produto oferecido, já que os antigos nunca foram capazes de entregar sensações idealizadas. Portanto, Campbell (2001) explica que o consumo moderno vai estar atrelado ao processo de ilusão e desilusão. O consumidor deseja um produto que talvez possa fazê-lo sentir as emoções que idealizou, adquire, se desilude e assim volta ao estado inicial de desejar.

O consumo pode também ser aflorado pelos anúncios, pois esses se relacionam mais com os sonhos que as necessidades. Entretanto, o autor deixa claro que os anúncios se utilizam da capacidade que os consumidores possuem em criar devaneios. Sim, os anúncios podem sugerir sonhos e prazeres, porém o próprio consumidor também pode fomentar ideias e ilusões ou fantasias em torno de um

objeto. Ele ressalta que na nossa cultura e no consumismo contemporâneo as representações dos produtos são mais valorizadas que o próprio produto. Essas características estão presentes em todo tipo de comunicação: anúncios, cartazes, catálogos comerciais, revistas e inclusive na arte (CAMPBELL, 2001).

Featherstone (1995) a partir de Benjamin (1982b), explica que esses espaços de sonhos se tornaram as lojas de departamento e galerias da atualidade que expõem as mercadorias. Só foi possível esses espaços se tornarem atrativos por meio da assimilação da arte e popularização da fotografia pelos meios de comunicação, design, marketing e da publicidade. Transformando assim a paisagem urbana em uma paisagem estetizada. O que Featherstone (1995, p. 44) vai dizer:

Nesse mundo estetizado das mercadorias, as lojas de departamentos, galerias, bondes, trens, ruas, a trama de edifícios e as mercadorias em exposição, além das pessoas que perambulam por esses espaços, evocam sonhos parcialmente esquecidos à medida que a curiosidade e memória do passante è alimentada pela paisagem em constante mutação, onde os objetos aparecem divorciados de seu contexto e submetidos a associações misteriosas, que são lidas na superfície das coisas.

Dentro do movimento pentecostal podemos atestar, principalmente em igrejas pós-pentecostais, o uso das ferramentas da sociedade de consumo. Essas que são utilizadas para agregar aos objetos sonhos e idealizações com a finalidade de captar um público, para divulgação de uma denominação ou até, para a venda de um produto. O pentecostalismo sofreu influência direta da sociedade contemporânea, como também do próprio consumo. Como Campos (2005) explica sobre o surgimento do pentecostalismo, veio para preencher uma necessidade de uma sociedade que, passando por situações como a guerra e crises econômicas, buscavam na religião um conforto para seus problemas. Entretanto, como Mariano (1996) vai nos dizer, a pobreza presente nas comunidades pentecostais nunca foi valorizada como algo a ser buscada. Pelo contrário, a pobreza era vista como algo temporário, até terem as almas dos fiéis migradas ao paraíso, dessa forma, o sofrimento acabaria de uma vez por todas.

Como exemplo da articulação entre fé e consumo e bens de consumo, podemos citar a Teologia da Prosperidade. Para Amorim (2017) a partir de Mariano (1996), é interessante observar que as igrejas da terceira onda do movimento pentecostal enfatizam a batalha constante sobre o diabo, a abertura a novos costumes, como a liberação do uso de algumas roupas e maquiagem, que nas ondas

anteriores não eram permitidas, e a Teologia da Prosperidade. Tal Teologia entende que o cristão, ao obedecer aos preceitos, estará na “benção” e na terra, bem como se torna o governante escolhido pelo Senhor Deus para cuidar da criação (AMORIM, 2017).

Para Patriota (2008), a Teologia da Prosperidade propõe resolver os problemas como falta de dinheiro, posse e uso de bens materiais, não só de âmbito simbólico (status, por exemplo), mas palpáveis (carro, casa, jóias, por exemplo), próprios da sociedade de consumo. Rodrigues (2003 apud Patriota, 2008) aponta que a ideia de “posse” dialoga diretamente com a materialidade do que se deseja e que, pelo converso, é entendido como um direito. Desse modo, para o autor (2003 apud Patriota, 2008), a “posse” é inserida de forma significativa nos discursos neopentecostais, de maneira a originar uma relação espiritual, com o transcendente, de maneira tal que

essa relação, no entanto, revela e coloca à mostra toda a capacidade de desejar a apropriação da “herança de Deus” por meio da obtenção, usufruto e controle de bens materiais, de coisas palpáveis que expressem socialmente ascensão, enriquecimento, prosperidade. E acima de tudo, deseja-se a fruição desses bens exemplificados como uma resposta evidente ao apelo, à fidelidade, ao sacrifício e à hereditariedade do converso para com o Divino através de Jesus (RODRIGUES, 2003, p. 24 – 25 apud PATRIOTA, 2008, p. 115).

Ainda sobre a Teologia da Prosperidade, Patriota (2008) pontua que, tal teologia atua desempenhando várias funções dentro da sociedade de consumo, como por exemplo, através do seu discurso nas igrejas neopentecostais a ideia de inserção numa determinada classe social ou a de identificação com esta classe, justamente porque esta classe materializa status, prestígios por meio das bênçãos recebidas. Não por acaso que para Patriota (2008) a proposta da Teologia da Prosperidade se torna bastante atraente, principalmente para pessoas que idealizam, projetam mudança de vida corporificada pelo sucesso atestado pela posse de bens (PATRIOTA 2008).

Diante disso, a autora sinaliza que, nas igrejas neopentecostais, a presença de pessoas de baixa renda é imensa, no entanto, não é exclusiva. Antes a ideia era que somente os mais pobres e habitantes das periferias dos grandes centros eram atraídos pelo discurso da Teologia da Prosperidade. Hoje, isso mudou. Como nos diz Patriota (2008, p.116) “com a projeção conferida à vida cristã, artistas, empresários e

grandes nomes da sociedade frequentam igrejas evangélicas e professam a fé em Jesus, ancorados nas promessas de vitórias [...]”.

Como exemplo disso, temos a Nação dos 318, um ministério da Igreja Universal do Reino de Deus (a maior dentro do movimento neopentecostal), cujo objetivo é tratar da vida financeira e profissional dos fiéis (PATRIOTA, 2014). Dessa forma, são 318 pastores que discursam sobre empreendedorismo, investimentos, dinheiro e riqueza, recebendo pessoas dos mais variados níveis culturais, empresários, autônomos, pessoas que desejam voltar ao mercado de trabalho ou abrir seus próprios negócios (PATRIOTA, 2014). Ao estudar a Nação dos 318, Patriota (2014, p.131) nos apresenta um trecho de um depoimento – Depoimento de Márcio Lucas na reunião dos empresários – Igreja Universal –disponível no YouTube3:

Comprei o primeiro carro: um Peugeot 406. O segundo, um Citroën Xsara Picasso. O terceiro, um PT Cruiser da Craisler. O quarto carro, uma Mercedes Avant garde 0 km, que está aqui na frente. Todos os carros zero. O quinto, de presente de Natal, me dei agora: uma Dodge Journey de sete lugares. Um apartamento no Arpoador; um apartamento no Parque das Águas, um megacondomínio clube; dois terrenos no Santa Mônica Jardins, em frente ao Rio Design Center, nas Américas, somando 1.050 metros de terreno. Hoje eu moro numa casa de 740 m de área construída, 1.300 de terreno, na Barra. Uma estrutura maravilhosa: salão de festas para 300 convidados, piscina de ofurô ao ar livre, piscina, sauna, lareira, sala de cinema. Uma estrutura maravilhosa. Inclusive, frequenta aqui a Nação. Tenho amigos que trabalham comigo no negócio. Muitas pessoas aqui que me conhecem. A minha vida se transformou assim tremendamente. É um sonho que eu vivo. Tem momentos que eu nem acredito que está

Documentos relacionados