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O turismo de aventura, conforme definição já apresentada anteriormente, reúne as características da aventura, bem como da atividade turística. O vocábulo aventura é derivado do latim vulgar, adventura, significando o que vai acontecer a alguém (HOUAISS; VILLAR, 2001, p. 356). Porém, de acordo com a Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT, responsável pelo processo de normalização desse segmento no Brasil, este é um termo subjetivo que pode variar de acordo com a interpretação de cada cliente (ABNT NBR 15286, 2005). Nesse sentido, o documento elaborado pela Associação Brasileira das Empresas de Ecoturismo e Turismo de Aventura – ABETA, em parceria com o Ministério do Turismo - MTUR (2009) analisa que os significados do termo aventura podem remeter a resultados incertos, expectativa e descoberta, gerando reações emocionais que vão do medo ao entusiasmo, por isso, a possibilidade de diversas interpretações.

O turismo de aventura enquanto um segmento da atividade turística envolve os deslocamentos turísticos, os indivíduos que possuem a motivação pela prática dos esportes de aventura com caráter recreacional, constituindo a demanda, e os destinos e prestadores de serviços turísticos que compõem a oferta turística. Essa abordagem é coerente com a visão de mercado e que se torna clara a partir da definição elaborada pelo MTUR (BRASIL; MTUR, 2008, p. 15), o qual considera que “o turismo de aventura compreende os movimentos turísticos decorrentes da prática de atividades de aventura de caráter recreativo e não- competitivo”. Nesse sentido, entendem-se os movimentos turísticos a partir dos deslocamentos e estadas (permanência em um destino) que pressupõem a oferta de serviços e equipamentos para a efetivação das atividades turísticas (BRASIL; MTUR, 2008). No caso das atividades de aventura de caráter recreativo, estas envolvem “determinado esforço e riscos controláveis, e que podem variar de intensidade conforme a exigência de cada atividade e a capacidade física e psicológica do turista” (BRASIL; MTUR, 2008, p. 9).

Ressalta-se que as atividades de turismo de aventura estão sendo consideradas nesta tese como sendo aquelas oferecidas comercialmente pelas empresas de turismo de aventura, e não as atividades praticadas de forma independente pelos indivíduos, ou seja, sem estar vinculada a um pacote turístico, e nem as atividades desenvolvidas pelos profissionais que atuam nesse

segmento. Então, esse entendimento se alinha com a definição elaborada pela ABNT (NBR 15500, 2007, p. 1) a qual conceitua as atividades de turismo de aventura como sendo “atividades oferecidas comercialmente [...] que tenham ao mesmo tempo o caráter recreativo e envolvam riscos avaliados, controlados e assumidos”. Destaca-se que estas atividades podem ser conduzidas em ambientes naturais, rurais ou urbanos, mas aqui serão consideradas as atividades realizadas em ambientes naturais que condizem àquelas oferecidas pela maioria dos prestadores de serviços. Além disso, essas atividades têm como uma de suas origens os esportes na natureza, que serão detalhados a seguir (Quadro 2(2)). No caso dos riscos, ressalva-se que estes são inerentes a estas atividades tal como definidos anteriormente.

Terra Ar Água

Arvorismo Balonismo Bóia-cross e Acqua-ride

Bungee jump Pára-quedismo Canoagem

Caminhada e caminhada de longo curso Vôo livre Flutuação

Canionismo e cachoeirismo Kitesurfe

Cavalgada Mergulho

Cicloturismo Rafting

Escalada Windsurfe

Espeleoturismo Observação da vida selvagem

Rapel Tirolesa

Turismo fora-de-estrada com bugues Turismo fora-de-estrada com veículos 4x4

Quadro 2(2) – Atividades de Turismo de Aventura

Fonte: ABETA; MTUR (2009)

Essas atividades de turismo de aventura apresentadas no quadro acima são as mais praticadas no Brasil, segundo a ABETA e MTUR (2009). Elas aparecem seguindo a ordem Terra, Ar e Água, de acordo com o ambiente específico em que essas atividades são realizadas, e dentro de cada um desses ambientes, foram listadas em ordem alfabética. Detalham-se aqui as definições das atividades que foram objeto de pesquisa de campo, tais como: Arvorismo, Canionismo, Escalada, Rapel, Tirolesa, Pára-quedismo, Bóia-cross e

Rafting. As demais constarão em um glossário ao final do trabalho.

Arvorismo (arborismo) - locomoção por percursos em altura instalados em árvores ou em outras estruturas (ABNT NBR 15500, 2007, p. 1).

Canionismo - descida de cursos d’água, usualmente em cânions, sem embarcação, com transposição de obstáculos aquáticos ou verticais (ABNT NBR 15500, 2007, p. 2).

Escalada - ascensão de montanhas, paredes ou blocos rochosos (ABNT NBR 15500, 2007, p. 2).

Rapel - técnica de descida em corda utilizando equipamentos específicos (ABNT NBR 15500, 2007, p. 3).

Tirolesa - linha aérea tensionada ligando dois pontos afastados na horizontal ou em desnível, onde o cliente conectado a ela desliza entre um ponto e outro, utilizando procedimentos e equipamentos específicos (ABNT NBR 15500, 2007, p. 4).

Pára-quedismo - como atividade de turismo de aventura é caracterizado pelo salto duplo (duas pessoas, sendo uma delas o instrutor, que deve ter mais de 1.000 saltos no currículo) de elevadas alturas (avião, helicóptero ou similar) com uma bolsa nas costas contendo um pára- quedas (feito de lona muito leve, que tende a aumentar a superfície de contato e diminuir a velocidade em relação à queda livre, com a qual o praticante inicia a atividade) (ABETA; MTUR, 2009, p. 97).

Bóia-Cross - É a descida de rios praticada em um minibote inflável, onde a pessoa pode sentar-se de costas ou apoiar-se de bruços, com a cabeça na extremidade frontal da bóia e os pés na parte final da bóia, já praticamente na água (ABETA; MTUR, 2009, p. 99).

Rafting - descida de rios com corredeiras em botes infláveis (ABNT NBR 15500, 2007, p.

3).

Ressalta-se que estas atividades são interpretadas como tendo níveis diferentes de radicalidade que seria o grau de risco envolvido na prática da mesma. Contudo, não existem estudos no Brasil que definam com clareza essa gradação dos riscos para as atividades de aventura. Conforme observaram Bentley e Page (2007), na Nova Zelândia, apesar de ser considerada a “capital mundial da aventura”, esses dados também não são disponibilizados pelos órgãos públicos que regulamentam essas atividades naquele país. No entanto, seus estudos na Nova Zelândia mostraram um ranking que contempla as atividades que possuem o grau de risco real mais elevado. Curioso observar que o Rafting aparece em segundo lugar, junto com outras atividades que possuem um risco elevado.

Diante dessa realidade, percebe-se que a avaliação dos riscos inerentes às atividades de aventura desenvolvidas no Brasil torna-se um tema interessante de pesquisa. Entretanto, não cabe a este estudo apresentar tal avaliação. O turismo de aventura está sendo considerado como contexto de análise e os riscos percebidos pelos consumidores aparecem associados às emoções para compor as estruturas afetivo-cognitivas, que irão ajudar a explicar a satisfação no consumo do turismo de aventura.