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Para com preender o sist em a educacional brasileiro at ual é necessário elucidar fat os hist óricos que perm it em reflet ir sobre as razões pelas quais algum as sit uações se m odificaram e out ras perm aneceram . Analisar a Hist ória da Educação Brasileira é re- significar a hist oricidade dos fat os, ou seja, as int ervenções polít ica, social e cult ural. Por isso, o present e t rabalho aborda a Hist ória do Brasil, a Hist ória da Educação e o ensino da Língua Port uguesa nos últ im os anos.

O Brasil, no final de 1950, foi m arcado por um a rápida indust rialização, principalm ent e com a inst alação de em presas est rangeiras. A t ent at iva de fazer a econom ia crescer num rit m o acelerado se t raduziu no slogan “ Cinqüent a anos em cinco” do governo Juscelino Kubst check (JK). A m odernização da vida brasileira t rouxe um aum ent o da inflação e um a m aior dependência com relação aos países desenvolvidos, principalm ent e os Est ados Unidos.

No cont ext o polít ico, o período do governo JK foi de relat iva t ranqüilidade. Em 1960, Jânio Quadros venceu as eleições presidenciais. Seu program a de governo visava à aust eridade adm inist rat iva e o com bat e à inflação e à corrupção.

Para t ent ar recuperar o apoio perdido em poucos m eses de governo, Jânio com eçou a prat icar a “ polít ica ext erna independent e” , aproxim ando-se de Cuba e reat ando relações com a União Soviét ica e com a China com unist a. Porém , nesse

m om ent o, a “guerra fria” ent re Est ados Unidos da Am érica e União das Repúblicas Socialist as Soviét icas est ava no auge, o que prat icam ent e obrigava os países a se alinharem a um dos dois blocos. Com isso, era difícil para o Brasil afast ar-se da órbit a nort e–am ericana. A aproxim ação com países com unist as despert ou a ira dos conservadores. A União Dem ocrát ica Nacional (UDN), part ido que t inha levado Jânio à presidência, passou a at acá-lo, agravando-se a crise, que culm inou com a renúncia de Jânio Quadros em 25 de agost o de 1961, seis m eses depois da posse.

João Goulart , sucessor de Jânio Quadros na presidência da República, era seguidor de Get úlio Vargas, que propunha um desenvolvim ent o econôm ico nacionalist a, ist o é, independent e da influência est rangeira. Para isso, buscou o apoio dos em presários e dos t rabalhadores assalariados. O cont role dos sindicat os era peça im port ant e dessa polít ica.

A sit uação do Brasil, na época da posse de Goulart , era de acirram ent o das cont radições sociais, dificult ando a polít ica de conciliação. No plano polít ico, a renúncia de Jânio conduziu Goulart à presidência da República, com um Congresso que lhe era desfavorável. No plano econôm ico, a inflação e a dívida ext erna cresciam . No plano social, acont eciam reivindicações t rabalhist as cada vez m ais agressivas na cidade e no cam po e pressões pela reform a agrária eram sent idas. Além disso, Goulart t eve seu poder de governar lim it ado pelos parlam ent ares, ent re set em bro de 1961 e janeiro de 1963.

Sem conseguir definir um a polít ica econôm ica clara que freasse a alt a do cust o de vida e o endividam ent o ext erno, Goulart possibilit ou as reform as de

base (agrária, t ribut ária, e universit ária) e inst it uiu um lim it e para o envio de lucros das em presas est rangeiras para seus países de origem . Essas m edidas m ot ivaram a m obilização de vários set ores sociais. Preocupados com as supost as t endências esquerdist as do governo, forças ant icom unist as t am bém se posicionaram cont ra ele: im prensa, I greja Cat ólica, classe m édia e finalm ent e as Forças Arm adas, que acabaram por assum ir o poder por m eio de um golpe.

Os m ilit ares que derrubaram Goulart em 1964 t inham com o objet ivo principal conduzir o país a um t ipo de desenvolvim ent o econôm ico que t ranqüilizasse os set ores financeiros e em presariais e rest aurasse a confiança do capit al est rangeiro, at raindo novos invest im ent os.

Para alcançar essa m et a, o novo regim e usou m edidas de força cont ra os represent ant es do regim e ant erior e cont ra a esquerda, que am eaçava o m odelo que se pret endia im plant ar.

Vieram , assim , os at os inst it ucionais, as cassações e as prisões. Muit os dos líderes civis do m ovim ent o de 64 com eçaram a se afast ar dos m ilit ares, que eram acusados de se encast elar no poder. Tam bém parcelas significat ivas da classe m édia e dos assalariados passaram para a oposição.

Com o golpe m ilit ar de 64, a ajuda est rangeira para a im plant ação das reform as educacionais veio dos EUA, at ravés dos acordos MEC–Unit ed St at es Agency for I nt ernat ional Developm ent (USAI D).

Nesse m om ent o hist órico havia um a int ensa m obilização da sociedade civil brasileira, os m ovim ent os de prot est o cont ra o aut orit arism o não cessaram ,

at ingindo o auge em 1968, com os confront os ent re est udant es e polícia, que result aram em inúm eras m ort es.

Em respost a à radicalização crescent e da oposição, o regim e m ilit ar se fechou ainda m ais. No final de 1968 im plant ou-se o AI –5, inst rum ent o que dava ao governo am plos poderes para reprim ir seus adversários.

A det erm inação do governo m ilit ar em t ornar o Brasil um a pot ência em ergent e e a disponibilidade ext erna de capit al aceleraram e diversificaram o crescim ent o do país ent re 1968 e 1974, a cham ada época do m ilagre econôm ico. O im pact o das polít icas sociais geradas pelo Est ado na resolução de crises int erferiu diret am ent e no desenvolvim ent o das polít icas educacionais. O governo m ilit ar ut ilizou- se do discurso t ecnocrát ico para buscar respost as t écnicas para as dificuldades polít icas, m as o uso desse m esm o discurso não foi suficient e para dinam izar nem m odernizar o sist em a educacional brasileiro.

Segundo Freit ag (1989, p. 80),

o sist em a educacional form al oficial, nos diferent es graus de ensino, não conseguiu t am pouco acom panhar a expansão de m at rícula necessária pelas alt as t axas de nat alidade e em cert as regiões do país devido aos int ensos m ovim ent os m igrat órios.

Port ant o, o sist em a educacional oficial de ensino não foi capaz de at ender à dem anda por vagas. Para suprir essa dem anda, o governo abriu espaço para o set or privado, que de form a m uit o rápida e int ensa apoderou-se dos cursos de suplet ivos de 2º grau, dos cursos preparat órios para vest ibular e do ensino de 3º grau. Assim , o set or privado fez da educação um negócio lucrat ivo.

Ent re 1968 e 1984 a rede de ensino privado no Brasil, com o incent ivo do Governo Federal, se m ult iplicou: suplet ivos, cursos pré-vest ibulares, faculdades isoladas not urnas e de final de sem ana, o que cont ribuiu para a m assificação do ensino sem que houvesse invest im ent os suficient es para garant ir qualidade. Part e da rede de ensino privado, visando som ent e lucros, não invest iu sat isfat oriam ent e em recursos t ecnológicos, hum anos e em propost as de ensino. As m et odologias de ensino usadas eram as m ais t radicionais, just am ent e para perm it ir cont enção de cust os.

Segundo Luís Ant ônio Cunha (1980, p. 61), a LDB de 1961

proporcionou a form ação de sist em as est aduais de educação com um grau de com pet ência m uit o am pla. Foi aí que os em presários do ensino e grupos confessionais assum iram o cont role do sist em a educacional. Encast elados nos conselhos de educação, em nível m unicipal, est adual e federal, eles conseguiram produzir a deficiência da escola pública pelo progressivo rebaixam ent o dos salários dos professores, pelo experim ent alism o curricular irresponsável (ideológico e/ ou novidadeiro, dest it uído de bases cient íficas) e pela det erioração dos padrões de gest ão das redes públicas de ensino.

A polít ica educacional vigent e durant e o regim e m ilit ar não perm it iu o desenvolvim ent o de um a educação volt ada para a form ação de cidadãos crít icos. Os governos da época ut ilizaram -se am plam ent e de aparelhos repressivos e ideológicos do Est ado, além do uso abusivo do aut orit arism o, da denúncia e do m edo com o m eio de im pedir a form ação de cidadãos aut ônom os e reflexivos.

Os anos 70 foram m arcados por poucos debat es crít icos no cam po educacional, est e fortem ente influenciado pela ideologia da neutralidade

científica, pelo eficientism o da tecnologia educacional e pela teoria do capital hum ano. (BUFFA, 1997, p. 92).

A elaboração da lei 5692/ 71 represent ou, para o MEC, um a lei adiant ada, inovadora, just a e dem ocrat icam ent e debat ida por um grupo de profissionais selecionados e esclarecidos que const it uíam as com issões. Em cont rapart ida a sociedade civil brasileira est ava im pedida de se organizar e discut ir seus problem as reais.

Nesse cont ext o, já eram sent idas as repercussões de um a lei ant erior, a Lei 5.540/ 68, que realizou a reform a universit ária com o um m eio capaz de prom over condições para que a sociedade se desenvolvesse e progredisse. A reform a universit ária acabou com a organização do m ovim ent o est udant il, a aut onom ia universit ária, a capacidade de polem izar dent ro das universidades. Criou os depart am ent os, m at rícula por disciplina, os vest ibulares se unificaram , fragm ent aram - se os cursos. Enfim , a universidade no Brasil sofreu um im pact o que seguia a est rut ura polít ica e econôm ica vigent e no país.

A reform a de ensino de 1º e 2º graus propost a pela lei 5.692/ 71 em basou- se nos m esm os objet ivos que guiaram a reform a universit ária. Est abeleceu o período de escolaridade obrigat ória (7 a 14 anos), sendo o ensino de 1ª a 8ª séries denom inado com o 1º grau. O ensino de 2º grau dirigia- se preferencialm ent e para a habilit ação profissional dos alunos.

De acordo com essa lei, a part e de form ação especial do currículo de 2º grau t inha o objet ivo de habilit ação profissional, dando ênfase à form ação específica para o t rabalho, em det rim ent o da form ação geral. A profissionalização

t écnica no 2º grau fez com que se ret irasse do currículo a part e de form ação geral, pois os int eresses est avam volt ados para a form ação de m ão–de-obra e não para a form ação int egral do aluno/ cidadão.

Com o o Brasil nos anos 70 est ava int eressado em desenvolver o processo de indust rialização, a lei já previa que a form ação de 2º grau seria realizada pelas escolas em regim e de cooperação com as em presas, de acordo com as t endências do m ercado de t rabalho local e nacional.

A profissionalização do 2º grau não sat isfez a necessidade dos alunos de diferent es classes sociais. Os pert encent es às classes t rabalhadoras na cidade e no cam po ent enderam que a escola não os t irava da condição de t rabalhadores braçais. As classes m édia e alt a acredit avam que o program a de profissionalização at endia apenas os int eresses dos alunos da classe social desfavorecida, um a vez que os cursos profissionalizant es volt avam - se para o t rabalho t écnico e m anual.

Assim , a form ação profissional de 2º grau foi alvo de m uit as crít icas, principalm ent e pelo seu funcionam ent o precário, m as som ent e após 10 anos de insat isfações e t ensões é que o Conselho Federal de Educação propôs alt eração do projet o.

Em 1982, o MEC aprovou a Lei n. 7.044, que alt erava a Lei 5.692/ 71, principalm ent e no t ocant e ao ensino de 2º grau. A Lei n. 7.044 preservou a preparação para o t rabalho na grade curricular de 1º e 2º graus, ficando sob a responsabilidade do Conselho Federal de Educação est abelecer as m at érias do núcleo com um e dos Conselhos Est aduais de Educação definir a part e

diversificada. A obrigat oriedade da form ação profissional no 2º grau chegava ao fim , dando espaço à form ação de cursos de 2º grau que visavam à preparação para o vest ibular m assificado.

Em m eados dos anos 70, quando a crença do m ilagre econôm ico se desfazia, a idéia da crise assolou o Brasil. O aum ent o significat ivo da dívida ext erna, a elevação da inflação e a crise do pet róleo criaram um espaço favorável para a organização e a oposição polít ica. Nesse cont ext o, os profissionais da educação se organizaram form ando associações e sindicat os, deflagrando greves hist óricas em 1978.

Nesse m om ent o, os educadores clam avam por liberdade de expressão e a dem ocrat ização da sociedade brasileira. Essa oposição favoreceu m udanças polít icas, fragilizando as post uras o governo aut orit ário e repressor.

A Em enda Const it ucional de 1978 m arcou o início da redem ocrat ização do país. Em 1984 acont eceu a cam panha pelas eleições diret as para president e da república e em 1985, ainda pelo vot o indiret o, Tancredo Neves foi eleit o president e. Com sua m ort e, José Sarney, seu vice, assum iu o cargo. O governo Sarney iniciou a m udança na legislação aut orit ária herdada dos governos m ilit ares. Foi rest abelecida a eleição diret a para President e da República e os part idos polít icos foram legalizados.

Nos anos 80, iniciou- se um processo lent o e gradat ivo em direção à dem ocracia, com a anist ia dos presos polít icos, o m ovim ent o das “ diret as já” e, por fim , os debat es da const it uint e. A Nova República perm it iu que ocorressem

algum as discussões no set or educacional e o governo lançou o Projet o: “ Educação para t odos: cam inho para m udanças”1.

Esse projet o t inha em vist a “ repolit izar” o set or educacional at ravés de um int enso debat e da problem át ica educacional no ensino do Brasil (enfat izado pelo dia “D” da educação).

Freit ag (1989, p. 13), ao analisar as im plicações tecnocrát icas im plícit as no projet o do governo, considera que,

na busca de soluções t écnicas para problem as obviam ent e polít icos, o próprio projet o já se t orna port ador do em brião da despolit ização, fat o que o m esm o propunha superar. Assim o projet o busca solucionar a problem át ica educacional brasileira ut ilizando-se de um a ext ensa divulgação at ravés de jornais e pela "indúst ria cult ural". Port ant o, educação e cult ura são t idas pelo projet o com o m ercadorias e não com o form as de conscient ização e de form ação educacional.

Nessa época o uso dos m eios de com unicação de m assa foi int enso para colocar em evidência os problem as educacionais brasileiros e as possíveis m udanças. Ent ret ant o, usar a m ídia apenas para t ornar públicas as m et as do governo e as conquist as no cam po educacional não significa t rat ar o assunt o de form a séria e consist ent e. Significa repet ir post uras ant eriores, sobret udo a de sim plesm ent e adm inist rar os problem as educacionais e não resolvê-los

1 O projet o “ Educação para t odos: cam inho para m udanças” foi lançado no dia 31 de m aio de

1985 pelo President e José Sarney e pelo ent ão m inist ro da Educação Marco Maciel. O projet o est ava orçado em quase 3 t rilhões de cruzeiros e propunha- se a const ruir e reform ar escolas públicas, aperfeiçoar os docentes e capacitar os leigos, além de fornecer m aterial didático e m erenda escolar em t odas as escolas da rede oficial de ensino. Para a realização dessas m edidas at ribuía um papel im port ant e aos m eios de com unicação de m assa, especialm ent e a “ t elevisão e a inform át ica” .

concret am ent e. A ret om ada de prát icas passadas const it ui-se em um m ovim ent o present e na t rajet ória hist órica da educação brasileira.

Os parlam ent ares brasileiros reuniram -se na Assem bléia Nacional Const it uint e de fevereiro de 1987 at é out ubro de 1988, quando foi prom ulgada a nova const it uição brasileira. Dent re out ras quest ões, a Const it uição Federal de 1988 resguardava o direit o ao ensino fundam ent al grat uit o e obrigat ório para t odos os cidadãos que a ele não t iveram acesso na idade própria.

Em 1989 acont eceram as eleições diret as para Presidência da República, e o president e eleit o foi Fernando Collor de Mello. Um a das prim eiras m edidas desse governo foi o lançam ent o do program a de est abilização da econom ia, conhecido por Plano Collor. Ent ret ant o esse plano econôm ico não conseguiu at ingir os seus obj et ivos de cont role da inflação e a recessão econôm ica surgiu com o um a t ônica da era Collor. Sob acusações de corrupção, feit as inicialm ent e por revist as de grande circulação no país, a população saiu às ruas em prot est o, forçando a Câm ara dos Deput ados a aprovar a abert ura do processo de

im peachm ent que levou o ent ão President e Fernando Collor de Mello a afast ar- se

da Presidência, em 1992. Em decorrência desse episódio polít ico m arcant e da hist ória do Brasil, o vice- president e, I t am ar Franco, assum iu o governo.

Nesse período, o Brasil presenciou o lançam ent o de um novo plano econôm ico, o cham ado Plano Real, que, além de m udar o nom e da m oeda, colocava em prát ica um a série de m udanças para cont er a inflação e at rair os

invest im ent os est rangeiros. Medidas polít icas foram t om adas para cont er os gast os públicos, acelerar o processo de privat ização das est at ais, cont rolar a dem anda por m eio da elevação dos juros e pressionar diret am ent e os preços pela facilidade das im port ações.

O idealizador do plano real, Fernando Henrique Cardoso, foi eleit o para a presidência da república em 1994. Em 1997, esse governo conseguiu a aprovação da em enda que perm it ia a reeleição dos ocupant es de cargos execut ivos. Nas eleições gerais de 1998, o president e F.H.C. foi reeleit o para m ais 4 anos de m andat o. Essa fase de oit o anos de governo foi m arcada pela preocupação em se m ant er a est abilidade da econom ia, pela privat ização das grandes em presas est at ais e pela quebra do m onopólio de vários set ores da econom ia, com o pet róleo e t elecom unicações. A est abilidade econôm ica e a polít ica de cont role da inflação foi am eaçada, expressando um a fort e vulnerabilidade do país em relação às flut uações da econom ia int ernacional. A vulnerabilidade econôm ica e os alt os índices de desem prego se t ornaram um a m arca da polít ica econôm ica adot ada no país.

No final de 1990, t ornavam -se int ensas as crít icas feit as aos índices sociais apresent ados pelo país. Apesar da const at ação de m elhoria dos índices de vários set ores, a sit uação geral do país apresent ava-se crít ica, sobret udo se com parada aos dem ais países do m undo. Quest ionavam -se as opções feit as, os set ores beneficiados e principalm ent e as heranças deixadas pelo governo que por quase um a década governou o país.

No cam po social, a sit uação brasileira apresent a-se ainda hoje de form a