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O livro didát ico pode oferecer pist as significat ivas para a com preensão da realidade do ensino brasileiro. Ao analisar os livros didát icos exist ent es em diferent es décadas, pode- se ident ificar por m eio deles elem ent os que evidenciam a m et odologia present e, a seleção do cont eúdo, os objet ivos do ensino da língua, os crit érios de seleção de t ext os. Além disso, considerando que o livro didát ico é geralm ent e escolhido pelo professor por adot ar um a post ura m et odológica na qual ele acredit a, sua análise pode possibilit ar o est abelecim ent o de const at ações sobre as post uras m et odológicas predom inant es num a det erm inada época.

A t arefa de escrever e produzir livros didát icos em épocas diferenciadas, conform e a análise em preendida nest a pesquisa (década de 1970 e 1990), tem significados e result ados singulares. Nesse sent ido, o aut or pesquisado revela:

O livro didát ico sem pre foi para m im a ext ensão de m inha sala de aula. Os livros escrit os na década de 70 foram um a cont inuação nat ural do m eu t rabalho com o professor. Regist rei e organizei neles os cont eúdos e as at ividades que desenvolvia com m eus alunos. Com base na bagagem t eórica e na prát ica didát ica, procurei de um a form a espont ânea “dialogar” com o aluno, ut ilizando os recursos gráficos disponíveis na época. Na década de 1970 o processo de escrit a sofreu várias m udanças. Em bora sem pre t enha procurado priorizar o aluno, o m eu discurso didát ico foi alim ent ado fort em ent e pela int erlocução com os professores. Nessa década t am bém pelo cont at o com as novas t eorias de linguagem que foram int roduzidas no final da década de 80 e se solidificaram durant e a década de 90. A escrit a do livro didát ico assum iu nesse período um carát er m ais profissional.

Desse m odo deve- se considerar que as obras analisadas apresent am diferenças m arcant es devido às condições hist óricas do cont ext o em que foram produzidas, bem com o à sit uação pessoal e profissional do aut or. Est abelecendo um paralelo ent re as duas obras analisadas, const at a-se que o livro Atividades de

Com unicação em Língua Portuguesa, publicado em 1974, dist ingue-se de form a

acent uada do livro Montagem e desm ontagem de textos, publicado em 1999. O livro Com unicação em Língua Portuguesa (1974) apresent a m enor diversidade de gêneros e t ipos de t ext os, m aior enfoque gram at ical e um a ênfase reduzida em at ividades que perm it em a análise, a argum ent ação e um a post ura reflexiva sobre a realidade por part e dos alunos. As at ividades de com preensão de t ext o no livro edit ado em 1974 evidenciam um a noção de com preensão de t ext o associada à sim ples decodificação. Hist oricam ent e, essa noção será superada a part ir da com preensão do t ext o com o um processo criador, at ivo e const rut ivo, que vai além da inform ação est rit am ent e t ext ual. Assim , a com preensão de um t ext o abrange m ais que o sim ples conhecim ent o da língua e a reprodução de inform ações.

Cont udo, é im port ant e ressalt ar que não se t rat a de descart ar e suplant ar por com plet o o uso de at ividades do t ipo pergunt a-respost a no processo didát ico de com preensão de t ext o. O uso dessas at ividades ainda é im port ant e, m as não há som ent e essa form a de abordagem de t ext o, principalm ent e se m ant iver enunciados m arcados por int errogações que exijam pouca reflexão (do t ipo onde,

fat os, dat as e dados objet ivos do t ext o e não a sua análise significat iva por part e do aluno.

O livro Montagem e desm ontagem de textos (1999) apresent a um a visão m ais abrangent e em relação ao t rabalho de com preensão e const rução de t ext os. Traz m aior variedade t ext ual e o enfoque gram at ical m uda subst ancialm ent e. Esse livro é m ais int erat ivo, propõe at ividades para enriquecer o cont ext o pedagógico da sala de aula e at ua com o um m ediador ent re o aluno e professor.

O livro edit ado em 1974 aborda e enfat iza a gram át ica norm at iva. Nesse cont ext o, o foco de est udo da gram át ica não era o t ext o, m as a frase isolada. Já o livro edit ado em 1999 propõe desenvolver nos alunos habilidades de usuários da língua no cont ext o social, capazes de com preender e produzir t ext os em diversas sit uações de int erlocução.

No que se refere à produção escrit a, a prát ica adot ada no livro de 1974 lim it ava- se à escrit a de “ redações” , sem um a cont ext ualização e busca de significados para esse processo a part ir das vivências do aluno. Segundo Geraldi (1997 p. 128),

essas redações configuram -se com o m eros exercícios escolares, pois apagam -se os sujeit os da palavra, ist o é, o aut or (aluno) deixa de int eragir com o leit or (professor) at ravés do m at erial escrit o, que servirá apenas para a correção gram at ical e ort ográfica.

As duas obras em quest ão t rabalham a part ir de t ext os. O aut or m ant ém a t radição dos t ext os narrat ivos (fábulas, crônicas, cart as pessoais e t rechos de rom ances), explorando a est rut ura de seus t em as, com a presença de t ext os

descrit ivos relacionados com a descrição de am bient e e de pessoas/ personagens, int egrados às narrat ivas. No livro de 1974, a escolha dos t ext os privilegiava o gênero lit erário. Já no livro de 1999 a diversidade de t ipos e gêneros t ext uais é m aior.

O m anual do professor do livro de 1974 é um a reprodução do livro do aluno acrescido do plano de curso anual, plano de curso por unidade e as respost as dos exercícios do livro do aluno. É um m at erial elaborado a part ir dos preceit os t ecnicist as e com poucas sugest ões de possibilidades pedagógicas e m at eriais para o professor. O m anual do professor edit ado em 1999 possui um a fundam ent ação t eórico–m et odológica diferenciada e sugere possibilidades didát icas, bibliografia e m at eriais para enriquecer a prát ica pedagógica do docent e.

Apesar das profundas m udanças em t erm os t eórico-m et odológicos, não se evidencia m udança significat iva na form a física e nos recursos visuais dos livros analisados. O livro publicado em 1974 foi produzido em escala indust rial, a capa é plast ificada e em cores e apresent a ilust rações de página int eira na ent rada das Unidades. Tam bém ao longo das at ividades propost as as ilust rações se fazem present es. Ent ret ant o, em t erm os gráficos, o livro publicado em 1999 ut iliza padrões de legibilidade de let ra e espaçam ent os m ais adequados.

A análise dos dois livros perm it iu verificar que o aut or im plem ent ou m udanças significat ivas em seu t rabalho no decorrer do período analisado. Essas m udanças e as perm anências, que t am bém podem ser percebidas, const it uem - se no result ado de um t rabalho m arcado pelo cont ext o hist órico,

pelas abordagens t eórico-m et odológicas dom inant es e pelas condições profissionais e pessoais do aut or. Nesse sent ido, revelam que a obra é um produt o hist órico e social e que, por isso, se const it ui em um a font e im port ant e para a com preensão das várias faces que o ensino da Língua Port uguesa assum iu nas últ im as décadas.