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A contabilidade, o comportamento ético e a responsabilidade social

CAPÍTULO 3. TÉCNICOS OFICIAIS DE CONTAS

3.4. A contabilidade, o comportamento ético e a responsabilidade social

A contabilidade deve apresentar preocupações ao nível das mudanças que se têm vindo a verificar na sociedade em geral, nomeadamente com tudo o que afecte o conjunto alargado de stakeholders com que ela se relaciona. A manutenção do bom relacionamento entre a empresa e o meio envolvente não é fácil, mas esta deve ser uma área a apostar por parte das organizações/empresas, com vista a uma maior eficiência nestas matérias. Para que as empresas possam sobreviver perante a mutação do meio em que se inserem é importante um conhecimento intenso sobre o respectivo meio envolvente, por forma a definirem um conjunto de orientações estratégicas que possibilitem uma maior eficácia organizacional e um desenvolvimento sustentável, matérias já abordadas no ponto 2.7.

A Contabilidade tem por objectivo avaliar o desempenho social das entidades e: “(…) pode ser entendida como o processo de seleccionar as variáveis de desempenho social do nível da entidade, estabelecer os procedimentos de medida e medir bem, assim como desenvolver sistematicamente informação útil para avaliar o desempenho social da entidade e comunicar esta informação aos grupos sociais internos e externos(…)” (CTOC, Ética e deontologia do TOC, Prestação de Contas na Administração Pública, 2008, p. 20).

Tal como se observou no subcapítulo 2.2 este não é um tema, nem de fácil aplicabilidade nem de fácil interpretação. Argandõna e Hoivik concordam com esta teoria afirmando que ”(…) there are many useful definitions of CSR, but there is not - and probably cannot be - a unique, precise definition of CSR, because its content and application will vary from one Frequênciary to another, will change over time and also will differ among firms (…)‖ (2009, p. 229).

Em Portugal, a utilização de incentivos fiscais que existem nos diferentes exercícios económicos e que estão preconizados no mercado para a implementação de certas e determinadas medidas de índole social contribui para a melhoria da imagem da empresa e para o benefício económico-financeiro que daí advém. Serão os TOC’s que terão legitimidade para assumir a responsabilidade social das entidades. Sendo o TOC responsável pela correcta e adequada declaração a nível fiscal de um conjunto de documentos e operações, o facto de estar actualizado quanto à legislação relacionada com os incentivos fiscais contribui para a RS da organização. Decorre do conjunto de

competências e princípios a que está obrigado o cumprimento e actualização dos preceitos legais e fiscais existentes. Desta forma pode-se dizer que, indirectamente, o TOC assume-se como um interveniente de importância fulcral nesta matéria.

Ao nível empresarial este tema ainda parece estar bastante obscuro, constatando-se a existência de alguma confusão por parte de alguns empresários sobre estas matérias. A vasta amplitude do tema contribui para a diversidade de conceitos e para a dificuldade de consenso entre as partes interessadas. A participação do contabilista em toda esta temática prende-se com a necessidade de produzir informação transparente sob a forma de indicadores sociais, económicos e financeiros.

Arnold entende que “(…) (a)ccounting practices are deeply implicated in the current financial crisis and in proposals for recapitalizing financial institutions and restoring stability to the global financial system (…)” (2009, p. 803). Ryan complementa a ideia referindo que a contabilidade “(…) is implicated in the current financial crisis in a number of ways. The most obvious is through financial reporting requirements governing asset valuation and off-balance sheet entities (…)‖ (2008, p. 137).

O contributo dos TOC é, pois, deveras importante e decisivo para a prestação de contas à sociedade em geral no que respeita a esta e a outras matérias. A transparência é sinónimo de êxito conforme se afere pela afirmação seguinte:

“(…) (t)he aspirant CSR communicators need to recognise that being open and transparent is perhaps more important now than ever, with the private sector subject to a greater level of cynicism and scrutiny. On the plus side, there is a growing canon of evidence showing that companies that are prepared to open themselves up and listen to their customers will be more successful (…)‖ (Groves, 2009, p. 10).

O profissional do futuro segundo Azevedo será “(…) um profissional que colabore com as empresas e com o seu saber e capacidade de intervenção, conhecimento do negócio e seja capaz de ser um conselheiro do empresário (…)” (2010, pp. 10-11). Será este o profissional que cria valor.

Um partner da Price Waterhouse Coopers em Inglaterra refere que “(…) (p)rofessional service firms have a responsibility to practice what they preach on transparency and accountability (…)” (Collier-Keywood, 2010, p. 11). A dificuldade de elaboração dos dados é uma material sensível “(…) (t)he line between transparency and accountability and commercially sensitive information is sometimes hard to define (…)‖ (Collier- Keywood, 2010, p. 11). O autor realça ainda o facto de existirem cada vez mais partes

interessadas a consultar relatórios, por forma a melhor compreenderem a estratégia de negócio e a performance de empresas.

Anos antes, Wallman havia referido a importância da contabilidade nos mercados financeiros relacionando-a com a integridade e qualidade da informação disponibilizada:

―(…) (a)ccountants are the gatekeepers of our financial markets. Without acountants to ensure the quality and integrity of financial information, the markets for capital would be far less efficient, the cost of capital would be far higher, and our standard of living would be lower... The accounting profession has undertaken a function that promises society a number of benefits, including lower investment risk and better resource allocation. In turn, accountants have been granted a legally enforceable franchise - no company can come to the public markets without an accountant‘s attestation (…)‖ (1995, p. 82).

A necessidade de uma nova contabilidade apoiada em novos métodos impõe-se no mercado actual, o que está em consonância com as preocupações dos stakeholders, com a emergência da discussão global sobre a ética nos negócios, assim como com a RSO. O relato da sustentabilidade empresarial ou triple bottom line, segundo Gray e Milne (2004), é o novo desafio que se impõe à contabilidade e aos relatórios emanados pelas empresas. Este tipo de relato, de acordo com vários autores (Guthrie & Hacking (2008), assim como KPMG (2008)) tem vindo a aumentar, sendo que cada vez mais entidades têm vindo a divulgar os seus impactos sociais e ambientais sob a forma de relatórios de sustentabilidade, de responsabilidade social corporativa, de relatórios sociais e ambientais ou de outros relacionados.

Um dos principais veículos de transmissão de informação, ao nível da RS das empresas/organizações para com a sociedade, é o Balanço Social. A nova conjuntura empresarial exige informações acerca do impacto económico-financeiro das medidas socialmente responsáveis, nomeadamente no que respeita ao ambiente, à dimensão social e ao seu reflexo no fluxo de caixa da empresa. Pretende-se que o Balanço Social (BS) identifique claramente a situação real da empresa no que respeita a investidores, fornecedores, credores, governo, clientes e sociedade em geral.

O trabalho dos profissionais da contabilidade torna-se assim imprescindível para que as informações compreendidas no BS apresentem credibilidade perante a sociedade. A concretização de indicadores que retratem, de forma clara e objectiva, a avaliação de

iniciativas sociais concretizadas, assim como o reflexo destas no ambiente da empresa assume-se da maior relevância.

A necessidade de uma sensibilidade ética e de comportamentos éticos na contabilidade é citado pela CTOC, pois após os sucessivos casos de fraudes financeiras a contabilidade tem sido alvo de sucessivas aproximações menos positivas. A discussão sobre a forma como a contabilidade enfrenta este tipo de acontecimentos tem sido colocada em causa.

―(…) If the moral future of the profession is to have roots in its past, i.e. stewardship, honesty and trustworthiness, and if future professionals are required to respect the present as forming part of their past (Reiter,1997)18 then the individuals within the accounting profession will appreciate the context of human values. Although the following quotation was directed to environmental issues, it is extended to the accounting profession in terms of the accounting culture and associated behaviour (…)‖ (Raar, 2009, p. 524)

De acordo com a CTOC:

“(…) (o)s profissionais da contabilidade têm responsabilidades éticas para com eles próprios, a sua família, a sua profissão e os seus clientes, bem como para a organização para a qual eventualmente trabalhem. Mas a sua responsabilidade básica é simples: fazer, por dever, o que se espera que façam. O exercício da profissão de contabilista implica um dever de verdade (…)” (2008, pp. 24-25).

O conjunto de dilemas éticos que um TOC pode ter de enfrentar é vasto. Entenda-se dilema como uma dada situação cuja solução implica a violação de uma norma legal ou ética. A resolução do problema, segundo a CTOC (2008) passa pelo estabelecimento de uma hierarquia de valores. A organização esquemática da informação pode ditar a sua solução de uma forma mais consciente. A hierarquização dos dados passa pela obtenção dos factos relevantes, pela identificação das questões éticas que lhes estão implícitas, assim como a identificação de quem irá ser afectado pelo resultado da decisão que se tem de concretizar. Devem ainda focar-se possíveis alternativas e a consequência de cada uma delas, no sentido de decidir qual a acção mais apropriada à situação em análise.

18 Reiter S. The ethics of care and new paradigms for accounting practice. Accounting, Auditing & Accountability Journal 1997;10(3):299–324.

Segundo Norton “(…) (i)f we do not pay need to the context in which future generations form and question our values, they will indeed live in a different world than we do; we will have contributed nothing to their culture (…)” (1998, p. 447).

3.5.

S

ÍNTESE

Neste capítulo foi efectuada uma breve abordagem à profissão do TOC no qual se salienta a complexidade e rápida mutação dos negócios, assim como o contexto global em que este se insere. Os TOC’s enfrentam estas mutações através da sua capacidade técnica, do seu compromisso social e profissional apostando na sua postura ética. Os contabilistas devem encetar esforços com vista a uma diferenciação saudável, isto é, comprometendo-se de forma eficaz com o conjunto de valores e deveres éticos. Estas medidas terão repercussões ao nível da sua imagem, assim como um reconhecimento da sua competência pela sociedade em geral. As competências do profissional são fixadas, de forma indirecta, pelas regras deontológicas, pois estas fixam os deveres e as responsabilidades preconizados para um determinado ambiente profissional. O Estatuto da OTOC, assim como o CDTOC, evidenciam a importância da deontologia, da ética e dos escândalos financeiros para a imagem profissional do TOC.

O código de conduta pode-se aprender, mas a actuação ética e a competência profissional adquirem-se com muito esforço.

A nova conjuntura empresarial impõe informações acerca do impacto económico- financeiro das medidas socialmente responsáveis, nomeadamente no que respeita ao ambiente, à dimensão social e ao seu reflexo no fluxo de caixa da empresa. A participação do contabilista prende-se com a necessidade de produzir informação transparente sob a forma de indicadores sociais, económicos e financeiros. O trabalho dos profissionais da contabilidade torna-se assim imprescindível para que as informações compreendidas no Balanço Social, e outros mapas, apresentem credibilidade perante a sociedade. A existência de um sistema de controlo de qualidade contribui de forma clara para a credibilização da profissão.

O regulamento de controlo de qualidade que rege a profissão do TOC identifica um conjunto de objectivos para o TOC, nomeadamente: a qualidade, a dignificação da profissão, o cumprimento das normas éticas e deontológicas, a consistência e a confiança pública na profissão. Todos estes aspectos contribuem para que seja seguido um comportamento ético, assente numa maior responsabilização social.

Capítulo 4. ENQUADRAMENTO E METODOLOGIA

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