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CAPÍTULO 3. TÉCNICOS OFICIAIS DE CONTAS

3.3. Código de Ética e Deontologia Profissional

3.3.1. Deontologia versus códigos de ética

A deontologia é, segundo o dicionário de filosofia (2010, p. n.d.) uma “(…) disciplina da ética especial adaptada ao exercício de uma profissão (…)”. Respeita ao conjunto de

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deveres, princípios, regras de conduta ou normas que são adoptadas por um determinado grupo profissional. No seguimento desta ideia a deontologia é a ética profissional, pois fixa os deveres e responsabilidades requeridos por um determinado ambiente profissional. Desta forma se conclui que cada profissional, consoante a sua área de actuação, estará sujeito a uma deontologia própria, que será objecto de um Código de Ética e Deontologia (CED) dessa categoria profissional. Este aglomerado de normas prevêem um conjunto de direitos, deveres, sigilo profissional, publicidade, sanções e princípios que pretendem corrigir algumas actuações e intenções dos profissionais na sua relação com os demais. Surge como uma forma de garantia, segurança da sociedade e até de defesa do grupo de profissionais, de forma a fazer face a quaisquer exigências legais e/ou arbitrariedades que possam vir a ocorrer. Uma profissão intitulada de interesse público deverá atestar todo e qualquer nível de confiança pública exercendo-se com base num código de conduta e de forma livre e responsável.

Vive-se num mundo onde a ética é uma necessidade:

“(…) o mundo humano é e será sempre um mundo imperfeito; desta forma também as organizações e mercados são imperfeitos, isto é, perfeitamente humanos. E é por isso que a ética é uma necessidade de que carece a convivência humana (…)” (CTOC, 2008, p. 11).

A ética é uma necessidade, pois ninguém pode viver sem um normativo ético. Os autores Lisboa et al. (1997) defendem que o comportamento ético implica um determinado nível de conhecimento a respeito de assuntos técnicos da profissão e pressupõe um conjunto de características pessoais ao nível da integridade no agir, no respeito pelos pares e pela própria classe, no grau de reserva que mantêm com as informações que detêm em função do seu exercício profissional, assim como no grau de objectividade que o profissional mantém nas informações que presta ao conjunto dos stakeholders.

Já Silva e Speroni (1998) afirmam que a ética profissional tem como premissa o relacionamento do indivíduo com seus clientes e com outros profissionais, tendo em consideração valores como a dignidade humana, auto-realização e sociabilidade.

Os mercados são considerados imperfeitos certamente procura-se atingir um nível próximo da perfeição e os códigos de ética e deontologia profissional são um meio que os representantes de determinada profissão dispõem para ultrapassar algumas situações

menos claras. A ética permite que se atinjam objectivos que de outra forma se tornariam inalcançáveis. Por conseguinte, os códigos de ética estão associados à deontologia profissional, uma vez que os princípios éticos são, em termos práticos, directrizes que pretendem reger o comportamento do Homem.

―(…) A Code of Ethics is a guide to both present and future behavior and specifies corporate ethical values and the responsibilities of employees to one another and to organizational stakeholders (…)‖ (Stohl, Stohl, & Popova, 2009, p. 607, apud Kaptein and Schwartz, 2008).

A elaboração dos códigos de ética é da responsabilidade dos grupos de profissionais a que respeitam tendo por base um conjunto de declarações consagradas no direito universal traduzindo, simultaneamente, as particularidades de actuação do grupo profissional.

“(…) Não há sociedade que progrida com firmeza por muito tempo, que se mantenha politicamente consistente, que ofereça bem-estar social a seus membros, nem profissão que se imponha pelo produto de seu trabalho, que angarie respeito de todos, que se faça reconhecer por seus próprios méritos, sem que esteja a Ética a servir de cimento a fortalecer sua estrutura, de amarras a suportar as tempestades, de alicerce a suportar o crescimento e de raízes e seiva para garantir a sobrevivência dessa sociedade ou dessa profissão. Sem Ética, a sociedade não se estrutura de forma permanente; e uma profissão também não (…)” (Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras - FIPECAFI, 1997, p. 11). Os códigos de ética têm vindo a ser objecto de interesse por parte de um grande número de organizações. Existem diversos autores que se têm dedicado ao estudo dos códigos de ética ao longo da última década.

A título de exemplo, o estudo efectuado pelo National Business Ethics Survey (NBES) nos EUA, intitulado “Ethics in the Recession” - sexta edição, permitiu aferir um conjunto de dados importantes no que respeita à ética. O estudo foi efectuado com base no resultado de um conjunto de entrevistas efectuadas a 3010 trabalhadores, via telefone, maiores de idade e que trabalhassem no mínimo 20 horas por semana. Nos resultados publicados do estudo é possível observar o seguinte:

―(…) (e)vidence that ethical conduct in the workplace improved during the recent recession is contained in the sixth National Business Ethics Survey® (NBES).

While conventional wisdom says that a downturn results in greater amounts of fraud being committed, facts may prove that more fraud is being discovered rather than more fraud being committed (…)‖ (Verschoor, 2010, p. 10).

O autor afere, ainda, que os resultados obtidos ―(…) suggest that fewer instances of ethical misconduct are being observed, a higher percentage is being reported, and more employees perceive that the ethical culture within their company is strong (…)” (Verschoor, 2010, p. 10).

Michael Oxley16 complementa esta observação com o seguinte:

―(…) (b)usiness ethics is one of the pillars of a strong economy, and, in today‘s environment, it is more important than ever that our nation‘s business leaders set and meet the highest standards of ethical conduct. [Ethics in the Recession] provides an important measure of the strengths and weaknesses of our culture of business ethics (…)‖ (Verschoor, 2010, p. 10).

Uma das principais conclusões retiradas deste estudo foi que a ética e os programas eficazes de conformidade continuam a ser importantes para a manutenção de uma forte cultura ética, constituindo um importante contributo para o sucesso organizacional (Verschoor, 2010).

O código de conduta pode-se aprender, mas a actuação ética e a competência profissional adquirem-se com muito esforço. Todos os profissionais se devem adaptar às alterações que se registam em todo o sistema, o ritmo de aprendizagem é dinâmico evoluindo através da dicotomia “ensaio/ erro”, renascendo dos equívocos no sentido de registar melhorias em todo o sistema.

“(…) A simples implantação de um código de comportamento não assegura que se apreciem e pratiquem os valores e normas que nele se estabelecem. O código de conduta é algo que se pode aprender, enquanto a rectidão moral e a competência profissional se adquirem com esforço (…)” (CTOC, 2008, p. 36).

A formalização de um código de ética não é uma tarefa fácil. Muito pelo contrário, as orientações que pretendem ser um ideal de comportamentos e de procedimentos são de difícil construção, manutenção e implementação. Os padrões enunciados no código de ética constituem eficácia suficiente para serem considerados válidos e serem assim transmitidos aos novos membros, como sendo a maneira correcta de interpretar certas e determinadas situações. Um código de ética que apresente certo e determinado conjunto

16 Former Ohio Representative, who was the cosponsor of the 2002 Sarbanes Oxley Act and now is chair of the ERC board of directors.

de objectivos pode ser ou não seguido pelos colaboradores ou profissionais a que se destinam. Segundo a CTOC “(…) não são as empresas que são éticas ou não, apenas os indivíduos o são. O exemplo deve vir de cima; por isso, um código, por melhor que seja, nunca será suficiente (…)” (2008, pp. 35-36). A ética deve ser vivida todos os dias e não apenas em ocasiões especiais quando se assume como um remédio para resolver um dado conflito.

Existem ainda autores que apostam nos códigos de ética como ferramenta de marketing: ―(…) Codes of Ethics are also becoming more commonplace as they are seen as marketing instruments of legitimation, a means for publizing an organization‘s ethical operating procedures(…)‖ (Stohl, Stohl, & Popova, 2009, pp. 608-609, apud Kaptein & Schwartz, 2008).

Os códigos de ética ajudam, mas não constituem indicadores de que a empresa ou a categoria profissional actue de forma ética. Pode ser considerada a sua forte utilidade e a sua força persuasora, mas os indivíduos só actuarão de forma ética se o pretenderem e se o conjunto de valores que ditam o seu comportamento assim o preconizar. Na ausência desta consciência moral, “(…) as normas cairão por terra cada vez que se apresente uma oportunidade de obter, por meios escusos, a satisfação das nossas vontades (…)” (CTOC, 2008, p. 37), por muitas normas de comportamento que existam e por muitas sanções que sejam impostas.

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