• Nenhum resultado encontrado

A primeira subcategoria demonstra que os conteúdos presentes na prática dos professores de Ciências da EJA estão relacionados com o dia a dia dos alunos, pois trazem exemplos do cotidiano. Dessa forma, o professor busca demonstrar o que está ensinando, fazendo o aluno enxergar a aplicabilidade do conteúdo com a vida real.

Nesse sentido, podemos evidenciar o depoimento de MARGARIDA:

Os conteúdos que eu escolho para trabalhar com alunos EJA são conhecimento do dia a dia, conteúdos que possam ser aplicados. Como o tempo é semestre, eu procuro dar mais sobre vivência, que ele vai usar mais na vivência. Por exemplo, mudanças de estado da água, daí eu falo assim, o suor da garrafa gelada, porque os vidros ficam embaçados, a chuva, como ocorre, como ocorre a serração. O porquê que se forma as gotículas, até da gente está saindo água, está evaporando água, que a água é sempre a mesma, que ela tem um ciclo. Eles gostam, porque tu faz relação do conteúdo com a realidade.

TULIPA se posiciona da mesma forma ao afirmar:

Eu costumo trabalhar algumas questões dos seres vivos e do corpo, corpo deles, com cuidado de saúde, principalmente, eu volto muito para esse lado por causa do interesse dos alunos e é importante. Entro muito nessa questão de saúde. Por exemplo, trabalho circulatório, estou sempre associando como funciona essa parte do nosso corpo, fazendo relações, associando com os cuidados que a gente tem que ter, com as doenças.

A partir dessas informações, CRAVO compartilha ideias semelhantes:

Procuro mostrar para alunos nas aulas que o dia a dia deles está ali no estudo. Sempre tem um exemplo na sala, um da turma vai ter um exemplo, então exploro isso aí. No sistema nervoso, para chamar a atenção deles, que hoje em dia a gente viu a onda que aumentou o número de motos e, sempre falo da questão do uso do capacete, da lesão na cervical, porque muitos já andaram de moto, outros têm. Teve até um aluno que caiu de moto, e ficou não sei quantos dia em coma, e mostrou a cicatriz na cabeça e contou, a gente discutiu sobre isso. Então, procuro trazer coisas da realidade dos alunos

porque eles se interessam. Já aproveito para trabalhar com os conhecimentos alunos e já falar dos perigos.

Ao analisar os depoimentos dos professores da EJA, constatamos que eles buscam associar o conteúdo da disciplina de Ciências às relações do dia a dia, trazendo exemplos, como, no caso, da água, e relacionado à saúde. Acreditam que esses conteúdos são mais aplicáveis à realidade e à vivência dos alunos, que, por isso desenvolvem as aulas focando nessa dinâmica de associação.

Como exposto nos depoimentos de MARGARIDA e TULIPA, talvez se possa pensar que os conteúdos desenvolvidos por esses professores apenas ilustram exemplos do cotidiano para os alunos, o que, no entanto, não é feito de forma contextualizada. O conteúdo trabalhado dessa forma não tem grande relevância se apenas trabalhado nesse contexto de sala de aula, onde o professor insere o conteúdo de forma superficial, apenas com o intuito de fazer conexão do conhecimento com o mundo lá fora, apresentando temáticas, contudo, que não têm relação com os conhecimentos prévios dos alunos.

Com isso, contextualizar não é exemplificar um conteúdo, nem promover uma ligação entre o que é ensinado pelo professor e a vida diária do aluno. É trazer situações problemáticas reais, permitindo que o aluno busque soluções pela compreensão do conhecimento (GOUVÊA; MACHADO, 2005).

Concordamos com as palavras dos autores no que se refere à contextualização e ainda destacamos lição de Lufti (2002, citado por LIMA; PAAZ, 2006, p. 134), de que “exemplos do cotidiano podem ser utilizados com a finalidade de desencadear a atenção inicial dos alunos a fim de que o professor possa desenvolver os conteúdos que pretende trabalhar”. Desse modo, apenas a vinculação de exemplos do cotidiano não possibilita uma contextualização, é preciso que o professor busque explorar os conhecimentos de modo a colocar o aluno em processo ativo em sala de aula.

Já a abordagem dos conteúdos relatada no depoimento de CRAVO nos permite dizer que a forma conduzida na sua prática nos leva a crer que é contextualizada, pois, para que o ensino seja contextualizado, é importante aproximar o conhecimento formal, trazido pelo professor, do conhecimento informal, trazido pelo aluno, para que de fato o conteúdo trabalhado em aula seja significativo e interessante (KATO; KAWASAKI, 2011).

Assim, os conteúdos vão além da mera relação do dia a dia. Levam em consideração os conhecimentos dos alunos, colocando em destaque seus exemplos, e

explorando a riqueza desses saberes, o que acaba proporcionando um aprendizado mútuo entre aluno e professor.

Nesse sentido, podemos salientar outro depoimento de CRAVO:

Trabalho as doenças com os alunos porque se interessam e sempre um deles ou mais vai traz um exemplo ou no vizinho ou na família porque envolve a realidade, vida dos alunos, então a gente trabalha isso aí. Tava dando aula sobre sistema nervoso estava falando sobre as meninges, comentei da meningite, até uma aluna falou minha mãe teve, morreu. Contou o caso dela. Então eu aproveito isso em aula porque os alunos trazem seus conhecimentos, a gente discute e eu aprendo. Ela foi passando para nós, e a gente vai pegando essa troca é muito legal. Por isso que eu trabalho nessa parte trazendo vivência do aluno.

Ao trabalhar com questões do cotidiano, vinculando os saberes que os alunos com suas vivências, é estabelecida uma ligação importante, visto que se faz necessário trabalhar com esses aspectos para a construção de conhecimentos, que são aprofundados à medida que não apenas são associados ao seu dia a dia, mas contextualizados. Então, na nossa forma de entender, as relações feitas com o cotidiano do aluno devem propiciar significados ao que se aprende, ligando os conteúdos que se desenvolvem na sala de aula com o que se vive e observa-se no dia a dia (KATO; KAWASAKI, 2011).

Nesse sentido, LÍRIO evidencia na sua prática uma forma de contextualização, ao levar os alunos na praça:

Quando abordo o conteúdo de botânica, faço uma atividade de campo, indo nas praças, na redenção e fazendo um trabalho de reconhecimento de árvores mais comuns, classificando-as. É muito bom, eles se interessam, pois visualizam na prática o conteúdo da aula e conseguem fazer associações, vivenciar.

Com relação a esses aspectos, entendemos que os professores, ao conectarem a teoria com a prática, com seus contextos de vida, levando com consideração suas experiências pessoais, estão proporcionando um maior significado aos educandos, em relação à sua aprendizagem. Ao envolver questões presentes na sociedade, no cotidiano do aluno, possibilita observar e viver o conhecimento, o que acaba sendo enriquecedor no contexto educacional.

Acreditamos, portanto, que, como afirmam Merazzi e Oaigen (2009, p. 02), “o trabalho desenvolvido com educandos jovens e adultos deve estar vinculado ao seu cotidiano, valorizando os conhecimentos que o indivíduo trás consigo e todas as suas

particularidades resultantes da sua vivência”. E para aprofundar essa perspectiva, destacamos o quanto essa forma de abordagem do conteúdo em sala de aula e fora dela desperta um maior interesse e curiosidade nos alunos, como evidenciado nos depoimentos dos professores.

Com isso, retomamos a importância de trabalhar conteúdos que estejam relacionados com a vida do educando, trazendo seus conhecimentos prévios, o que pode ser uma motivação para o aprendizado. Dessa forma, os alunos sentem-se interessados, pois conseguem aplicar os conteúdos sobre suas próprias percepções, o que faz com que avancem em seus conhecimentos através de seu modo de pensar e perceber a realidade.