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Alguns trabalhos vêm problematizando as questões envolvidas na Educação em Ciências para jovens e adultos em seus aspectos teóricos e práticos. Mas, o desenvolvimento de pesquisas para esta modalidade é quase inexistente na literatura do campo da Educação em Ciências (VILLANOVA e MARTINS, 2008).

Ao examinar os estudos dos últimos seis anos na Educação de Jovens e Adultos no Ensino de Ciências, nos reportamos a algumas pesquisas desenvolvidas nessa área, destacando as principais temáticas abordadas e seus resultados.

Lima e Paaz (2006) trazem a temática do sistema circulatório, no qual o conteúdo está presente no eixo Ser Humano e Saúde, possibilitando que o aluno tenha compreensão a respeito do corpo humano, reconhecendo formas de prevenir doenças circulatórias para que consiga promover a manutenção da vida. Assim, os autores mostram um exemplo, cujo qual o professor, para desencadear o estudo do sistema circulatório, solicita a representação de um coração por meio do desenho dos alunos, estratégia que permite a expressão dos conhecimentos prévios. A atividade foi seguida de formulação de perguntas e produção textual e, segundo as autoras, promoveu uma aproximação entre a realidade e o conhecimento escolar que favoreceu o processo de ensino e aprendizagem.

Favero (2007) revela a elaboração de materiais didáticos para EJA destacando a importância da valorização dos conhecimentos anteriormente dominados pelos jovens e adultos, derivados de processos de escolarização anteriores, abandonados ou interrompidos e, sobretudo, da aprendizagem pela experiência, serem tomados como pontos de partida. O autor defende a superação da estrutura curricular por disciplinas, própria dos sistemas escolares, e ensaia trabalhar na perspectiva interdisciplinar.

Vilanova e Martins (2008) evidenciam em seu estudo a produção de materiais educativos para a EJA, por meio da construção de textos didáticos por professores de

ciências que atuam nessa modalidade de ensino, abordando sobre a temática da saúde. Nesse trabalho, foi possível identificar que os livros didáticos de Ciências para o ensino regular constituíram a principal referência para a elaboração de textos do material que os docentes construíram. Os autores relatam que o livro didático assume um papel de autoridade, no qual os professores parecem não se sentir autorizados a modificar os tópicos apresentados no livro de referência.

Alves et al. (2009) trazem em seu trabalho a questão dos projetos de ciências para a aprendizagem dos alunos na Educação de Jovens e Adultos, destacando para a importância dos conhecimentos prévios dos alunos sobre o tema a ser tratado, no qual o professor deve indagá-los para que construam argumentos diante do levantamento de problematizações. Os projetos desenvolvidos em grupo permitem o diálogo com os colegas, a interação, que auxiliam na construção de novos conhecimentos. Os autores afirmam que o envolvimento da aprendizagem está intimamente ligado com o tipo de atividades que o professor propõe, e, portanto, os projetos são uma alternativa metodológica eficaz para ser executar em sala de aula.

O trabalho de Coimbra et al. (2009) destacam uma abordagem transdisciplinar para abordar o conceito de energia na EJA. Assim, trabalham com métodos alternativos, utilizando estratégias baseadas nas concepções prévias dos estudantes como suporte para aquisição do conhecimento científico. Através da aplicação de um pré-teste, verificaram os saberes anteriores dos alunos. Posteriormente, propuseram atividades de interpretação de textos e análise de situações experimentais, sempre mediadas pela relação dialógica professor-aluno, o que propiciou, segundo os pesquisadores, aprofundamento da compreensão a respeito, desconstrução de noções ingênuas e ampliação do horizonte intelectual do educando. A aplicação de um pós-teste ao final da atividade mostrou a efetividade da aprendizagem.

Forgiarini e Auler, (2009) colocam a abordagem de temas polêmicos na EJA, por exemplo, o caso do florestamento no Rio Grande do Sul. Assim, os autores investigaram a implementação desse tema no currículo da EJA, em quatro escolas situadas em municípios com intensas plantações de monocultura, procurando verificar a contextualização dessa temática. Foi observado que 50% dos professores entrevistados afirmaram dialogar pontualmente sobre o tema, no entanto, sem aprofundamento, problematização ou sistematização. Verificou-se ainda, que os professores integrantes da pesquisa têm uma forte tendência em serem reprodutores e repassadores de informações veiculadas pela mídia. Com esse fato, percebe-se a necessidade de repensar

os currículos e a formação dos professores a fim de capacitá-los para as mudanças necessárias.

O tema de estudo de Merazzi e Oaigen, (2009) relata a importância da realização de atividades práticas contextualizadas com o cotidiano dos educandos da EJA. As atividades desenvolvidas em Ciências foram: experimentos, práticas com material concreto e jogos pedagógicos, todas predominantemente desenvolvidas em grupos e de forma dialogada. Os resultados apontaram que os conteúdos de Ciências, desenvolvidos por meio de atividades práticas, abrangiam discussões e estavam relacionadas ao cotidiano e às vivências dos alunos, o que tornou relevante no processo de ensino e aprendizagem.

Freitas e Aguiar (2010) propõem investigar a elaboração conceitual dos estudantes jovens e adultos na aula de Física, por meio das relações que estabelecem entre o conhecimento científico escolar e seu conhecimento cotidiano. Nessa perspectiva, o professor procurou problematizar questões relativas à órbita da Terra, trazendo perguntas para os alunos, utilizando-se da comunicação e do diálogo para estabelecer trocas e observar pontos de vista dos estudantes. O professor fez questionamentos aos alunos, lançando problemas, incentivando-os a escreverem, argumentarem a respeito da temática trabalhada. Assim, os autores destacam que os alunos ao produzirem seus enunciados, na comunicação verbal, oral ou escrita, possibilitam se aprimorar e internalizar o discurso da Ciência escolar.

Krummenauer, Costa e Silveira, (2010) apresentam uma proposta metodológica para a modalidade EJA de Ensino de Física. A escolha pelo tema Cinemática e Dinâmica do Movimento Circular Uniforme (MCU) partiu dos conhecimentos prévios dos alunos relativos ao seu contexto profissional, por serem trabalhadores do setor coureiro e calçadista. O grupo envolveu-se em atividades diversificadas, por exemplo, aulas expositivas, atividades em grupos e individuais, apresentações de trabalhos, resolução de exercícios, elaboração de mapas conceituais e, ainda, utilização de uma simulação computacional sobre o MCU. Aliado às atividades, foi realizada uma saída de campo a um curtume, permitindo aos alunos contextualizar o que estava sendo abordado com suas atividades profissionais, além do interesse dos alunos em demonstrar o conhecimento que tinham sobre a produção do couro.

Esse panorama de pesquisas no ensino de Ciências na EJA permitiu inferir que é importante trabalhar com as ideias prévias dos alunos, resgatando as suas experiências,

desenvolvendo atividades que possam ser contextualizadas com a suas vivências, para de fato ter sentido no que aprendem.