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Adotou-se nesta pesquisa a abordagem metodológica qualitativa. Segundo Dalmazo e André (1983), essa perspectiva de pesquisa tem recebido uma grande atenção e aceitação na literatura educacional, pois garante algumas vantagens, ao conseguir resgatar os fenômenos naturais de forma complexa e numa variada dimensão, possibilitando capturar do ambiente distintos sentidos e significados que possibilitam uma melhor compreensão do contexto.

Para Neves (1996, p. 1), a pesquisa qualitativa consiste num “conjunto de diferentes técnicas interpretativas que visam a descrever e a decodificar os componentes de um sistema complexo de significados”.

Segundo Bogdan e Biklen, a pesquisa qualitativa apresenta cinco características essenciais:

Na investigação qualitativa a fonte direta de dados é o ambiente natural, constituindo o investigador o instrumento principal. [...] A investigação qualitativa é descritiva. [...] Os investigadores interessam-se mais pelo processo do que simplesmente pelos resultados ou produtos. [...] Os investigadores tendem a analisar os seus dados de forma indutiva. [...] O significado é de importância vital na abordagem qualitativa (BOGDAN; BIKLEN, 2010, p. 47-51).

Dessa forma, podemos evidenciar com maior detalhe cada uma dessas características da pesquisa qualitativa.

Na primeira característica, o ambiente natural como fonte de dados e o pesquisador como o principal instrumento, pode-se evidenciar que o pesquisador tem um contato direto com a pesquisa, com o que está sendo investigado, e, portanto, possibilita uma proximidade maior com o objeto de estudo, que, no caso desta pesquisa,

é composto por professores de Ciências da EJA. Vale ressaltar, ainda, que quando os problemas são estudados em seu ambiente de origem, são nomeados como um estudo naturalístico (BOGDAN; BIKLEN, 2010).

Conforme Bogdan e Biklen (2010, p. 48), “Os investigadores qualitativos frequentam os locais de estudo porque se preocupam com o contexto. Entendem que as ações podem ser melhor compreendidas quando são observadas no seu ambiente habitual de ocorrência”.

Em relação à segunda característica, identifica-se que os dados recolhidos da pesquisa são descritivos, permitindo ao pesquisador obter dados da realidade, que têm caráter muito importante, pois o material capturado possibilita um maior detalhamento para a compreensão do objeto de estudo, com uma grande riqueza em descrições (BOGDAN; BIKLEN, 2010). Assim, foram realizadas as transcrições dos dados das entrevistas, registrando um particular fenômeno da natureza, sendo essa a fonte de informações.

Segundo Bogdan e Biklen (2010, p. 49), os investigadores “Tentam analisar os dados em toda a sua riqueza, respeitando, tanto quanto o possível, a forma em que estes foram registrados ou transcritos”. Desse modo, o pesquisador, ao transcrever as entrevistas, procurou ter o máximo de cuidado para resguardar a forma original dos seus dados.

A terceira característica refere-se ao interesse do pesquisador no processo da investigação e não pelos resultados ou produtos. Levando em consideração essa colocação, Lüdke e André (1986, p. 12) afirmam que o “Interesse do pesquisador ao estudar determinado problema é verificar como ele se manifesta nas atividades, nos procedimentos e nas interações cotidianas”. Assim, esta pesquisa estudou um problema, buscando compreender como os fenômenos ocorrem, preocupando-se com o processo de investigação e não com o produto final.

A quarta característica refere-se à análise dos dados por meio de um processo indutivo, ou seja, o pesquisador constrói e formula suas teorias, levando em consideração os dados que capta da pesquisa. Bogdan e Biklen (2010, p. 50) afirmam que os pesquisadores “Não recolhem dados ou provas com o objetivo de confirmar ou inferir hipóteses construídas previamente; ao invés disso, as abstrações são construídas à medida que os dados particulares que foram recolhidos se vão agrupando”.

Dessa forma, fica evidente que o pesquisador não procura estabelecer ou orientar evidências para comprovar hipóteses antes de começar os estudos. Os métodos e as

técnicas vão ser adaptados a um caso específico, ao invés de um método padrão e único. Assim, ao realizar entrevistas com os professores, levou-se em consideração as informações trazidas pelos participantes, sem comprovar hipóteses.

A última característica refere-se à importância vital do significado na abordagem qualitativa, ou seja, o pesquisador busca perceber como os participantes enfrentam as abordagens que são colocadas, captando as percepções dos informantes nos diferentes pontos de vista (BOGDAN; BIKLEN, 2010).

De acordo com Bogdan e Biklen (2010, p. 50), os “investigadores estão interessados no modo como diferentes pessoas dão sentido às suas vidas”. Assim, a pesquisa requer capturar os diferentes sentidos que os professores dão às coisas, seja de suas experiências, daquilo com o que convivem, da prática docente, buscando conhecer como eles se baseiam e constroem significados.

Assim, considera-se que a pesquisa qualitativa é uma forma de condução de investigação que o pesquisador se apropria com profundidade, a fim de averiguar e compreender com mais detalhe seu objeto de estudo. Portanto, as características pelas quais apresentamos são de extrema importância na pesquisa qualitativa educacional, pois é por meio delas que o pesquisador se movimenta, recorrendo para capturar a complexidade dos fatos que ocorrem no ambiente.

3.1.1 Abordagem naturalística-construtivista

A pesquisa considera-se dentro de uma abordagem naturalística-construtivista, ou qualitativa-construtiva, que, segundo Moraes (2006 p.14), “pretende chegar à compreensão dos fenômenos e problemáticas que investiga, examinando-os no próprio contexto em que ocorrem”.

Desse modo, Moraes (2006) evidencia que nesse tipo de abordagem possibilita- se aos sujeitos construir sua própria realidade, destacando como esses sujeitos percebem essa realidade, a fim de trabalhar com seus conhecimentos implícitos, a partir de suas falas, que estão imersas em teorias e ideologias.

Moraes (2006, p. 14), sobre essa abordagem de pesquisa, leciona:

Um envolvimento intenso nos fenômenos ajuda a reunir informações sobre os objetos de pesquisa, essas submetidas a um processo de análise indutivo, possibilita a gradativa explicitação de categorias e de uma estrutura compreensiva dos fenômenos, resultando daí suas descrição, interpretação e teorização.

Conforme Moraes (2006, p. 15) “O método característico dessa abordagem envolve uma impregnação aprofundada dos fenômenos para a obtenção de descrições e interpretações dos mesmos”. Assim, o pesquisador ao reunir as informações por meio das entrevistas concedidas pelos professores de Ciências da EJA, construiu categorias para melhor compreender e aperfeiçoar as construções teóricas produzidas nesta investigação.

3.1.2 Estudo de caso

Ao assumir a abordagem qualitativa, consideramos ser esta pesquisa um tipo de estudo de caso, que, segundo Lüdke e André (1986, p. 17), “é o estudo de um caso, seja ele simples e específico. O caso é sempre bem delimitado, devendo ter seus contornos claramente definidos no desenrolar do estudo”. As autoras ainda destacam que “a finalidade do estudo de caso é retratar uma unidade em ação” (ibid, p. 22).

Lüdke e André (1986) destacam que esse tipo de pesquisa vem recebendo grande aceitação na área da educação em virtude da sua grande potência para estudar os assuntos relacionados à escola.

Para essas autoras, o estudo de caso destaca-se por apresentar características que se superpõem às características da pesquisa qualitativa, sendo as seguintes:

Os estudos de caso visam à descoberta. [...] Enfatizam a “interpretação em contexto”. [...] Buscam retratar a realidade de forma completa e profunda. [...] Usam uma variedade de fontes de informações. [...] Revelam experiência vicária e permitem generalizações naturalísticas. [...] Procuram representar os diferentes e ás vezes conflitantes pontos de vista presentes numa situação social. [...] Utilizam uma linguagem e uma forma mais acessível do que os outros relatórios de pesquisa (1986, p. 19-20).

Ainda, é muito importante considerar a complexidade de uma situação particular ao retratar de um estudo de caso. Cabe salientar que o pesquisador ainda pode utilizar-se de uma variedade de informações para a coleta de dados, que podem ser capturados em diferentes momentos e situações da pesquisa (LÜDKE; ANDRÉ, 1986).

Segundo Yin (2005, p. 32), esse tipo de delineamento da pesquisa “é uma investigação empírica que investiga um fenômeno contemporâneo dentro de seu contexto da vida real, especialmente quando os limites entre o fenômeno e o contexto não estão claramente definidos”. Triviños (1987, p. 110) corrobora com tal postura e

relata que “os estudos de caso têm por objetivo aprofundarem a descrição de determinada realidade”.

Assim, esta pesquisa foi baseada em um caso específico, que buscou investigar um grupo particular de professores de Ciências da EJA. Esse estudo envolveu toda a complexidade e a singularidade do contexto desses participantes, onde o pesquisador procurou minuciosamente capturar e compreender essa realidade por meio de um processo de constante interação.