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Em relação à identificação, observação e análise dos eventos organizacionais e construção de um framework, entende-se que o mesmo poderá ser útil para a investigação do Sesc e uma contribuição para discussão e investigação de outras organizações sociais, será utilizado o framework de mudança estratégica proposto por Pettigrew (1987, 2012). Tendo em vista os objetivos deste projeto, cabe destacar que a principal característica deste framework é contemplar organizações como sistemas políticos e culturais que têm capacidades para promover mudança e continuidade dentro e fora da própria organização por meio, principalmente, da construção de legitimidade, ao invés de apenas sistemas econômicos em busca de vantagem competitiva.

Algumas literaturas em gestão sugerem que organizações que são diferentes, seja por sua natureza, finalidade e/ou localidade, podem e devem utilizar a mesma bagagem conceitual e metodológica em estratégia. Tal premissa aponta para que a estratégia utilizada nas corporações, nas empresas transnacionais, enfim, naquelas organizações características da construção da visão majoritária dentro do campo de estudo são as disseminadoras das boas práticas em gestão e estratégia. A ideia de padronização a partir da imposição conceitual segundo uma lógica dominante, hegemônica e civilizatória. A corporação pública, o pequeno negócio local, a organização social, para atingirem seus objetivos de maneira plena, precisam estabelecer uma série de ações tais como, planejamento estratégico, procedimentos de controle, funções gerenciais, entre outros.

Andrew M. Pettigrew (1987, 2012), em seus estudos sobre a Imperial Chemical Company – ICI, apresenta um conjunto de conceitos e observações que permitem analisar as organizações como sistemas políticos e culturais que são influenciados e influenciam interna e externamente a organização.

Segundo este autor, a liderança deve ser observada como um processo contínuo no contexto, onde este contexto se refere às condições antecedentes a mudança, do ponto de vista interno a organização, cultura, estrutura e o contexto político em que a

liderança acontece devem ser observados. Bem como o “complexo processo analítico,

político e cultural de desafiar e mudar as crenças fundamentais, estrutura e estratégia da

empresa.” (1987, p. 650).

Para tal é fundamental observar o contexto externo no qual a organização está inserida. Tal contexto influencia diretamente na tomada de decisão, nas interações e ações internas e externas. Observar o contexto externo revela de onde vem a legitimação para a mudança.

Tais elementos podem ser observados na Figura 1, a seguir.

Para Pettigrew, existem momentos em que as organizações atravessam mudanças, chamados de períodos convergentes. Nesses períodos de relativa duração, onde a organização pode ou não viver momentos de alta performance, mas se caracterizam pela mudança de foco, aponta ainda (1987, p. 654):

“Strategic reorientations occur in discontinuous fashion, may involve changes in strategy, power, and structure, and are regularly triggered by environment pressure.”

Pettigrew está preocupado em realizar uma observação que supere os problemas de literatura que encontrou, relativos a liderança e seu papel nos processos de mudança, as dificuldades em prover informações sobre os mecanismos e processos que desencadeiam a mudança. Sua proposta se refere a uma análise contextualista e processual.

Para uma análise contextualista e processual em essência, Pettigrew propõe a observação do fenômeno por meio de um plano cartesiano. O eixo vertical representa o nível de análise e suas interdependências, o eixo horizontal a passagem do tempo. A análise contextual deve guardar algumas características, tais como: um conjunto de análises claro, conectado empírica e teoricamente nos níveis; descrição clara do objeto analisado. Sobre a análise processual, a observação das mudanças deve se dar em um ambiente de estrutura ou relativa constância, a capacidade das pessoas em ajustar as condições do processo observado. Finalmente, a análise contextual deve observar a maneira como as ocorrências nos dois eixos se relacionam. “...this approach recognizes that processes both are constrained by structures and shape structures, either in the direction of preserving them or in altering them” (PETTIGREW, 1987, p. 656).

A intenção é observar o porquê da mudança no contexto externo, social, econômico, político e ambiental e no contexto interno, estrutural, cultural e político. Mais especificamente, objetiva-se observar como a mudança acontece sob a ótica dos processos, ações, reações e interações. Finalmente, a partir do conteúdo, pretende-se observar em termos mais específicos os principais conteúdos de mudança.

Figura 2 – Representação gráfica da análise proposta por Pettigrew

Fonte: Baseado nos materiais didáticos do IMPM - International Masters Program in Practicing Management - produzidos por Alexandre Faria.

A partir da identificação de episódios organizacionais, da construção do framework, como apresentado na Figura 2, observar e discutir processos de legitimação da organização estudada, o Sesc, especialmente no que se refere ao ambiente externo da organização a partir do que Pettigrew (1987) chama de management of meaning, gerenciamento do significado. O autor descreve gestão do significado da seguinte forma (p. 659):

“The acts and processes associated with politics as the management of meaning represent conceptually the overlap between a concern with the political and cultural analyses of organizations. A central concept linking political and cultural analyses essential to the understanding of continuity and change is legitimacy. The management of meaning refers to a process of symbol construction and value use designed to create legitimacy…”

Ao longo da análise, estruturas, cultura e estratégia não são tratadas com neutralidade, funcionalidade, mas sim como meios de proteger interesses e poderes, “a

view of process combining political and cultural elements evidently has real power in explaining continuity and change” (PETTIGREW, 1987 p. 658).

Pettigrew (1987, 2012) utiliza da análise contextual e processual, frameworks e constructos para a análise de mudança interna e legitimação de tal mudança. Nesta pesquisa se pretendeu utilizar desta perspectiva e do framework correspondente para observar o Sesc e processos estratégicos que, em última análise, estão mais próximos da legitimação organizacional.

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