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O Contexto Atual e seus Desdobramentos

CAPÍTULO 1 – ENERGIA E O SISTEMA INTERNACIONAL CONTEMPORÂNEO

4.2 O Contexto Atual e seus Desdobramentos

A intensa demanda e a probabilidade de elevação do preço do petróleo inserem-se no contexto de aumento da preocupação acerca da garantia do abastecimento confiável de recursos energéticos de qualidade e a preços acessíveis. Por ser um recurso não-renovável e cuja extração vai se tornando mais difícil na medida em que as jazidas são encontradas em camadas mais profundas, o petróleo passa a ser um recurso mais caro com o tempo. Há, ainda, os fatores aleatórios, como as interferências climáticas, a exemplo de furacões, que podem interromper a produção na região; e os problemas locais como a eclosão de uma guerra no Oriente Médio.

No que concerne à exploração e esgotamento das jazidas de petróleo, é válido ressaltar a contribuição de Marion King Hubbert (1903-1989), o qual elaborou uma teoria sobre o “Pico do Petróleo”, afirmando que a exploração de um campo do óleo pode ser representada por uma curva, na qual, no início, tem-se uma produção pequena, que vai aumentando à medida que demais poços vão sendo perfurados, tornando a produção crescente até atingir seu pico, o que ocorre quando se chega perto da metade do conteúdo total a ser extraído. A partir de então, a produção inicia um declínio. Com seus estudos, em 1956, Hubbert foi capaz de antever que o pico de produção dos EUA ocorreria em 1970, o que de fato aconteceu.

Utilizando a teoria de Hubbert é possível avaliar o contexto atual de exploração do petróleo, considerando que a maior parte dos poços já foram encontrados e que novas descobertas decaem a cada ano. Elabora-se cenário no qual as jazidas norte-americanas e européias já estão em declínio, enquanto no Oriente Médio estão em estágio inicial de esgotamento. “De acordo com a AIE, as exportações da região responderão por mais de 2/3 do comércio mundial de petróleo em 2030“. (FUSER, 2008: p. 45).

O gráfico abaixo, com dados de 2008, ilustra o contexto de produção mundial de petróleo. Atenta-se para o fato de que Rússia, EUA, México e Canadá (grandes produtores) não fazem parte da OPEP. Nota-se que, apesar de ser a detentora de grande parte das reservas,

a produção nos países da OPEP deixou de crescer. Todavia, isso não significa, necessariamente, esgotamento das reservas, mas sim, um possível controle na produção por parte dos membros.

Gráfico 6. Crescimento da produção de petróleo no mundo (% a.a)

Fonte: BP (2008). Cf: MME, 2008.

A problemática acerca do crescimento da demanda e da dificuldade em aumentar a oferta, paralelamente, agrava-se diante da certeza acerca da escassez do petróleo, apesar de não se saber quando isso ocorreria.

Petroleum is, of course, a finite substance, and geologists have long warned of its ultimate disappearance. (…) Most oil geologists believe we have already reached the midway point in the depletion of the world’s original petroleum inheritance and so are nearing a peak in global output; the only real debate is over how close we have come to that point, with some experts claiming we are at the peak now and others saying it is still a few years or maybe a decade away. (KLARE, 2007).

Dessa maneira, as incertezas acerca do futuro do abastecimento de petróleo agravam- se cada vez mais. Atualmente, ainda é possível encontrar jazidas não exploradas, como ocorreu no Brasil, com o pré-sal. Contudo, a ocorrência de petróleo nessa região já evidencia o que Paul Roberts previne no livro “The End of Oil”:

Although we will not run out of oil tomorrow, we are nearing the end of what might be called the easy oil. Even in the best of circumstances, the oil that remains will be more costly to find and to produce and less dependable than the oil we are using today. (ROBERTS, 2005: p.47).

acesso ao mesmo para grande parte dos Estados. Configura-se uma situação de incertezas e vulnerabilidades dentro do sistema, na qual a problemática energética ganha peso na agenda dos Estados e pode desenvolver um cenário de conflitos armados. Fuser cita as considerações de Michael Klare:

Se os níveis de fornecimento encolherem, ou se os preços subirem acima de um nível tolerável, muitas economias sofrerão e um grande número de pessoas passará por dificuldades. (...) Nessas circunstâncias, os governos dos países importadores se verão sob enormes pressões para fazer alguma coisa: subsidiar importações de petróleo, impor o racionamento obrigatório, liberar o combustível de suas reservas estratégicas ou empregar a força para remover qualquer obstáculo ao fluxo global de petróleo. (FUSER, 2008: p. 56).

Para compreender como é delicada a relação entre os Estados no tocante à problemática energética, faremos análise acerca de algumas regiões que acreditamos ser de importância determinante na geopolítica do petróleo. Desse modo, nosso estudo contempla os EUA, a China, a Rússia e o Oriente Médio.

5. Desenvolvimento, dependência e vulnerabilidade

Os problemas em relação à energia afetam tanto os países que possuem grandes reservas de petróleo quanto àqueles que dependem de importação para manter o funcionamento de suas economias. Os países que são exportadores de petróleo deparam-se constantemente com preocupações relacionadas ao preço do produto, na expectativa de que o mesmo mantenha-se em valores nos quais a venda senda vantajosa. Outra preocupação desses Estados é com a segurança de suas grandes reservas, protegendo-as de uma possível tentativa de invasão e controle por outro Estado.

Para os países que dependem da importação do óleo, a preocupação é que os preços estejam a níveis acessíveis e que não haja risco de corte no abastecimento. Um dilema que é constante para estes Estados refere-se à possibilidade de escassez das reservas dos seus principais mercados fornecedores, o que os leva a diversificar de parceiros e até substituir recursos na matriz energética, tornando a mesma mais diversificada, como vem acontecendo com o Japão, a Alemanha, a França, a China, os EUA, e outros.

Desse modo, alguns atores devem ser, necessariamente, inclusos na discussão acerca da questão energética, posto seu peso estratégico dentro do sistema e do assunto tratado. São eles: os EUA, a China, a Rússia e o Oriente Médio. Esses quatro atores são peças basilares e fundamentais para se compreender o contexto energético internacional, pois são dois grandes consumidores e dois grandes produtores de petróleo.

Dessa maneira, a análise dos mesmos justifica-se pelo fato de expressarem a lógica existente entre desenvolvimento, dependência, vulnerabilidade e até conflitos armados. Nosso propósito será demonstrar como a energia direciona as ações política desses Estados, na tentativa de compreender como a mesma está condicionada às prioridades de cada um.