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CAPÍTULO 1 – ENERGIA E O SISTEMA INTERNACIONAL CONTEMPORÂNEO

5.3 Rússia: energia por soberania

A Rússia é um país estrategicamente importante para a geopolítica energética mundial. Não se pode realizar um estudo acerca da questão e não considerar a potencialidade russa e suas relações em política com diversos países, especialmente na Europa. Não obstante, é necessário estar atento ao contexto interno e externo no qual esse país está inserido, a fim de melhor compreender sua política energética, especialmente no setor de hidrocarbonetos.

A maneira pela qual a Rússia utiliza os hidrocarbonetos depende das deliberações e necessidades do Kremilin, estando a política energética diretamente vinculada com as demais

atividades do Estado (SÉBILLE-LOPEZ, 2006. p. 212). Apesar de já ocupar parte considerável do mercado de exportação de petróleo e gás, a Rússia tem empreendido projetos para diversificar seus parceiros e conquistar novos mercados, diante do contexto de forte demanda que se configura no cenário internacional. O principal parceiro russo é a União Européia. Além de buscar aumentar o volume do seu comércio de recursos energéticos com a Europa, a Rússia também pretende expandir suas vendas para China e Estados Unidos.

Acerca das relações de comércio de gás entre Rússia e União Européia, é necessário ressaltar um ponto crítico que denota a vulnerabilidade a que a Europa está exposta. A questão energética que envolve Rússia e Europa é bastante delicada e deu sinais de sua importância no sistema internacional já na primeira semana de 2009. A Europa não produz energia suficiente para suprir suas indústrias e aquecer os lares diante do rigoroso inverno que atinge o continente, precisando importar do vizinho do leste.

Apesar das reservas de gás na Holanda e no mar do Norte, a Europa necessita importar 80% do gás utilizado (SIMÕES, 2006). O dilema é que para que esse recurso chegue ao continente europeu, a maior parte dele deve atravessar a Ucrânia e outras regiões do leste do continente. O fluxo de gás russo que vai para a Europa via Ucrânia foi totalmente interrompido no dia 1º de janeiro de 2009, deixando países como França, Alemanha, Áustria, República Checa, Eslováquia, Polônia, Romênia e outros com sérias dificuldades de abastecimento de gás em pleno inverno.

A paralisação no abastecimento foi motivada por uma disputa de preços entre Rússia e Ucrânia. A estatal russa de energia, a Gazprom, acusa a Ucrânia pela paralisação, afirmando que país rouba o gás que deveria ir para o resto do continente. Não foi a primeira vez em que a Ucrânia se utilizou do gás como arma política para realizar barganha em negociações. Todavia, é preciso lembrar que a própria Ucrânia depende do abastecimento de gás russo, o que diminui sua margem de negociação.

No dia 13 de janeiro, o envio de gás para a Europa via Ucrânia foi normalizado. O reatamento do envio só foi possível graças à assinatura de um acordo entre Rússia, Ucrânia e União Européia (UE). Assim, observa-se um contexto de grande dependência, vulnerabilidades e riscos, no qual as ameaças no corte de abastecimento energético dificultam a convivência pacífica em uma região onde já se desenvolveram graves conflitos armados.

So, this goal of sovereignty and the role of energy in it is something I urge you to keep in mind when you hear people talk about possible scenarios for the use of Russia’s energy, that is both the physical product and the rents that flow from it. Russia’s fundamental goal now is not to allow anyone else, anyone other to be able to determine how Russia’s greatest asset, its oil and its gas, is used. And so, the goal is control over production, transportation, distribution, choice of customers, as well as use of the revenues from. Russia will try to keep its hands free as much as possible, remain flexible in the use of this great asset. (CLIFFORD, 2007).

Gaddy faz referência a outro ponto que merece destaque, qual seja a defesa dos interesses russos frente às necessidades globais de abastecimento, pois surgem questionamentos em relação à responsabilidade russa de promover o abastecimento para outros países. Esse contexto gera incertezas por parte daqueles que dependem dos recursos russos, mas para os nacionais desse país, é um tema que deve ser debatido. Para eles:

If energy is so incredibly important, and everybody wants it, and all of these debates are going on around the rest of the world that they desperately need energy, and we've got it, why are we giving it to them now, why don't we keep it in the ground for another five, ten, 15 years, it will be much more valuable then, we'll have more leverage then, let's think about this a little bit, so there's serious discussions along those lines. Why should they produce more oil and gas just because the rest of the world happens to need it now (CLIFFORD, 2007).

Dessa maneira, conciliar o nacionalismo russo e as necessidades do mercado de hidrocarbonetos é um grande desafio imposto no sistema internacional. O debate não está, portanto, no interesse russo de ser ou não uma potência energética, mas no direcionamento de suas políticas e na manutenção de sua soberania.

Para muitos Estados, os recursos russos são estratégicos, frente à necessidade de manter a produção de suas indústrias. Para a Rússia, esta pode ser uma possibilidade de impor suas próprias regras no contexto internacional, frente à dependência desses outros Estados em relação ao que ela possui em abundância.