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Contexto da Articulação de Agroecologia do Rio de Janeiro – AARJ

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4. CAPÍTULO II ESTUDO DE CASO: CONTRIBUIÇÕES DA CARAVANA

4.4 Contexto da Articulação de Agroecologia do Rio de Janeiro – AARJ

A seguir, faço uma pequena revisão quanto a Articulação de Agroecologia do Rio de Janeiro (AARJ), a partir do entendimento contido no projeto “Ambientes de Interação Agroecológica”, Caminhos Agroecológicos do Rio, e outras bibliografias.

Para os propositores do projeto, o Rio de Janeiro conta com instituições que constroem conhecimentos científicos de base agroecológicas, e são nacionalmente referenciadas a partir desse trabalho. Entretanto, as ações destas instituições não envolvem a maioria da agricultura familiar fluminense, ainda sujeitas a ao modelo baseado difusionismo de tecnologias, sem conhecimento da realidade com o produtor e sua relação com seu local (AMBIENTES DE INTERAÇÃO AGROECOLÓGICA, 2014).

Além destas instituições, abriga outras que buscam “fortalecer as expressões da Agroecologia nas mais variadas manifestações, sejam elas pelo próprio agricultor, seja pelo fazer cotidiano da assessoria técnica” e a partir de sua integração surge a AARJ (AMBIENTES DE INTERAÇÃO AGROECOLÓGICA, 2014, p.5).

A AARJ é uma rede de instituições, organizações e coletivos que buscam se articular para fortalecer as iniciativas agroecológicas, a partir da identificação, sistematização e mapeamento de experiências (STRAUCH, 2015). “A AARJ foi formada em julho de 2005, a

69 partir do Grupo de Articulação pró II Encontro Nacional de Agroecologia (ENA), do Estado do Rio de Janeiro”, com o objetivo de se articular com a série de movimentos e organizações que atuavam com agroecologia no Rio de Janeiro e fomentar debates e atividades da Articulação Nacional de Agroecologia (AARJ, 2014; STRAUCH, 2015).

Como preparação para a participação dos agricultores no II ENA, que aconteceu em Recife, em junho de 2006, foi realizado um Encontro Estadual de Agroecologia em maio do mesmo ano. Esta atividade contou com a participação de 106 agricultores e técnicos de todas as regiões do estado. No encontro definiu-se 45 representantes para participarem do II ENA representando 32 experiências identificadas como uma amostra das expressões da agroecologia no estado do Rio de Janeiro (AARJ, 2014; STRAUCH, 2015).

Desde 2006 a AARJ busca manter uma rotina de reuniões ampliadas para definir estratégias e para trocar experiências, com a participação de técnicos e agricultores. Além disso, procura realizar vivências em campo, nos locais próximos ao da reunião, para troca de saberes entre técnicos e agricultores, na construção do conhecimento agroecológico. A organicidade da AARJ é composta a partir de um grupo executivo, composto por representantes das regiões de atuação da AARJ e das organizações e movimentos sociais, com reuniões mensais, e por um grupo ampliado. Esses grupos têm a incumbência de coordenar politicamente as atividades, planejando as ações de cada ano, e fomentar dentro da AARJ as pautas construídas pela Articulação Nacional de Agroecologia (ANA). Além disso, conta com os Grupo de Trabalhos temáticos de Segurança Alimentar e Nutricional e Acesso a Mercados Justos e Solidários; Agrobiodiversidade, Sementes, e Territórios; Juventude Rural; Assistência Técnica e Extensão Rural; e Comunicação (AMBIENTES DE INTERAÇÃO, 2014; STRAUCH, 2015).

A organicidade da AARJ vem se manifestando nas regiões Costa Verde, Vale do Paraíba, Metropolitana, Serramar e Norte Fluminense. Como desdobramento do processo de sistematização, além do fortalecimento da articulação na escala do estado, também as articulações regionais se destacaram e se fortaleceram no processo, “sendo as de maior expressividade” a região Norte (Campos e Macaé), a região Serra Mar (Casimiro de Abreu, Silva Jardim, Rio das Ostras, Saquarema e Araruama), região Sul (Paraty, Angra dos Reis e Ubatuba) e região Metropolitana (Rio de Janeiro, Magé, Nova Iguaçu, Seropédica, Itaboraí, e Niterói), conforme a figura 1 (AMBIENTES DE INTERAÇÃO, 2014, p.6).Transpondo limites políticos administrativos das regiões do governo fluminense, as regiões que compõe a

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AARJ estabelecem conexões que ressignificam a noção de território, como por exemplo a rede juçara que articula experiências em Angra dos Reis, Paraty e Ubatuba (SP).

Figura 1. Mapa dos territórios de atuação da AARJ em 2014. Fonte: AARJ, 2014

As entidades que frequentemente participam da articulação são: AS-PTA Agricultura Familiar e Agroecologia, Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Comissão Pastoral da Terra (CPT), Rede Fitovida de plantas medicinais, Cooperativa de Trabalho, Consultoria, Projetos e Serviços em Sustentabilidade (Cooperativa CEDRO), Rede Ecológica de Consumo, Grupo de Agricultura Ecológica/UFRRJ (GAE), Grupo de Estudos e Trabalho em Ensino e Reforma Agrária/UFRRJ (GETERRA), Mutirão de Agricultura Ecológica/UFF (MÃE), Pastoral da Saúde, Pastoral da Criança, Verdejar, Cooperativa de Agricultura Familiar de Produtos Orgânicos UNIVERDE, Cooperativa dos Agricultores Familiares de Magé (COOPAGÉ), e Associação de Agricultores Biológicos (ABIO), Escola da Mata Atlântica, Associação Mico Leão Dourado, Rede Carioca de Agricultura Urbana, Campus da Mata Atlântica da FIOCRUZ. Outras entidades públicas apoiam a AARJ, como: Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Universidade Federal Fluminense (UFF), Empresa de Pesquisa Agropecuária do Estado do

71 Rio de Janeiro (PESAGRO-RIO), Gerência de Agroecologia e Escritórios Locais da EMATER-RIO de Nova Iguaçu, Araruama e Saquarema, Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa Agrobiologia), Ministério da Agricultura, Pesca e Abastecimento (MAPA/Superintendência do Rio de Janeiro), Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA-DFDA/RJ) (AMBIENTES DE INTERAÇÃO, 2014; STRAUCH, 2015).

O esforço de mapeamento, identificação e sistematização das experiências que a AARJ vem desenvolvendo nos últimos anos tem como referencias as estratégias de atuação e princípios apresentados pela ANA e pela Associação Brasileira de Agroecologia – ABA. A partir do projeto “Desenvolvimento participativo de metodologias e processos de construção de conhecimento agroecológico no Estado do Rio de Janeiro”, fomentada pelo CNPq/MDA, com a coordenação na Universidade Federal Fluminense – UFF, essa iniciativa pode ser financiada. O trabalho de articulação e consolidação da rede estadual enquanto movimento foi formado a partir do uso de metodologias participativas, com pressupostos e ferramentas como diálogo de saberes e intercâmbios. Alguns dos produtos foram um livro e um vídeo “Caminhos Agroecológico do Rio de Janeiro” (STRAUCH, 2015).

A publicação do livro buscou não só a descrição de uma experiência, mas também dar significado político a ela, apontando os avanços e desafios para construção da transição agroecológica no Rio de Janeiro, a partir de experiências concretas de pessoas e coletivos “comprometidos com uma agricultura participativa desenvolvida em bases ecológicas” (AARJ, 2014, p.19).

Dispondo da sistematização de experiência como processo catalisador das dinâmicas de análise e reflexão crítica sobre as experiências a partir do olhar dos seus protagonistas, as oportunidades financiadas por projetos também tinha como objetivo a construção de artigos analíticos, descritivos, constituindo-se como memória de um território e de agroecossistemas, dada sua natureza dinâmica (AMBIENTES DE INTERAÇÃO, 2014). Outro projeto financiado pelo CNPq/MDA fomentou o “mutirão” estadual de sistematização de experiências em agroecologia, reforçado a partir do processo de sistematização do Grupo de Trabalho “Construção do Conhecimento Agroecológico”, ocorrido em 2009, através da participação em oficinas nacionais, estaduais, preparatórias para o VI Congresso Brasileiro de Agroecologia. Finalizado o processo, este GT recebeu 22 artigos elaborados a partir da ótica dos protagonistas da experiência, “através de processos locais participativos de aprendizagem, reflexão e construção” (AARJ, 2015, p.19).

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A AARJ também se constrói como uma rede que promove a agroecologia e desenvolvimento territorial, uma vez que fomenta debates, reflexões, as quais embasam a adequação e implementação de políticas públicas voltadas para agricultura familiar fluminense e brasileira. Alguns exemplos são a contribuição na construção da Política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica (PNAPO), Política Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural(PNATER), Resolução nº 134/2016 do Instituto Estadual do Ambiente (INEA-RJ), que diz respeito à práticas de manejos agroflorestais e sistemas de pousio (AMBIENTES DE INTERAÇÃO, 2014).

A AARJ procura pautar sua atuação política a partir das práticas agroecológicas vivenciadas no dia-a-dia dos seus protagonistas, que no caso do Rio de Janeiro engloba uma grande diversidade de atores, movimentos e organizações. Esta metodologia de atuação e abordagem se efetivou de fato quando a rede percebeu que era preciso saber onde se encontravam estas experiências, em qual contexto sócio ambiental se localizavam, como se organizavam, e quais inovações sinalizavam, procurando a partir destas informações e dos processos relacionados à sua obtenção, qualificar seu debate político e avançar na construção do conhecimento acerca da agroecologia (AMBIENTES DE INTERAÇÃO, 2014; AARJ, 2014).

A fim de contribuir mais de perto com o intercâmbio de saberes acadêmicos e populares, ampliar a rede de vivencias agroecológicas e suas institucionalidades participativas, o Núcleo Interdisciplinar de Pesquisa e Extensão Tecnológica em Agroecologia da UFRRJ (NIA-UFRRJ), no final de 2011, se aproximou das experiências sistematizadas e divulgadas pela AARJ (AMBIENTES DE INTERAÇÃO, 2014).

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