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4. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

4.2 Contexto de realização da pesquisa

A coleta de dados aconteceu na sala de aula e em outras dependências de uma escola pública municipal, de ensino fundamental, voltada ao primeiro ciclo, 1º ao 5º ano, de uma cidade de médio porte do interior do estado de São Paulo, na qual estava matriculado, desde o primeiro ano, o estudante com cegueira congênita Jorge, e atuava sua educadora, Joana.

A escola, inaugurada oficialmente em 1998, de acordo com informações colhidas em seu PPP (Projeto Político Pedagógico), situa-se em um bairro residencial, criado na década de 90. Este bairro tem pequeno comércio, serviços públicos nas áreas da saúde, educação e assistência social. Contém infraestrutura por rede de água e esgoto; a maioria de suas ruas é asfaltada; e as residências detêm de energia elétrica e coleta de lixo. Ressalta-se, porém, segundo consta no referido documento, elaborado pela própria comunidade escolar, o bairro tem como marca a violência e a criminalidade.

Para mais do primeiro ciclo, a escola oferece atendimento a jovens e adultos da comunidade, na modalidade EJA (Educação de Jovens e Adultos) – suplência I e II; Atendimento Educacional Especializado, em Sala de Recursos Multifuncionais e Serviço de Coensino, ambos nos períodos da manhã e da tarde. Todavia do serviço do AEE na própria escola, Jorge recebia esse atendimento em uma Biblioteca Pública Especializada na área da Deficiência Visual, pertencente à rede municipal de ensino. Em razão de nesta biblioteca, devido ao seu foco, contar com uma educadora especial, com formação e ampla experiência na área de sua deficiência; a gestão desta UE (Unidade Escolar), avaliou que seria a melhor alternativa a Jorge, o AEE neste local. Todavia de o coensino ser fornecido (duas horas semanais, em cada sala que possui matrícula de alunos PAEE) por uma educadora especial desta UE, por decisão da professora Joana e da gestora da UE – pressupondo que Jorge já seria bastante assistido pela então proposta de prestação do serviço por essa educadora especial do coensino/pesquisadora, preferiram que apenas ela mantivesse esse papel em relação ao educando e sua professora Joana e que a educadora especial de coensino desta UE atuasse apenas nas outras salas com matrícula de alunos PAEE.

Em seu espaço físico possui 48 salas, construídas em bloco único, com os seguintes usos: secretaria, salas de aula, sala de recursos multifuncionais, sala da direção, sala dos professores, refeitório, pátio, cozinha, rádio, almoxarifado de materiais pedagógicos, consultório odontológico, banheiro unissex acessível, banheiro masculino para os alunos, banheiro feminino para os alunos, banheiro feminino para os funcionários, banheiro masculino para os funcionários. Na área externa da escola encontravam-se: uma biblioteca, uma quadra poliesportiva coberta, uma sala de planejamento dos professores e um parque infantil.

4.2.2 A Sala de Aula

Com o propósito situar o contexto dessa investigação, fez-se um esboço das características físicas da sala de aula e de como a professora Joana era habituada a propor e desenvolver suas práticas pedagógicas.

A sala de aula do 4º ano G, local em que se coordenou essa pesquisa é composta por 29 pares de carteiras e cadeiras, enfileiradas; dois armários de aço ao fundo, de uso das professoras que lecionam neste local nos períodos da manhã e da tarde – espaço no qual Joana acomodava os livros didáticos das disciplinas Ciências Naturais, História, Geografia, Matemática e Língua Portuguesa; os recursos pedagógicos gerais, como lápis,

lápis de colorir, apontador etc; cadernos/portfólio contendo a produção de texto, por bimestre, de cada aluno; uma mesa grande com cadeira, à frente da sala, no lado esquerdo, de uso das professoras – de cada turno; um Quadro Branco grande, disposto na parede da frente da sala; um ventilador de parede à frente e um ao fundo; um varal com pregadores para serem expostas as tarefas dos alunos; janelas venezianas grandes, com cortinas e um mapa grande do Estado de São Paulo.

Como se examinou, nesta sala continham equipamentos e materiais habituais de uso comum, porém, nada que fosse tangível ao aluno Jorge. Quando foi principiado esse processo investigativo, 10 dias após o começo do ano/semestre letivo, Jorge não dispunha de recursos pedagógicos como máquina de escrever em braille ou soroban adaptado para as atividades básicas de escrita ou de operações matemáticas; participando apenas oralmente das práticas pedagógicas. Sobre os livros citados, alocados no armário da professora Joana, mesmo que pelo PNLD haja a obrigatoriedade do envio à escola, frente à matrícula de um estudante com cegueira, de versões em braille dos livros consumidos, a escola não os recebeu37.

Descrição geral das práticas pedagógicas na sala de aula em que sucedeu a intervenção, durante o 1º semestre letivo de 2016:

1 – Rotina: ao chegar à sala de aula, a professora dispunha na lousa, diariamente, a relação de atividades/conteúdos que seriam abordados, incluindo visita à biblioteca, lanche e intervalo, de acordo com o dia. Após a leitura conjunta, alunos e professora Joana, da Rotina, eles tiravam dúvidas, estas, em relação a algum tópico informado.

2 – Leitura compartilhada: Joana realizava a leitura de trechos, em média cinco páginas de um livro de literatura infantil, selecionado por ela, em todo princípio de aula. Finalizada cada leitura, ela dialogava com os alunos sobre os eventos contados. Ao término de um título, aproximadamente depois de dois meses letivos, orientava os alunos à reescrita da narrativa.

3 – Atividades pedagógicas curriculares: com o seu planejamento semanal delineado juntamente com a coordenadora pedagógica da escola, e demais professoras do

37 Sobre a necessidade da máquina braille e soroban, essa pesquisadora procedeu ao empréstimo destes recursos

na Biblioteca Pública Especializada na área da Deficiência Visual do município, para o uso de Jorge, em sala de aula e demais espaços da UE. Quanto aos livros, contataram-se as editoras responsáveis pelos livros consumidos na sala, e obteve-se como retorno o envio de um CD com os arquivos completos dos livros, em PDF e em TXT. Devido ao volume do material para ser produzido na impressora da Biblioteca citada, as professoras do AEE, da sala de aula regular e esta, do coensino, concordaram que imprimiriam apenas as páginas, semanalmente, conforme previsto no planejamento.

mesmo ano, durante as reuniões de Horário de Trabalho Pedagógico e Coletivo (HTPC), Joana propunha à turma, atividades pedagógicas, que agregassem conteúdo(s) de uma ou mais, das áreas de conhecimento, indicadas nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) ao ano letivo: Língua Portuguesa, Matemática, Ciências Naturais, História, Geografia e Artes. A área da Educação Física, responsabilidade de outra professora, não será tratada. Essa educadora especial do coensino/pesquisadora julgou, naquela ocasião, ser impraticável prestar o serviço nas aulas dessa área, por causa do tempo que seria demandado a essa atuação – durante as aulas de Educação Física, Horário Trabalho Pedagógico e Individual (HTPI) da Professora, aproveitava-se para dialogar com ela sobre o planejamento da semana. Joana tinha como fonte ao planejamento e à provisão de recursos e atividades; o livro didático de cada área, quadro branco e marcador e atividades fotocopiadas. A professora, usualmente, apresentava a uma atividade – explicação e/ou tarefa (no livro, quadro ou fotocópia), procedia a dialogar com os alunos sobre o seu conteúdo/instrução – momento em que os alunos acompanhavam visualmente (no livro, quadro ou fotocópia) e aguardava a realização da tarefa – à disposição daqueles que tivessem dúvidas e solicitassem sua colaboração. Após, fazia a correção da tarefa, quase sempre oralmente e registrando o que fosse relevante no quadro branco. Era acordado com a turma, que durante as explicações ou no momento de realização das tarefas os alunos deveriam levantar a mão; não sendo atendidos, tinham de chamar a professora pelo seu nome. Em caso de dúvida que pudesse ser comum, Joana explicava a toda turma. Quando esse acordo não era respeitado, ela repreendia, oralmente, o descumpridor ou, quando estava no meio de uma explicação verbal, apenas não o atendia.

4 – Atividades complementares: nos respectivos horários de intervalo, os alunos eram direcionados, em fila, por Joana, ao pátio coberto; local em que, por escolha, poderiam: almoçar/lanchar, usar o sanitário, ingerir água e/ou brincar. Essas atividades foram acompanhadas pela pesquisadora, especialmente o almoço/lanche, porém, não serão descritas e analisadas.

5 – Encerramento e saída: encerrado o turno letivo – que ia das 13h às 17h30, os alunos guardavam seus materiais, cedidos pela própria escola, e dirigiam-se as suas casas, alguns deles sozinhos e outros, acompanhados de algum familiar. No caso de Jorge, tinha essa função, sua mãe e uma tia.