• Nenhum resultado encontrado

1.5 – O CONTEXTO DE SITUAÇÃO

No contexto de situação, os significados são realizados e expressos através de um registro, e como já mencionado, “o texto e contexto estão interligados, o que equivale também dizer que o contexto está no texto” (Eggins, 1994:49). O contexto, assim, sempre precede o texto; contexto e texto são aspectos de um mesmo processo e não devem ser analisados separadamente.

Para Halliday, a questão da definição de texto é muito importante: tudo o que for dito ou escrito se estende em algum contexto de uso. Na abordagem sistêmico-funcional, existem dois fatos que permitem caracterizar o contexto social das escolhas lingüísticas de um certo tipo de texto: as teorias de gênero e de registro.

É no contexto de situação que se realiza o gênero, por meio de escolhas lingüísticas que caracterizarão o registro de determinado gênero, cujas variáveis compreendem o campo, as relações e o modo:

 Campo – sobre o que se fala ou escreve, o tópico da situação.

 Relações – os papéis sociais que cada participante desempenha na interação.

 Modo – o modo falado ou escrito pelo qual a mensagem é veiculada na interação.

Cada uma das três variáveis de registro estão relacionadas a um significado, ou seja:

 Campo – está relacionado com a metafunção ideacional.  Relações – está relacionado com a metafunção interpessoal.  Modo – está relacionado com a metafunção textual.

O contexto de situação fornece instrumentos para entendermos o que está sendo falado (campo); identificar o papel que a linguagem está desempenhando na interação e a distância entre as pessoas que estão interagindo (modo); e, ainda, podemos inferir as relações interpessoais entre os participantes do discurso e os papéis sociais que eles estão representando (relações).

A figura a seguir permite visualizar melhor a relação entre as variáveis de registro e as metafunções no gênero.

Figura 1, Gênero em relação ao registro e a linguagem (Traduzido de Eggins e Martin, 1997: 243)

De acordo com Halliday (Halliday & Hasan, 1989: 38-42), registro é um conceito semântico, definido como “uma configuração de significados que são tipicamente associados a uma configuração situacional, particular do campo, relações e modo”.

As relações sociais que ocorrem em nosso cotidiano podem estar refletidas no registro, que sofrerá variações em decorrência do contexto situacional a que somos expostos sempre. Portanto, não é possível usar somente um único registro em todas as situações que vivemos (Halliday &

Gênero modo campo relações Ideacional Interpessoal Textual Contexto: gênero – acima e além das metafunções Contexto: registro organizado por variáveis de contexto Linguagem organizada por metafunção

Hasan, 1989: 41), uma vez que fazemos uso de diferentes escolhas lexicais para determinados contextos em que estamos inseridos.

Para Eggins e Martin (1997:236), a relação entre contexto e texto, (contexto de cultura e gênero) se efetua num texto por intermédio de escolhas léxico-gramaticais. O conceito de registro, segundo os mesmo autores (1997:234), explica como usamos a linguagem de formas variadas em diferentes funções. Já para Eggins (1994:9), o registro descreve o impacto das dimensões do contexto imediato da situação de um evento de linguagem no modo como a linguagem é utilizada.

E os teóricos citados (1997:235) ainda acrescentam que, além da variação de registro, os textos também podem exibir variações em termos de gênero, ou seja, o gênero é, ao lado do registro, uma extensão que caracteriza o texto. Martin (1992) afirma que o registro funciona como forma de expressão do gênero, da mesma maneira que a linguagem funciona como expressão do registro.

O registro, por sua vez, inserido no contexto da situação, associa-se às opções léxico-gramaticais, que permitem a distinção entre um gênero e outro. Eggins (1994:34) estabelece a seguinte relação entre gênero, registro e a linguagem: “(o gênero) é mais abstrato, mais geral, do que o contexto de situação (registro)”.

O registro funcionará como um passo para a definição da estrutura genérica. A distinção entre os gêneros e registro, porém, está no nível de abstração em dois diferentes planos: social e cultural.

Halliday (1989) destaca que o registro é o princípio geral que assegura que a linguagem falada e a linguagem escrita nunca serão totalmente semelhantes, considerando, portanto, a distância entre as duas.

Eggins (1994:53), ao abordar a teoria do registro, mostra alguns aspectos que distinguem a linguagem falada da escrita que podem influenciar diretamente no modo. Um dos aspectos mencionados é a distância interpessoal e espacial entre participantes da interação; a autora comenta, ainda, que os meios de comunicação modernos, como os e-mails, têm revelado dimensões de modos complexos.

Segundo Martin (1984:25; 1985:248), um gênero tem um propósito definido, é orientado para um objetivo e organizado em estágios; um registro (no caso dos blogs, um relato) específico é usado para que tais objetivos e propósitos sejam alcançados.

O registro, portanto, auxilia-nos na definição das escolhas; uma vez inserido no contexto da situação, associa-se às opções léxico-gramaticais, que permitem a distinção entre um gênero e outro. Em resumo, verificamos que os conceitos de registro e gênero são empregados com a finalidade de apontar o significado e a função da variação entre textos.

As línguas são organizadas com base em dois tipos de significados: o ideacional e o interpessoal. Estes componentes são chamados metafunção, classificados por Halliday em: ideacional, interpessoal e textual. Estas metafunções fornecem esclarecimento do uso da língua a partir das necessidades, dos propósitos do falante em um determinado contexto de situação.

A metafunção ideacional refere-se ao que a pessoa expressa com significados sobre a realidade; a metafunção interpessoal é o modo pelo qual os participantes se relacionam socialmente no discurso, por meio da linguagem, o modo com que eles expressam suas atitudes e julgamentos quando dão ou pedem informação, quando fazem, se oferecem ou levam alguém a fazer alguma coisa, e finalmente, na metafunção textual, reconhece-se o modo como

é organizada a mensagem e como está exposta em um texto ou na fala, permitindo que os participantes do discurso reconheçam a linguagem como um texto com significado.

Como o objetivo desta pesquisa visa à interação entre blogueiro e internauta, vamos nos deter à descrição detalhada da metafunção interpessoal que nos fornece o subsídio necessário para analisar essa interatividade dos participantes em questão, e somente explanar brevemente sobre as outras duas (a ideacional e a textual), pois, segundo Thompson (1996:28), “compreender cada um desses três tipos de significado contribui igualmente para o significado da mensagem como um todo”.