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3 CARACTERIZAÇÃO GEOAMBIENTAL DA ÁREA DE ESTUDO

3.1 CONTEXTO GEOLÓGICO-GEOMORFOLÓGICO REGIONAL DO LITORAL

A Costa Nordeste, o qual foi modelada sob as condições das flutuações do nível relativo do mar ocorridas no período Quaternário na costa brasileira, é caracterizada por uma plataforma continental estreita e rasa com largura que varia entre 15 e 75 km e profundidade máxima de 70 m. Essa plataforma é quase que totalmente recoberta por sedimentos biogênicos carbonáticos (areias e cascalhos, consistido principalmente de algas calcáreas) (CUNHA, 2005).

Na Costa Nordeste Oriental ou Barreiras, na qual localiza-se o estado de Pernambuco, predomina os sedimentos da Formação Barreiras, bem como as falésias e franjas de recifes de arenitos de praias incrustados por algas calcárias, briozoários e corais. As lagunas e estuários são ocupados por manguezais, e nessa área há grande influência dos ventos de sudeste (COUTINHO, 2005).

Em termos geológicos o litoral norte pernambucano pertence ao domínio estrutural da Bacia Sedimentar Paraíba. Na literatura, tem-se tratado essa bacia juntamente com a Bacia Pernambuco como sendo apenas uma, no entanto a partir do trabalho de Mabesoone; Alheiros (1988, 1993) observou-se que apesar de contiguas, suas características estruturais e geológicas eram distintas. Essa distinção se revela através das paisagens geomorfológicas diferenciadas nos dois setores: na Bacia Paraíba, diferentemente da Bacia Pernambuco onde o domínio colinoso se sobressai, predomina a superfície de tabuleiros e planície costeira (SILVA, 2004). Neste âmbito, Lima Filho (1998) e Lima Filho et al. (1998) trataram de forma enfática as diferenças entre a faixa costeira que ocorre ao sul e ao norte do Lineamento Pernambuco, separando as duas bacias e determinando a antiga Sub-bacia Cabo como individualizada da Bacia Paraíba, denominando-a de Bacia Pernambuco (BARBOSA et

al., 2003).

A Bacia Paraíba abrange a faixa sedimentar costeira de 130 km sendo limitada ao sul pelo Lineamento Pernambuco nas proximidades de Recife-PE, e ao norte pela Falha de Mamanguape localizada na porção setentrional de João Pessoa-PB (BARBOSA et al., 2003). A área emersa da Bacia da Paraíba apresenta uma espessura de depósitos sedimentares em torno de 300 m. na linha de costa, não havendo grabens profundos, como é o caso da Bacia

Pernambuco. Essa bacia apresenta-se dividida em três sub-bacias: Olinda, Alhandra e Miriri, separadas, respectivamente, pelas falhas de Goiana e Itabaiana- Pilar (BARBOSA; LIMA FILHO, 2005). O litoral do município de Goiana está compreendido na Sub-bacia Olinda.

Segundo Oliveira (2003) estratigraficamente o pacote sedimentar da referida bacia engloba três unidades, sendo elas respectivamente da base para o topo: Grupo Paraíba, Formação Barreiras e Coberturas Quaternárias, que repousam discordantemente sobre o embasamento cristalino. O Grupo Paraíba de idade Cretácea- Paleocênica é constituído por quatro formações: Formação Beberibe, Formação Itamaracá, Formação Gramame e Formação Maria Farinha.

O Embasamento Cristalino é constituído por gnaisses, migmatitos, xistos e granitos, de idade Pré-Cambriana e apresenta-se cortado por grandes falhas transversais (CPRH, 2003). Dispondo-se sobre ele está a Formação Beberibe, de constituição arenítica continental com caráter predominantemente fluvial e às vezes estuarino (OLIVEIRA, 2003). Em seguida está a Formação Itamaracá o qual corresponde à transição para uma fase deposicional marinha, sendo constituída por arenitos calcíferos cinza a creme (BARBOSA et

al., 2003; OLIVEIRA, 2003; SANTOS, 2007).

Sobre a Formação Itamaracá encontra-se a Formação Gramame, cuja deposição é associada à fase marinha transgressiva do Cretáceo Superior, e é formada por calcários margosos a argilosos, de coloração cinza. Esta formação origina um modelado geomorfológico constituído por colinas com encostas de média e baixa declividade ou, mais freqüentemente, circunda os tabuleiros (CPRH, 2003; OLIVEIRA, 2003). Sobrepondo-se a ela, está a Formação Maria Farinha, um calcário com elevado teor fossilífero disposto, de idade Terciária (Paleoceno-Eoceno). Apresenta-se sob a forma de ocorrências isoladas associadas à falhamentos localizados dentre outras áreas, nos morros situados entre Catuama e Ponta do Funil (capeada pela Formação Barreiras) e na Ilha de Itamaracá (BARBOSA et al., 2003; CPRH, 2003).

Recobrindo essas formações mais antigas está a Formação Barreiras. Sendo considerada de idade Plio-Pleistocênica, é constituída por sedimentos areno-argilosos não consolidados, de origem continental. Seus sedimentos apresentam-se quase não alterados diagenéticamente, e tem como superfície de deposição um relevo de erosão, tendo sido depositados durante um período de clima seco, provavelmente no semiárido. Constitui uma faixa mais ou menos contínua, ou formando ilhas sobre os sedimentos cretáceos. O relevo elaborado a partir de seus sedimentos é constituído por tabuleiros cuja altitude varia de 40 a 50 m. próximo à planície costeira (CPRH, 2003; OLIVEIRA, 2003).

Os depósitos quaternários são constituídos por sedimentos terrígenos (areias, argilas e conglomerados), e correspondem a sequências aluvionares ou elúvio-coluvionares (ALCANTARA; TORRES; LIMA, 2014). A CPRH (2003) enumerou os sedimentos quaternários de origem marinha, fluvial ou mista para o Litoral Norte de Pernambuco. Os mesmos compreendem:

 depósitos aluviais ou aluviões: são compostos de areias, cascalhos e argilas, de origem continental, transportados pelos rios e depositados ao longo do canal fluvial. Os depósitos mais expressivos ocorrem dentre outras áreas na planície dos rios Tracunhaém e Capibaribe Mirim, afluentes do rio Goiana (no trecho localizado no município de Goiana) e Goiana- Megaó (na ilha de Tiriri);

 depósitos de brejo ou pântano: compostos por areia, argila, matéria orgânica e grande quantidade de fragmentos de vegetais, ocupam áreas topograficamente deprimidas da planície flúvio-lagunar, situadas na porção interna dos estuários, a montante dos manguezais, apresentam-se em geral recobertos por uma vegetação densa, própria de áreas litorâneas permanentemente encharcadas. No Litoral Norte, estão expressos em alguns trechos como às margens dos rios Goiana e Tracunhaém;

 depósitos de mangue: constituído por sedimentos síltico-argilosos com grande quantidade de matéria orgânica, ocorrem nas áreas sujeitas à ação das marés. Intercalados nesses depósitos ocorrem com freqüência os apicuns. Entre os depósitos de mangue mais extensos dessa área estão os localizados no estuário dos rios Goiana- Megaó e Itapessoca;

 terraços marinhos: são depósitos de areias quartzosas inconsolidadas que ocorrem tanto na porção interna da planície costeira - terraços marinhos pleistocênicos - como na porção externa desta - terraços marinhos holocênicos-, estando sua origem vinculada às flutuações do nível relativo do mar durante o Quaternário. Os primeiros ocorrem ora isolados, ora no sopé das formações mais antigas e apresentam altitudes que variam de 3 a 8 m. Já os segundos apresentam-se de forma contínua, paralelos à linha de costa e com altitudes médias que variam de 1 a 3 m. acima do nível da preamar, estando, em alguns trechos, separados dos primeiros, por pequenos rios localmente denominados “maceiós”. Dente os mais expressivos terraços marinhos do Litoral Norte estão os localizados entre a vila de Ponta de Pedras e os morros ao sul de Catuama;

 praias: constituídas por areias médias e finas, esbranquiçadas e incoerentes, são depositadas principalmente por ação das ondas, atingindo cotas máximas em torno de 2 m. Margeiam externamente os terraços marinhos holocênicos. No Litoral Norte, as praias são, em geral, estreitas e apresentam vários trechos submetidos a processos de erosão acentuada ou

forte, a exemplo dos trechos que se estendem da igreja de Carne de Vaca até a foz do rio Megaó e do setor sul da Praia de Tabatinga até a extremidade sul da Praia de Ponta de Pedras;  recifes de arenito (beachrocks) e recifes orgânicos: são formações naturais que atingem em alguns pontos a face de praia atual como em Ponta de Pedras, e mergulham sob a planície costeira. Os beachrocks formam linhas quase contínuas e normalmente formam duas ou três linhas. Já os recifes orgânicos (coralígenos e algálicos) ocorrem sobre bancos de arenito. Essas formações favorecem a prática da pesca artesanal ao propiciarem a existência, na plataforma continental, de uma zona interna denominada “mar-de-dentro” ou plataforma interna;

 flechas litorâneas: a sua origem pode estar relacionada ao encontro das águas fluviais com as correntes de deriva litorânea. Essa feição é representada pela Coroa do Avião, uma ilhota alongada disposta à desembocadura sul do Canal de Santa Cruz.