• Nenhum resultado encontrado

Contexto histórico, político e educacional do Estado do Acre antecedente às reformas

CAPÍTULO 1 – O MOVIMENTO DAS REFORMAS E DAS MUDANÇAS

1.2 Contexto histórico, político e educacional do Estado do Acre antecedente às reformas

Será apresentado nessa seção uma breve contextualização histórica, política e educacional do Acre que antecedeu às reformas e às políticas implementadas, nessa última década, pelo governo do Estado e, assim, analisar, com mais propriedade, os resultados e os efeitos produzidos por esse processo. No entanto, não se pretende fazer uma análise histórica exaustiva, e sim, apenas esboçar os elementos considerados necessários para se compreender o direcionamento tomado pelo governo na área educacional, para enfrentar os desafios da qualidade de ensino no Estado.

O Estado do Acre é um dos mais novos da Federação, possuindo menos de cinquenta anos. Na condição de território, foi anexado ao Brasil em 17 de novembro de 1903, sendo, anteriormente, uma área pertencente à Bolívia que foi negociada e comprada pelo governo brasileiro. Sua elevação à Estado só ocorreu em 1962, no governo João Goulart5. Seu nome tem origem no termo "Aquiri", que significa “rio dos jacarés” na língua nativa dos índios Apurinãs que habitavam a região que era banhada pelo referido rio. Os exploradores da região, ao transcreverem o nome do dialeto indígena, deram origem ao nome Acre.

Localizado na parte mais ocidental do Brasil, o Acre possui uma área territorial de 164.221,36 Km2 e limita-se nacionalmente com os Estados do Amazonas e de Rondônia e internacionalmente com a Bolívia e o Peru. Residem, no Acre, 655.385 pessoas distribuídas equitativamente por sexo, 50,20% do sexo masculino e 49,80%, feminino (IBGE, 2007). Com 22 municípios, as cidades mais populosas são, respectivamente, Rio Branco, a capital do

4

Nova Gestão Pública.

5 O Acre passou à categoria de Estado em 15 de junho de 1962, por meio da Lei n° 4.070, assinada pelo

Estado, em que se concentra quase a metade da população (290.639 hab.), Cruzeiro do Sul (73.948 hab.), Sena Madureira (34.230 hab.), Tarauacá (32.171 hab.) e Feijó (31.288 hab.).

A partir de 1999, os 22 municípios foram politicamente divididos em regionais de desenvolvimento que correspondem a cinco microrregiões estabelecidas pelo IBGE: Alto Acre, Baixo Acre, Purus, Tarauacá/Envira e Juruá6. Os municípios das regiões do Juruá (Cruzeiro do Sul, Mâncio Lima, Marechal Thaumaturgo, Porto Walter, Rodrigues Alves), de Tarauacá/Envira (Feijó, Jordão, Tarauacá) e de Purus (Manuel Urbano, Santa Rosa do Purus, Sena Madureira,) apresentam uma realidade social com grandes desafios a serem enfrentados nos setores da economia, saúde e educação. Com exceção do município de Sena Madureira, distante 137 km da capital Rio Branco, o acesso a todos os demais é realizado por via aérea ou de navegação fluvial em grande parte do ano. O acesso por terra só é permitido durante os meses do verão amazônico, junho a agosto, pela Rodovia BR 364 que liga as regiões do Juruá e Tarauacá/Envira ao restante do Estado.

O processo de incorporação do Acre ao Brasil é, sobretudo, resultado da ocupação de suas terras por imigrantes nordestinos, principalmente cearenses, que, fugindo da seca, foram atraídos pela intensa produção do látex na região. Até 1850, as terras que compõem o atual Estado do Acre apareciam na cartografia boliviana como “Tierras no Discubiertas” e, portanto, habitadas por tribos indígenas e nômades. Em 1867, durante a Guerra do Paraguay, a Bolívia e o Brasil, por meio de seus diplomatas, e desconhecendo que a ocupação dessa região por brasileiros era um fato já consumado, assinaram um acordo denominado "Tratado de Ayacucho", também conhecido como "Tratado da Amizade", em que as terras do Acre ficavam dentro do território boliviano. Tal fato eclode uma série de conflitos pela posse dessa região, que culminaria com a "Revolução Acriana".

Em 1903, a assinatura do "Tratado de Petrópolis" pôs fim ao conflito entre bolivianos e brasileiros e, finalmente, o Acre é anexado ao Brasil, mas na condição de território. O Acre foi o maior produtor de borracha, exportava esse produto para os principais países industrializados, mas, por ser território, toda a arrecadação dos impostos ia para os cofres federais. Diante dessa situação, surgiram os movimentos autonomistas, marcantes na história do Acre. Os movimentos autonomistas eram movimentos de contestação, uns mais radicais outros mais brandos, que reivindicavam a autonomia política e econômica do Acre, defendida

6

Essa divisão obedece às características das bacias hidrográficas e semelhanças regionais e visa garantir uma melhor gestão administrativa do Estado (Fonte: ZEE/AC, 1999).

por certos grupos internos (oligarquias locais) que começaram a se organizar com esse intuito. Em 1904, tem início, na Cidade de Cruzeiro do Sul (localizada no Departamento do Juruá), o chamado “Movimento Autonomista do Alto Juruá” integrado pelos comerciantes e personalidade locais. Segundo Silva (2002), estes foram os primeiros ecos contestatórios que conseguiram chegar à capital federal e provocar o apoio de parlamentares a esse movimento, levando à apresentação no Congresso Nacional de dois Projetos de Lei relativos à autonomia do Acre, um em 1908 e outro em 1910. Sem nenhum interesse por parte do governo federal em dar autonomia ao Acre, ambos os projetos foram engavetados e esquecidos.

Somente em 1962, após 58 anos de luta do movimento autonomista, o presidente da República, João Goulart, assinou, em Brasília, a Lei (nº 4.070) que elevou o território do Acre à categoria de Estado, garantindo, assim, a sua autonomia para escolher seus dirigentes, para arrecadar impostos e para estabelecer suas leis. No primeiro dia de março de 1963 foi promulgada a primeira constituição do Estado, tomando posse, nesse dia, o primeiro governador constitucional, o professor de Filosofia José Augusto de Araújo, contrariando todas as expectativas e prognósticos que davam como certo a eleição do outro candidato José Guiomard Santos, que, por ironia, foi o autor, como deputado, do Projeto de Lei que elevava o Território à categoria de Estado e que resultou na Lei sancionada pelo então Presidente da República.

Entretanto, o primeiro governador do Estado do Acre (1963-1964) teve um mandato relâmpago, apenas 14 meses, sendo deposto pelas forças militares brasileiras em 1964, após o golpe. Por quase vinte anos (1964-1982), o Estado do Acre foi governado por políticos nomeados pelos militares. Todos eles pertencentes à ARENA (Aliança Renovadora Nacional), partido que dava sustentação ao governo militar. Essa conjuntura histórica e política teve repercussões desastrosas no quadro educacional do Estado, muito delas decorrentes dos reduzidos repasses financeiros do Governo Federal, que, por serem insuficientes, não oportunizaram o crescimento e desenvolvimento adequado da educação.

A formação de professores no Estado do Acre, até 1964, era realizada apenas pelo único curso normal colegial existente na capital. No interior do estado, formavam-se regentes de ensino primário. Segundo a Lei Orgânica do Ensino Normal nº 8.530/1946, o Ensino Normal era ministrado em dois ciclos. O primeiro ciclo destinava-se a formação de regentes de ensino primário e tinha duração de quatro anos, correspondendo ao curso ginasial, e o segundo ciclo incluía a formação de professores primários, em três anos de ensino colegial (hoje ensino médio) para quem já tinha o curso ginasial. A criação dos primeiros cursos superiores no Acre não atendeu à necessidade de expansão da escolarização da educação

básica, pois priorizou-se a formação de profissionais qualificados para atuar no poder judiciário e no sistema de segurança civil, por meio da criação do Curso de Direito em 19647– primeiro curso superior do Estado do Acre. Como o conhecimento das leis sempre foi o caminho por excelência para se ocupar cargos públicos, a implantação do Curso de Direito foi escolhida por satisfazer as exigências e os interesses da burocracia local. O Curso de Direito veio atender às necessidades de ordenamento jurídico, mas o Acre precisava atingir sua consolidação político-administrativa por meio de um quadro burocrático de nível superior com formação em outras áreas. Assim, foi criada a Faculdade de Ciências Econômicas pela Lei Estadual nº 195, de 13 de setembro de 1968, que começou a funcionar em 1969.

No início da década de 1970, estudantes secundaristas que já atuavam no magistério e os professores da rede estadual de ensino, que visavam ocupar cargos importantes na administração pública do Estado, passaram a reivindicar a criação de cursos universitários nas áreas ligadas à educação, mais especificamente à formação de professores. De acordo com Farias (1996, p. 113) “a busca de graus escolares cada vez mais elevados, além de afastar as ameaças de competidores alheios à educação e dos concorrentes internos, constituía-se em requisito, dentro da nova realidade do Estado, indispensável à ascensão social”.

Em 1970, Jorge Kalume, governador do Estado indicado pelo Presidente Castelo Branco, cria o Centro Universitário do Acre composto pelos seguintes cursos: Letras, Pedagogia e Matemática, de licenciatura plena, e Estudos Sociais, de licenciatura curta. Posteriormente, em 22 de janeiro de 1971, faltando dois meses para terminar o seu governo, Jorge Kalume transformou o Centro Universitário do Acre em Universidade do Acre. As Faculdades de Direito e de Ciências Econômicas foram, nessa data, incorporadas à nova Universidade. O reconhecimento da Universidade pelo Ministério de Educação e Cultura foi feito em 29 de abril de 1971 e sua federalização ocorreu em 28 de outubro de 1974, pelo Decreto-Lei nº 74.706.

Foi dada maior ênfase à política de formação de professores, a partir das exigências da Lei nº. 5.692/71, levando a Secretaria de Educação e Cultura do Estado, em 1973, a firmar um convênio com a Universidade do Acre para oferecer cursos de licenciatura de curta duração, em regime parcelado8, para professores da capital e sem titulação. Em 1980, esses cursos também foram oferecidos aos municípios de Xapuri e Cruzeiro do Sul.

7

No dia 25 de março de 1964, por meio do Decreto Estadual nº 187, publicado no Diário Oficial do Estado, de 4 de abril do mesmo ano, foi criada a Faculdade de Direito (Lei Estadual nº 15, de 8 de setembro de 1964), que seria reconhecida pelo Parecer nº 660, de 4 de setembro de 1970, do Conselho Federal de Educação e pelo Decreto Presidencial nº 67.534, de 11 de novembro de 1970.

8 Regime em que o curso é ministrado somente nos períodos de recesso escolar, em duas etapas, ao longo do ano

Essa política de qualificação de professores não obteve o êxito esperado pelo governo. Para Edir Oliveira (2000), os professores que se qualificavam acabavam sendo atraídos pela oportunidade de empregos federais, que absorviam nos concursos públicos os profissionais mais capacitados. Outro fator que provocou a fuga dos professores, segundo esta autora, foi decorrente da política adotada pelo Estado que, ao optar pela regularização das contribuições previdenciárias do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e do Salário-Família, não atualizou os salários dos servidores públicos do magistério. Os baixos salários, só no quadriênio de 1975-1978, levaram quase 2.000 professores a solicitarem rescisão de contrato de trabalho. Observa-se, também, que grande parte dos professores do meio rural, que foram qualificados nos cursos parcelados, transferiu-se para a cidade.

Políticas educacionais emergenciais e aligeiradas no campo da formação de professores significaram apenas ações paliativas de qualificação profissional e não uma política concreta e consequente. Ao final de quase duas décadas de regime militar, em que o Estado foi administrado por governadores indicados (1964-1982), o legado educacional era dramático. Mazelas educacionais de toda ordem assolavam o Estado do Acre no final desse período. Segundo Albuquerque Neto (2007)9, ao fim desses governos, o índice de analfabetismo no Estado do Acre era em torno de 70%; no meio rural, a escolarização não chegou a 25%; o índice de professores leigos no Estado era superior a 60%, pois, como não prevalecia o critério de qualificação profissional para o exercício do magistério e, sim, os critérios de caráter político-partidário na época, tal política clientelista contribuiu bastante para o quadro caótico do corpo docente no Estado, não havendo nenhuma política permanente de formação de professores primários e nem interesse em adotar concursos públicos para o ingresso de professores; o ensino noturno não absorvia a demanda escolar do aluno- trabalhador; a rede pública de ensino apresentava um déficit de 2.300 salas de aula e de 3.100 professores; 32.000 mil crianças e 53.000 jovens e adultos estavam fora da escola; 25% das crianças dos 7 aos 14 anos, faixa etária escolar obrigatória constitucionalmente, não eram atendidas pela rede escolar; juntas a reprovação e a evasão escolar representavam um índice de 57%. Escolas fechadas ou com condições precárias de funcionamento, deteriorização dos salários dos professores e completa desmobilização dos profissionais da educação também são características da educação pública do Estado nesse período. A reversão de tal situação tornou-se urgente.

9 Algumas das informações sobre a política educacional do Acre e citadas ao longo desse trabalho constam da consulta da obra de Albuquerque Neto (2007) intitulada “Política Educacional no Estado do Acre (1963/1995): a trajetória da formação docente”, uma das poucas produções da área, relativas às pesquisas produzidas sobre o

Com a abertura política e o retorno das eleições diretas em novembro de 1982 para governadores, senadores, prefeitos e deputados federais e estaduais10, o Estado do Acre passou a ser governado, inicialmente, por dois mandatos consecutivos do Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB)11.

A política educacional do primeiro governo partiu de um diagnóstico da realidade da educação em cada município, o que veio evidenciar enormes disparidades e contrastes no desenvolvimento do ensino em todo o Estado, não somente no que se referia à aplicação de recursos financeiros, mas, principalmente, nos índices de atendimento à população escolar.

Em relação ao quadro de professores da rede estadual de ensino (cerca de 3 mil professores), que atuavam no ensino de 1º grau, foi observado que: apenas 38% possuíam formação para o magistério na modalidade normal, nível médio; mais de 45% dos professores não tinham curso de formação de professores e um pouco mais de 10% tinham nível superior. Esse último dado é decorrente da estratégia de qualificação de professores utilizada pelo Estado, entre as quais estava a complementação pedagógica (Esquema I) para 40 bacharéis que atuavam como professores na rede de ensino da capital, estabelecendo para tal, um convênio com a Universidade Federal do Acre (ALBUQUERQUE NETO, 2007)12.

No segundo mandato do PMDB (1987-1990), marcado por confrontos entre governo e sindicatos dos servidores públicos, a política educacional, segundo o Plano Estadual de Educação (PEE-AC, 1989-1991), concentrava-se basicamente em três linhas de ação: universalização da educação básica, melhoria na qualidade de ensino e implantação da gestão democrática nas escolas. Ao término desse mandato, o quadro educacional encontrava-se da seguinte forma: o ensino fundamental obrigatório só atendia a 39% da população escolarizável; apenas 17% dos alunos matriculados na 1ª série conseguiam concluir a 8ª série do antigo 1º grau; o índice de distorção idade-série chegava a 79% no ensino fundamental (1º grau); o ensino médio (antigo 2º grau) só conseguia atender a 10% da população escolarizável

10 As eleições diretas para Presidente da República só iriam ocorrer em novembro de 1989, apesar do movimento

civil de reivindicação por eleições presidenciais diretas no Brasil, conhecido como Diretas Já, em 1984. Em abril de 1984, a emenda das eleições diretas foi votada, sendo rejeitada pela Câmara dos Deputados. O último Presidente do Brasil, eleito de forma indireta pelo Colégio Eleitoral, em janeiro de 1985, foi Tancredo Neves que não chegou a tomar posse, pois veio a falecer no dia 21 de abril. Assumiu, então, seu vice, José Sarney.

11 Governo Nabor Teles da Rocha Júnior (1983-1987) e Flaviano Flávio Baptista de Melo (1987-1991). 12

De acordo com Albuquerque Neto (2007), esse convênio não contemplou os bacharéis que atuavam no interior do Estado, pois não representavam um número tão significativo, visto que no interior, o número de professores leigos formados pelo "Projeto Logos II" era bastante expressivo. O Projeto Logos II era voltado para a qualificação de professores leigos, em nível de 2º grau e ocorria mediante o ensino a distância e o uso de módulos de ensino. As atividades de qualificação de professores por meio desse projeto foram encerradas no Estado do Acre pelo Conselho Estadual de Educação, por meio da resolução CEE-AC nº 191, em 15 de outubro de 1993.

entre 15 a 18 anos do meio urbano da capital, e sequer existia essa etapa de escolarização na maioria dos municípios; o índice de analfabetismo, apesar de ter melhorado em relação ao período dos governos indicados pelos militares, ainda atingia quase a metade da população.

Com o desgaste nacional sofrido pelo PMDB e os problemas internos no partido local, somados à conjuntura social acriana marcada pelo descontentamento dos movimentos populares e dos sindicatos profissionais (em especial, a Associação dos Professores do Acre – ASPAC), pelas denúncias de corrupção no e do governo anterior, a população elegeu

como Governador do Estado do Acre, Edmundo Pinto, pertencente ao Partido Democrático Social (PDS) – partido herdeiro e sucessor da ARENA – para o quadriênio 1991-1994 (ALBUQUERQUE NETO, 2007).

Ao assumir o governo em 1991, como foi visto anteriormente, os indicadores educacionais do Estado assinalavam altíssimos índices de analfabetismo, evasão, reprovação, além de distorção idade-série e professores sem titulação, entre outros. A política educacional do Governo Edmundo Pinto consistiu, então, na elaboração de diretrizes tendo em vista os graves problemas existentes na educação do Estado. O Censo Demográfico, realizado pelo IBGE em 1991, indicava que 42,36% da população do Estado do Acre não sabia ler e escrever. A taxa de analfabetismo das crianças de 7 aos 14 anos de idade era de 45,2% e entre os jovens de 15 a 24 anos era de 26,8%. Já entre as pessoas com mais de 15 anos de idade e com menos de 4 anos de estudo, o analfabetismo funcional era de 54,6%. Aproximadamente 37% das crianças de 7 aos 14 anos não frequentavam a escola. Os índices de distorção idade- série, no ensino fundamental, chegavam quase a 40% do número de estudantes matriculados e a taxa de evasão no ensino fundamental ultrapassava esse índice. O desempenho escolar também era baixo, pois de cada 100 alunos matriculados na 1ª série do 1º grau (atualmente ensino fundamental) apenas 56% eram aprovados, ou seja, dos 16.403 alunos aprovados, somente 8.434 alcançavam a 4ª série e 2.573 concluíam o ensino fundamental. Em outras palavras, a cada 100 alunos aprovados na 1ª série do ensino fundamental, 85 não conseguiam concluí-lo (Cf. CENSO DEMOGRÁFICO/IBGE, 1991).

Em relação ao quadro de professores e sua respectiva qualificação, tinha-se o seguinte panorama: do total das funções docentes no ensino fundamental apenas 15,2% possuíam curso superior completo e 22% possuíam apenas o ensino fundamental completo. No ensino médio, as funções docentes com curso superior completo eram de 64%, o que significa uma condição menos grave do que a existente no ensino fundamental (ALBUQUERQUE NETO, 2007).

Porém, as metas educacionais elaboradas para reverter o quadro educacional descrito acima, não foram alcançadas na gestão de Edmundo Pinto, pois esse governador foi

assassinado, antes mesmo do cumprimento de metade do seu mandato13. Seu vice, Romildo Magalhães, assume o governo e ao se declarar um semianalfabeto, que tinha chegado ao poder do Estado como governador estabeleceu, logo de início, uma relação conflituosa com o Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Estado do Acre (SINTEAC), antiga Associação dos Professores do Estado do Acre (ASPAC). No final do seu governo, apenas 10% dos jovens eram atendidos no ensino médio e no ensino fundamental, apenas 40%; o índice de analfabetismo não foi alterado e no meio rural, esse índice ultrapassava 80% da população residente no Estado; no meio rural, 70% das escolas eram unidocentes e multisseriadas e nelas lecionavam mais de 60% de professores leigos (ALBUQUERQUE NETO, 2007).

Para o quadriênio 1995-1998 a população acriana elege o Governador Orleir Messias Cameli, empresário e ex-prefeito do município de Cruzeiro do Sul14, na época pertencente ao Partido Progressista Reformador (PPR), atual Partido Progressista (PP). Orleir Messias Cameli assume o governo com três meses de salários atrasados dos servidores públicos, dívidas do Estado com o INSS, FGTS, dentre outras. Esse quadro caótico foi herdado de seu antecessor, Romildo Magalhães, que só não foi cassado, com o pedido de impeachment pela Assembleia Legislativa, por causa do governo ter a maioria nessa instância do legislativo.

O governo Orleir Cameli, em seu plano plurianual para o quadriênio 1996-1999, o qual estabelecia os macro-objetivos e macro-estratégias da administração pública estadual, identificava os seguintes problemas educacionais: índice elevado de analfabetismo de toda a população residente no Estado, chegando a 42%; insuficiência de salas de aula; deficiência dos recursos humanos, materiais e técnicos; inadequação dos currículos escolares às peculiaridades regionais e locais; ineficiência do planejamento da ação educativa, principalmente, no que tange aos métodos e técnicas de ensino e processos de avaliação do rendimento escolar; ineficiência na distribuição da merenda escolar e do material didático, que dificilmente chegavam a todas as escolas, sobretudo pelas distâncias e dificuldades de acesso; carência de bibliotecas etc. (Cf. Lei nº 1.162/1995).

Diante da situação na qual se encontrava a educação no Estado, o governo elaborou suas metas, visando reduzir a taxa de analfabetismo; proporcionar acesso, permanência e