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A política de formação dos professores acrianos e a ênfase nos programas especiais no

CAPÍTULO 1 – O MOVIMENTO DAS REFORMAS E DAS MUDANÇAS

1.5 A política de formação dos professores acrianos e a ênfase nos programas especiais no

Os desafios colocados pela realidade de ensino no Estado do Acre levaram a Secretaria de Educação a implantar um sistema de formação de profissionais da educação que somava mais de quarenta projetos voltados tanto para a formação dos professores leigos, quanto para a formação inicial e continuada dos professores que tinham apenas o magistério em nível médio.

Um dos graves problemas do Acre no campo da formação docente era o número de professores “leigos”, que chegava a 19%, segundo dados do INEP (1999). Esses professores possuíam apenas o ensino fundamental completo ou incompleto, portanto, não tinham nem a formação mínima exigida para exercer o magistério. Até o ano 2000, esses dados pouco sofreram alterações. É nesse ano que se tem início uma ampla política de formação de professores no Estado.

Inicialmente, foi implantando o Programa de Formação de Professores em Exercício (Proformação) resultante da demanda do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério (FUNDEF), criado em 1996 pela Emenda Constitucional nº 14 e regulamentado pela pela Lei nº 9.424/96 que, em seu artigo 7º, parágrafo único, estabelecia que nos primeiros cinco anos, a contar de sua publicação, parte dos recursos da parcela de 60% (sessenta por cento) destinada à remuneração dos profissionais do Magistério deveria ser usada para capacitação de professores leigos. Esse curso teve uma duração de dois anos, iniciando-se em 2000 e encerrando-se no final de 2001.

O Programa de Formação de Professores em Exercício (Proformação) foi desenvolvido pelo Ministério da Educação e oferecia um curso de magistério em nível de ensino médio aos professores leigos em exercício. O curso era proposto em módulos com o currículo organizado em eixos articuladores. Esse programa funcionava na modalidade de educação à distância, utilizando-se de materiais autoinstrucionais (impressos e vídeos), especialmente produzidos para o curso, com atividades individuais e coletivas. Utilizava-se de um serviço de apoio à aprendizagem que era realizado por uma equipe de professores formadores das agências formadoras (AGFs) e pelos tutores. No Acre funcionaram duas dessas agências, sendo uma localizada em Rio Branco e a outra em Cruzeiro do Sul, abrangendo, portanto, dois pólos de formação no Estado. Essas agências de formação funcionavam em escolas de ensino médio do Estado que tinham o curso de magistério regular (Curso Normal), que no caso do Acre, já se encontram em fase de extinção.

Segundo Placco, André, e Gatti (2003), esses professores, que estavam no exercício da docência, sem formação específica, conseguiram, por intermédio desse curso se desenvolver na direção de uma profissionalização mais bem construída. Para isso, foram determinantes o currículo em que as práticas pedagógicas foram tomadas como eixo articulador dos conhecimentos, os materiais de suporte de boa qualidade, o acompanhamento contínuo dos tutores e o contato com os professores formadores.

No Acre, alguns fatores dificultaram o processo de formação, de acordo com o que o desenho do programa exigia. Um exemplo disso foi o nível de formação dos tutores, visto que, aqueles que possuíam nível superior não queriam se deslocar para atender os professores cursistas nas localidades mais distantes e adentradas na floresta. O deslocamento desses professores cursistas nos períodos de formação presencial também foi outra dificuldade, devido à distância em que os mesmos moravam e trabalhavam. A maioria desses professores leigos trabalhava em escolas rurais e em localidades de difícil acesso, algumas delas localizadas próximas à fronteira com o Peru. Mesmo com esses problemas que dificultaram, de certa forma, o desenvolvimento do programa, segundo os dados da própria Secretaria de Estado de Educação do Acre, o índice de aprovação foi de 89,2% no Estado, qualificando 1.634 professores em nível médio (magistério) de um total de 1.844, praticamente “zerando” o indicador de professores leigos no Estado.

Outro problema, presente no quadro educacional do Estado, era a ausência de professores com nível superior. Esse dado foi considerado pelo governo, como o fator principal do desempenho insatisfatório dos alunos nas avaliações do SAEB e da dificuldade da universalização dos anos finais do ensino fundamental e do ensino médio, pois não se tinha no Estado, nos início dos anos 2000, um número suficiente de professores com formação adequada para neles atuar. Diante desse fato, o Estado acabou por firmar convênio com a Universidade Federal do Acre e implementou vários programas de formação inicial de professores para a educação básica. A primeira fase desse projeto ocorreu entre 2000 e 2004, com o Programa Especial de Formação de Professores para a Educação Básica (PEFPEB) e foi destinado aos professores em efetivo exercício da docência, sendo sua clientela selecionada entre os professores da Rede Pública Estadual e Municipal. À exceção da capital, nos demais municípios foram abertas vagas para candidatos da comunidade que não eram docentes da rede, iniciativa que promoveu a interiorização da educação superior no Acre.

Os cursos foram realizados em nove municípios acrianos, num total de 37 turmas, distribuídas entre os municípios de Rio Branco, Tarauacá, Feijó, Sena Madureira, Brasiléia, Plácido de Castro, Senador Guiomard, Xapuri e Cruzeiro do Sul. O programa abrangeu seis

cursos em regime modular nas áreas de Matemática, Geografia, Educação Física, História, Letras e Biologia e qualificou 1.526 professores que atuavam nas escolas públicas de Educação Básica do Estado do Acre, conforme os dados da Secretaria de Educação.

A segunda fase desse programa teve início em 2001 com a implementação do Programa Especial de Formação de Professores para a Educação Básica – Educação Infantil e Séries Iniciais do Ensino Fundamental – Licenciatura Plena em Pedagogia que se encerrou em 2004. Esse projeto foi implementado em todo o Estado, mediante a implantação de pólos formadores com o objetivo de qualificar em nível superior mais de 2.800 professores que atuavam na educação infantil e anos iniciais do ensino fundamental das escolas das redes estadual e municipais.

Nesses processos de formação, foram atendidos, prioritariamente, os professores que trabalhavam no meio urbano, tanto na capital, quanto nos municípios do Estado. Enquanto isso, os professores que tinham concluído o Proformação, desde o final de 2001, ainda esperavam por uma oportunidade de cursarem uma graduação. Tal oportunidade surgiu com o Programa Especial de Formação de Professores para a Educação Básica da Zona Rural que atende, atualmente, 2.389 professores nas seguintes Licenciaturas: Letras/Português, Ciências Biológicas, Matemática, História, Geografia, Educação Física e Pedagogia. Os cursos desse programa têm duração de cinco anos, tendo iniciado em 2007 com a previsão de término em 2011.

Também foi estendido, em 2006, aos professores que trabalham em localidades de difícil acesso31, o Programa Especial de Formação de Professores para a Educação Básica atendendo um total de 720 professores, em seis municípios do Estado e formando nos Cursos de Licenciaturas em Letras/Português, Ciências Biológicas e Matemática.

Em 2007 a Universidade Aberta do Brasil (UAB) começou a atuar no Estado com os cursos de Licenciatura em Pedagogia e Artes (Visuais, Teatro e Música), na modalidade a distância. Esses cursos são oferecidos pela Faculdade de Educação da Universidade de Brasília, atendendo cerca de 1.700 professores da rede pública de ensino municipal e estadual. Os cursos são ministrados nos pólos dos municípios de Rio Branco, Tarauacá, Brasiléia, Sena Madureira e Cruzeiro do Sul.

A política de formação de professores, desenvolvida no Estado do Acre nessa última década, possibilitou um avanço significativo no número de professores da área urbana com formação em nível superior que, segundo dados da própria Secretaria de Educação, passou de

31 Esses municípios localizam-se no meio urbano do Estado do Acre, caracterizando-se como “difícil acesso” por

28% em 1999 para mais de 90% hoje. A projeção da Secretaria de Estado de Educação é ter 100% de seus professores rurais e urbanos com formação de nível superior em 201132.

Além da política de formação inicial de professores, a formação continuada também se constituiu em ação efetiva, no movimento de reformas educacionais promovidas ainda na primeira gestão da Frente Popular do Acre, governo Jorge Viana. Entre 1999 e 2002, os programas de formação continuada envolveram um grande volume de projetos voltados para uma demanda comum – a melhoria da qualidade de educação do Estado. Pode-se citar alguns deles, tais como: os Parâmetros Curriculares em Ação, Programa de Formação para Professor Alfabetizador (PROFA), Programa de Formação Continuada em Gestão Escolar (PROGESTÃO), Programa de Aceleração de Aprendizagem, Programa de Aprendizagem Escolar (GESTAR), Programa Escola Ativa etc.33

Considerando todas as políticas educacionais do processo de reforma educacional do Acre, desde 1999, no tocante à formação de professores, pode-se afirmar que, atualmente, o Estado não apresenta mais nenhuma demanda. Prova disso é que, diante do Plano Nacional de Formação de Professores da Educação Básica do Ministério da Educação, em colaboração com as secretarias de educação dos estados e municípios e as instituições públicas de educação superior, das 27 unidades da Federação, além do Distrito Federal, o Acre não apresenta demandas em relação a essa política.

Do conjunto de iniciativas presentes nas ações e estratégias que foram articuladas no plano de reformas e mudanças educacionais no Acre, nessa última década, segundo Almeida Júnior (2006), a prioridade absoluta da Secretaria de Educação foi o investimento em pessoas, especialmente, dos professores e dirigentes das escolas, entendendo que esses profissionais são mais importantes no desafio proposto para alcançar melhores resultados educacionais do que as condições materiais. Diante disso, pode-se deduzir que as políticas públicas de formação de professores foram consideradas uma questão chave no processo de reformas frente aos desafios colocados pela realidade de ensino do Estado do Acre, obtendo um significativo avanço nesse campo.

32

Cf. Agência de Notícias do Acre, 07/01/2009.

33 Todos os programas citados são de iniciativa do Ministério da Educação (MEC) com adesão do Governo do

1.6 A política de carreira e remuneração dos professores da rede pública de ensino do