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4. DISCUSSÃO 161 1 PERCEÇÃO GERAL SOBRE O PNCPI

1.2.3. Contexto Internacional

Na moderna sociedade globalizada e intensamente conectada, a proliferação de diferentes fontes de perigos sanitários aliada à facilidade da sua disseminação a velocidades vertiginosas só pode ser contrapesada através de uma verdadeira cooperação internacional, com vocação preventiva e reativa (Sousa, 2009). Em paralelo com o aumento do tamanho da população mundial, a procura do consumidor por uma maior variedade de alimentos está a crescer, o que implica uma cadeia alimentar mais longa e complexa (Fukuda, 2015).

As crises e escândalos alimentares, ocorridos principalmente a partir de meados de 1990, tiveram repercussões graves e negativas no mercado internacional de alimentos, perturbando o fluxo de comércio alimentar e a confiança dos consumidores. Para que este mercado não entrasse em colapso, de crise em crise, foram criados e acionados mecanismos que restabelecessem a dinâmica do ambiente institucional do mercado de alimentos, o que engloba entre outros, o setor público, organismos não governamentais e consumidores. Assim, garantir a

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inocuidade dos alimentos passou a ser uma meta conjunta de todos os agentes económicos envolvidos neste mercado (Ortega & Borges, 2012).

Hoje, os ingredientes alimentares vêm, muitas vezes, de vários países, em que cada fração viajou milhares de quilómetros de um campo ou fábrica. Uma contaminação numa extremidade da cadeia alimentar pode afetar populações no outro lado do mundo. Dada a interação de múltiplos atores separados por vastas distâncias e impactos potencialmente demorados, a cooperação multissectorial e internacional é essencial. A segurança dos alimentos deve ser reforçada em muitos países, mas nenhum país pode fazer isso sozinho (Fukuda, 2015).

A União Europeia (UE) assegura que as regras do comércio internacional contribuem para preservar as elevadas normas de segurança e qualidade. A UE é membro da World Trade Organization (WTO) - Organização Mundial do Comércio (OMC), cuja legislação consagra um eixo específico à segurança dos alimentos e à saúde pública através de um acordo sobre a aplicação de medidas sanitárias e fitossanitárias (acordo Sanitary and Phytosanitary Issues - SFS). Invocando este acordo, um país membro da OMC pode adotar medidas internas de proteção da saúde pública, caso prove cientificamente que um género alimentício proveniente de um outro país membro constitui uma ameaça para os seus cidadãos.

A UE ou os Estados Membros são também membros de outras instituições internacionais, que promovem a sanidade animal ou a segurança dos alimentos. “As mais importantes são a Comissão do Codex Alimentarius (CAC), sedeada em Roma e dependente da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) e a Organização Internacional das Epizootias (OIE) com sede em Paris.

O Codex Alimentarius, criado em 1963, é um Programa conjunto entre a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) e a Organização Mundial da Saúde (OMS), para elaborar e coordenar normas alimentares no plano internacional. As propostas centrais do Codex estão citadas no primeiro artigo do seu Estatuto: proteger a saúde dos consumidores e assegurar

práticas equitativas no comércio internacional de alimentos (Ortega & Borges, 2012).

A partir de 1995, com a criação da OMC e do Acordo sobre Medidas Sanitárias e Fitossanitárias, o Codex passou a integrar a agenda política internacional, fazendo parte de um poderoso instrumento legal para regulamentação do mercado de alimentos (Ortega & Borges, 2012).

O Codex Alimentarius define segurança alimentar como “garantir de que os alimentos não apresentam perigo para o consumidor quando são preparados e/ou consumidos de acordo com o uso para o qual foram destinados” (Monteiro, 2010). “É importante salientar que as normas, práticas e diretrizes do Codex atuam sobre todos os agentes económicos da cadeia produtiva agroalimentar, desde o produtor, transformador e distribuidor até o final da cadeia alimentar que é o consumidor final (Ortega & Borges, 2012).

A OMS, em colaboração com a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), têm tido um papel fundamental no desenvolvimento internacional de diretrizes para fortalecer e harmonizar os sistemas alimentares, nomeadamente através da gestão conjunta na Comissão do Codex Alimentarius (CAC). As Normas do Codex tornaram- se de facto, normas internacionais de segurança alimentar (Fukuda, 2015).

A decisão do Conselho de 17 de novembro de 2003, relativa à adesão da Comunidade Europeia à Comissão do Codex Alimentarius, como membro de pleno direito, “deveria contribuir para o reforço da coerência entre as normas, directrizes e recomendações e outras disposições adotadas pela Comissão do Codex Alimentarius, por um lado, e outros compromissos internacionais pertinentes da Comunidade Europeia, por outro”.

A OMS e a FAO também gerem a Rede Internacional de Autoridades de Segurança Alimentar - International Food Safety Authorities Network (INFOSAN), com abrangência mundial, conforme figura 2, que fornece informações oportunas durante emergências de segurança alimentar e ajuda os países na construção de sistemas fortes para evitar tais incidentes.

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Figura 2. International Food Safety Authorities Network (INFOSAN). 181 Estados Membros.

Disponível em http://www.who.int/foodsafety/areas_work/infosan/en

A OMS também instituiu a Rede Global de Infeções Transmitidas por Alimentos -

Global Foodborne Infections Network para promover a vigilância laboratorial integrada e

fomentar a colaboração multissectorial (Fukuda, 2015).

No Fórum Mundial de Autoridades de Regulamentação sobre a Segurança dos Alimentos - desenvolvimento de sistemas eficazes de segurança alimentar, organizado pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) e pela Organização Mundial de Saúde (OMS), Robert Brackett, Diretor do Centro de Segurança dos Alimentos dos Estados Unidos da América, referiu-se a que “nas últimas duas décadas o fornecimento de alimentos adquiriu uma dimensão verdadeiramente mundial. Com a globalização do fornecimento dos alimentos, as doenças transmitidas pelos mesmos converteram-se numa questão mundial, sendo necessária a cooperação internacional para lutar contra a contaminação alimentar” (FAO/OMS, 2004).

A FAO e a OMS organizaram em conjunto, uma série de conferências em diferentes regiões do Mundo, com o objetivo de apoiar os países membros no desenvolvimento de planos de ação nacionais para melhorar a segurança alimentar e promover a cooperação regional sobre esta temática. Estes eventos regionais são complementares ao Fórum Global de Reguladores, antes referido, periodicamente organizado pelas autoridades alimentares da FAO

e da OMS para facilitar o intercâmbio de informações e experiências entre as autoridades nacionais, no que concerne aos sistemas de gestão da segurança alimentar. Estas conferências permitem fornecer às autoridades reguladoras informações sobre a segurança dos alimentos em todas as regiões do mundo, fornecem a oportunidade de conhecer, discutir e trocar experiências sobre questões relacionadas com a segurança dos alimentos que são de interesse geral. Neste contexto, este ano, a 7 de abril de 2015, o Dia Mundial da Saúde, a Organização Mundial da Saúde (OMS) optou por se concentrar na segurança alimentar. “Há uma necessidade de recentrar a atenção e para dinamizar os compromissos em matéria de segurança dos alimentos - especialmente ações coordenadas e de cooperação e comunicação através das fronteiras.” (Fukuda, 2015).

Também a OIE, em resposta às exigências dos consumidores por alimentos seguros em todo o Mundo, está a trabalhar com organizações relevantes para reduzir os riscos de origem alimentar para a saúde humana devido aos perigos resultantes da produção animal. Em 2002, o Diretor Geral da OIE estabeleceu um grupo de trabalho permanente sobre Produção Animal e Segurança Alimentar (APFSWG) para coordenar as atividades de segurança alimentar da OIE. Este grupo inclui especialistas reconhecidos internacionalmente da Organização para a Alimentação e Agricultura das Nações Unidas (FAO), da Organização Mundial de Saúde (OMS) e da Comissão do Codex Alimentarius (CAC), e reflete uma ampla base geográfica.

O Plano Estratégico da OIE de 2011 a 2015 confirma o mandato do APFSWG para continuar a trabalhar com as organizações relevantes, especialmente a CAC, a FAO e a OMS, com o objetivo de reduzir os riscos para a saúde humana devido aos riscos decorrentes de produtos de origem animal. “O grupo de trabalho manterá o seu programa para o desenvolvimento de normas para o setor de pré- abate da cadeia alimentar, com principal foco em medidas de segurança alimentar aplicáveis ao nível da exploração. Este trabalho inclui agentes patogénicos e outros perigos que normalmente não provocam doença em animais” (OIE, 2014).

O APFSWG reconheceu que os objetivos da OIE só podem ser alcançados através do trabalho em colaboração com a OMS, a FAO e os seus órgãos subordinados, especialmente a CAC. A cooperação institucional é fundamental para evitar princípios contraditórios, para

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colmatar lacunas nas normas atuais e assegurar a utilização mais eficaz dos conhecimentos disponíveis.

No século 21, a colaboração é vital para alcançar cadeias alimentares seguras que cruzam as fronteiras nacionais. É por isso que a OMS trabalha em estreita colaboração com a FAO, a Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) e outras organizações internacionais para garantir que os alimentos são seguros. O Dia Mundial da Saúde de 2015 é uma oportunidade para fortalecer a segurança alimentar entre todas as fronteiras e stakeholders (Fukuda, 2015).