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4. DISCUSSÃO 161 1 PERCEÇÃO GERAL SOBRE O PNCPI

1.1.2. Objetivos, atores e instituições

A investigação académica na área de políticas públicas é crescente e pode ser encarada como um mecanismo que permite conhecer melhor a realidade e propor métodos e critérios para uma alocação mais efetiva de recursos públicos. Neste sentido, estas pesquisas procuram contribuir para que as políticas públicas atinjam o seu principal objetivo, ou seja, possam oferecer serviços públicos de qualidade (Capobiango et al., 2011).

Os objetivos gerais da política de segurança alimentar na União Europeia são os seguintes:

i) Garantir um elevado nível de proteção da saúde humana e animal através de um aumento dos controlos em toda a cadeia alimentar;

ii) Colocar a qualidade no centro das preocupações: indissociável da segurança dos alimentos, a noção de qualidade distingue dois níveis: a qualidade não negociável refere-se à segurança da nossa alimentação e às exigências mínimas em matéria de proteção do ambiente e das espécies animais e vegetais; a qualidade relativa e subjetiva tornam um género alimentício verdadeiramente único através do gosto, da aparência, do odor, dos métodos de produção e da facilidade de utilização;

iii) Restabelecer a confiança dos consumidores: para restabelecer esta confiança, a segurança dos géneros alimentares é reforçada através de procedimentos mais rigorosos de vigilância e controlo. Por conseguinte, os consumidores devem poder dispor de informações claras e precisas sobre todas as questões relacionadas com a

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segurança dos alimentos. A marcação CE de conformidade, as menções específicas como o rótulo ecológico ou as indicações geográficas e as denominações de origem protegidas são outras iniciativas que assumem como preocupações centrais a qualidade, a defesa dos consumidores e a defesa das produções tradicionais.

Considera-se poder o que pode ser traduzido na capacidade do Estado de articular os agentes e instituições em torno de uma trajetória de desenvolvimento, sendo importante enfatizar que a ação estatal é interdependente. Ou seja, ela tanto condiciona quanto é condicionada: (a) pela estrutura económica e tecnológica vigente nas economias nacionais; (b) pela base organizacional e trajetória histórica da burocracia e da política pública. (Jannuzzi et al., 2009)

As políticas públicas são definidas em determinado ambiente por atores. Estes atores podem ser indivíduos, grupos de interesse e instituições. A posição mais consensual atualmente vê a formação das políticas públicas como o resultado de uma dialética entre o poder político e a opinião pública. Os «media» têm um papel fundamental na determinação de quais os tópicos que devem ser discutidos e integrar a agenda política. A atenção do público raramente permanece por muito tempo focada num tema, mesmo que envolva um tema importante para a sociedade. Os temas surgem, atingem o auge da atenção pública e mesmo que não resolvidos desaparecem gradualmente (Rocha, 2010).

Os casos confirmados de Bovine Spongiform Encephalopathy (BSE), conhecidos publicamente em Portugal em meados de 1993, marcaram profundamente a agenda política e vieram colocar na opinião pública mediática as fragilidades da administração pública portuguesa e da comunidade científica, em contraponto com o poder político.

De acordo com Gonçalves (1995), “a falta de racionalidade científica da administração pública portuguesa torna-se hoje mais evidente perante as necessidades práticas da sua participação nos processos de decisão.” O diagnóstico, a confirmação laboratorial de BSE e a comunicação do Laboratório Nacional de Investigação Veterinária (LNIV) à Direção Geral de Pecuária (DGP), em animais importados do Reino Unido, foram efetuados desde 1990 e mantidos sob reserva. Face à notoriedade mediática, o governo solicitou à Assembleia da República uma audição parlamentar que decorreu na Comissão Parlamentar da Agricultura e

Mar. Os objetivos subjacentes foram o esclarecimento cabal da existência ou não de BSE e também do caráter transmissível da mesma ao Homem. Na sequência da audição de técnicos e cientistas com testemunhos contraditórios, a doença foi declarada oficialmente inexistente em Portugal. “De faco ao «cientificarem» um debate, os decisores políticos parecem ter querido restringir o âmbito da discussão, evitando o alargamento às esferas política e pública e a perda de controlo sobre o processo decisório que daí podia advir” (Gonçalves, 1995). A mesma autora refere ainda que “por decisão política, que foi buscar legitimidade ao parecer dos cientistas – ou melhor à ausência de consenso entre eles – fechou-se a controvérsia púbica e justificou-se implicitamente a conduta da administração.”

“No sistema político o processo de decisão é complexo. Na verdade, são múltiplos os objetivos a atingir. Simultaneamente, no sistema político, o controlo da informação significa poder e os atores políticos podem conseguir mais vantagens, transigindo e negociando entre si as políticas a adotar.” (Rocha, 2010).

O caso da BSE em Portugal parece mostrar que, em Portugal, a autoridade política tenderia a ganhar no confronto com a autoridade científica. Ele revelava, em particular, uma dificuldade estrutural de uma Administração tradicionalmente centralizada e pouco aberta, seja à opinião científica, seja ao debate público, para gerir controvérsias públicas de base científica (Gonçalves, 1995).

As políticas públicas de segurança alimentar em Portugal seguem, como em toda a Europa, princípios e objetivos comuns, como foi referido. O trabalho de sistematização do governo alemão, (Germany, 2013) identifica os três principais objetivos da lei de segurança alimentar:

i) Proteger a saúde humana. Só pode ser colocado no mercado um alimento seguro; ii) Salvaguardar os consumidores de fraude;

iii) Garantir que o público recebe informações precisas e exatas.

Segundo o mesmo documento, no setor dos alimentos aplicam-se os princípios fundamentais da segurança alimentar. Eles delineiam as responsabilidades e os papéis desempenhados dentro da rede e formam pilares sobre os quais se apoia a estrutura da segurança alimentar.

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Os sete princípios fundamentais da segurança alimentar, aplicáveis em toda a Europa são os seguintes:

1. O princípio da cadeia alimentar;

2. O princípio da responsabilidade do produtor; 3. O princípio da rastreabilidade;

4. Avaliação científica independente dos riscos; 5. Separação de avaliação de risco e gestão de risco; 6. O princípio da precaução;

7. Comunicação transparente de risco.

Como em toda atividade sociopolítica, é importante garantir a participação e o controlo social no processo, a fim de legitimá-lo perante a sociedade, garantir o compromisso dos agentes implementadores e potencializar a efetividade social pretendida pelas políticas públicas. Afinal, as decisões públicas são sempre difíceis, já que os recursos são em geral sempre insuficientes para atender à totalidade dos problemas (Jannuzzi, 2002).