• Nenhum resultado encontrado

4. DISCUSSÃO 161 1 PERCEÇÃO GERAL SOBRE O PNCPI

1.2.5. Desafios futuros

A segurança alimentar está, desde sempre, no centro das preocupações da União Europeia. Garantir um nível elevado de saúde humana, animal e vegetal em toda a cadeia alimentar é um dos objetivos do Tratado da União Europeia que, ao longo dos anos, já produziu um corpus legislativo de cerca de 70 atos normativos que permitiram à indústria agroalimentar europeia obter níveis de segurança e de qualidade reconhecidos ao nível internacional. Na UE, a indústria agroalimentar é o segundo pilar em ordem de importância, produzindo esta cadeia alimentar um total de cerca de 750 mil milhões de euros por ano e empregando mais de 48 milhões de pessoas.

“A Política Agrícola Comum (PAC) confronta-se com uma série de desafios, alguns inéditos, outros imprevistos, que convidam a UE a fazer uma escolha estratégica para o futuro a longo prazo da sua agricultura e zonas rurais”. A futura PAC, no horizonte 2020, “deve continuar a ser uma política comum forte, estruturada” na preservação do potencial de produção alimentar em toda a UE (entre outros), numa base sustentável, de modo a garantir a segurança alimentar a longo prazo para os cidadãos europeus. Além do mais, os cidadãos da UE exigem produtos alimentares de elevada qualidade e muito variados, que reflitam normas rigorosas em termos de segurança, qualidade e saúde, incluindo produtos locais. A PAC evoluiu, mas é necessário prever outras mudanças para responder aos novos desafios, nomeadamente responder às crescentes preocupações ligadas à segurança alimentar, tanto a nível da UE como mundial.

Segundo a Comissão Europeia (2012) “a PAC passou também a centrar-se mais na qualidade. Presentemente aplica os mais elevados padrões de produção e

80

qualidade e rigorosos controlos de saúde animal e vegetal. Como resultado, os 500 milhões de cidadãos da União Europeia usufruem do maior nível de segurança alimentar do mundo bem como de um procedimento de rastreabilidade continuo, do produtor ao consumidor. Foram tomadas medidas para proteger e promover produtos alimentares tradicionais e regionais. E estimulada a agricultura biológica.

A PAC ajudou a manter preços acessíveis para os nossos produtos alimentares. Atualmente, uma família gasta em média 15% do seu rendimento em alimentos, comparativamente aos 30% que despendia há cinquenta anos. Esta descida resulta de um aumento dos rendimentos, mas em parte, deve-se também a uma maior competitividade e eficiência dos agricultores.”

“Nesta base, a futura PAC deve tornar-se uma política mais sustentável, mais equilibrada, melhor orientada, mais simples e mais eficaz, e que responda melhor às necessidades e expectativas dos cidadãos da UE”.

O debate em torno dos novos alimentos tem sido um tema colocado com frequência nas negociações entre a Comissão e o Parlamento. De acordo com Camilo (2008) na futura regulamentação será esclarecido que um alimento deve ser considerado novo quando for aplicada uma tecnologia de produção que não tenha sido previamente utilizada para a produção de alimentos. Deverá abranger, nomeadamente, as tecnologias emergentes no domínio da criação animal e dos processos de produção alimentar, que têm um impacto nos alimentos e que podem, assim, ter um impacto na segurança dos alimentos. Por conseguinte, os novos alimentos deverão abranger os alimentos derivados de vegetais e animais, produzidos por técnicas de criação animal não tradicionais (como por exemplo a clonagem) e os alimentos alterados por novos processos de produção, como a nanotecnologia e a nanociência, que podem ter impacto nos alimentos.

Os alimentos derivados de novas variedades vegetais ou de raças animais produzidas por técnicas de criação tradicionais não deverão ser considerados novos alimentos. “A nanotecnologia aplicada ao sector alimentar permite períodos de conservação mais alargados mas pode ser perigosa para a saúde. Parlamento e Comissão negoceiam, com os produtos oriundos de animais clonados a revelarem ser a questão mais espinhosa em cima da mesa”. À

questão colocada “Novos Alimentos: inovação lucrativa ou risco para a saúde?”, foi consensual a categorização mais clara dos novos alimentos e um maior equílibrio entre a defesa do consumidor e a inovação nanotecnológica na indústria.

Por outro lado, as inovações científicas e tecnológicas têm um papel importante na compreensão dos novos desafios para a segurança alimentar resultantes das alterações climáticas. Os exemplos incluem novos dispositivos de filtragem baseados nas nanotecnologias que podem remover uma série de contaminantes químicos e microbiológicos da água e dos solos, novos métodos de biologia molecular, culturas de organismos geneticamente modificados adaptados para crescer em terras marginalizadas, entre outros (Lee-Ann Jaykus, 2008). Neste âmbito, os mesmos autores, referem-se ao facto de que o reconhecimento, compreensão e preparação para os impactos das alterações climáticas realçam ainda mais a necessidade de promover abordagens interdisciplinares para enfrentar os desafios que afetam a segurança alimentar dado as inter-relações entre os impactos no meio ambiente, os impactos na saúde animal e vegetal e higiene alimentar.

Até à data, o quadro jurídico elaborado pela UE tem demonstrado, em termos gerais, ser eficaz na prevenção dos riscos e resolução dos problemas. Os produtos da UE são os mais seguros do mundo, graças aos controlos a que são sujeitos. Contudo, o mercado global moderno e, em particular, a cada vez mais longa e complexa cadeia agroalimentar expõem a União Europeia a novos riscos, exigindo uma melhoria constante dos controlos levados a cabo ao longo da cadeia agroalimentar.

Entre as carências encontradas na legislação atual e que exigem melhorias, encontram- se em particular:

i) A necessidade de simplificar o quadro jurídico geral, cujas fragmentações e sobreposições resultam em divergências de interpretação e de aplicação ao nível nacional;

ii) A necessidade de utilizar de forma mais coerente o princípio dos «controlos proporcionais aos riscos»;

iii) A necessidade de resolver as atuais incertezas sobre a sustentabilidade a longo prazo dos controlos oficiais, garantindo um financiamento adequado e coerente dos mesmos;

82

iv) A necessidade de garantir uma abordagem coerente entre todos os setores. Além disso, convém que o método de cálculo das taxas aplicadas seja tornado público e transparente;

v) A necessidade de utilizar de forma mais sistemática e coerente os instrumentos de cooperação administrativa e os sistemas informáticos de gestão da informação.