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MAPA XI – Mapa da Área Especial de Estudo da Galheta – AEEG

4. SISTEMÁTICA CADASTRAL

4.2 CADASTRO DO PATRIMÔNIO ARQUEOLÓGICO

4.2.2 GERAÇÃO E SISTEMATIZAÇÃO DOS DADOS ALFANUMÉRICOS

4.2.2.1 Contexto nacional

Os assuntos dos quais tratamos e as posições transcritas ao longo de toda a dissertação indicam ser a gestão do patrimônio arqueológico uma questão de responsabilidade compartilhada entre Governo Federal, estados e municípios, sendo estes últimos talvez os maiores interessados, uma vez que a incidência de sítios condiciona - ou deveria condicionar

161 – a atuação das prefeituras nas políticas de ordenamento territorial. De fato, este é um aspecto identificado desde a década de 1930, quando da criação do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (SPHAN). Sobre este tema, sugere Torres (1937: 15) que, “descoberta uma jazida, deveria ser feita a comunicação imediata ao prefeito, que por sua vez se obrigaria a dar ciência do fato ao instituto sob cuja jurisdição SPHAN tivesse incluído o território em questão”.

Esta condição, no entanto, até hoje não é atendida no país. A questão patrimonial arqueológica mantém-se sob gerência fundamentalmente da esfera federal, embora haja exemplos interessantes de atuação municipal e estadual espalhados pelo país, como nos estado de Goiás (Martins, 2009), Rio de Janeiro e São Paulo (Baracho e Raddi, 2008: 05), entre outros. Via de regra, os produtos oriundos dos diagnósticos e demais serviços de arqueologia são destinados às Superintendências Estaduais do IPHAN, onde permanecem arquivados. Por se tratarem de documentos referentes ao patrimônio coletivo, os materiais são de uso público, embora o acesso ao acervo completo seja possível somente através de consulta nas próprias instalações das Superintendências.

Além do arquivamento documental nas sedes estaduais, o instituto conta com o Sistema de Gerenciamento do Patrimônio Arqueológico (SGPA). O sistema é assim descrito na página virtual oficial do IPHAN:

O SGPA foi concebido em 1997 com o objetivo de estabelecer padrões nacionais no âmbito da identificação dos sítios, das coleções arqueológicas e do registro da documentação arqueológica produzida, subsidiando as ações de gerenciamento, em atendimento ao determinado na Lei n° 3.924/61. Sua arquitetura foi concebida para ser implementada em módulos, compreendendo o: Cadastro Nacional de Sítios Arqueológicos – CNSA, Banco de Imagens; o Inventário Nacional das Coleções Arqueológicas – INCA, Projetos e Relatórios de Pesquisa Arqueológica – PPA/RPA. O CNSA, o primeiro sistema de informações criado, foi distribuído para as regionais e colocado na página do IPHAN em 199834.

Apesar de iniciado em 1998, e previsto para abrigar variados bancos de dados, o SGPA atualmente é subdividido em apenas dois ambientes de livre consulta, localizados na página virtual da instituição. O primeiro ambiente é o Banco de Portarias de Arqueologia (BPA), onde constam as autorizações legais emitidas para execução de serviços arqueológicos. O segundo ambiente é o Cadastro Nacional de Sítios Arqueológicos (CNSA),

162 onde são catalogadas as fichas cadastrais individuais referentes aos sítios arqueológicos brasileiros. A Figura 38 ilustra a interface do ambiente de busca:

Figura 38: interface do CNSA, com resultado para busca por sítios no município de Laguna.

As fichas são compostas por uma relação de atributos previamente categorizados, de maneira a padronizar as informações repassadas ao banco de dados. O Anexo 01 apresenta as fichas produzidas para os sítios da Ponta da Galheta, cuja estrutura se repete para todos os outros bens arqueológicos catalogados. O modelo atual de fichas disponibilizado para download na página do instituto apresenta algumas modificações em relação ao anterior, visualizado nas fichas que compõem o sistema de busca. A principal alteração diz respeito ao detalhamento das coordenadas que marcam o perímetro recoberto pelo sítio estudado. Os itens elencados na nova versão da ficha constam no Anexo 02

O CNSA apresenta-se como uma ferramenta de simples utilização e amplo alcance. O material disponibilizado foi desenvolvido com objetivo de contemplar considerável quantidade de informações sobre o patrimônio histórico e pré-histórico, sendo capaz de atender a demandas variadas. Entretanto, alguns pontos merecem maiores reflexões.

163 A primeira observação é relativa ao próprio preenchimento das fichas catalográficas. A tarefa de registro de cada sítio é de incumbência do arqueólogo responsável pelo projeto, uma vez que é ele o profissional encarregado da análise do bem investigado. O nível de detalhamento do fichamento realizado fica então a seu critério, devendo condizer com os levantamentos executados. Preenchidas as fichas, estas são destinadas à Superintendência Estadual do IPHAN responsável pelo acompanhamento das pesquisas, que deve homologar o material entregue, para que o mesmo seja encaminhado à sede nacional do instituto, onde será inserido no banco de dados.

Ocorre que substancial parcela das fichas disponibilizadas no CNSA não é completada de maneira apropriada, inexistindo nos documentos informações básicas, tais como localização, área ocupada e data de registro dos sítios catalogados, tampouco dados mais específicos, como composição estrutural e filiação cultural dos antigos habitantes. Não raro os documentos são compostos exclusivamente pelo nome do sítio, tipo de atividade desenvolvida no local e nome do técnico responsável. Deste modo, as fichas insuficientemente preenchidas mostram-se de pouco auxílio.

Há também o fato de os documentos catalográficos atualmente presentes no sistema não possuírem qualquer imagem, foto ou produto cartográfico para identificação visual dos sítios registrados. Caso não haja rigor na verificação dos dados disponibilizados às Superintendências, é possível que um mesmo sítio seja catalogado mais de uma vez, em decorrência da execução de mais de uma pesquisa no mesmo local. A ausência de registros visuais também dificulta a identificação do local de ocorrência do sítio catalogado, principalmente quando a ficha não conta com informações referentes às coordenadas do local estudado.

Ademais, as fichas representam a situação de um sítio arqueológico no momento de seu levantamento. Por se tratarem de bens materiais, os conjuntos podem ser alterados ao longo do tempo, por atuação da natureza ou pela ação humana. Contudo, não há qualquer indicação a respeito da possibilidade de atualização das fichas, ou de inserção de novos dados obtidos em decorrência de outras pesquisas executadas sobre um sítio já catalogado. Assim, os documentos disponibilizados não são capazes de retratar a realidade dos sítios estudados, compondo somente uma radiografia das condições encontradas à época do registro.

Quanto à estrutura do sistema, notamos algumas deficiências que merecem revisão. A primeira baseia-se nas reduzidas possibilidades de filtragem durante o processo de busca das fichas. Como vimos anteriormente, na Figura 38, há sete critérios de seleção disponíveis, sendo o elemento “Estado” de preenchimento obrigatório. Diante das mais de 60 categorias

164 que compõem cada ficha, não há dúvidas quanto à possibilidade de aperfeiçoamento do filtro de seleção.

A segunda deficiência detectada corresponde à forma de identificação nominal dos sítios catalogados, diretamente relacionada com o método cadastral arqueológico adotado oficialmente no Brasil. O modelo é assim descrito no manual de uso do CNSA (IPHAN, s/d: 01):

O código numérico do sítio será gerado pelo Departamento de Identificação e Documentação - DID. Cada sítio receberá um número sequencial à medida que os cadastros forem sendo incluídos na base central de dados; o passivo dos registros feitos até 1997 será automaticamente numerado com base em critérios cronológicos de data de registro; a numeração é única e de âmbito nacional e não possui relação direta com a sigla produzida pelo pesquisador.

O código atribuído pelo CNSA a cada sítio é composto pela sigla da Unidade da Federação (UF) a qual o sítio pertence, acompanhada do número sequencial condizente com a contagem existente na própria UF. Para exemplificar o processo, os primeiros sítios registrados de Santa Catarina recebem os códigos SC0001, SC0002, SC0003, e assim por diante. Apesar de o modelo gerar códigos não duplicáveis, necessários à precisa identificação de cada sítio, o formato adotado permite a distinção unicamente das Unidades da Federação onde os sítios se localizam. O detalhamento quanto aos demais recortes territoriais (mesorregião, microrregião e município, entre outros) só é obtido caso conste em ficha catalográfica, dificultando o reconhecimento do patrimônio arqueológico em esferas políticas de menor escala.

Além do Sistema de Gerenciamento do Patrimônio Arqueológico, o IPHAN vem desenvolvendo internamente o Sistema Integrado de Conhecimento e Gestão (SICG), com intuito de agregar, também por meio de fichas catalográficas, dados alfanuméricos e cartográficos produzidos sobre todo o patrimônio cultural material no país, incluindo bens arqueológicos, edificados, paisagísticos e urbanísticos, entre outros. Na página virtual da instituição são disponibilizados somente alguns documentos que servem de modelo ao sistema, ainda em fase de planejamento. Enquanto o SICG não é de fato implementado, o CNSA continua sendo o único banco de informações arqueológicas disponibilizado pelo instituto.

Mesmo possuindo restrições, o CNSA é um recurso fundamental ao gerenciamento dos bens de maneira pública e integrada. É necessário, no entanto, que o sistema adeque-se

165 aos diferentes níveis de demanda, objetivo que pode ser alcançado através da adoção das premissas do Cadastro Territorial Multifinalitário.