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MAPA XI – Mapa da Área Especial de Estudo da Galheta – AEEG

2. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDOS

2.4 SÍTIOS ARQUEOLÓGICOS

2.4.2 Sítios da ponta da Galheta

O conjunto de sítios arqueológicos da Ponta da Galheta é formado por quatro exemplares: Galheta I, Galheta II, Galheta IV e Galheta V (Mapa V). O sítio Galheta III – também conhecido como “sambaqui do Padre” – encontra-se em área isolada dos demais, a cerca de 1,5Km de distância do promontório e das edificações mais próximas, razão pela qual não o consideramos em nossas pesquisas. Há ainda relatos sobre um sítio denominado

72 Galheta VI, nas cercanias dos demais exemplares. A escassez de informações23 sobre o sítio nos fez assumir posição semelhante ao definido para o Galheta III.

Os sítios Galheta I e II, segundo Farias (2009: 41) e Farias e Kneip (2010: 197), foram registrados por João Alfredo Rohr. Assunção (2010: 118) complementa a informação, relacionando os registros arqueológicos ao ano de 1984.

23 Nossas pesquisas por materiais relativos ao Galheta VI resultaram somente na obtenção de um relatório

preliminar e não concluído, disponibilizado pela Superintendência do IPHAN em Santa Catarina, com algumas indicações da localização do sítio, que preferimos não incorporar aos estudos.

Galheta V Galheta I Galheta IV Galheta II 716100 716100 716400 716400 716700 716700 6 837500 6837500 6 837800 6 837800 6 838100 6 838100 6 838400 6 838400

Mapa de Sítios Arqueológicos

Ponta da Galheta - Laguna

Laguna

Laguna

Base de limites políticos IBGE 2012 (adaptada); base de massa d'água Epagri 2010; e base de sítios arqueológicos elaborada conforme Farias e Kneip (2010) e Assunção (2010).

Autor: Guilherme Butter Scofano Orientador: Dr. Francisco Henrique de Oliveira

Mapa elaborado em setembro de 2012.

Convenções Cartográficas !

( Sítio arqueológico

«

0 25 50 100 150m

Projeção Transversa de Mercator Datum SIRGAS 2000

Zona UTM 22 Sul Meridiano Central -51° 1:4.000 Escala ! ( ! ( !( ! ( ! ( ! (!( ! ( ! ( ! ( ! ( ! (!( ! ( ! ( ! ( ! ( ! ( ! ( ! ( ! ( ! ( ! ( ! ( ! ( ! ( ! ( ! ( ! ( ! ( ! ( ! ( ! ( ! ( ! ( ! ( ! ( ! ( ! ( ! ( ! (!( ! ( ! ( ! ( ! ( ! ( ! ( ! ( Ponta da Galheta 0 3 6 Km

74 Classificado como pertencente ao tipo sambaqui, o Galheta I data de 3090 anos antes do presente, conforme avaliação de DeBlasis et al. (2007: 38). Farias e Kneip (2010: 197) descrevem o sítio como um “sambaqui de grandes dimensões localizado na encosta de um morro a partir da praia. Possui 250 X 80 X 10 metros e encontra-se encoberto por grama”. A Figura 19 apresenta o sítio Galheta I, ao fundo das residências da comunidade da Galheta:

Figura 19: sambaqui Galheta I. Fonte: arquivo IPHAN SC, 2012.

Facilmente confundido com um morro, em função de sua extensão e recobrimento pela vegetação, o Galheta I é assim detalhado por Assunção (2010):

Apresenta-se praticamente intacto, a não ser por uma leve intervenção em seu topo onde foi construída uma casa que já não existe mais, de tamanho pequeno a julgar por suas fundações. Atualmente a comunidade local demonstra apego e orgulho por esse grande sambaqui agindo como verdadeiros guardas desse patrimônio e impedindo construções em seu entorno, mesmo assim, recentemente algumas casas foram erguidas próximas a sua base deteriorando parte do sítio.

Como pôde ser verificado nos tópicos anteriores, novas edificações vêm sendo erguidas na região da Galheta, ocupando o entorno imediato do sítio em questão. Fotos

75 realizadas no ano de 2011 por técnicos do ICMBio identificam residências construídas sobre acúmulos conchíferos possivelmente pertencentes ao sítio, como se visualiza na Figura 20:

Figura 20: ocupação residencial sobre material conchífero. Fonte: Arquivo ICMBio, 2011.

A não obtenção de laudos técnicos nos impede de concluir acerca da sobreposição das residências ao material arqueológico. Em todo caso, nota-se grande proximidade das edificações ao bem tutelado. Assunção (2010: 72) classifica o sítio sob o grau de integridade “bem preservado”.

O segundo sítio a ser descrito neste tópico é o Galheta II (Figura 21). De tipologia sambaqui e recoberto por conchas, o sítio é assim caracterizado por Perin (2010: 12):

A cerca de 50 metros [do sambaqui Galheta I], na direção sudoeste, encontra-se o Sambaqui Galheta II. De dimensões inferiores e formato cônico tem sua constituição bastante arenosa e sem cobertura vegetal, tendo sua matriz arqueológica exposta. Este sítio, embora bastante preservado, encontra-se ameaçado por processos erosivos em forma de voçoroca ativa em seu flanco sul e na sua porção norte tem duas casas construídas a poucos metros do sítio.

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Figura 21: sambaqui Galheta II. Foto do autor, 2009.

Quanto aos aspectos técnicos, o sítio possui 40 metros de diâmetro e 06 metros de altura (Farias e Kneip, 2010: 197), datando de 4.400 anos antes do presente (DeBlasis et al., 2007: 38). Além de precisar a época de criação do Galheta II, DeBlasis et al. (2007: 41) afirmam que o sambaqui em questão é formado por reduzido número de camadas estratigráficas, sugerindo que sua estrutura pode ser derivada de um “único episódio construtivo”.

Assunção (2010: 100) classifica-o na categoria de “sítios satélites”, caracterizados pelo tamanho reduzido, baixa incidência de materiais manufaturados e proximidade com concheiros de maior porte e representatividade. O autor também o adiciona ao grau de integridade “bem preservado”, assim como com o Galheta I.

Passemos agora ao sítio Galheta IV (Figura 22), detalhadamente estudado por pesquisadores das Universidades de São Paulo (USP) e do Sul de Santa Catarina (UNISUL) durante o Projeto “Sambaquis e Paisagem”. Registrado pelo professor Paulo DeBlasis no ano de 2005, o sítio é descrito por um rico relatório de campo (DeBlasis, 2007), obtido junto à Superintendência do IPHAN em Santa Catarina.

77 sítio Jê com presença marcante de artefatos líticos, fauna e sepultamentos humanos que tem sido escavado sistematicamente desde 2005 [...], composto por uma grande feição dunar cortada por uma estrada de terra, pela qual passam os pescadores da região. Essa estrada divide o sítio em uma parte menor – de não mais de 6m de largura – e uma maior, na qual está a maior porção preservada.

Comparado aos demais sítios do município, o Galheta IV apresenta dimensões discretas: trinta metros de diâmetro e aproximadamente três metros de altura. Assunção (2010: 72) o condiciona ao grau de integridade “parcialmente preservado”, evidenciando maior perturbação que nos sítios de entorno. Pesquisado sistematicamente desde seu registro, o sítio é mais recente que seus vizinhos, sendo datado de 980 anos antes do presente (DeBlasis et al., 2007: 38). A cronologia coincide com a teoria sobre ocupação da área por “povos Jê do Sul (responsáveis pela cerâmica Itararé)”, segundo descreve o relatório de DeBlasis (2007: 27).

Figura 22: sítio Galheta IV, atravessado por estrada de chão. Fonte: Arquivo IPHAN SC, 2012.

Os achados materiais no sítio incluem artefatos líticos, vestígios de fogueiras e cerâmica, com destaque para a grande quantidade de ossadas animais e humanas, sugerindo ter sido a área utilizada em rituais funerários. De fato, são relatados sete sepultamentos,

78 cercados por utensílios cerâmicos e alguns adornos em quartzo. A Figura 23 ilustra um dos achados:

Figura 23: ossada humana identificada no sítio Galheta IV. Fonte: DeBlasis, 2007.

A disposição das ossadas, os objetos encontrados em seu entorno e a distribuição nas áreas de sepultamento indicam a possibilidade de uso do local por mais de uma cultura (DeBlasis, 2007: 29). É atribuída destacada importância ao sítio, pois este fornece subsídios mateiras às teorias acerca do contato entre os povos de sambaquis e os grupos indígenas mais recentes.

Finalizamos o tópico de apresentação dos sítios arqueológicos da Ponta da Galheta pela descrição do Galheta V (Figura 24). Classificado inicialmente como um sítio histórico, o exemplar teve seu processo de pesquisa e resultados assim detalhados por Assunção (2010: 52):

Foram realizados 30 PTs [poços testes] na área do sítio, dos quais sete apresentaram material, sendo 10 fragmentos cerâmicos, em sua maioria neo-brasileiros, 11 fragmentos de louça e três lascas em quartzo. Junto a lascas e outros matérias de origem possivelmente pré-

79 colonial foi detectada boa quantidade de material construtivo recente, indicando a presença de uma ocupação histórica no local que foi confirmada por alguns moradores que se recordam da existência de uma antiga residência, mas não souberam dizer o período em que fora ocupada.

Não foram encontradas avaliações quanto ao grau de integridade do sítio. A Figura 24

ilustra a abertura de um poço teste na área do Galheta V, procedimento frequentemente executado, cuja repetição costuma ser realizada em linha, com o distanciamento entre os poços adequado às características do terreno avaliado.

Figura 24: poço teste aberto na área de abrangência do Galheta V. Fonte: DeBlasis, 2007.

O Galheta V se encontra a cerca de duzentos metros dos outros sítios construídos sobre o afloramento rochoso, na extremidade oposta à concentração de edificações. Apesar da relativa distância para os demais objetos de análise, optamos por considerar o sítio em nossos estudos, pois sua localização evidencia o promontório da Ponta da Galheta como uma área de interesse arqueológico relevante às pesquisas sobre padrões e sistemas de assentamentos dos povos pré-históricos e populações indígenas.

80 A arqueologia de assentamentos envolve o estudo do arranjo, da distribuição e das relações dos antigos assentamentos com seu contexto ambiental, bem como de sua implantação na paisagem. Envolve, assim, investigações em amplas escalas, enfocando mais análises dos aspectos regionais do que sítios individuais.

A temática descrita pela autora vem sendo empregada nos projetos de avaliação dos modelos de ocupação, distribuição e interação dos sítios arqueológicos existentes no Complexo Lagunar Sul Catarinense. No mesmo sentido, a Superintendência do IPHAN em Santa Catarina vem fomentando e desenvolvendo ações institucionais e trabalhos científicos com foco nas políticas de ordenamento do patrimônio arqueológico enquanto categoria de proteção paisagística, como verificado em Farias et al. (2005), Chamas (2010) e Scofano (2012). Esta ótica considera não apenas a materialidade dos sítios, mas a organização espacial derivada da interação entre todo o conjunto arqueológico, e entre os sítios e o ambiente natural envolvente.

Assim sendo, não seria insensato teorizar sobre as potencialidades de se atribuir à Ponta da Galheta uma classe diferenciada de proteção patrimonial, para além dos mecanismos de preservação e tutela conferidos individualmente a cada sítio. Perin (2010: 13) sugere inclusive a musealização de toda a área ocupada pelos sítios Galheta I, II e IV, como proposta de contenção dos impactos, fomento às pesquisas in loco e aproximação da sociedade à ciência arqueológica.

Deve-se fazer a ressalva de que o enquadramento da área, em sua totalidade, como um espaço testemunho dos sistemas de assentamento pré-históricos demandaria uma série de adequações governamentais, incluindo ações específicas de cartografia e cadastro territorial.

Seja em função da presença isolada de cada sítio, ou pela relevância do conjunto arqueológico enquanto testemunho de sistemas de assentamento milenares, a Ponta da Galheta abriga valioso patrimônio cultural, cuja preservação atrela-se a uma série de condicionantes socioeconômicos, administrativos e jurídicos. Os capítulos seguintes tratam de cada um destes condicionantes de maneira pormenorizada, com base nas informações do capítulo que se finaliza.

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