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3. METODOLOGIA

3.7. O contexto de produção do filme

Iniciamos a pesquisa fazendo uma contextualização do filme, já que consideramos relevante que o leitor deste texto tenha ciência dos dados históricos, científicos e culturais que fundamentaram e/ou foram usados para constituírem a história narrada.

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As informações dessa seção têm como fonte os comentários da equipe envolvida na produção do filme,

A Era do Gelo (Ice Age) é um longa-metragem, em desenho animado, colorido, com 81 minutos de duração, do Blue Sky Studios, produzido por Lori Forte e dirigido por Chris Wedge, música de David Newman, lançado em 2002 pela 20th Century Fox Film Corporation. O enredo retrata a jornada, em plena Era Glacial, de um tigre dentes- de-sabre, um mamute e uma preguiça gigante, reunidos por obra do destino ao encontrarem uma criança perdida e, juntos, decidem procurar o pai do garoto para devolvê-lo. O filme traz uma história animada que fala, de maneira singela, da amizade construída a partir do respeito às diferenças. Uma aventura que, em1h e 21min, emociona o espectador pela ação, pelos desafios enfrentados pelos personagens, e também leva o público às gargalhadas com as deixas do malandro Sid nessa empreitada pelas terras geladas.

a)A ambientação

O filme foi o 1º longa-metragem da Blue Sky Studios feito em CGI (Imagem Gerada pelo Computador). Para escrever o roteiro, eles se concentraram nos mamutes e nas preguiças encontrados na era glacial, mas o clima não tinha papel definido nem a era glacial. A melhor maneira de torná-la marcante foi colocá-la como pano de fundo para os animais que se achariam na época e situaram A Era do Gelo na América do Norte, o que ajudou na criação artística, na palheta de cores e na iluminação, já que estavam trabalhando sobre um universo conhecido.

O diretor queria que o mundo no filme fosse o mais real possível, por isso, foi feita uma ampla pesquisa no La Brea Tar Pits Museum (Museu de História Natural, da Califórnia). A história foi contextualizada, na última era glacial, há 20.000 anos, com uma fauna e flora correspondente ao período. Vale destacar que a equipe de desenhos estilizou bastante na representação dos animais para alcançar o efeito esperado.

Mas o que era A Era do Gelo? Segundo os especialistas, era um período glacial em que a terra esfriava devido a vários fatores climáticos, como: a direção das correntes oceânicas, as erupções vulcânicas, entre outros. Quando o gelo cobria a terra, os animais que não eram adaptados ao frio migravam para as terras mais quentes, onde tivesse comida, já que a prioridade desses animais era a sobrevivência e isso significava “ter

comida”; era uma viagem longa e difícil para muitos animais e, infelizmente, alguns não resistiam.

Nesse deslocamento, era cada um por si e, aqueles que não aguentavam a jornada, ficavam para trás – ideia marcada no filme com os filhotes brincando no poço de piche. Segundo os especialistas, os animais que caíam nesses poços ficavam grudados e eram abandonados; os predadores tentavam pegá-los e tinham o mesmo destino, logo ia se formando um amontoado de animais que viraram fósseis e, hoje, são estudados e servem de fonte de informação. A última era glacial – chamada de Pleistoceno –, foi a mais conhecida; nesse período, formou-se uma faixa de terra entre a Sibéria e a América do Norte e, por conta disso, houve uma leva migratória de animais da Ásia para a América do Norte. Esses dados servem para situar o leitor/espectador sobre um tempo cronológico que indique o momento histórico em que a trama do filme foi contextualizada.

O filme traz indícios, nas cenas da caverna, que identificam o percurso evolutivo das espécies, associadas às mudanças climáticas e do tempo; estes são representados pela imagem de peixes e dinossauros extintos, a evolução da preguiça, e a existência do homem primitivo e de extraterrestres na Terra em um período anterior ao usado para contextualizar a trama do filme. Essa informação também é reforçada pelos labirintos existentes na caverna, a reação da criança diante da espaçonave congelada, os desenhos feitos pelos homens primitivos nas paredes, entre outros.

b)Os personagens

A equipe de produção procurou usar animais (personagens) característicos da época retratada – o mamute e o tigre –, ou criou personagens com uma junção de características de outros animais – como foi feito com a preguiça e o esquilo – , em uma tentativa de aproximar a história narrada da situação real.

A preguiça Sid foi inspirada na preguiça arborícola – que vivia em pequenos bandos, habitava as árvores e era a menor das 04 espécies americanas identificadas. Como as preguiças são conhecidas pela lentidão, os animadores tomaram algumas

liberdades com o personagem, para deixá-lo interessante e participativo nos acontecimentos da trama. No filme, ele representa uma preguiça em evolução.

O Scrat é um esquilo dentes-de-sabre, que possivelmente tenha existido naquele período, um personagem criado pelos desenhistas para conduzir a história. Como um esquilo, ele segue sua característica própria de armazenar comida para o futuro, de tal forma que outros animais não teriam acesso a esse alimento; mas é o personagem azarado, tudo que faz, pensando ser o certo, dá errado; e as cenas que o envolvem seguem essa característica, causando humor na história.

O personagem Manny é um mamute lanudo, espécie que viveu em áreas mais frias do que os mamutes pré-colombianos, encontrados nos poços de piche, na Califórnia. Os mamutes não viviam em bando, e o mamute lanudo era mais peludo e tinha orelhas pequenas devido ao frio. Como era característico dos mamutes serem carrancudos e terem um ar ameaçador, os animadores tiveram que melhorar a expressividade de Manny e torná-lo mais sociável na história.

O Diego é um felino Smilodon, popularmente conhecido como tigre dentes-de- sabre13. Há evidências de que essa espécie tivesse um comportamento de grupo, semelhante ao dos leões, em que a sobrevivência do grupo era prioridade para eles; o felino era um predador natural, com os dentes caninos superiores bastante desenvolvidos e possuía patas dianteiras extremamente musculosas para imobilizar a presa. Portanto, era o personagem mais agressivo do grupo e exigiu muito trabalho dos animadores.

Os Dodôs são pássaros que foram descobertos por exploradores portugueses nas ilhas Maurício, os quais consideraram a curiosidade dos pássaros como baixa inteligência. Assim, deram-lhes o nome de Dodôs, que significa bobo em português. Supõe-se que eles sofreram metamorfose de um pássaro que sabia voar para um que não sabia, eram grandes e com asas pequenas, o que impedia o voo; o ninho era no chão e os ovos eram presas fáceis para os predadores.

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Segundos os pesquisadores, o tigre dentes- de- sabre, na verdade, era um gato. Essa confusão surgiu e

se propagou na Europa, porque os gatos dentes-de-sabre eram do tamanho do leão africano, mas tinham proporções físicas diferentes: as costas desciam direto para as ancas, tinham cauda curta e a característica principal era os caninos.

O personagem humano foi baseado no homo sapiens, nômade e predador que, na hierarquia, estava acima dos outros animais; vivia em grupo, e o comportamento variava de acordo com a situação e a necessidade. Caçavam para suprir suas necessidades e, às vezes, por considerarem a outra espécie como inimiga.

Segundo os especialistas14, antes de dispersar pelos continentes, o homem passou por um processo evolutivo. Uma dessas formas era conhecida como homo erectus, na África – espécie que tinha nossa constituição física, cabeça chata e sobrancelha protuberante; depois surgiu seu descendente, o Neandertal, na Europa – tinha membros mais curtos e mais robusto, nariz grande para adaptação ao clima frio – e, na continuidade, apareceu o homo sapiens, na África – eram parecidos com os homens atuais. Os dois primeiros faziam objetos de pedra, já o homo sapiens tinha cultura mais ampla e as pesquisas mostram que as primeiras pinturas rupestres foram feitas por eles, quando migraram para a Europa.

Há 130 mil anos, os homens primitivos desenvolveram armas que os tornaram caçadores exímios, a mais eficiente era a lança com ponta de pedra. Eram nômades e perseguiam os animais para obter comida e vestuário, com isso, contribuíram para a extinção dos animais que caçavam; é a espécie humana desse período que é retratada no filme.

c)A produção

No filme tudo foi criado, cada detalhe, inicialmente tudo foi feito à mão, e posteriormente foram utilizados recursos de tecnologia 3D. A pretensão do diretor era que tudo parecesse não só real, mas orgânico e não saído de um computador; deveria parecer familiar como as lembranças de coisas que o espectador já tivesse visto.

No caso dos personagens, o trabalho de animação foi adequado a cada espécie com a intenção de realçar aspectos de cada um. Manny, por exemplo, não podia usar as mãos para gesticular e tinha pouco movimento; assim os animadores tiveram que

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Cf. DANIELS e HYSLOP (2004) que relatam algumas das descobertas sobre os homens primitivos no

contar com os olhos da personagem e, para isso, a melhor referência era nosso rosto, Um olhar de Manny precisava dizer muito, daí a ênfase na animação e na escolha do ângulo da câmera: nesse personagem, geralmente era usado o plano close no rosto e/ou o plano contraplongée – um enquadramento de baixo para cima.

As preguiças normalmente dormem de cabeça para baixo e são lentas; e, para marcar essa lentidão, os animadores contaram com os movimentos dos braços do personagem. Também foi colocada uma carga de humor, pois o personagem tinha que cativar o espectador; seus gestos e a linguagem contribuíram nesse processo. Para mostrar esse efeito, foi usado com frequência um enquadramento específico do personagem (plano close). O mesmo processo foi aplicado ao personagem Scrat, com a diferença de que a linguagem específica deste era gestual, enquanto Sid usava a fala e os gestos.

Diego também foi difícil de animar por conta dos dentes-de-sabre. O trabalho de animação recaiu na sua expressividade e na fala, ele usava pouco o movimento das mãos e, neste caso, notamos que foram usados diferentes enquadramentos de câmera, dependendo da situação dramática, ou seja, do enfoque dado a cada plano de ação.

A ênfase nos aspectos expressividade, gestos, linguagem verbal e entonação, era fundamental para se atingir o efeito esperado, já que os animadores estavam trabalhando com animais de natureza selvagem que deveriam ser receptivos na tela, sem perder sua essência, e cativar tanto o espectador infantil quanto o adulto.

CAPÍTULO IV

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