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Embora reconheçamos o avanço teórico nos estudos sobre os gêneros, esse ainda é um terreno instável para alguns conceitos, sobretudo quando é preciso delinear a noção de um gênero específico, já que não existe um gênero puro. A categoria “híbrido” tem sido uma constante na definição da constituição de determinados gêneros. Os gêneros são híbridos por apresentarem em sua estrutura elementos característicos de outros gêneros, bem como duas ou mais tipologias textuais (MARCUSCHI, 2003, 2008).

Não é diferente na teoria do cinema; e autores como Rey (1997) e Napolitano (2004) também acreditam que não há uma estrutura pura nos filmes e que o caminho mais viável é classificá-los pelo elemento predominante. Para Rey, é um caminho instável, porque os termos – suspense, aventura, comédia, drama – ora são usados como referência para nomear um gênero fílmico ora são usados como “ingredientes” – autor usa esse termo para nomear as sequência ou tipologias textuais que compõem o gênero filme, como já foi citado neste texto. Dias (2009) vislumbra essa possibilidade ao dizer que o filme pode ser do gênero: romance, policial, ação, aventura, terror, etc. Essa classificação nos mostra que o autor identifica o filme pela categoria dos subgêneros, como a apresentada por Napolitano (2004).

Em seu trabalho, Napolitano declara que a classificação dos filmes, em gênero, é comum no cinema comercial, porque serve para organizar estruturalmente as ações dos personagens e o desenvolvimento do roteiro. O gênero também influencia na receptividade da obra, já que sugere ao espectador como o filme deve ser visto, qual a dinâmica principal da fábula, o que deve ou não acontecer com os personagens e as situações dramáticas.

O autor classifica os gêneros em quatro tipos, que chama de gêneros-matrizes ou metagêneros, os quais se subdividem em subgêneros, dependendo dos ingredientes que compõem a trama. Conforme Napolitano (2004), são metagêneros: o drama, a comédia, a aventura e o suspense.

No drama, as histórias são centradas em conflitos individuais, provocados por profundos problemas existenciais, sociais ou psicológicos, além do dissenso amoroso ou efetivo. Geralmente elas começam com um conflito que pode ou não ser resolvido no desfecho e são classificadas em um dos subgêneros: romântico, existencial, psicológico ou de guerra.

Na comédia, as narrativas têm por finalidade provocar risos na platéia. Elas retratam situações patéticas, jogos de linguagem verbal ou peripécias que levam a mal- entendidos e podem ser classificadas como comédia: de costumes, paródica ou romântica.

Na aventura, as histórias são narradas em ritmo veloz e encenando situações limites de risco ou morte, com intenção de provocar efeito físico e sensorial no espectador. Os heróis tendem a encarnar valores ideológicos da cultura que produziu o filme. O que predomina é a ação, envolvendo conflitos físicos e/ou opondo o bem contra o mal, e podem ser do tipo: western, ficção científica, policial ou de guerra.

No suspense, a trama é mais importante do que a ação, tem um mistério a ser desvendado. O ponto máximo é a tensão que o espectador experimenta ou o susto repentino do desenlace de determinada sequência4.

Napolitano (2004) observa que esses gêneros podem aparecer mesclados ou divididos em gêneros mais específicos. Essa é a tendência do cinema comercial moderno, que visa ao sucesso e ao lucro; assim, direciona os filmes para um público específico, predisposto a gostar do enredo e de personagens típicos. Como bem diz Rey (1997), uma boa história para o produtor é a que agrada ao maior número de espectadores, a que dá lucro; para o diretor, a que, mesmo não alcançando sucesso popular, aumenta seu prestígio no meio; e para o roteirista é a que escreveu com prazer, apesar do sucesso ou do fracasso. Como no cinema comercial, quem gerencia a

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produção e comercializa o produto é o produtor, é o olhar dele que conta no final, o que, em alguns casos, anula a criatividade do texto.

Na concepção de Dias (2009), o filme pode ser tratado como gênero textual, porque apresenta características constitutivas de que todo gênero precisa: composição é sempre uma narrativa curta ou longa, com personagens, enredo e narrador; conteúdo

temático – variável de acordo com a intenção do diretor, do roteirista ou do produtor; estilo - variável, hoje se usam técnicas modernas para captar o espectador; a função comunicacional – antes era o entretenimento, depois de algum tempo, o filme passou a

fazer o espectador refletir sobre a realidade que o circunda; veiculação – dá-se por meio da Internet, cinema, vídeo locadora, TV. Segundo o autor, o acesso ao gênero fílmico é fácil devido à veiculação.

Concordamos com Dias (2009) quanto à caracterização do filme como gênero e, também, no aspecto funcional, por percebermos que a acessibilidade é um dos pontos favoráveis ao uso do filme nas escolas já que, nesses espaços, com uma TV e um DVD, professores podem promover uma assistência fílmica e envolver a turma de alunos, ou seja, com um texto, eles podem desenvolver uma prática de leitura coletiva que não seria distante da realidade de alunos e de professores, pois eles têm um contato mais frequente com esses equipamentos em casa e/ou na escola. Em algumas escolas públicas, essa prática de leitura seria motivadora, assim como representaria um diferencial em uma realidade precária de equipamentos, de profissionais qualificados para esse tipo de atividade e de propostas metodológicas atualizadas e voltadas para o uso dessas tecnologias.

Compartilhamos da ideia de Napolitano (2004) ao afirmar que um espectador mais crítico precisa de conhecimentos prévios para:

 identificar os aspectos presentes em um filme;  classificá-lo em um gênero;

 reconhecer a(s) linguagem (ns) e a estrutura narrativa;

 além de identificar a temática, os valores reproduzidos e as características típicas de personagens.

O uso desses conhecimentos, para construir um sentido, reforça a ideia de que ler um filme segue um processo semelhante àquele usado pelo leitor na leitura de um texto escrito: envolve níveis de leitura, conhecimentos prévios e estratégias cognitivas, entre outros; a diferença recai sobre as especificidades de cada modalidade de texto.

Vale destacar que, ao ser usado em sala, o filme pode perder sua funcionalidade primeira (o entretenimento), ou seja, pode haver uma reversibilidade de funções (MARCUSCHI, 2008); o espectador assume o papel de leitor e o filme passa a exercer alguma função pedagógica, como, por exemplo, a de informar, pois a prática de leitura pode ser feita buscando informações no corpo do texto e a partir dele, para acessar os esquemas cognitivos e processar uma leitura – esperamos que seja interativa. Para a eficácia dessa prática, o leitor precisa se distanciar do texto e olhar de fora, com um olhar crítico, como bem disseram Costa e Biondo (2007), para buscar o dito e o que está nas entrelinhas.

Embora o filme seja identificado como um gênero textual específico, na abordagem cinematográfica ele é um gênero que se enquadra em um dos metagêneros, obedecendo à classificação proposta por Napolitano (2004).

Nesta pesquisa, para efeito de identificação, escolhemos classificar um filme em: aventura, comédia, drama ou suspense, como já foi convencionado socialmente. Vislumbramos esse caminho o mais pertinente, porque, em primeiro lugar, compartilhamos da opinião de Rey (1997) ao dizer que a identificação do gênero deve ser feita pelo ingrediente predominante – aventura, suspense, comédia, drama; em segundo lugar, por considerarmos que esta classificação segue a mesma lógica usada na linguística textual ao identificar, em um texto, o tipo textual predominante: narrativo, dissertativo, injuntivo, etc. Esse caminho nos pareceu mais viável para o leitor em formação, pois trabalha com uma classificação geral do texto.

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