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A realidade da atenção à criança pode ser enfocada de diversos ângulos ou pontos de vista. No entanto toda a análise parte de uma visão específica de necessidades voltadas para uma determinada faixa etária, que tem em comum o período de crescimento e desenvolvimento biológico. Assim, nesse período de crescimento e desenvolvimento dos 0 aos 20 anos, são comuns as diversas subdivisões de períodos que se estabelecem ao todo, por especificidades próprias, e que podem ser assim definidas:

- lactente : 0 aos 2 anos; - pré-escolar: 2 aos 6 anos; - escolar: 6 aos 10 anos;

- pré-adolescente: 10 aos 14 anos; e - adolescente: 14 aos 20 anos.

Essa primeira classificação nos remete para um critério populacional, visando à análise do contexto da realidade pediátrica. A população pediátrica pode variar por diversos fatores, desde aqueles ligados ao coeficiente de natalidade até as condições gerais de cuidados da saúde infantil. Por esse critério, locais com baixo coeficiente de natalidade e condições de cuidados da saúde infantil excelentes, como na Europa, por exemplo, terão, comparativamente a outros locais, percentuais de população infantil menores.

Portanto, a porcentagem de população jovem em relação ao total populacional nos indica, de modo geral, a magnitude das necessidades de cuidados para essa faixa etária e o universo da população que necessita de cuidados pediátricos.

Vejamos, nas tabelas abaixo, como se comporta a população brasileira e de nosso estado conforme critérios de grupos de idade.

Tabela 1: População Residente Brasileira, segundo os Grupos de Idade

Grupos de 0 a 4 anos 5 a 9 anos 10 a 14 anos 15 a 19 anos >20 anos Idade

Total 16 375 782 16 542 327 17 348 067 17 939 815 101 593 179 (9,64%) (9,74%) (10,21%) (10,56%) (59,83%)

Fonte: IBGE. Censo Demográfico 2001 (http:tabnet.datasus.gov.br)

Tabela 2: População Residente no RS, segundo os Grupos de Idade

Grupos de 0 a 4 anos 5 a 9 anos 10 a 14 anos 15 a 19 anos >20 anos Idade

Total 855 544 887 102 912 080 966 438 6 566 633 (8,40%) (8,70%) (8,95%) (9,48%) (64,45%)

Fonte: Governo do Estado do Rio Grande do Sul, Secretaria de Coordenação e Planejamento, Fundação de Economia e Estatística 2001 (http:tabnet.datasus.gov.br)

Os dados acima nos revelam um cenário em que a população na faixa de crescimento e desenvolvimento, tanto no Brasil como no Rio Grande do Sul, representa um percentual significativo da população, respectivamente 40,15% e 35,53%. Isso evidencia a magnitude dessa faixa etária em termos numéricos e, portanto, a necessidade de atenção à saúde e a importância de cuidadores da infância, principalmente dos que têm a incumbência de planejar ações para a sobrevivência infantil.

Na assistência à criança, conforme Ricco (2000, p.3), devemos considerar as ações de

“curar doenças; recuperar o doente; prevenir doenças/promover saúde e mudar as condições geradoras de doenças atuando como agente de transformação da sociedade”. Esse mesmo

autor (p. 1) afirma que a preocupação dos cuidadores de criança deve ser a de “procurar

afastar todas as influências desfavoráveis, mantendo a criança saudável para garantir seu pleno desenvolvimento e, assim, chegar à adultícia também com saúde e sem problemas trazidos da infância”.

Essa ação preventiva, para todas as crianças, é a mais importante, bem como é a mais extensa em termos de procedimentos e tempo despendido em atendimento.

Isso pode ser comprovado através da tabela abaixo, que mostra o número de procedimentos ambulatoriais do SUS - Sistema Único de Saúde - estabelecido a partir da Constituição Brasileira de 1988 para oferecer saúde como direito de todos e dever do Estado. no Rio Grande do Sul, na categoria Consulta em Pediatria, Atendimento Básico, Ações Médicas Básicas em 2000.

Tabela 3: Produção Ambulatorial do SUS. Consultas em Pediatria, Atendimento Básico, Ações Médicas Básicas

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Ano Competência 2000 Total

Consultas 2.693.966 2.693.966

Fonte: Ministério da Saúde – Sistema de Informações Ambulatoriais do SUS (SIA/SUS) 2001 (http:tabnet.datasus.gov.br)

Apesar de todo esse atendimento ambulatorial em nível de atendimento básico, um grande número de crianças necessitou ser internado. Isso pode ser visto na tabela 4.

Tabela 4: Internações Hospitalares no Rio Grande do Sul. 0 a 19 anos

Ano Competência 2000 Total Internações 219.132 219. 132

Fonte: Ministério da Saúde – Sistema de informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS) 2001 (http:tabnet.datasus.gov.br)

Assim, a relação entre atendimentos em nível hospitalar e em consultas de atendimento básico em Pediatria, em nosso estado, no ano de 2000, foi de 1: 12,29.

Tabela 5: Percentual de Internações Segundo Grupos de Doenças no Rio Grande do Sul em 2000 na Faixa Etária de 0 a 19 anos, conforme a ordem dos capítulos do CID 10 Grupos de Doenças % de internações

Doenças Infecciosas e Parasitárias 14,23

Neoplasias 1,14

Transtornos Mentais e Comportamentais 0,53 Doenças do Aparelho Circulatório 0,63 Doenças do Aparelho Respiratório 25,57 Doenças do Aparelho Digestivo 6,25 Doenças do Aparelho Geniturinário 3.90 Gravidez, Parto e Puerpério 15,64

Causas Externas 5,21

Demais Causas 26,84

TOTAL 100,00

Fonte: Ministério da Saúde – Sistema de Informações Hospitalares do SUS – SIH/SUS 2001 (http:tabnet.datasus.gov.br)

Ao observarmos essas causas, vemos a importância, considerando as doenças infecciosas e parasitárias e as doenças do aparelho respiratório, das doenças prevalentes na composição dessas internações, bem como do elevado número de eventos obstétricos na adolescência. Como impacto desse atendimento contínuo prestado em nível ambulatorial e hospitalar, na tabela 6, observamos a evolução da mortalidade infantil em nosso estado no período de 30 anos, (1970-2000), considerando o número de óbitos em menores de um ano de idade por mil nascidos-vivos.

Tabela 6: Evolução da Mortalidade Infantil no Rio Grande do Sul

Ano Coeficiente de Mortalidade Infantil

1970 48,4 1975 44,0 1980 39,0 1985 26,8 1990 21,5 1995 18,7 2000 15,1

Fonte: Secretaria Estadual da Saúde - Coordenadoria de Informações em Saúde. (2001, p.109)

A evolução da mortalidade infantil no Rio Grande do Sul, nos períodos de 1971-1975 e 1996-2000, conforme os grupos de causas de óbitos (CID 10), pode ser vista na tabela 7.

Tabela 7: Evolução da Mortalidade Infantil no Rio Grande do Sul, nos Períodos de 1971-1975 e 1996-2000, conforme os Grupos de Causas de Óbitos (CID 10)

Grupos de causas Período 1971-1975 Período 1996-2000 de óbitos (CID 10) Número de óbitos por Número de óbitos por

100.000 nascidos-vivos 100.000 nascidos-vivos

I – Infecciosas 1201,7 110,7

X – Respiratórias 947,2 183.1

XVI – Perinatais 1257,0 846,5

XVII – Congênitas 259,5 275,5

XVIII – Mal Definidas 564,4 66,9

As tabelas 6 e 7 nos mostram uma modificação do padrão da mortalidade infantil no Rio Grande do Sul. Em relação ao momento atual, as principais causas de óbitos em menores de um ano de idade, no Rio Grande do Sul, considerando o ano de 2000, podem ser vistas na tabela 8.

Tabela 8: Principais Causas de Óbitos Ocorridos em Menores de 1 Ano de Idade no Rio Grande do Sul, em 2000

Causas Número %

Desconforto Respiratório Neonatal 301 11,3

Septicemia Bacteriana Neonatal 203 7,7

Outras Afecções Respiratórias Perinatais 156 5,9 Pneumonia não-Especificada 125 4,7 Malformações Congênitas do Coração 119 4,5

Prematuridade 92 3,5

Síndrome de Aspiração Neonatal 90 3,4

Asfixia Neonatal 84 3,2

Diarréia e Gastroenterite 69 2,6

Inalação do Conteúdo Gástrico 65 2,5 Complicações Maternas da Gravidez

Afetando o Recém-Nascido 56 2,1

Outras Causas Perinatais 51 1,9

SUB TOTAL 1411 53,3

OUTRAS CAUSAS DE MORTE 1239 46,7

TOTAL 2650 100,00

Fonte: da Secretaria da Saúde do RS - Coordenadoria de Informações em Saúde (2001, p.120)

Os dados contidos nas tabelas anteriores e a manutenção de perfil semelhante nos anos seguintes (Secretaria da Saúde do RS, 2004) nos mostram que os desafios da assistência à criança assumem um amplo leque de atuação, indo desde ações coletivas de Educação para a

Saúde até o atendimento individual associado ao uso de alta tecnologia e local específico, portanto envolvendo bases epistemológicas de conhecimento diferenciadas.

A assistência à saúde da criança, nos diversos níveis de atenção, está intimamente relacionada à produção e apropriação de diversos processos de conhecimento. Isso nos leva a procurar entender que fatores estão envolvidos na produção e/ou superação desses conhecimentos e que condicionantes produzem sobre a vida do homem e na Educação, o que será feito através da análise a seguir.

1.4 A PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO, FATORES RELACIONADOS COM A