• Nenhum resultado encontrado

1.4 A PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO, FATORES RELACIONADOS COM

1.6.2 Determinantes da Saúde

Fruto do modelo apresentado pela ciência e preponderante em nossa sociedade em fins do século XIX e durante o século XX, procurou-se adaptar, nessa visão de causa-efeito linear, o entendimento da questão saúde. Isso foi favorecido pela predominância, em fins do século XIX e primeira metade do século XX, das doenças infecto-contagiosas como causas da maioria das enfermidades e mortes.

Assim, tivemos inicialmente um modelo dito tradicional ou ecológico na visão do processo saúde–doença. Nesse modelo, encontramos um agente, por exemplo um microorganismo infeccioso, um hospedeiro, ou seja, o homem suscetível a esse agente e o meio que vai influenciar na exposição do hospedeiro ao agente causador da doença. Logo, a saúde é posta em risco pela interação desses três elementos.

Esse modelo pode ser representado pela figura 3, conforme é apresentado por Artalejo e Inchaúrregui (2000, p. 14).

No entanto, na medida em que as enfermidades infecciosas perdiam espaço para as doenças crônicas e outros fatores não ligados à linearidade causa-efeito surgiam como causadores dessas novas doenças a saúde, e seus determinantes passavam a ser vistos como fazendo parte de uma realidade complexa que não se podia mais explicar pelo modelo anterior.

Figura 3: Modelo Tradicional ou Ecológico de Doença

Fonte: Artalejo e Inchaúrregui (2000, p. 14).

Como exemplo disso em nosso estado, em relação aos óbitos infantis, pode-se observar uma diminuição dos óbitos por doenças infecciosas, prevalentes no início da década de 1970, sendo as mesmas substituídas, em termos de importância, por causas perinatais e congênitas no início desse século, como é visto na gráfico 1, no período de 1971 a 2000, levando em conta o coeficiente por 100.0000 nascidos vivos.

Via-se nessa nova realidade que várias causas podiam produzir um único efeito. Com isso, buscou-se um novo modelo que incorporasse os novos determinantes desse processo. A busca de explicações, valendo-se de uma base científica tradicional às ciências naturais, mostra-se insuficiente.

Colom (2002, p. 98) a esse respeito assim se expressa:

O ambiente social, a educação se caracterizam por sua fluidez, por ocorrer - movimento- e em conseqüência por ir alcançando novos estágios -inovação- assim como por sua complexidade, não há dúvida de que a ética do intelectual deve, em coerência, abraçar outras posições epistemológicas que nos possibilitem dar conta desses fenômenos que, queira-se ou não, conformam a entidade do social.

AGENTE HOSPE-

DEIRO

MEIO AMBIENTE

Gráfico 1: Evolução da Mortalidade Infantil por Grupos de Causas no RS

Fonte: Secretaria da Saúde do Estado do Rio Grande do Sul, 2000, p.117

Uma outra posição, como exemplo na área da saúde, pôde ser a adotada pelo Canadá em 1973, a partir das bases assentadas por Laframboise e também adotada nos Estados Unidos a partir dos anos 80, em que se vê a perda da saúde como resultante da interação de vários fatores, destacando-se quatro grandes grupos: a biologia humana (determinante genética), o estilo de vida, o meio ambiente e o sistema de cuidados de saúde.

Conforme Artalejo e Inchaúrregui (2000, p16),), esse modelo, em vista da complexidade do assunto, foi aprimorado por Blum e Dever, o que descreveremos a seguir.

Em 1974, Blum numa escala de valoração prioriza o meio ambiente, seguido dos estilos de vida, da biologia e dos sistemas de assistência. Para esse autor essas quatro categorias se relacionam entre si através da cultura, dos recursos naturais, do equilíbrio ecológico e das características da população.

Em 1976, Dever aprimora o estudo de Blum, descrevendo com detalhes os componentes de cada categoria. O Modelo de Dever pode ser visto na figura 4.

0 200 400 600 800 1000 1200 1400 71-75 76-80 81-85 86-90 91-95 96-00 Infecciosas Respiratórias Perinatais Congênitas

Figura 4: Modelo Epidemiológico de Dever para a Análise de Políticas de Saúde

Fonte: Dever (apud ARTALEJO e INCHAÚRREGUI, 2000, p16)

Pela figura acima, vê-se que a versão do modelo proposto por Dever permite uma visão holística dos determinantes da saúde, podendo-se nele incluir todos os fatores de risco conhecidos às principais doenças. Assim, a cada um dos quatro grupos podem ser incluídos vários fatores, como nos é apresentado por Artalejo e Inchaúrregui (2000, p.19) e que mostraremos a seguir.

Em relação ao meio ambiente, estão envolvidos todos os aspectos relativos à contaminação do ar, das águas, do solo e do meio ambiente psicossocial e sociocultural por fatores de natureza:

Sistema Interno

Biologia

Modelo epidemiológico para a análise de uma política de saúde

Estilo de vida Dieta Envelhecimento Herança Meio ambiente Social Físico

Psicológico cuidados de saúde Sistema de curativo

Reabilitador

Preventivo

Exercícios físicos Fumo

- biológica: bactérias, vírus, fungos, protozoários, artrópodos e pólen; - física: ruídos, radiações, dejetos sólidos ou líquidos, etc.;

- química; e

- psicossocial e sociocultural: dependências, violências, estresse, competitividade, etc.

Entre vários, alguns aspectos assumem importância na determinação de enfermidades devido ao estilo de vida, como por exemplo:

- consumo de drogas institucionalizadas, como álcool e tabaco; - consumo de drogas ilícitas;

- sedentarismo;

- estresse em excesso e constante;

- consumo excessivo de gorduras animais; - consumo excessivo de hidratos de carbono; - promiscuidade sexual;

- violência;

- direção perigosa (excesso de velocidade, não-uso do cinto de segurança, etc); e - não-observância das recomendações sanitárias ou do médico.

Em relação ao Sistema de Assistência Pública como determinante de saúde, destaca- se:

- sua qualidade;

- gratuidade.

Considera-se também a Biologia Humana com sua carga genética ou fatores que sobre eles possam influir como determinantes de saúde.

O conhecimento desse cenário complexo nas determinantes do processo saúde – doença é fundamental para avançarmos a discussão enfocando a imbricada questão - Educação e Saúde- sob a ótica de modelos e teorias que a fundamentam.