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Contexto Sociocultural, Político e Econômico

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CAPÍTULO III: CONTRIBUIÇÕES À EDUCAÇÃO

3.3 LIMITES E POSSIBILIDADES DA PROPOSTA EDUCATIVA DE

3.3.2 Contexto Sociocultural, Político e Econômico

O contexto educativo do judaísmo no tempo de Jesus teve início a partir das experiências cotidianas dos indivíduos. Numa grande maioria, é evidente o ensino sobre o ambiente da casa, geralmente, considerada o lugar privilegiado e reservado às mulheres. Esse movimento vai aos poucos se consolidando e é nítida a conservação das culturas familiares e dos grupos que eram contrários à força do estado que fraudava o povo através de considerados tributos (Pr 13,23; 29,4).

E, Jesus de Nazaré ao perceber que a proposta de ensino de Israel tolhia o direito dos pobres e excluídos, propõe um ensino contrário ao sistema oficial da época. De modo díspar da pedagogia aplicada pelos mestres do seu tempo, Jesus ensina não apenas um grupo privilegiado, mas oferece seu ensino a todos(as) que ouvissem. Veja: “Partindo dali, ele foi para o território da Judéia e além Jordão, e outra vez as multidões se reuniram em torno dele. E, como de costume, de novo as ensinava” (Mc 10,1).

A suspeição é que Jesus ensinava, regularmente, em sua língua materna, mas com sotaque galileu (Mt 26,73; At 2,7). Em várias perícopes, sobretudo, as narradas no segundo Evangelho, há composições aramaicas que sobrevivem do original grego conforme se pode constatar em Mc 5,41; 7,34; 15,34 e também em Mt 27,46 (GRENIER, 1998).

A práxis docente de Jesus foi realizada num contexto sociocultural, político e econômico de concentração absoluta do capital nas mãos dos dominadores. De um lado a elite absorvia toda a riqueza, notadamente, através da cobrança de altas taxas de impostos e, do outro os pobres sem vez e sem voz vivendo nas periferias existenciais (MOSCONI, 2004). É nesse contexto que Jesus empreende sua proposta

de ensino contracorrente às multidões, aos líderes religiosos, aos discípulos companheiros e às mulheres.

Mesmo que Jesus se ocupe em ensinar de modo individual, como é o caso de Nicodemos e da mulher samaritana (Jo 3,1-15; 4,4-26) Ele procura ensinar em grupos e até para grandes multidões (Lc 8,4; 9,14). As regiões da Síria, da Galileia, da Decápolis, de Jerusalém, da Judeia e da Transjordânia (Mt 4,24; Lc 5,15; 6,17) são os cenários privilegiados para o ensino de Jesus. Pelo que se nota, Jesus propõe um ensino de forma itinerante e, no meio do caminho, ensina os representantes do povo, ocasiões em que tratavam importantes debates. Sua proposta aos líderes naquela época não foi totalmente improdutiva, prova disso é o reconhecimento de Nicodemos, fariseu e membro do poderoso Sinédrio, de Jesus como mestre que veio de Deus (Jo 3,2) e mais adiante ajuda Jesus durante uma reunião (Jo 7,50-51) e a preparar seu corpo para o sepultamento (Jo 19,39-40).

Como aludido, Jesus ensina nos pequenos grupos. De vez em quando, Ele reunia seus auxiliares para instrução de como continuarem com a proposta educativa. Nas narrativas do segundo Evangelho, observa-se que depois que ensinava o povo através de parábolas, “explicava tudo em particular aos seus discípulos” (4,34). Naquela conjuntura, as mulheres não tinham o direito de conhecer a Torá. Havia uma instrução citada pelo Rabi Eliezer: “as palavras da Torá devem antes ser queimadas que confiadas a uma mulher” (Mishnah Sotah 3,4). Porém, Jesus contrariando o sistema preestabelecido faz a inclusão destas em suas propostas de ensino. Enquanto exemplos, têm-se a mulher samaritana, Marta e Maria (Lc 10,38-42; Jo 4,7- 16) (GRENIER, 1998).

É conteúdo de ensino na proposta de Jesus a sua própria experiência de vida. Por certo, porque viveu em ambiente agrícola, tivesse contato com o arar da terra (Lc 9,62; 17,7), a semeadura das sementes (Lc 8,5), a colheita e a seleção da safra (Jo 4,35-38) e, a consequente estocagem nos celeiros (Lc 12,16-18). Talvez, quando menino, tenha ouvido dizer que uma boa produção depende das condições da terra (Lc 8,5-8), das variações do tempo (Lc 12,54-55), da necessária capinação das plantas daninhas (Mt 13,30) e da importância das podas para aumentar a produção (Jo 15,2). Além de citar os pássaros, as árvores e outros tipos de vegetação, os peixes, os insetos, os ofídios e outros animais.

Contudo, mesmo contextualizando sua proposta às várias realidades, observa-se que Jesus não conseguiu ensinar em todas as regiões onde percorreu com igualdade de resultados. Essa constatação é importante para todos os educadores(as) da atualidade, pois, quando se reporta sobre os ensinamentos de Jesus, a hipótese que se tem é que tudo que Ele empreendeu, em se tratando de educação, é exemplar e nunca houve falhas. Porém, a partir dessas análises, atenta- se que para sugerir uma proposta de educação, é cogente que haja num primeiro momento, o conhecimento da realidade dos sujeitos com fluxo corrente junto às especificidades de cada contexto onde será realizado o ensino.

Hoje, na educação brasileira, apesar dos entraves ainda percebidos, após a promulgação da sua última Carta Magna e da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN) houve transformações significativas, notadamente, quando da universalização do ensino em todo o país. E, para aferir qualidade na educação básica, por exemplo, o atual sistema educativo, disponibilizou através do Ministério da Educação, um indicador (IDEB) que detém os resultados a cada dois anos. Nesse ínterim, averigua-se índices satisfatórios de acesso à educação infantil em quatro das cinco regiões do Brasil, apenas na região sul segundo dados do IDGM (2020) não houve a devida implementação dessa modalidade educativa.

O processo de alfabetização no Brasil ainda é motivo de preocupação, porque muitos(as) alunos(as) ainda não foram alfabetizados, e se esta perspectiva persistir, as pesquisas indicam que 85% dessas crianças não alcançarão as metas recomendadas pelo IDEB em 2021 (IDGM, 2020). É grave também o número de crianças que estão fora da escola e que não concluíram o ensino fundamental e médio. Dentre as situações mapeadas e, que merecem nossa atenção, são as deficiências das aprendizagens em leitura, matemática e língua portuguesa.

No entanto, é mais grave ainda quando o governo brasileiro, de posse de um Plano Nacional de Educação (2014-2024), com prioridades sugeridas a partir de organizações sociais construídas através de vários debates através de reuniões, seminários e audiências públicas, não considera suas metas e ações e, propõe projetos e programas com ideias apenas subjetivas e pouco inovadoras. Nesse sentido, recentemente, e na contramão de toda a reflexão já implementada, o Ministério da Educação abriu as universidades para as empresas, propôs as primeiras

ações contrárias à ideologia de esquerda e o dito progressismo na educação, mudou a forma de escolha dos reitores das universidades e institutos e reestruturou o desenvolvimento das escolas militares (BARONE, 2019).

Ademais, em nosso contexto educacional ainda é validado pelos órgãos de pesquisas, um número significativo de brasileiros(as) que não conseguem ler e interpretar a realidade de forma crítica, considerando todas as nuanças sociocultural, política e econômica necessárias. A última pesquisa (PISA, 2018) aponta que a situação socioeconômica foi um critério decisivo para desenhar o desempenho em leitura no Brasil: cerca de 6% dos estudantes mais ricos e 0% dos mais pobres tiveram melhor desempenho em leitura. Essa constatação evidencia que o sistema de ensino em nosso país continua priorizando ações voltadas para atender tão somente a elite brasileira.

Por fim, o atual cenário ainda requer discussões sobre a educação enquanto ato processual. Pensar um modelo de educação fragmentado e desconexo da realidade demonstra falta de conhecimento da memória da educação no país e no mundo, além de sérias incoerências didático-pedagógicas com a efetivação do processo de ensino-aprendizagem. Por isso, as premissas discutidas remetem-nos a um contínuo movimento interativo e processual de iniciativas que podem possibilitar uma educação de qualidade na contemporaneidade.

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