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Provérbios como expressão da sabedoria popular

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CAPÍTULO I: SABEDORIA, PROVÉRBIO E PEDAGOGIA

1.2 PROVÉRBIOS E PARÁBOLAS

1.2.1 Provérbios e Sabedoria Popular

1.2.1.1 Provérbios como expressão da sabedoria popular

Na perspectiva de Silva (2018, p.17), historicamente os provérbios podem ser antigos ou novos e, em se tratando de cultura, é importante entender que eles incutem erudição ou sabedoria popular. Nesta mesma visão “cultural e religiosa, aproximam povos distantes e irmanam confissões diferentes”. Para as várias categorias sociais existem os ditados que pertencem à elite e de pessoas carentes, com críticas e exaltações para ambas as categorias. Em se tratando da questão de gênero também há críticas e elogios. E, por fim, de geração em geração, os ditados, as parábolas incluem o saber de criança e, ao mesmo tempo de idosos(as).

A origem dos provérbios é registrada em culturas que não escrevem sua sabedoria. Provérbio trata-se de verso rimado que sintetiza a experiência de vida de um povo e que facilita a memorização. É a comprovação da realidade. Não se trata tão somente de experiência individual, mas, de experiência comunitária. A função dos provérbios é identificar a essência (ethos) de um povo (GASS, 2011).

Neste sentido, os provérbios são os ditos mais comuns na sabedoria popular e, por isso, transcorrem divisas e culturas. Essa composição literária é de fato universal. Logo, sábio é aquele que compõe um provérbio revelando a sua própria experiência de vida. Por isso, diz-se que os provérbios nascem a partir da observação atenta das várias áreas da vida de forma pessoal ou coletiva.

Com a mesma concepção, Silva (2018) aduz-nos que os provérbios da Bíblia como os ditados populares da sociedade contemporânea, nascem da experiência cotidiana, são transmitidos verbalmente e, naturalmente abarcam as várias realidades sociais. Essas particularidades são peculiares desse tipo de composição sapiencial. Veja:

Não! Fiz calar e repousar meus desejos, como criança desmamada no colo de sua mãe,

como criança desmamada estão em mim meus desejos (Sl 131,2). Por que os ímpios continuam a viver,

E ao envelhecer se tornam ainda mais ricos? (Jó 21,7). Coloca-me,

como sinete sobre teu coração, Pois o amor é forte, é como a morte, o ciúme é inflexível como o Xeol. Suas chamas são chamas de fogo uma faísca de Iahweh (Ct 8,6).

Há um momento para tudo e um tempo para todo propósito debaixo do céu (Ecl 3,1).

Em vários trechos da literatura sagrada, ressalta-se a presença de ditos que vislumbram as imagens do cotidiano: as perguntas sobre o sofrimento e a justiça divina, a beleza da paixão do ser humano e, mesmo quando o nome de Deus é dispensado. Neste sentido, diz-se que são composições baseadas no dia a dia das pessoas que refletem suas experiências, seus hábitos e costumes.

Na pesquisa de Vellasco, intitulada Padrões de uso de provérbios na sociedade brasileira (2000), entende-se que de fato, provérbios são expressões habituais de uma comunidade, nascem da experiência do povo e são afirmativas breves e comuns de verdades universais. A sua caracterização é geral e a sua importância enquanto realidade é comum, permanente e conexa, mas contraditória por provérbios contrários. Surgem do empirismo, da fidelidade à realidade sociocultural e política da vida cotidiana e simples das pessoas. Os provérbios ocupam-se com as emoções e interesses simples do homem e da mulher, como: “a vida e a morte; a paz e a luta; a juventude e a velhice; a fome e o alimento; o trabalho e a brincadeira; a verdade e a mentira; Deus e o diabo” (VELLASCO, 2000, p.127-28). Veja exemplos:

Vida sem amigos,

morte sem castigo (PESSOA apud SILVA, 2009). Quem semeia vento

colhe tempestade. Se o moço soubesse e o velho pudesse. Mais vale um cantar que dois trabalhar. Quem fala a verdade não merece castigo. Quando Deus dá o sal

O diabo rasga o saco (MOTA, 1974, p.77-197). É melhor prevenir

do que remediar (GOMES, 2017, p.1).

Também é nítida a presença de provérbios antagônicos na literatura sagrada: observe:

O ódio provoca querelas,

O homem colérico atiça a querela,

o homem paciente acalma a rixa (Pr 15,18). A beleza dos jovens é o seu vigor,

e o enfeite dos velhos, suas cãs (Pr 20,29). Se teu inimigo tem fome, dá-lhe de comer; se tem sede, dá-lhe de beber [...] (Pr 25,21). Mais vale um bocado de lazer

do que dois bocados de trabalho [...] (Ecl 4,6). Abominação para Iahweh são os lábios mentirosos, o seu favor é para os que praticam a verdade (Pr 12,22).

Desta feita, tanto os provérbios da Bíblia como os ditados presentes na linguagem corrente da sociedade contemporânea, são um estilo de linguagem, ora contraditórios, ora análogos, mas que de forma unânime retratam com fidelidade a realidade de seus contextos socioculturais e políticos do cotidiano dos indivíduos em cada tempo e espaço distintos e, que perpassam gerações.

Na sequência, verifica-se que os versículos que seguem são exemplos claros de que no tempo da Bíblia, o lugar social privilegiado em que nascem os provérbios considera a realidade do dia a dia:

A casa: família, clã, tribo, corpo, comida, bebida, saúde, educação, amor,

amizade, convivência na casa e na vizinhança, relações mulher-marido, morte, fé, administração da casa e do clã.

O campo: trabalho, plantio, animais, estações, tempo, natureza.

A porta: nas cidades, a porta na muralha da cidade era o lugar do exercício

da justiça (Am 5, 10.12.15), do comércio.

O palácio: governo, organização, administração, corte, exército, diplomacia. O templo: religião, culto, Deus, oração, peregrinações (GASS, 2003, p.110-

111).

Daí certifica-se que os provérbios nascem da realidade dos povos, ou seja, das imbricagens sociais do dia a dia dos indivíduos. No tempo da Bíblia é considerado espaço privilegiado para a origem dos ditos populares, a casa, o campo, a porta, entre outros. Exatamente onde está o povo todos os dias se relacionando. E, por isso, diz- se que os provérbios são a expressão da sabedoria popular.

Por fim, constata-se que a sabedoria surge das experiências diárias das pessoas. E, esta sabedoria que nasce das imbricagens sociais, é conhecida como

sabedoria popular, transmitida através de sentenças breves que vão tecendo os ditos e os provérbios, de regra, com características intensas e decisivas. Neste sentido, a cultura popular é uma manifestação cultural que está integrada ao povo, ao original, à tradição e à linguagem das pessoas e, por isso, reflete a realidade sociocultural e política dos grupos sociais.

Adiante, far-se-á uma compilação de como esses ditos, provérbios foram narrados pela Bíblia, tanto no Antigo como no Novo Testamento.

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