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Zenão de Citium e o Estoicismo

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CAPÍTULO I: SABEDORIA, PROVÉRBIO E PEDAGOGIA

1.1 SABEDORIA GREGA E JUDAICA

1.1.1 Sabedoria Grega

1.1.1.4 Zenão de Citium e o Estoicismo

Por fim, uma referência ao estoico Zenão (334-262 a.C. mais ou menos) fundador da antiga escola estoica. Seu início data pelo ano 300. O termo estoicismo vem de estoica = lugar que o filósofo sempre calhava seu ensino (pórtico em grego,

eclético e recente ou religioso”. Esses dois últimos bem diferentes do estoicismo clássico. Este pensamento é dividido em: “lógica, física e ética”. A escola média é diversificada; já a nova é religiosa. Para o estoicismo a filosofia possui a missão de resolver o problema da vida. Neste caso, a lógica estoica é dividida em dialética e retórica (PADOVANI; CASTAGNOLA, 1990, p.146-147).

Por isso, Padovani e Castagnola (1990, p.146-147, 283) dizem-nos que os estoicos defendem a ideia de que o conhecimento é limitado aos sentidos, e por isso, a metafísica é determinada na física materialista. Nesta direção, ressalta-se que as doutrinas estoicas são simples, contraditórias e, por isso, não se trata de “filósofos metafísicos, mas pragmatistas, moralistas, inteiramente absorvidos na prática, na ética”. Contudo, no período da Renascença o estoicismo torna-se ativista, contrariando, sobremaneira, o movimento clássico (negador da ação perturbadora da alma). Neste período, o estoico mais notável foi o belga Justo Lípsio (1547-1606).

De sua sabedoria pode-se recomendar sempre Diógenes Laércio: “Somente os virtuosos são cidadãos, amigos, parentes e livres”. E ainda: “Pais e filhos são inimigos, se não são sábios” (7,33). Esses provérbios são parecidos com os de Jesus quando este falou sobre a família e a questão do desapego “dos vínculos de sangue”, por exemplo (BARGAGLIO, 2011, p.419).

Assim, quando se lê em Lc 14,26: “Se alguém vem a mim e não odeia seu próprio pai e mãe, mulher, filhos, irmãos, irmãs e até a própria vida, não pode ser meu discípulo”. Neste momento, Jesus está subindo para Jerusalém e o chamado para assumir a missão não pode ser sem entusiasmo. Por isso, diz que o discípulo deve odiar pai, mãe e família. Aqui constata-se um exagero semítico quando aduz que é preciso renunciar a todos (mesmo que sejam os parentes mais próximos) que podem ser empecilhos para o seu seguimento (BERGANT; KARRIS, 2014). Naquele momento seus discípulos também precisam de atitudes contracorrente.

Nesta direção, ao relatar sobre estas ideais filosóficas nota-se que Jesus e seu grupo possuíam um estilo de vida parecido, notadamente, através das atitudes pautadas contracultura, adversa às normas preestabelecidas pelo estado, e da necessidade de cultivar uma vida independente da rebuscação social da época. Ademais, entende-se que, notadamente, o cinismo foi um movimento que fez

oposição às pesadas exigências produzidas pela cultura e pelos acordos que diminuíam o livre-arbítrio individual naquele contexto (MIELGO, 2000).

Neste sentido, admite-se semelhança do cinismo com o cristianismo desde a patrística, ocasião em que os cristãos e cínicos foram abordados em seus textos pela primeira vez. Porquanto, os padres da Igreja (João Crisóstomo, Basílio de Cesareia e Nilo de Ancira) valorizavam em suas composições “a pobreza praticada pelos cínicos e o desapego dos bens deste mundo” (MIELGO, 2000, p.5). A partir desses primeiros relatos, escritores pagãos iniciam suas críticas ao cristianismo por reconhecer analogias com os cínicos8.

A partir do século VI não há mais notícias sobre os cínicos e, por isso, não se encontram comparações claras no decorrer da história. Somente no século XIX, advento do modernismo, que a atenção a essa temática ressurge. Porquanto, é tão somente na década de setenta do século passado que essas semelhanças entre cristãos e cínicos são desenvolvidas por estudiosos e exegetas. Theissen (2008, p.107-113) é o primeiro a estabelecer uma afinidade entre o modo de vida cínica e os cristãos, quando propõe a “teoria sobre o radicalismo itinerante dos primeiros discípulos”, ocasião em que ele assinala a correlação com a filosofia cínica.

Diante disso, os cínicos e alguns cristãos ensinavam e viviam uma vida ascética. Essas analogias são comparadas no texto de Lc 10,1-16, perícope bastante valorizada para explicar sobre essa possibilidade. Mas, esses mesmos exegetas ensinavam que as razões dadas pelos cristãos em favor da renúncia às riquezas, por exemplo, são bastante díspares e com objetivos igualmente diferentes. Contudo, cínicos e cristãos apenas possuem estilos de vida parecidos. Nada a ver com o ethos9

e a moral entre os dois grupos.

Após evidenciar alguns elementos importantes sobre a sabedoria helênica, notadamente, sobre os cínicos observa-se que a semelhança destes é explicada de “forma apenas parcial, porém, em termos de conteúdo” é significativa em várias situações, principalmente quando se analisa com a práxis de alguns grupos de

8 Tradução do espanhol realizada pelo autor (FERREIRA, 2019).

9 Na filosofia grega: Ethos = morada do homem; modo de ser, caráter, costume, que fundamentam os valores de base no ser humano e sua convivência harmoniosa. Ética vem de ethos e expressa a segurança no modo de morar, isto é, de organizar a casa, a família, as relações entre as pessoas, em busca da harmonia, da paz e da felicidade para todos (NERY, 2007, p.17).

cristãos (THEISSEN, 2008, p.112). Esboçar sobre a filosofia cínica e sua proximidade com as ações do grupo de Jesus, cabe melhor papel aos itinerantes do cristianismo primitivo em sua perspectiva “escatológica imediata, enraizada não em tradições cínicas, mas judaicas: neste ponto a expectativa do fim e a prática da vida são coerentes” com o pensamento de ambos (THEISSEN, 2008, p.111).

Agora, passa-se à redação do próximo item: sabedoria judaica por entender que esta tem relação, de fato, com o ethos das primeiras comunidades cristãs.

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