• Nenhum resultado encontrado

Contextos de ocorrência do pretérito imperfeito e da perífrase de passado

No documento – PósGraduação em Letras Neolatinas (páginas 64-84)

5. Resultados e análise

5.2 Contextos de ocorrência do pretérito imperfeito e da perífrase de passado

Para começar a análise quantitativa, consideramos todos os fatores. Como fator de aplicação, foi escolhido o tipo de aspecto imperfectivo ensejado pelo sintagma verbal. A primeira rodada foi geral, ou seja, com o uso de todos os demais fatores. Devido ao primeiro grupo de resultados, foi necessário fazer uma segunda rodada ocultando um fator da lista conforme será explicitado mais a diante.

Além do que já foi esclarecido, é importante ressaltar que os exemplos de ocorrências encontradas estão transcritos de acordo com a seleção do programa

54 WordSmith Tools para manter a análise a mais fidedigna possível. Tendo isso em vista, a tabela 1 abaixo apresenta os resultados relativos à combinação forma de imperfectivo (se em imperfeito ou perífrase de passado progressivo) e valor aspectual de imperfectivo.

TABELA 1 – TIPO DE IMPERFECTIVO x FORMA DE IMPERFECTIVO (IMPERFECTO; PASSADO PROGRESSIVO)

IMP (%) PPROG (%)

HABITUAL 262 80,8 0 0,0

CONTÍNUO 62 19,2 31 100

TOTAIS 324 100 31 100

No que se refere à expressão do aspecto imperfectivo, observamos uma totalidade de ocorrências do tipo habitual em pretérito imperfeito. As 31 ocorrências de perífrase PPROG ensejam o contínuo. Essas frequências parecem indicar mudanças interessantes no paradigma aspectual do espanhol.

Já detalhamos o que significa dizer que uma situação expressa por um sintagma verbal possui uma leitura habitual ou contínua. Retomando Comrie (1976), que esclarece tais noções, observamos que a diferença de um valor para o outro está no fato da primeira indicar repetições, a sucessiva ocorrência, de um evento num dado período de tempo, enquanto a última enseja o andamento (ou o progresso, a continuidade) de um evento num intervalo temporal. Apresentamos seus respectivos exemplos a seguir:

(46) cil] 46 I: si yo voy a Coyoacán// Iztapalapa o sea / a mí pues se me hace// lejísimos 47 E: claro 48 I: pero por ejemplo// yo/ antes de terminar la universidad/ yo

trabajaba y estudiaba// y trabajaba/ en las mañanas// en Iztapalapa y luego/ después

ya me venía aquí a estudiar/// y te acostumbras/ me aventaba yo como dos horas 49 E: ay qué pérdida de tiempo/ ¿no?// debería ser como que todo debería estar cerca 50 I: ah/ pues claro/ es lo óptimo/ ¿no?/ pero// o sea así es/ de hecho// sí co-/ ahora sí que/ ahorita que/ estoy en lo laboral// conoces a mucha gente que viene de muy lejos// por ejemplo

Em (46), o informante comenta sobre o tempo que levava para chegar à cidade na qual trabalhava, enquanto estudava também. É possível perceber que os verbos

55 em negrito indicam que as ações de trabalhar, estudar, e demorar duas horas para chegar ao trabalho possuem um traço de habitualidade explícito. Durante um período específico, cada um desses eventos ocorria com uma cert frequência, cessando e voltando a ocorrer. Esses seriam exemplos da expressão canônica de imperfectivo habitual.

É importante salientar que, segundo as frequências totais apresentadas, o habitual só foi encontrado em forma de pretérito imperfeito. A perífrase só enseja, no recorte selecionado, aspecto contínuo. Esse quadro já estava previsto pelo fato da partícula de gerúndio, conforme verificamos, significar progressividade, o desenvolvimento de uma situação. Portanto, o gerúndio seria incompatível com uma leitura habitual.

Em contrapartida, o contínuo ocorreu nas duas formas verbais investigadas: a perífrase PPROG e o pretérito imperfeito. Encontramos 61 ocorrências na forma simples frente a 31 na forma perífrástica. Vejamos os exemplos abaixo:

(47) muy mal pagado aquí el diseño gráfico 235 E: ¿ah/ sí? 236 I: [muy muy mal pa-] 237 E: [yo pensaría que]/ era al contrario 238 I: no/ de hecho/ bueno/ de hecho una vez estuve platicando/ apenas hace/ una semana// el viernes que/ fui a una fiesta// estuve con una chava que es abogada 239 E: mh 240 I: estábamos

comentando acerca de eso que este/ yo le decía/ “¿sabes qué?/ yo me quiero ir a

Italia 241 E: ajá 242 I: entonces / aprender inglés/ aprender italiano 243 E: mh 244 I: y me largo// dos tres años/ es mi plan”/// ella / me comentó/ que este/ por ejemplo/ ella trabaja/ eh/ tiene su propio

(48) odo eso 741 E: no chingar nada/ [¿no?] 742 I: [ajá]/ entonces es más difícil/ es la única perforación// difícil que se me hace con ese método/ pero todos las demás// son igual 743 E: con todas las demás/ [cualquiera de los dos] 744 I: [vale]/ [sí sí sí] 745 E: [órale] 746 I: y también/ pues como tú/ mencionabas/ de/ la/ pistola 747 E: ajá 748 I: eso/ no es recomendable 749 E: ¿no?/ ni para… 750 I: no porque una/ pistola/ no se puede esterilizar 751 E: mm 752 I: entonces// pues por eso/ pues te pueden pa-/ contagiar de una hepatitis/ a/ hasta una hepatitis be/ no sé 753 E: claro 754 I: igual ha

56 A oração (47) apresenta ocorrências de aspecto contínuo na sua forma clássica com gerúndio (estábamos comentando). Mas, analisando o segundo verbo em negrito (decía), percebemos que o falante está relembrando uma fala sua durante algum momento do passado. Não é possível entender que “decía”, nesse contexto, expressa a sucessiva ocorrência, ou a repetição periódica do ato de dizer. Porém entendemos que, num certo momento, o informante estava dizendo. Portanto, a leitura aspectual produzida é contínua.

O caso de (48) é semelhante ao anterior. Se substituirmos “mencionabas” por “estabas mencionando”, observamos que a sentença permanece com o mesmo sentido. Nesse caso, mencionar também possui uma significação contínua. Mais uma vez, obtemos o pretérito imperfeito ensejando uma leitura diferente da que está prevista.

Essa possibilidade da co-ocorrência de duas morfologias verbais que descrevem um mesmo valor aspectual já havia sido discutida em Comrie (1976), o qual assumia que um aspecto pode ser expresso por mais de uma forma verbal desde que a língua, de fato, apresente tal possibilidade, ou seja, pela fonética. No caso do espanhol, especificamente, Givón (2001) defende a existência de dois imperfectivos passados no quadro aspectual desse idioma: (i) o imperfecto e (ii) o progressivo. Quando conjugados a tipos de verbos diferentes, esses valores tomam interpretações diferenciadas.

Do ponto de vista descritivo, tais explanações são pertinentes mas nos levam a outra pergunta de viés mais explicativo: considerando que haja dois imperfectivos no espanhol, qual seria a motivação para que houvesse o dobro de ocorrências de contínuo na forma imperfeito, quando o esperado seria a expressão progressiva por perífrase?

Nesse caso, o quadro teórico da Linguística Gerativa pode auxiliar. No primeiro capítulo desta dissertação, apresentamos algumas considerações sobre o processo de geração de frases segundo propostas de Chomsky (1995) no Programa Minimalista (PM). O autor argumenta que uma sentença de qualquer língua só é gerada totalmente se foi legível para os sistemas de desempenho que tem interface com a faculdade da linguagem.

Entretanto, não basta ser legível, ou seja, interpretável por tais sistemas. Existem algumas condições, especificamente assumidas no PM, que são

57 fundamentais também. Para Chomsky (1995), a aquisição de uma língua se dá pelo processamento dos traços linguísticos (das configurações dos itens lexicais) fornecidos pela Gramática Universal conjugados aos traços presentes nos Dados Linguísticos Primários, fornecidos pela experiência.

Por outro lado, no mesmo quadro teórico, a Faculdade da Linguagem está formada em termos econômicos. Isso significa que, ao começar a computação de uma nova sentença, antes de começarem as primeiras operações na sintaxe, existem condições que eliminam qualquer passo ou representação linguística que seja supérflua para a derivação de uma sentença.

No capítulo 1, observamos que antes de qualquer operação da sintaxe em si, existe uma pré-seleção de itens do léxico que participarão de uma determinada derivação, isto é, a computação que gerará uma nova sentença. Essa operação se chama numeração. Além disso, durante a computação existem condições de economia que são aplicadas a fim de que a sintaxe trabalhe da forma mais eficiente possível: procrastinar e último recurso. A primeira indica que qualquer etapa na derivação, que não seja importante, será adiada o máximo possível. Se tal passo realmente precisa ocorrer, o mesmo é aplicado como último recurso para que a sentença seja bem formada.

Considerando tais pressupostos e o fenômeno pesquisado, a escolha dos informantes pela forma simples ao invés da perífrase parece plausível. Pensemos que para gerar uma sentença como (48), por exemplo, caso fosse empregada a forma perifrástica, a derivação levaria mais passos. No verbo principal, teriam que ser checados os traços aspectuais da raiz verbal, quantos argumentos possíveis possui, suas posições na sentença. Além disso, no auxiliar, ainda é preciso checar os traços de tempo, número, pessoa, modo e aspecto. Mas, se existe a possibilidade de que um mesmo elemento carregue essas informações, a checagem dos mesmos traços parece ser mais simples.

É preciso lembrar também que, antes de checar qualquer traço, esses itens serão concatenados e daí serão formados os sintagmas da oração. Essa operação inicial é denominada merge (concatenar) em Chomsky (1995). A partir da concatenação de dois itens x e y quaisquer é formado um sintagma cujas características principais provém no núcleo desse sintagma. É preciso recordar que

58 para que a sintaxe seja eficiente, é preciso que a mesma opere sob condições de economia, sem operações ou passos redundantes.

Dessa forma, analisando o conceito de merge e o fenômeno linguístico abordado aqui, parece ser mais econômica se merge opere com menos itens para concatenar. Observando o caso do Passado Imperfectivo na forma de perífrase, primeiramente, os traços da raiz do verbo devem ser conjugados com o progressivo. E como o gerúndio não oferece traços de concordância, tempo, modo e aspecto, é necessário que haja outro item na numeração que possa carregá-los. O auxiliar estar assume essa função nesse momento. E, assim é preciso concatenar mais itens. Levando em consideração as condições de economia citadas, parece bem mais interessante para a derivação sintática um merge a partir do mesmo item lexical. Nesse sentido, a forma simples de imperfeito demonstra ser preferível.

Outros fatores, relativos à natureza dos constituintes da oração, também podem favorecer o uso do habitual ou do contínuo, dependendo do contexto. Porém, antes de prosseguir a análise, é preciso informar os passos seguintes na análise estatística pelo programa GoldVarb X. A primeira tabela foi feita seguindo a primeira rodada. Mas, como pudemos verificar, não houve ocorrências do aspecto imperfectivo habitual com PPROG (perífrase).

Quando há uma frequência de 0%-100%, o software utilizado rastreia um Knockout. Isso não permite que haja uma análise dos pesos relativos dos fatores que foram relevantes para a análise aspectual. Para evitar tal ocorrência, fizemos uma segunda análise, eliminando fator tipo de imperfectivo. Assim os resultados dos demais fatores da segunda rodada não foram prejudicados ou modificados e foi possível calcular o peso relativo.

Esclarecido esse segundo passo, prosseguimos com análise da combinação tipo de verbo e tipo de imperfectivo. Na tabela 2, apresentamos as frequências totais para cada categoria verbal conforme a classificação de Smith (1991):

TABELA 2 – TIPO DE IMPERFECTIVO x TIPO DE VERBO ESTADO (%) ATIVIDADE (%) P. CULMINADO (%) CULMINAÇÃO (%) HABITUAL 191 86 11 10,7 52 54,7 8 72,7 CONTÍNUO 31 14 16 59,3 43 45,3 3 27,3 TOTAIS 222 100 27 100 95 100 11 100

59 Na tabela acima, primeiramente, destacamos o contexto favorecedor do aspecto imperfectivo habitual. O tipo de verbo que ocorreu com valor habitual foi o de Estado, lembrando que todos os habituais verificados estão na forma do imperfeito. Na sequência, os que mais ocorreram foram os de processo culminado, atividade e culminação. Os exemplos a seguir apresentam ocorrências de valores aspectuais distintos em trechos mais longos. É preciso considerar apenas os elementos que estiverem em destaque. Vejamos os exemplos de cada um abaixo:

(49) í/ y también/ dice/ pues / “no/ eso no es invierno”/ dice/ [“aquí no hace frío”] 806 E: [(risa)] 807 I: pues no/ realmente no/ no hace frío// y este/ y por ejemplo/ y lo que sí le hartaba (ESTADO) era el calor// sí se abochornaba (ESTADO) mucho con el calor 808 E: pues sí 809 I: decía / “¡ay ya/ el calor!” 810 E: [se hartaba/ ¿no?] 811 I: []// se desesperaba (ESTADO) 812 E: sí/ es que luego sí es hartante/ ¿no?// [y bueno a-/ aquí es-] 813 I: [pues sí y luego peor] si no estás acostumbrado ¿no?/ [vienes de otra cultura/ ¿no?] 814 E: [aquí está bien tranquilo]// pero no sé/ en Veracruz/ en 815 I: fíjate que/ a ellos/ nos

Nessa sequência, o informante comenta sobre um período de extremo calor em sua cidade. Classificamos os verbos “hartar”, “aborchonarse” e “desesperarse” como estados devido a seu caráter [- dinâmico]. No capítulo 2, comentamos que essa categoria compreende verbos que são [+durativos], [- télicos] e [-dinâmicos]. Isso significa que se prolongam durante um período de tempo, não é possível ver um ponto final intrínseco à situação e a mesma não apresenta fases, como um processo culminado por exemplo.

Como observamos em Comrie (1976), o pretérito imperfeito, por expressar o imperfectivo, apresenta uma situação no seu desenvolvimento, ou seja, o foco não está no início ou no término da mesma. Os verbos de estado também apresentam essa característica devido a sua menor telicidade. Além disso, o imperfectivo tem maior duração justamente por não focar os limites dos eventos.

Para Givón (2001), o pretérito imperfeito se adequa mais aos verbos estativos por manter sua aspectualidade inerente, sendo compatível com seus traços [- dinâmico], [- télico] e [+ durativo]. Quando a mesma classe verbal é encontrada na forma de perífrase, devido à presença do gerúndio com seu traço de progressividade

60 e, portanto, [+ dinamicidade], a interpretação inerente do verbo estativo é modificada. Vejamos (50):

(50) o que llorar para que/ para convencerlo/ ¿no?// que me deje hacer lo que quiero hacer”// o “él me tiene que rogar para que / lo deje hacer lo que a él le gusta hacer”/ no/ no no he tenido que/ hacerlo/ yo creo que no lo haría y espero que sigan las cosas así// mh 161 E: oye y con respecto a / bueno/ estaba pensando (ESTADO) en eso de/ cómo hacer que/ cómo lograr que una persona/ un niño/ sea/ o más bien una persona sea independiente a/ a/ tan corta edad// cómo crees tú que 162 I: ¿sería mejor [hacerlo?] 163 E: [que tendrías tú] que// sí/ ¿cuál es tú idea?/ ¿cómo es que podrías lograr eso? 164 I: ¿que f

Nesse exemplo, destacamos a fala do entrevistador. O mesmo pergunta ao participante da entrevista como ensinar crianças a serem mais independentes, considerando sua pouca idade. O entrevistador utiliza um verbo psicológico e canônicamente estativo: “pensar”, que é [- dinâmico]. Porém, ao conjugá-lo com a partícula de gerúndio e um auxiliar numa perífrase, parece perder um pouco da sua aspectualidade original devido ao caráter progressivo da morfologia –ndo.

Além disso, observamos na tabela 2 uma correlação negativa do aspecto habitual com a sequência de verbos [+ dinâmicos]. As classes atividade, processo culminado e culminação contemplam verbos que tem uma interpretação heterogênea, justamente porque é possível interpretar sua constituição em etapas.

(51) os que te estoy diciendo/ no es// pero// creo que el/ en vez del dj / era un chavo que hacía graffiti (ATIVIDADE)// o que bailaba (ATIVIDADE) break / o que

hacía (ATIVIDADE) hip-hop/ algo así/ no me acuerdo bien// pero bueno/ eran

diferentes/ chavos más o menos de la misma edad/ pero// pues con diferentes ideologías ¿no?/ o gustos// y estaba muy bueno el libro/ me gustó mucho/ lo presté y// una chava que estaba haciendo un trabajo sobre/ cuando hice mi servicio social// se lo presté a una chava/ que estaba haciendo un trabajo sobre tribus urbanas// yo le dije que igual había ahí unas entrevistas y// se lo pasé/

Em (51), verificamos três ocorrências de verbos de atividade. Essa categoria, conforme Vendler (1967), se difere dos verbos de processo e culminação por ser [- télica]. As atividades não param totalmente, podem cessar e voltar a ocorrer. Na

61 sentença acima, o informante comenta sobre um rapaz que fazia grafite, ou dançava, ou fazia hip-hop. Esses eventos não apresentam um ponto final intrínseco, dançar ou fazer grafite era recorrente para o rapaz. Desse ponto de vista, essas ações cessam mas não param, considerando a referência temporal no passado. Por isso, estão classificadas como atividades.

O panorama encontrado se aproxima daquele descrito por Givón (2001) para as interpretações do imperfectivo de acordo com o tipo de verbo. O autor defende que, no caso das atividades, a leitura resultante é a de um evento que ocorre habitualmente, conforme observamos em (51).

Para o caso dos processos culminados e culminações o quadro é outro. Segundo Givón (2001), com o primeiro tipo de verbo a significação de habitual e contínuo do imperfeito é flutuante. O pretérito imperfeito pode apresentar as duas leituras, dependendo do contexto. Já quando combinado com verbos da última classe, o imperfeito pode indicar que a ação ocorreu muitas vezes. Vejamos em (52):

(52) año pasado sí hubo una/ una buena temporada donde// llegaron muchas 1417 E: ¿ah sí? 1418 I: como // ¿cómo se llama?// muchas teiboleras 1419 E: mm 1420 I: a perforarse genitales 1421 E: órale 1422 I: pero extranjeras/ no/ no de aquí 1423 E: ah/ ya ya 1424 I: y más que nada una le decía (PROCESSO CULMINADO) a la otra y ya llegaban (CULMINAÇÃO) así como en grupito/ [¿no?] 1425 E: [ah] 1426 I: sí 1427 E: ¿muchas gringas o/ de dónde? 1428 I: eh/ canadienses/// de Holanda/ Alemania y todo eso 1429 E: mh/ órale 1430 I: sí variados 1431 E: sí allá como que está mucho menos/ prejuiciado/ ¿no? 1432 I: [mh] 1433E: [toda] esta onda// en N

O verbo “decir” e “llegar” foram classificados, respectivamente, como processo culminado e culminação. “Decir” é um verbo que, inicialmente, envolve um processo psicológico até que algo seja pronunciado. Mas, para que a situação ocorra completamente, é preciso que haja a articulação dos sons e uma dada frase seja dita. Nesse sentido, é uma ação que não é somente psicológica, do contrário seria como o verbo “pensar” ou “saber”.

A sentença (52) foi retirada de uma entrevista cujo tema era trabalho, tatuagens e costumes. O informante conta que tatuava quando mais jovem e, nesse trecho específico, comenta sobre uma fase em que muitas dançarinas começaram a visitar

62 seu local de trabalho para colocar piercing. Uma contava a outra e elas iam em grupo ao estúdio.

A leitura de “decía”, nesse caso, é claramente habitual. Num certo período de tempo, uma dançarina contava a outra sobre a ida ao estúdio, portanto, isso se repetia sucessivamente. A partir do momento que uma das participantes do evento termina de contar sobre a ida ao estúdio, o evento também atinge seu telos. Desse ponto de vista, o verbo apresenta [+ telicidade] e duração limitada. De acordo com isso, verbos como “comentar”, “decir”, “informar” e “platicar” (contar, comentar) foram classificados como processos e não atividades.

Por outro lado, “llegar” é um verbo cuja ação ocorre instantaneamente. O ato de chegar ocorre no exato momento em que algo ou alguém chega. Mas observamos que, quando conjugado com a morfologia de imperfeito, esse evento toma uma interpretação de uma situação que se repete e não é instantânea e pontual em algum momento do tempo.

Os comentários acima se referem ao aspecto habitual. O caso do imperfectivo contínuo é um pouco diferente. Primeiramente, porque esse aspecto pode ser expresso de duas formas, como já verificamos. Entretanto, quando está na sua forma clássica também pode apresentar diferentes leituras de um evento dependendo do tipo de verbo.

No caso dos verbos estativos em forma progressiva, já discutimos que o gerúndio permite uma leitura [+ dinâmica] da situação, anulando o traço original do verbo. Abaixo apresentamos considerações sobre as outras categorias verbais na forma progressiva em (53) e (54):

(53) pero no/ finalmente// o sea/ i-/ inconscientemente quizá lo traje/ que era para mi bien/ porque me estaba enseñando (PROCESSO CULMINADO) a hacer bien las cosas// porque haz de cuenta/mandaba a tomar una radiografía// y/ y se la daba y/ “no/ no sirve/ tómala otra vez”/ o sea mientras sí servía la radiografía/ o sea/ estaba bien tomada// y me decía / “vela a tomar otra vez”/ y yo así “¡bu!” 143 E: (risa) 144 I: bueno/ una/ en una ocasión/ me dice / “doctora”/ yo estaba trabajando

(ATIVIDADE) // estaba cubriendo (PROCESSO CULMINADO) a una doctora// y me

dice “doctora/ quiero que/ le tomes una radiografía a una niña”// y yo/ “pero es que estoy trabajando”/ y yo volteé a ver/ y las fresas/ ¡pues estaban paradas/ sin hacer

63 nada!// y yo/ “no le puede decir…”/ “no/ es que la quiero que la tomes tú”// y yo así/ “per

(54) ra/ en poder tomarle/ una radiografía// y yo así/ ¡verde!// pues ya/ me dice una amiga/ “¿te ayudo?”/ y él/ “¡no!/ ella lo tiene que hacer sola”/ y yo así/ “¡¡ah!!”/ y pues ya la señora me abrió/ ayudó a abrirle su boca// le pusimos unos abatelenguas/ para que no cerrara/ y ya la acomodé/ no pues yo estaba di-/ temblando

(CULMINAÇÃO) 147 E: (risa) 148 I: ya le / para tomarle la radiografía/ ya/ se la revelé/

y se la llevo/ y me dice/ (clic) “está mal”// y yo así “¡¡ah!!”// pero estaba bien/ [o sea] 149 E: [ajá] 150 I: nos había salido bien/ me dice// pero me dice/ “está mal/ te faltó un poco de revelado”//

Em (53), há três ocorrências de perífrase com os verbos “enseñar” (no sentido de demonstrar), “trabajar” e “cubrir” (no sentido de substituir alguém no trabalho). Todos são verbos que apresentam [+ dinamicidade]. No entanto, o primeiro e o último apresentam um ponto final da ação, sem dar indicação de que a mesma possa ocorrer novamente em que quanto tempo ocorrerá mais uma vez.

O ato de demonstrar termina a partir do momento em que termina a demonstração. E o evento de substituir um colega numa ocasião acaba quando o turno acabar. Diferentemente, do verbo “trabalhar” que apresenta uma pausa mas não

No documento – PósGraduação em Letras Neolatinas (páginas 64-84)

Documentos relacionados